Ação militar na Venezuela e ceticismo climático: o que defendem os senadores que Bolsonaro vai encontrar nos EUA:

Crédito, Twitter/Reprodução

Legenda da foto, Senador americano Rick Scott, republicano do Estado da Flórida, convidou Bolsonaro para visita aos Estados Unidos; os dois já haviam se encontradooutubro do ano passado

Além disso, há um grande fluxoturistas brasileiros que viajam às cidadesMiami e Orlando. E, por fim, as relações comerciais entre o Estado e o país também têm peso. "O Brasil é o maior importadorprodutos da Flórida e o terceiro maior exportador", disse o porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, nesta quinta-feira (05/03).

O encontro com Rubio e Scott está marcado na agendaBolsonaro para segunda-feira. Quem são esses políticos que devem se encontrar com o presidente brasileiro e quais são seus interesses com o encontro?

Fraude

Rick Scott assumiucadeira no Senado2019. Ele é ex-governador da Flórida, Estado que administrou durante oito anos. Scott e Bolsonaro já se encontraramoutubro do ano passado, quando o americano fez uma visitatrês dias ao Brasil. Na ocasião, também se encontrou com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

Scott, 67, é um empresário que começou na áreasaúde, tendo fundado no fim dos anos 1980 uma empresa administradoradiversos hospitais. Anos mais tarde, o político foi envolvidoacusaçõesfraude — as alegações eramque os hospitais enviavam cobranças falsas a sistemassaúde geridos pelo governo americano.

Scott deixou o cargo1997 e,2000, a empresa declarou-se culpada por maisuma dezenacrimes corporativos. A companhia acabou pagando quase US$ 2 bilhõesmultas.

Em 2010, Scott concorreu ao cargogovernador da Flórida como um "outsider" contra um republicano mais estabelecido usando seu próprio dinheiro, lembra Gregory Koger, professorciência política da UniversidadeMiami.

A vitória foi apertada e, diz Koger, apesarconseguir a reeleição2014, Scott foi um governador impopular pela maior parte dos mandatos. Hoje, é um aliadoTrump, "que não foi muito crítico ao presidente durante a crise do impeachment", segundo o professor.

Crédito, Joshua Roberts/Reuters

Legenda da foto, 'Não sou um cientista', afirmou Rick Scott quando questionado sobre mudanças climáticas

Scott também ficou conhecido nos EUA por seu posicionamento sobre as mudanças climáticas. Chegou a afirmar que "nada havia convencido" eleque as mudanças climáticas existem.

Depois, questionado por um jornal se acreditava que as mudanças climáticas estavam significamente afetando temperaturas, ele respondeu: "Bom, não sou um cientista".

De tão comum entre republicanos, a resposta acabou virando meme nos Estados Unidos.

Marco Rubio, o outro senador com quem Bolsonaro vai se encontrar, também já chegou a dizer a frase quando questionado sobre a idade da Terra. Rubio também questiona a ideiaque a atividade humana contribui decisivamente para as mudanças climáticas.

Scott, que convidou Bolsonaro aos EUA, também é bastante contrário à China. Na terça-feira (03/03),um artigo publicado no jornal The New York Times, ele diz que "não se pode confiar na China comunista" e que o país não foi honestorelação ao coronavírus.

Ao jornal FolhaS.Paulo,uma entrevista concedida no ano passado, quando foi ao Brasil, Scott também já havia criticado o maior parceiro comercial do país: "A China não está América Latina para ajudar, mas para controlar", afirmou.

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Venezuela

A Venezuela é um tema recorrente entre os senadores que encontrarão Bolsonaro.

Filhoimigrantes cubanos nascidoMiami, Rubio concorreu com Trump2016 nas primárias presidenciais do Partido Republicano. Perdeu, elegeu-se senador e, apesarter entradoatrito com Trump durante a campanha dentro do partido, agora é ouvido pelo presidente quando o assunto é Venezuela.

Segundo uma reportagem do New York Times, o senador agora é visto como um "arquiteto das políticas e um porta-voz" na campanha dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele tornou-se um "secretário virtual" dos Estados Unidos para a América Latina, definiu o jornal.

