O programaraspadinhas betanorádio que ajudou a 'ressuscitar' crianças do genocídioraspadinhas betanoRuanda:raspadinhas betano
Esta história começa no final do genocídioraspadinhas betanoRuanda. Cem diasraspadinhas betanoassassinato e estupro terminaram com cercaraspadinhas betano800 mil tutsis e hutus moderados mortos.
Centenasraspadinhas betanomilharesraspadinhas betanopessoas fugiramraspadinhas betanosuas casas buscando um lugar mais seguro e, entre elas, havia cercaraspadinhas betano120 mil crianças que se separaramraspadinhas betanosuas famílias.
Mugabo e seu irmão mais novo, Tuyishimire, eram apenas dois dos 40 mil que cruzaram a fronteira para buscar refúgioraspadinhas betanopaíses vizinhos. E Mugabo - com apenas sete anosraspadinhas betanoidade - se tornou o cheferaspadinhas betanosua casa, num camporaspadinhas betanorefugiados no que hoje é a República Democrática do Congo.
Afinal, a última incumbência queraspadinhas betanomãe lhe dera antesraspadinhas betanomorrer era cuidarraspadinhas betanoTuyishimire, até então uma criança pequena.
"Vivíamos pedindo esmola, tomate e peixe ", lembra ele.
Mas os campos eram lugares perigosos: os milhõesraspadinhas betanorefugiados que buscaram abrigo ali podem ter sobrevivido ao genocídio, mas agora se deparavam com cólera e diarreia.
Dezenasraspadinhas betanomilhares morreriam antes que pudessem voltar para casa.
"Os camposraspadinhas betanorefugiados eram ruins, muito ruins. Havia doençasraspadinhas betanotodos os lugares", diz René Mukuruwabu à BBC, sentadoraspadinhas betanoum jardimraspadinhas betanoKigali, a quilômetrosraspadinhas betanoonde ele eraspadinhas betanofamília foram obrigados a morar quando foram forçados a fugir.
René,raspadinhas betanocerta forma, teve sorte: ninguémraspadinhas betanosua família morreu quando chegaram à Tanzâniaraspadinhas betano1994.
Mas então seu pai desapareceu eraspadinhas betanomãe, que montou uma clínica para ajudar os doentes, engrossou as estatísticas dos mortos no campo.
De repente,raspadinhas betanofamília se restringiu a ele, seu irmão Fabrice eraspadinhas betanomeia-irmã.
Pouco tempo depois, René, na época com cinco anos, estaria sozinho no mundo.
Depois que o genocídio terminouraspadinhas betanojulhoraspadinhas betano1994, agências humanitárias foram confrontadas com uma sérieraspadinhas betanoproblemas - como cuidar dos feridos, como alimentar os famintos, como abrigar os sem-teto.
E como reunir crianças perdidas, separadasraspadinhas betanosuas famílias.
Mas - muito antes da internet ou dos smartphones, quando as pessoas fugiam apenas com a roupa do corpo,raspadinhas betanomeio a um paísraspadinhas betanocrise - como é possível promover esse reencontro?
"A ideia partiuraspadinhas betanoNeville Harms, diretor do serviçoraspadinhas betanolíngua suaíli da BBCraspadinhas betano1994", explica Ally Yusuf Mugenzi. "Ele decidiu montar um projeto para reunir famílias que estavam desaparecidas".
E assim foi elaborado um plano para criar um programa curtoraspadinhas betano15 minutos que seria transmitido pela BBC a Ruanda e aos países vizinhos. Começaria com um boletimraspadinhas betanonotícias seguido por pessoas buscando seus parentes desaparecidos.
A tarefa não foi fácil e contou com a ajuda da Cruz Vermelha, que gravou e enviou as gravações para o estúdio.
"Demos voz às pessoas desses campos", explica Mugenzi, que se tornou um dos dois apresentadores do programa.
O programa ganhou o apelidoraspadinhas betanoGahuzamiryango, que significa "o unificadorraspadinhas betanofamílias" e foi transmitido pela primeira vez há 25 anos. Deveria durar apenas três meses. No entanto, esse prazo acabou estendido.
A última vez que René viu seus parentes, eles estavam voltando para Ruanda. Então, desapareceram.
"Você pode imaginar uma criança que se perde dos pais?", pergunta. "Chorava sem parar, já tinha perdido as esperanças. Via muitas pessoas ao meu redor, mas nenhuma delas era da minha família".
Quando foi encontrado por agentes humanitários, René havia perdido a capacidaderaspadinhas betanofalar.
"Eles perguntaram meu nome, meu endereço. Mas não conseguia falar. Tinha medo. Também tinha perdido a confiança nas pessoas e minhas esperanças".
René continuou sem falar por meses, enquanto passava por orfanatos cheiosraspadinhas betanocrianças que, como ele, se perderam dos parentes.
Mas então - quando foi finalmente adotado - ouviu uma voz no rádio.
"Meu vizinho veio correndo para me dizer que tinha ouvido meu nome no rádio", lembra ele. Ele correu para a casa do vizinho para ouvir por conta própria.
"Eles (apresentadores) estavam lendo nomes - o meu nome estava lá."
"Não conseguia lembrar o meu nome, mas lembrava o nome do meu irmão mais novo", revela Mugabo, enquanto mostra à BBC uma foto dos dois meninos que a Cruz Vermelha descobriu vivendo sozinhos na República Democrática do Congo.
