Por que o bilionário George Soros é odiado pela direita radical:copag poker
O FBI relacionou as bombas a uma van branca cobertacopag pokeradesivos pró-Donald Trump e anti-Partido Democrata, estacionadacopag pokerum supermercado na Flórida.
Rapidamente, a imprensacopag pokerdireita alegou se tratarcopag pokeruma operação "falsa" que almejava atrapalhar Trump e a campanha republicana, poucas semanas antes da eleição legislativa nos EUA.
"Notícias falsas e bombas falsas. Quem poderia se beneficiarcopag pokertantas falsidades?", tuitou Lou Dobbs, apresentador da Fox News. "Republicanos simplesmente não fazem esse tipocopag pokercoisa", afirmou o radialista conservador Rush Limbaugh.
Em pouco tempo, a internet estava inundadacopag pokeralegaçõescopag pokerque as bombas haviam sido plantadas pelo próprio Soros.
Trump condenou os "atos desprezíveis", mas quando uma pessoa presentecopag pokeruma recepção da Casa Branca gritou "Soros! Prendam-no", o presidente deu risada.
Até que foi preso um homemcopag poker56 anos, chamado Cesar Sayoc e morador da Flórida.
As teorias da conspiração da época diziam que Sayoc não era um republicano. Mas Luigi Marra, um ex-colegacopag pokertrabalho dele, disse à BBC News que Sayoc entregava pizzas usandocopag pokervan repletacopag pokeradesivos pró-Trump e discutia com clientes que tivessem faixas democratas penduradascopag pokersuas casas.
"Tudo para ele era uma teoria da conspiração, tudo", conta Marra. "George Soros estava por tráscopag pokertudo, estava comprando o Partido Democrata, era o epicentrocopag pokertudo o que estavacopag pokererrado nos EUA."
Nas redes sociais, no diacopag pokerque a bomba foi descoberta na casa do bilionário, Sayoc repostou um meme que dizia "o mundo está acordando para os horrorescopag pokerGeorge Soros".
Sayoc mais tarde admitiria culpacopag poker65 acusações, incluindo intençãocopag pokermatar ou ferir com explosivos, e foi sentenciado a 20 anoscopag pokerprisão.
Mas como George Soros acabou se tornando, na visão da direita radical, no cérebro por tráscopag pokeruma conspiração global?
Especulador agressivo
No Reino Unido, o bilionário é conhecido como "o homem que quebrou o Banco Centralcopag poker1992". Junto com outros especuladores financeiros, ele tomou libras emprestadas e as vendeu, ajudando a dinamitar o preço da moeda nos mercados, e forçando o governo britânico a abandonar um sistema monetário europeu cuja finalidade era evitar grandes flutuações cambiais.
Com a especulação agressiva, Soros lucrou US$ 1 bilhão.
Acredita-se que o migrante húngaro, que sobreviveu ao Holocausto e fugiu dos regimes comunistas do Leste Europeu, tenha feito fortunacopag pokerUS$ 44 bilhões com especulações financeiras semelhantes.
Parte dessa fortuna — US$ 32 bilhões — foi usada para financiar milharescopag pokerprojetoscopag pokereducação, saúde, direitos humanos e valores democráticos liberais ao redor do mundo.
Criadacopag poker1979,copag pokerfundação Open Society hoje operacopag pokermaiscopag poker120 países (Brasil incluído). Mascopag pokerfilantropiacopag pokerfavorcopag pokercausas liberais e democráticas fez dele o bicho-papão da direita.
As primeiras teorias conspiratórias sobre Soros remetem ao início dos anos 1990, mas ganharam força mesmo depois que ele condenou a Guerra do Iraque,copag poker2003, e começou a doar milhõescopag pokerdólares para o Partido Democrata dos EUA. Desde então, comentaristas e políticoscopag pokerdireita atacam Soros com crescente fúria e acidez, e muitas vezes atendo-se pouco aos fatos concretos.
Depois da eleiçãocopag pokerDonald Trump,copag poker2016, os ataques a Soros alcançaram um novo — e perigoso — nível.
Em agostocopag poker2017, passados oito meses desde a eleição, neonazistas realizaram uma procissãocopag pokerCharlottesville, no Estado da Virgínia. Confrontos com manifestantes do outro lado terminaramcopag pokertragédia quando um supremacista branco avançou com seu carro contra uma multidão e matou Heather Heyer, 32 anos.
A direita logo passou a dizer que a violência havia sido orquestrada e financiada por Soros,copag pokeruma tentativacopag pokerprejudicar a reputaçãocopag pokerTrump. Essa teoria, divulgada pelo radialistacopag pokerdireita Alex Jones, alegava que um homem chamado Brennan Gilmore, que havia filmado o carro avançando contra a multidão, recebera US$ 320 mil e fazia partecopag pokeruma tentativacopag pokerderrubar o presidente dos EUA.
As provas disso, porém, são frágeis.