Crédito, Joshua Roberts/Reuters

Legenda da foto, Rubio escreveu artigo defendendo que os EUA façam grandes concessões ao Brasiltrocaapoio do paísconflito contra Venezuela

"Éconhecimento público que o Trump rejeita o establishment da política externa e desconfia dos agentes tradicionais. Isso explica por que outras pessoas têm uma grande influência nas relações exteriores americanas: é porque há um grande buraco. E é aí que o Rubio entra", diz Gregory Koger, professorciência política da UniversidadeMiami.

"Rubio entende sobre a América Latina. Além disso, ganhar na Flórida é muito importante para os planos (de reeleição)Trump." E o apoioRubio pode dar ao pesidente uma votação importante no Estado.

É aí que o Brasil entraria também. Para seus planos contra a Venezuela, Rubio quer envolver o país.

No fimjaneiro, o senador escreveu um artigo publicado no site da CNN intitulado "US should go big on Brazil" (Os EUA devem investir no Brasil). "É crucial que os Estados Unidos capitalizem nessa oportunidade histórica para aproximar as duas nações", escreveu.

"Um forte, vibrante e democrático Brasil mais alinhado aos Estados Unidos como um parceiro estratégico pode ser uma força multiplicadora para lidar com a criseandamento na Venezuela e combater as intenções malignasregimes autoritários como a China, a Rússia e o Irã, que tentam expandirpresença e atividades na América Latina."

Para conseguir esse apoio político do Brasil contra a Venezuela, ele argumenta que Trump deveria fazer uma sérieconcessões ao país, aumentando o investimento, a cooperação no setor da energia, apoiando a entrada do Brasil na OCDE, entre outros.

Rubio, que pertence aos comitêsInteligência eRelações Exteriores do Senado, já disse que uma ação militar na Venezuela para derrubar o governoNicolás Maduro "é sempre uma opção".

Eduardo Bolsonaro chegou a afirmar o mesmo no ano passado. Ao jornal chileno La Tercera, disse que "todas as opções estavam na mesa" para resolver a crise da Venezuela; dentre essas opções, o uso da força. O presidente Bolsonaro descartou a possibilidade.

Scott também já defendeu a invasão da Venezuela. "Respeito aqueles que são cuidadososrelação aos perigos da intervenção militar. Normalmente estou entre eles. Mas é horaadmitir que a faltaação pode ser igualmente perigosa, se não for mais ainda", escreveuum texto publicado no jornal The Washington Postmaio2019. O link para o texto foi compartilhado por Eduardo Bolsonaro no Twitter e qualificado pelo deputado como "excelente".

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Felipe Loureiro, professor do InstitutoRelações Internacionais da USP (UniversidadeSão Paulo) e pesquisador do Instituto NacionalEstudos sobre os Estados Unidos, observa que a Flórida é um dos estados-chave nas eleições americanas deste ano e, por isso, os políticos devem fazer tudo o que "der um 'boost' emvotação, e certamente ações anti-Maduro dão".

Ele observa que existe um vínculo ideológico entre a direita americana e ao bolsonarismo, e que a família Bolsonaro também capitalizou na questão da Venezuela. "Existe uma conexãoagenda."

"Disso para o Brasil aceitar e participaração militar na Venezuela tem um caminho longo,", diz, "até porque militares brasileiros se mostraram bastante céticos ouclara oposição à intervenção militar."

Para Loureiro, o encontro entre os políticos "tem um jogointeresses enorme envolvido".

"Trump ganha na medidaque fortalece setores que são vocálicos contra o regime chavista na Venezuela, Scott ganha na medidaque fortaleceprópria posição e Bolsonaro ganha, sobretudo se conseguir alguns ganhos materiais entre Brasil e os Estados Unidos."

Além disso, destaca ele, os brasileiros que moram ou fazem turismo na Flórida compõem uma base fundamental para o bolsonarismo. Tudo o que fizer para facilitar a vida dessas pessoas "vai cair bem para a base bolsonarista no Brasil", diz o professor.

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