Em 11 desenhos, a tragédiapromo cod betanoAuschwitz contada por artista que sobreviveu ao horror:promo cod betano

Friedman pintando a pintura 'Libertação?'

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserve

Legenda da foto, David Friedman retratou diversos aspectos da vidapromo cod betanoum campopromo cod betanoconcentração

"(Antes da Segunda Guerra), ele rumava para ser um grande artistapromo cod betanoBerlim — é um dos muitos artistaspromo cod betanouma geração perdida cujas carreiras foram interrompidas pelo regime nazista. Como filha, quero resgatá-lo do esquecimento."

Friedman nasceupromo cod betanoMährisch Ostrau, cidade que na época pertencia ao Império Austro-Húngaro e hoje fica na República Tcheca. Mudou-se aos 17 anos para Berlim, na Alemanha, para estudar e trabalhar como pintor. Durante a 1ª Guerra Mundial, pintou retratospromo cod betanosoldados e cenaspromo cod betanocombate do Exército austro-húngaro e consolidou-se como retratista, publicando dezenaspromo cod betanoobraspromo cod betanojornais e apresentando-aspromo cod betanogalerias.

Até que,promo cod betano1938, diante do recrudescimento da perseguição a judeus, Friedman pegoupromo cod betanomulher Mathilde e a filha bebê Mirjam Helene e fugiu para Praga (hoje, também na República Tcheca).

Mas não conseguiu escapar dos nazistas por muito tempo:promo cod betano1941, a família foi levada para o guetopromo cod betanoLodz, na Polônia, epromo cod betanolá transportada para Auschwitz,promo cod betano1944. Foi a última vez que Friedman viu Mathilde e Mirjam. Foram todos separados antes da chegada a Auschwitz, e acredita-se que ambas tenham morrido ali.

Friedman sobreviveu, mudou-se para Israel e depois para os EUA e reinventou-se como artista, alémpromo cod betanoformar uma nova família. Foi só muito mais tarde que ele dedicou-se a pintar muitas das obras que ilustram esta reportagem — elas retratam diversas etapas do sofrimento, perseguição e incerteza das vítimas e recontam, a seu modo, a história do Holocausto.

No caminho para um campopromo cod betanoconcentração

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Pintura "No caminho para um campopromo cod betanoconcentração"

No início, depoispromo cod betanoserem forçados a entregar seus bens valiosos aos nazistas, os judeus, "crianças e adultos, acompanhados por soldados com baionetas, caminhavam compromo cod betanobagagem rumo ao trem, onde milharespromo cod betanojudeus eram confinados como sardinhas", escreveu Friedman sobre a pintura acima, que ilustrapromo cod betanoida ao gueto (acima).

"Não é necessário descrever o que acontecia dentropromo cod betanoum vagão completamente fechado, durante dois dias e duas noites, e aquilo era apenas o começo."

Miriam Friedman Morris conta à BBC News Brasil que grande parte das pinturas sobre o Holocausto foram feitas pelo seu pai só décadas depois da guerra, nos anos 1960, nos EUA, quando ele já estava aposentado da carreirapromo cod betanoartista publicitário à qual se dedicara após se mudar para o território americano.

Miriam lembra que, à época, Friedman ficava chocado com episódiospromo cod betanoantissemitismo que ocorriam nos EUA e com marchaspromo cod betanogrupos supremacistas brancos como a Klu Klux Klan.

Alguns segundos antes da execução

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Alguns segundos antes da execução"

"Depoispromo cod betanose aposentar, ele se voltou para a arte que mais importava", relata Miriam. "Ele não podia mais deixarpromo cod betanolado as pinturas que estavam no seu coração, (da época) do campopromo cod betanoconcentração."

David Friedman escreveu na época: "Espero que todos possam ver essa arte para entender como era a perseguição sob o regime nazista. Isso pode acontecerpromo cod betanonovo. (...) Vou tentar lançar meus sentimentos sobre telas (de arte) contra o antissemitismo e contra o ódio a qualquer pessoa."

Ao comentar a obra Alguns segundos antes da execução (acima), o artista afirmou: "milharespromo cod betanojudeus na Polônia e na Rússia eram perseguidos porque o regime nazista planejava fazer as cidades e aldeias 'Judenrein'", ou livres da "influência judaica".

