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A história por trás da foto mais emblemática dos protestos no Equador:sol bet aposta
Arco integrava o grupo fotográfico Fluxus Foto, que cobria as marchas na capital equatoriana. Sua imagem da indígena foi enviada à agênciasol bet apostanotícias Bloomberg, com a qual ele colabora, e assim foi publicada pelo jornal americano The Washington Post.
Os protestos começaram após a decisãosol bet apostaMorenosol bet apostadar fim a 40 anossol bet apostasubsídios aos combustíveis e terminaram neste domingo com um acordo entre o governo e os líderes indígenas. O decreto presidencial foi revogado, e, como contrapartida, as manifestações realizadas há quase duas semanas foram suspensas.
Para David, apaixonado por questõessol bet apostadireitos humanos, gênero e território,sol bet apostafoto mostra "o papel vital das mulheres indígenas nos protestos, uma vez que elas estavam na linhasol bet apostafrente tanto quanto os homens".
Mulheres, mães e filhas
Naquele 9sol bet apostaoutubro, eu estava a poucos quarteirõessol bet apostaArcos, cobrindo pela primeira vez um protesto indígena como jornalista, e fiquei impressionado ao ver centenassol bet apostamulheres marcharem pelo centrosol bet apostaQuito, muitas com seus filhos a tira colo e trajando blusas bordadas, saias e lenços. Além desse cuidado comsol bet apostaaparência, outra marca era a forma enfática com que faziam suas reivindicações.
"Vamos resistir até o fim. Somos mães, mulheres e filhas. Estamos vindo das diferentes Províncias do país para exigir que o Estado, abusandosol bet apostaseu poder, não mate nosso povo. Não permitiremos isso", disse Marta Chango, do povoadosol bet apostaSalasaca e coordenadora do movimento político Pachakutik na Provínciasol bet apostaTungurahua.
A presençasol bet apostatantas mulheres nas marchas indígenassol bet apostaQuito não surpreendeu só os correspondentes estrangeiros, mas também alguns equatorianos.
"Há um preconceito prodominante no Equadorsol bet apostaque os índios batem nas mulheres, do índio machista e da índia submissa, essa é a visão hegemônica", diz Adriana Rodríguez, professorasol bet apostadireito da Universidade Andina e especialistasol bet apostadireitos humanos dos povos indígenas.
"Acredito que as imagens que surgiram nos diassol bet apostaresistência, imagens superfortes, posicionam socialmente quem são as mulheres indígenas, que historicamente estão na vanguarda da reivindicaçãosol bet apostaseus direitos."
Roupas tradicionais e crianças
Mariana Yumbay,sol bet aposta46 anos, integra as organizações indígenas Conaie e Ecuarunari desde os 14. "Quase uma vida inteira", diz ela, que ésol bet apostauma comunidade chamada Corral, na cidadesol bet apostaGuaranda, na Provínciasol bet apostaBolívar, e foi a Quito protestar.
"As mulheres indígenas sofrem uma violação triplasol bet apostaseus direitos: porque são mulheres, porque são indígenas e porque são pobres. Os dados oficiais mostram que as mulheres indígenas continuam sofrendo com esse alto nívelsol bet apostapobreza,sol bet apostaviolência psicológica, sexual, física e cultural."
Ela considera que essa situação forçou a mulher indígena a travar uma luta dupla: por seus direitos como mulher, fora e dentro do movimento, e também pelas causas fundamentais dos povos indígenas, como questões territoriais,sol bet apostaidentidade cultural esol bet apostaeducação bilíngue.
Quando pergunto por que elas marcham com seus trajes tradicionais, ele responde que a mulher é a guardiã da cultura,sol bet apostatudo o que a identidade cultural implica, e o uso destas roupas faz parte desta identidade.
"Eu mesma uso sombrero (chapéu), anaco (a saia), bayeta (o xale), colar, blusas bordadas. Não é que nós trocamossol bet apostaroupa para ir à marcha. E, como estamos na cidade, as mulheres vêm com suas melhores roupas para participar dessa luta."
No entanto, o que aconteceusol bet apostaQuito nesta semana pode fazer com que essas mulheres repensem o usosol bet apostaroupas tradicionais.
