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A ‘balsa do sexo’, um dos experimentos mais estranhosroleta escolhetodos os tempos:roleta escolhe
"Toda a minha vida eu tentei saber por que as pessoas brigam e entender o que realmente acontece na nossa mente", escreveu depois Genovés, uma das grandes referências mundiaisroleta escolheantropologia física, doutorroleta escolheantropologia pela Universidaderoleta escolheCambridge, no Reino Unido, que dava aulas na Universidade Autônoma do México.
O sequestro da aeronave inspirou o pesquisador a criar uma situação semelhante, que serviria como laboratório para estudar o comportamento humano.
E a experiência que havia tido alguns anos antes com o renomado aventureiro e etnólogo norueguês Thor Heyerdahl deu a ele a ideia para colocar seu planoroleta escolheprática.
Genovés havia colaborado com Heyerdahl na construçãoroleta escolheembarcaçõesroleta escolhepapiro Ra I e Ra II, no estilo dos barcos do antigo Egito, e fez parte da tripulação multinacional que cruzou o Atlântico para mostrar que os africanos poderiam ter chegado à América antesroleta escolheCristóvão Colombo.
Durante essas viagens, ele aprendeu o que todo marinheiro sabe: não há laboratório melhor para estudar o comportamento humano do que um grupo que flutuaroleta escolhealto mar.
Casa na água
Com o mar como meio isolante perfeito, o antropólogo se encarregouroleta escolhepreparar seu experimento, elaborando estratégias para provocar conflitos e ferramentas para examiná-los.
"Graças a testes com animaisroleta escolhelaboratório sabemos que a agressão pode ser desencadeada colocando diferentes tiposroleta escolheratosroleta escolheum espaço limitado. Quero descobrir se acontece o mesmo com os seres humanos."
O antropólogo mandou construir então um barcoroleta escolhe12 x 7 metros com uma pequena vela. A cabine media 4 x 3,7 metros, com "espaço apenas para o corporoleta escolhecada um, deitado. Não dá para ficarroleta escolhepé", escreveu na Revistaroleta escolhela Universidadroleta escolheMéxico,roleta escolhe1974.
E tanto o chuveiro quanto o vaso sanitário ficavam ao ar livre, à vista dos colegasroleta escolhetripulação.
Ele chamou a balsaroleta escolheAcali, que na língua náuatle significa "casa na água".
Nela, embarcariam 10 pessoas para fazer uma viagem que duraria 101 dias, sem motor, eletricidade, tampouco "barcos a acompanhando, ou possibilidaderoleta escolherecuar".
'Dez bravos desconhecidos'
Para encontrar voluntários, Genovés publicou um anúncioroleta escolhevários jornais internacionais - centenasroleta escolhepessoas responderam.
Ele escolheu quatro homens e seis mulheres - sendo apenas quatro deles solteiros e quase todos com filhos,roleta escolhediferentes nacionalidades, religiões e contextos sociais, selecionados "para criar tensões no grupo".
Entre eles, estava a capitã: a sueca Maria Björnstam, solteira,roleta escolhe30 anos, a quem Genovés convidou para ser "a primeira mulher do mundo a ser nomeada capitãoroleta escolheuma embarcação".
Não foi a única mulher a quem ele designou uma função dominante.
Genovés decidiu dar papéis importantes a todas elas, deixando para os homens tarefas insignificantes.
"Me pergunto se dar poder às mulheres levará a menos violência. Ou se haverá mais", escreveu.
Em 13roleta escolhemaioroleta escolhe1973, a balsa Acali saiuroleta escolheLas Palmas, nas Ilhas Canárias, sendo lançadaroleta escolhealto mar como uma ilha flutuando preguiçosamenteroleta escolhedireção ao seu destino: a ilha mexicanaroleta escolheCozumel.
Sexo dentro e fora
Junto com Acali também zarpou a imaginação da opinião pública, instigada pela imprensa.
Apesarroleta escolhenão contar com as câmeras que anos depois mostrariam todos os detalhesroleta escolhesituações semelhantesroleta escolhereality shows, os meiosroleta escolhecomunicação aproveitaram para criar histórias mirabolantes baseadas nos poucos minutosroleta escolhecontatoroleta escolherádio com a embarcação.
Os jornais estampavam manchetes como "As orgias na jangada do amor" ou "O segredo da balsa do amor" - que falava sobre um suposto código secretoroleta escolherádio, para o casoroleta escolhehaver alguma emergência na "balsa da paixão". Foram publicados artigos dedicados, inclusive, ao fatoroleta escolhea capitã usar biquíni, o que fez com que o projetoroleta escolheGenovés começasse a ser conhecido como "a balsa do sexo".
E, embora a realidade a bordo não fosse como os jornais pintavam, as relações sexuais estavam muito presentes no menuroleta escolheexperimentos preparado pelo antropólogo.
"Estudos científicos com macacos mostraram que existe uma conexão entre violência e sexualidade, onde a maioria dos conflitos entre machos é consequência da disponibilidaderoleta escolhefêmeas que estão ovulando."