Mas foi o suficiente:raspadinhas betanoKigali, o tio Theogene ouviu a transmissão.
"Quando ouvi pelo rádio, pensei que era uma mensagem dos céus", diz ele, sorrindoraspadinhas betanosatisfação mesmo após tanto tempo.
"Isso ocorre porque as pessoas que estavam aquiraspadinhas betanoRuanda não tinham comunicação, não recebíamos mensagensraspadinhas betanonenhum lugar".
Mas ouvir os nomes foi apenas a primeira parteraspadinhas betanouma longa jornada para levar os meninosraspadinhas betanovolta para casa. O país ainda estava mergulhadoraspadinhas betanoconfrontos e as estradas eram perigosas.
Além disso, os meninos estavam com medoraspadinhas betanovoltar.
"Vi a carta do meu tio que estavaraspadinhas betanoRuanda e que ele queria nos ver. Mas recusei", diz Mugabo.
"Vi meu pai morrer, vi minha mãe morrer, então por que deveria voltar?"
E havia mais uma coisa: seu tio era um soldado da Frente Patrióticaraspadinhas betanoRuanda - o exército rebelde tutsi que assumiu o poderraspadinhas betanoRuanda, encerrando o genocídio. E aqueles soldados, Mugabo aprendeu desde criança, eram "baratas que tinham caudas".
Mas seu tio tinha mais uma carta na manga: ele enviou uma fotoraspadinhas betanoeraspadinhas betanooutroraspadinhas betanoseus irmãos. Foi o suficiente: depoisraspadinhas betanoum ano na floresta, Mugabo e Tuyishimire voltaram para casa.
René não sabe dizer por que não fez nada quando ouviu seus nomes no rádio. Medo, possivelmente: ele sabia que tinha uma vida feliz comraspadinhas betanofamília adotiva. Talvez isso o fizesse sentir mais seguro.
Ao mesmo tempo, contudo, também lhe deu esperançaraspadinhas betanoque alguém estivesse procurando por ele.
"Nunca tirei isso da minha cabeça", diz. "Queria ouvi-lo (tio)raspadinhas betanonovo no rádio, mas nunca aconteceu".
Sendo assim, René decidiu não mudar seu sobrenome, mesmo quandoraspadinhas betanomãe adotiva sugeriu que ele adotasse o da nova família.
Quando ele entrou no Facebook maisraspadinhas betano15 anos depois, se perguntou se alguém poderia reconhecê-lo. E não precisou esperar muito por uma resposta.
"Coloquei meu nome no sábado e no domingo, eles me encontraram."
"Em 1995, tentamos encontrá-lo", diz Charles, tioraspadinhas betanoRené, à BBC. "Não o encontramos, mas não o esquecemos. Estávamos pensando que ele estava morto", acrescenta.
"E então, 18 anos depois, foi um milagre para nós ver que ele ainda estava vivo."
Foi o primoraspadinhas betanoRené, Olivier, que o encontrou no Facebook. Olivier contou à família que o menino esquecido pela história havia "ressuscitado". Só que ele não era mais um menino.
"Você se parece com seu irmão mais novo", disse Olivier a René na primeira vezraspadinhas betanoque se conheceram. "É você, sem dúvida."
Foi a primeira vez desde que os dois se separaram, todos esses anos atrás, que René soube com certeza que seu irmão havia sobrevivido.
As transmissõesraspadinhas betanorádio não eram a única maneira pela qual a Cruz Vermelha e outras agênciasraspadinhas betanoajuda humanitária tentavam reunir as crianças com suas famílias. Fotos foram compartilhadas, listas foram feitas e as crianças foram levadasraspadinhas betanovilarejo a vilarejo, a fimraspadinhas betanoencontrar suas famílias.
No final, Espèrance Hitimana, atualmente gerenteraspadinhas betanoproteçãoraspadinhas betanodados do Comitê Internacional da Cruz Vermelharaspadinhas betanoKigali, estima que conseguiram reunir 70 mil pessoas.
Mas o trabalho ainda continua.
"Ainda temos cercaraspadinhas betanodois ou três casos por mês", diz ela. "Em alguns casos, temos sucesso e encontramos as famílias. Em outros, não temos notícias. Não há nada que podemos fazer senão dizer a eles que fizemos o que podíamos".
Quanto ao serviçoraspadinhas betanorádio da BBC, ele ainda exista - embora os apresentadores não leiam mais os nomes dos desaparecidos.
Mugenzi - que agora comanda o que se tornou o Serviçoraspadinhas betanoGrandes Lagos da BBC - fala com orgulho quando fala sobre o que ele eraspadinhas betanoequipe conseguiram alcançar nos últimos 25 anos.
"Trata-seraspadinhas betanouma plataforma que vem divulgando notícias verdadeiras, justas e imparciais por todos esses anos", diz.
Mas ele sabe que as pessoas ainda se lembramraspadinhas betanocomo tudo começou - pessoas como René, que agora vive com seu tioraspadinhas betanoKigali, pertoraspadinhas betanoseu irmão mais novo, e como Mugabo e Tuyishimire, que vivem pertoraspadinhas betanoseu tio Theogene.
Theogene resume a importância dessas transmissões.
"Sem a BBC", diz ele, "eles teriam morrido".
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