Soroscopag pokerfato doou US$ 500 mil à campanha políticacopag pokerTom Perriello, candidato democrata na Virgínia, para o qual Gilmore trabalhara, mas não há nenhuma provacopag pokerque a Open Society tenha tenha orientado ou financiado um contraprotestocopag pokerCharlottesville. Gilmore, que nunca recebeu dinheiro diretamentecopag pokerSoros, está processando Alex Jones e outros por difamação.
'Caravanacopag pokerimigrantes'
Desde então, os ataques contra Soros se intensificaram. Um ano atrás, milharescopag pokermigrantes deixaram Honduras rumo aos EUA, um mês antes das eleições legislativas que ameaçavam diminuir o controle republicano no Congresso.
Imediatamente, a chamada "caravanacopag pokerimigrantes" foi atribuída a Soros. A emissora Fox News repetidamente afirmou que Soros defende fronteiras abertas e imigração irrestrita.
"É um esforço organizado. E alguém está por trás dele, alguém está pagando por parte disso, e seria típicocopag pokerGeorge Soros se envolver nisso", alegou à BBC Jack Kingston, um ex-deputado republicano.
Decopag pokerparte, Trump retuitou um vídeo que alegava que dinheiro estava sendo distribuído a pessoascopag pokerHonduras para "invadir a fronteira dos EUA", sugerindo que o dinheiro viriacopag pokerSoros.
Perguntado a respeito, Trump afirmou que "não ficaria surpreso (se Soros financiasse a caravana). Muitas pessoas dizem que sim".
Cindy Jerezano, que viajou com a caravana desdecopag pokercasacopag pokerHonduras até os EUA, disse à BBC nunca ter recebido ofertacopag pokerdinheiro e que decidiu por conta própria viajar os 4.800 km até San Diego.
Ela foi amparada, ao chegar aos EUA, por uma associação católica da Diocesecopag pokerSan Diego. Nadine Toppozada, diretoracopag pokerserviços migratórios da associação, explicou que os advogados da instituição entrevistaram extensivamente os migrantes, mas nunca ouviram nenhuma menção a Soros. Tampouco encontraram qualquer evidência do envolvimento do bilionário.
E mais, o vídeo retuitado por Trump se provou falso:copag pokerpoucas horas, jornalistas descobriram que as imagens não haviam sido feitascopag pokerHonduras, mas sim na vizinha Guatemala.
A caravana foi gravada durante todacopag pokerjornada. Associações locais eram vistas ajudando os migrantes. Mas não houve nenhum indìciocopag pokerfinanciamentocopag pokerSoros.
'Genocídio branco'
Em 27copag pokeroutubrocopag poker2018, onze dias após emergir a primeira teoria da conspiração sobre a caravana, e cinco dias depoiscopag pokera bomba ser entregue à casacopag pokerSoros, um homem branco armado com um fuzil e três revólveres entroucopag pokeruma sinagogacopag pokerPittsburgh. Ele assassinou 11 judeus.
Foi o pior atocopag pokerviolência antissemita na história dos EUA — e foi levado a cabo por um homem obcecado por George Soros.
Os posts nas redes sociais do atirador, Robert Bowers, revelavam que ele acreditavacopag pokeruma obscura teoria da conspiração antissemita chamada "genocídio branco", da qual Soros seria o criador.
A teoria alega que pessoas brancas estão sendo substituídas por imigrantes e serão,copag pokerúltima instância, eliminadas. Isso está ligado aos cantoscopag pokerneonazistas, "judeus não nos substituirão", enquanto marchavam por Chalottesville.
Joel Finkelstein, diretor da Network Contagion Research Institute, grupo dedicado a expor discursoscopag pokeródio na internet, descobriu um postcopag pokerque Bowers se refere a Soros como "o judeu que financia o genocídio branco e controla a imprensa" e alegava que o bilionário patrocinava o controlecopag pokerarmas e fronteiras abertas.
Finkelstein, que recebeu financiamento da Open Society para investigar o que acredita ser uma ameaça crescente, concluiu que supremacistas brancos como Bowers veem Soros como o cérebro judeu controlando tudo. "Esses agentes violentos justificamcopag pokerviolência apontando o dedo a Soros como forma suprema do mal", diz.
A vilanizaçãocopag pokerSoros se espalhou para além dos EUA, na Armênia, Austrália, Honduras, Filipinas, Rússia e outros países.
O premiê turco Recep Tayyip Erdogan acusou o bilionáriocopag pokerestar no centrocopag pokeruma conspiração judaica para "dividir" e "partir" a Turquia e outras nações.
Na Itália, o ex-vice-premiê Matteo Salvini acusou-ocopag pokerquerer encher o paíscopag pokermigrantes porque "ele gostacopag pokerescravos".
O líder do Partido do Brexit britânico, Nigel Farage, acusou Soroscopag poker"ativamente estimular pessoas (...) a inundar a Europa" e "em muitas formas ele é o maior perigo ao mundo ocidental".
Ataques na Hungria
Mas um país e um governo foram além para atacar Soros. Em seu paíscopag pokerorigem, a Hungria, onde ele patrocinou merendas escolares, projetoscopag pokerdireitos humanos e uma universidade, o premiê Viktor Orban afirmou que o bilionário tem um plano secretocopag pokerencher o paíscopag pokerimigrantes e destruir a nação.