"Para verificar se acontece o mesmo entre os seres humanos, selecionei participantes sexualmente atraentes."
"E como o sexo está ligado à culpa e à vergonha, coloquei entre eles Bernardo, um padre católicoroleta escolheAngola, para ver o que acontece. "
Na embarcação, embora vários membros da tripulação tenham tido relações sexuais, esse aspecto do comportamento humano não gerou tensões ou hostilidades dignasroleta escolhenota - a não ser que levasseroleta escolheconta o desconforto sentido pelos participantes quando descobriram, ao fim da viagem, a narrativa lasciva dos tabloides sobre a expedição.
O observador observado
No entanto, o sexo era apenas uma das facetasroleta escolheum experimento cujos objetivos eram considerados mais elevados - como o próprio Genovés confirmou ao ser questionado pela capitã Maria perante o grupo:
"Eu disse a eles que queria descobrir como criar a paz na Terra."
Para alcançar este feito, era essencial entender a agressividade dos seres humanos.
No entanto, com o passar dos dias, o único indícioroleta escolhecomportamento violento que se manifestou naquele laboratório flutuante foi dianteroleta escolheum tubarão - "para minha grande surpresa, não houve ciúme sexual, tampouco conflitos entre os participantes".
Após 51 diasroleta escolheconvivência, Genovés escreveu frustrado:
"Ninguém parece lembrar que estamos aqui tentando encontrar uma resposta para a questão mais importante do nosso tempo: Podemos viver sem guerras?"
Ele levou um tempo até perceber que seus métodos estavam efetivamente surtindo efeito: causar irritação, provocar animosidade e despertar agressividade. Mas, surpreendentemente, não da maneira que havia imaginado.
"Me dei conta que o único que havia mostrado qualquer tiporoleta escolheagressividade ou violência na balsa tinha sido eu."
E não foi só isso. Ele também foi o único alvo dos sentimentos sombrios dos outros.
'Assassinato'
Maisroleta escolhequatro décadas depois, alguns membros da tripulação confirmaram que chegaram a imaginar a hipóteseroleta escolhe"assassinato".
"Estávamos todos pensando a mesma coisa ao mesmo tempo - será que vamos fazer isso?", contou a engenheira americana Fe Seymour, no documentário A Balsa, do cineasta sueco Marcus Lindeen, que será lançadoroleta escolhesetembro no México.
Lindeen reuniu os seis participantes do projeto Genovés que ainda estão vivos para compartilhar suas memórias, fotos e filmesroleta escolheuma reconstituição do experimento.
Emroleta escolheânsiaroleta escolheproteger o projeto, Genovés acabou se comportando como "um ditador", segundo Björnstam, ao pontoroleta escolheem determinado momento assumir o comando e se declarar capitão.
"Era difícil suportarroleta escolheviolência psicológica", acrescenta o japonês Eisuke Yamaki.
Os participantes imaginaram várias estratégias: desde jogá-lo "acidentalmente" ao mar até injetar drogas que causariam uma parada cardíaca - "com a mãoroleta escolhetodos segurando a seringa".
"Me dava medo pensar que chegaria ao pontoroleta escolheque faríamos isso. Fiquei assustada. Como estávamos no mar, não é como quando você estároleta escolheterra: nada era normal."
"Naquele momento, percebi que tínhamos a capacidaderoleta escolhefazer algo terrível para sobreviver", lembra Seymourno no documentário A Balsa.
roleta escolhe Em terra firm roleta escolhe e
Mas nada grave aconteceu.
Os problemas com Genovés foram resolvidos diplomaticamente, assim como todas as outras desavenças que haviam tido durante a viagem - diferentemente do que previa o experimento.
Quando a balsa chegou ao México, todos que estavam a bordo - incluindo Genovés - foram mantidos isolados por uma semana e submetidos a uma sérieroleta escolheexames com psiquiatras, psicólogos e médicos.
O antropólogo passou por momentos difíceis durante os exames e, depois, com as críticas que foram feitas ao experimento. Mas seguiuroleta escolhefrente comroleta escolhecarreiraroleta escolheprestígio como antropólogo físico, com suas aventuras flutuantes (mais tarde, navegou sozinho para "conhecer a si mesmo") eroleta escolhefarta produçãoroleta escolheartigos e livros, entre várias outras coisas.
Para os voluntários, a viagem começou e terminou como uma aventura. Apesarroleta escolheterem vivido alguns momentos difíceis, não havia desavenças no grupo, muito pelo contrário. Eles criaram um vínculo que se mantém até hoje.
Após pesquisar minuciosamente o caso, o autor do documentário acredita que Genovés poderia ter encontrado parte do que buscavaroleta escolheAcali - mas não exatamente com seus questionários e estratégias.
"Se tivesse ouvido a explicação das pessoasroleta escolhepor que estavam na balsa - Maria fugindoroleta escolheum marido abusivo, o racismo que Fe tinha sofrido -, ele teria aprendido sobre as consequências da violência e como às vezes podemos superá-la suavizando nossas diferenças", avaliou Marcus Lindeenroleta escolheentrevista ao jornal britânico The Guardian.
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