Judeus substiuindo cavalos

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Judeus substiuindo cavalos", que mostra prisioneirospromo cod betanogueto fazendo trabalhos forçados para o regime nazista

A ida para Auschwitz também trazia lembranças duras.

"Este trempromo cod betanogado irá para Aushchwitz-Birkenau para a aniquilaçãopromo cod betanotodas as pessoas retratadas neste quadro", escreveu Friedman sobre a pintura abaixo. "As condições lá dentro (do vagão) eram terríveis, mal conseguíamos respirar. Três dias sem comer. Nunca vou me esquecer daquela viagem."

O conjuntopromo cod betanocampospromo cod betanoconcentração é considerado o símbolo mais cruel do Holocausto: estima-se que 1,1 milhãopromo cod betanopessoas (judeus empromo cod betanogrande maioria) tenham morridopromo cod betanofome, doenças oupromo cod betanocâmaraspromo cod betanogás ali.

Trempromo cod betanogado para Auschwitz

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Trempromo cod betanogado para Auschwitz"

Miriam Friedman Morris conta que teve uma infância feliz nos EUA e que seus pais falavam pouco dos horrores que haviam vivenciado durante os anos sob o regime nazista.

Ambos tinham tatuados nos braços os números que os identificavam nos campospromo cod betanoconcentração, mas, uma vez que amigos e vizinhos — também sobreviventes epromo cod betanoorigem judaica — tinham tatuagens semelhantes, Miriam enxergava aquilo como partepromo cod betanosua vida.

"As pessoas falavam pouco sobre o Holocausto naquela época", conta.

Ela tinha cercapromo cod betano12 anos quando o pai decidu passar meses pintando algumas das obras reproduzidas aqui. Ele intitulou a sériepromo cod betano"Porque eles eram judeus", e deu o mesmo nome para a obra abaixo.

Porque eles eram judeus

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Porque eles eram judeus"

"Às vezes, só por prazer, os nazistas atiravam contra mães judias primeiro e depois contra seus filhos. Não havia fim para a bestialidade dos nazistas", escreveu Friedman a respeito.

Abaixo, a cenapromo cod betanoEnterrando um camarada: "Judeus prisioneiros indo enterrar um camarada que havia sido assassinado. Um nazista sorridente fuma enquanto assiste. Dois prisioneiros cavam uma vala. Em geral, os prisioneiros cavavam a própria vala antespromo cod betanolevarem um tiro. Isso era um prazer adicional para os nazistas."

Enterrando um camarada

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Enterrando um camarada"

Prisioneiros eram submetidos a humilhações também na alimentação e nos trabalhos forçados.

"Um pratopromo cod betanosopapromo cod betanorepolho, que era como água quente, tinhapromo cod betanodar para dois ou três homens", descreveu o artista. "Depois disso, os nazistas empurravam os prisioneiros com varas e revólveres à salapromo cod betanobanho. Às vezes eles usavam palavras gentis e contavam piadas para facilitar o processo. Mas, uma vez que os prisioneiros entravam, eram empurrados à direita, onde ficava a câmarapromo cod betanogás. Que tipopromo cod betanoinferno é esse?"

Hora da comidapromo cod betanoAuschwitz

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Hora da comidapromo cod betanoAuschwitz"

Sobre os trabalhos forçados, ele contou que "a cada manhãpromo cod betanodomingo tínhamospromo cod betanocarregar 11 quilospromo cod betanotijolos por quase 5km. Os nazistas gostavampromo cod betanoassistir a nossa tortura, enquanto não tínhamos nadapromo cod betanonossos estômagos. Se algumpromo cod betanonós desmaiasse, eles nos batiam com o cabo dos fuzis até que levantássemos para concluir o trabalho."

Na pintura abaixo, Friedman retrata a si mesmo, como o prisioneiropromo cod betanoóculos:

Marcha forçada dos prisioneiros carregando tijolos

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Marcha forçada dos prisioneiros carregando tijolos"

Friedman, por sinal, se incluipromo cod betanodiversas obras da sériepromo cod betanodesenhos "Porque eles eram judeus".

Na descrição da pintura abaixo, ele recorda o momentopromo cod betanoque um guarda o viu voltando do banheiropromo cod betanoAuschwitz. "Apesarpromo cod betanoeu ter dito que tinha permissão (para ir ao banheiro), ele me bateu diversas vezes no rosto."