Leonard Benardo, vice-presidente da Open Society, rebate que "essa alegação é falsa".
"Nem o George Soros nem a Open Society são propositorescopag pokerfronteiras abertas", disse.
O governo húngaro patrocinou uma campanhacopag pokermarketing pedindo que os eleitores não deixassem Soros "rir por último" e criou o que chamacopag pokerleis "Parem Soros", criminalizando a ajuda a imigrantes irregulares e cobrando impostoscopag pokerorganizações que "promovam a migração".
"Há muito dinheiro entrando no impériocopag pokerSoros, bilhõescopag pokerdólares nas últimas décadas", disse à BBC Zoltan Kovacs, porta-voz do governo Orban. "É muito dinheiro, e ninguém pode ser ingênuocopag pokeracreditar que esse dinheiro não tem peso nem intenções."
Como diz Michael Ignatieff, presidente e reitor da Universidade Central Europeia, financiada por Soros, "o governo Orban decidiu transformar Soroscopag pokerinimigo público número um".
Mas como isso aconteceu?
Mentor do bode expiatório
As respostas estão no Estadocopag pokerNova York.
Em 2013, quando o líder húngaro buscava estratégias para se reeleger, entroucopag pokercontato com um lendário consultor político, Arthur Finkelstein (nenhum parentesco com Joel), que trabalhavacopag pokerum pequeno escritóriocopag pokerIrvington, a apenas 30 km da mansãocopag pokerSoros.
Arthur Finkelstein, que morreucopag poker2017, trabalhou para Donald Trump, George Bush pai, Ronald Reagan e Richard Nixon e é conhecido por fazer a palavra "liberal" soar como palavrão na política americana.
Finkelstein criou um estilocopag pokerfazer política chamado "Finkel Think", diz Hannes Grassegger, repórter do periódico suíço Das Magazin e autorcopag pokerreportagens sobre o assunto.
"Arthur Finkelstein sempre dizia, 'você não faz oposição ao Talebã, faz a Osama Bin Laden'. É uma questãocopag pokerpersonalização,copag pokerescolher o inimigo perfeito e ir com tudo contra essa pessoa,copag pokermodo que o povo fique com medo do seu oponente. E nunca fale sobre as propostascopag pokerseu próprio candidato, elas não importam nada."
Finkelstein percebeu que o melhor jeitocopag pokerreeleger Orban era encontrando um novo inimigo. Ele sugeriu Soros como a escolha perfeita, diz Grassegger. "A direita já o odiava por ser judeu, e a esquerda o odiava por ser um capitalista."
A ironia da história é que Arthur Finkelstein era, como Soros, judeu. "Esse senhor judeu criou (a ideia) do monstro judeu", diz Grassegger.
O governo húngaro nega que tenha necessitado que alguém "inventasse" Soros como inimigo. Em comunicado, diz que "George Soros inventou a si mesmo como ator político há ao menos duas décadas. Sua redecopag pokerinstituições exerce uma grande quantidadecopag pokerpoder sem ter um mandato que venha do povo".
Mas Orban parece ter ido alémcopag pokercolocarcopag pokerprática os conselhoscopag pokerFinkelstein. Em um discurso poucas semanas antes das eleições gerais húngarascopag poker2018, o político reviveu antigos estereótipos antissemitas.
"Estamos combatendo um inimigo que é diferentecopag pokernós. Não aberto, mas escondido. Não direto, mas ardiloso. Não honesto, mas sem princípios. Não nacional, mas internacional. Não acreditacopag pokertrabalho, mas especula com dinheiro. Não tem pátria própria, mas acredita que tem o mundo inteiro", afirmou.
Viktor Orban venceu com ampla margem. Depois da eleição, seu combate às organizações financiadas por Soros se intensificaram. Em maio deste ano, a Open Society fechou seu escritório na Hungria.
Michael Ignatieff tem tentado manter a Universidade Central Europeia abertacopag pokerBudapeste e alega que está circulando uma perigosa propagandacopag pokertorno do tema,copag pokerum país onde maiscopag poker500 mil judeus húngaros foram exterminados pelos nazistascopag pokerapenas dois mesescopag poker1944.
Ignatieff argumenta que a campanha anti-Soros "é uma reprisecopag pokertodos os temas recorrentes do ódio antissemita dos anos 1930. (...) É tudo uma fantasia completa. Essa é a política do século 21: se você não tem um inimigo, invente um o mais rápido que puder, faça-o parecer o mais poderoso possível, e bingo: você mobiliza acopag pokerbase e vence uma eleição".
A professora Deborah Lipstadt, que venceu uma famosa briga judicial para expor negacionistas do Holocaustocopag pokercortes do Reino Unido, também se diz preocupada.
"Fico aterrorizada que esse tipocopag pokerretórica, que costumávamos ouvircopag pokerbares e cantos obscuros, está sendo usado por políticos, líderescopag pokerpaíses, o (ex-) vice-premiê da Itália, o premiê da Hungria. É chocante o fatocopag pokeresse tipocopag pokerlinguagem estar sendo falado."
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