"Nunca esperávamos essa repressão à qual fomos submetidos. Quando eles lançaram gás, eu não pude correr por causa do meu traje e fiquei sentada. Então, no início da marcha, conversamos e dissemos que não podíamos mais vir assim, porque não podíamos fugir. Fica mais fácil para a polícia nos pegar e nos reprimir."
Outro elemento que diferencia homens e mulheres indígenas nas marchas é que elas carregam seus filhos, geralmente nas costas, envoltos nas roupas das mães.
"Muitos não entendem por que levamos nossos filhos pequenos e nos questionam por que não os deixamossol bet apostacasa, mas isso é não entender a realidade dos povos indígenas", explica Yumbaya.
Ela ressalta que a mãe indígena tem uma relação muito íntima com seu bebê: deixar a criançasol bet apostauma creche não faz parte da visãosol bet apostamundosol bet apostaseu povo — não há o costumesol bet apostaconfiar a outra pessoa os cuidados com a criança — e que não há como dizer a uma pessoa "para olhar o bebê até que eu volte da marcha".
Rodríguez acrescenta que participar nessas marchas com toda a família também é algo relacionado ao sensosol bet apostacomunidade dos índios equatorianos. "Por que eles vêm com seus filhos? Por ser uma resistência comunitária, vem a mãe, avô, avó, vêm todos."
O papel histórico das mulheres indígenas
O historiador Franklin Cepeda diz que os protestos indígenas começaram nesta região dos Andes muito antessol bet apostao Estado equatoriano ser estabelecido. "Há revoltas desde o início do século 19,sol bet aposta1803, que prenunciam os levantes subsequentes no Equador como tal."
No século 20, a mulher indígena se torna mais conscientesol bet apostaseu papel histórico, afirma Cepeda. "Talvez elas ainda não tivessem visibilidade suficiente, mas conquistaram espaços importantes, principalmente na arena política, com cargossol bet apostavereadoras e deputadas."
Na luta por essa visibilidade, diz o historiador, eles tiveramsol bet apostalutar até contra outras mulheres. "Por exemplo,sol bet aposta1919,sol bet apostaRiobamba, na fábrica têxtil El Prado, houve um protesto das trabalhadoras contra a decisão dos proprietáriossol bet apostacolocar as mulheres indígenas para aprenderem junto com as mestiças-brancas da cidade."
Mas Cepeda indica que não é necessário idealizar o papel da mulher indígena. "Morosol bet apostaRiobamba, e há queixas constantessol bet apostamulheres camponesas que são levadas para as marchas sob a ameaça, por exemplo, da retirada do serviçosol bet apostaágua para irrigação. Podem ser casos excepcionais, mas há divisões. Não há entre os indígenas do Equador uma posição única."
Para Rodríguez, trata-sesol bet apostaanalisar as relaçõessol bet apostapoder. "O importante é entender nessas relações o papel da mulher e como ela alcança a liderança política e na prática."
Essa liderança política remonta,sol bet apostaacordo com a professora da Universidade Andina, à décadasol bet aposta1930, quando mulheres como Dolores Cacuango e Tuagua Amaguaña participaram da fundação da Federação Equatorianasol bet apostaÍndios, bem como das primeiras uniões agrícolas e as primeiras escolas bilínguessol bet apostaespanhol e kichwa.
"Então, nas décadassol bet aposta1960 e 1970, Blanca Chancoso assume a frente. Até hoje, ela está na luta e participou da marcha no sábado passado, formada apenas por mulheres."
Mas podemos dizer que as mulheres indígenas são feministas? "Eles não se identificam assim, mas são mais feministas do que pensamos. Sempre reivindicam uma presença constantesol bet apostasuas comunidades. Chamo issosol bet apostafeminismo comunitário prático. Há alguns intelectuais indígenas que falam sobre um patriarcado ancestral, e o que as mulheres indígenas fizeram foi combater esse patriarcado", diz Rodríguez.
Para o fotógrafo David Díaz Arcos, que nunca imaginou quesol bet apostafoto fosse viralizar, o registro que ele fez daquela indígena, com quem trocou apenas algumas palavras e depois não voltou a ver, ilustra exatamente essa luta. "A foto fala por si", diz.
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