O artista apanha

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "O artista apanha"

Já perto do fim da Segunda Guerra, quando o Exército nazista começava a recuar nos frontspromo cod betanoguerra, o regime começou a tirar os prisioneirospromo cod betanoseus campospromo cod betanoconcentração.

"Sem querer ceder apesar da derrota visível, os nazistas estavam determinados a impedir que os sobreviventes (dos campos) caíssem nas mãos dos Aliados (seus adversários)", descreve o Yad Vashem, principal centropromo cod betanomemória do período do Holocausto.

Nasciam, aí, as "marchas da morte", nas quais os prisioneiros eram forçados a marchar por longas distâncias,promo cod betanopleno inverno europeu, sem comida, água ou descanso. Muitos morreram a poucos meses (ou dias) do fim da guerra.

Friedman estevepromo cod betanouma dessas "marchas da morte", e retratou-se a si mesmo, novamente, como o prisioneiropromo cod betanoóculos na pintura abaixo:

Marcha da Morte

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Marcha da Morte"

A libertação viria pouco depois, marcando o fimpromo cod betanoum calvário mas o iníciopromo cod betanoum períodopromo cod betanomuita incerteza, sensação que o artista tenta transmitir empromo cod betanoobra.

"Em 25promo cod betanojaneiropromo cod betano1945, ouvimos tiros e percebemos que os nazistas estavam fugindo", relatou Friedman. "Não conseguíamos acreditar que estávamos livres."

"Eles não sabiam o que ia acontecer com a chegada dos russos (que libertaram Auschwitz)", agrega Miriam. "A obra mostra a perplexidadepromo cod betanoestar liberto."

Libertação?

Crédito, ©1989 Miriam Friedman Morris / All rights reserved

Legenda da foto, Obra "Libertação?"

Friedman morreupromo cod betano1980, nos EUA, e grande partepromo cod betanosua obra hoje é partepromo cod betanocoleções permanentes ou itinerantespromo cod betanomuseus dedicados à memória do Holocaustopromo cod betanolocais como EUA, Israel e Alemanha — um deles,promo cod betanoNova Jersey, criou uma exposição dedicada a Friedman que estápromo cod betanocartaz e vai até 2promo cod betanofevereiro.

Miriam só viria a descobrir boa parte do passado do pai depois da morte dele, quando ela herdou diários escritos por Friedman com suas recordações da Segunda Guerra Mundial. Até então, ela pouco sabia sobre a primeira mulher que ele havia perdido na guerra — e sobre a irmã que morreu ainda bebê nas mãos dos nazistas epromo cod betanohomenagem à qual foi batizada.

David Friedman compromo cod betanoprimeira família

Crédito, Arquivo pessoal/Miriam Friedman Morris

Legenda da foto, David Friedman compromo cod betanoprimeira mulher, Mathilda, e a bebê Mirjam: eles foram separados ao chegar no campopromo cod betanoconcentração e nunca mais se viram

"Ele não falava a respeito e eu não perguntava, porque sabia que era muito dolorido para ele", conta Miriam. "Quando li seu diário, descobri o quão pouco eu sabia da vida dele."

Desde então, ela se dedica a resgatar obras antigas do pai que tenham sido saqueadas pelo nazismo e que estavam perdidaspromo cod betanodiversas cidades do mundo. Visitou a cidade tcheca onde ele nasceu, foi a Auschwitz e ao local onde ele foi libertado, na Polônia. "Depoispromo cod betanoseguir os passos dele, passei a verpromo cod betanoobra com outros olhos."

Miriam com os pais David Friedman e Hildegard, que também era sobrevivente do Holocausto

Crédito, Arquivo pessoal/Miriam Friedman Morris

Legenda da foto, Miriam com os pais David Friedman e Hildegard, que também era sobrevivente do Holocausto: infância foi feliz e com poucas menções ao horror vivido na guerra

"A obra dele sobre o Holocausto é a mais importante, mas sempre me intrigou seu trabalho prévio e quero tentar recontarpromo cod betanohistória", conta Miriam.

"É muito gratificante quando posso compartilhar a vida e trabalho dele. Eu sempre soube que ele era um artista especial."

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Línea

Crédito, Getty Images

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