O voluntário que pode pegar 20 anosbetclasseaprisão por dar água e comida a imigrantes que cruzam fronteira dos EUA ilegalmente:betclassea
O caso específicobetclasseajulgamento ocorreubetclasseajaneirobetclassea2018. Depoisbetclasseacruzarem a fronteira ilegalmente, jábetclasseaterritório americano, dois migrantes da América Central chegaram a um local chamado The Barn (O Celeiro,betclasseatradução livre), pontobetclasseaencontrobetclasseavoluntáriosbetclasseaorganizaçõesbetclasseaajuda humanitáriabetclasseaAjo, vilarejo fronteiriçobetclasseacercabetclassea3 mil habitantes no Estado do Arizona.
Exaustos depois da longa travessia, os homens receberam água, comida, cuidados médicos, roupas limpas e um local para dormir. Três dias depois, quando se preparavam para ir embora, foram presos por agentes da Border Patrol (PatrulhabetclasseaFronteira), agência que atua na fronteira para impedir a entrada nos Estados Unidosbetclasseaimigrantes ilegais, drogas e armas. Warren também foi detido e algemado. Ele foi libertado sob fiança e, um mês depois, foi indiciado.
Poucas horas antes da detenção, a No More Deaths havia divulgado um relatóriobetclasseaque acusava agentes da Border Patrolbetclasseadestruir milharesbetclasseagalõesbetclasseaágua deixados no deserto para os migrantes. As acusações incluíam um vídeo que mostrava agentes chutando vasilhames e despejando a água no chão. Um porta-voz da Border Patrol negou que a ação contra Warren fosse retaliação pela divulgação do relatório.
Acusação e defesa
Na abertura do julgamento, nesta semana, o promotor Nathaniel Walters disse que Warren foi visto conversando com os dois migrantes e gesticulandobetclasseadireção às montanhas, o que foi interpretado como tentativabetclasseaajudar os homens a evitar serem capturados pela patrulha da fronteira.
A acusação também afirma que os migrantes não precisavambetclasseaajuda médica e haviam comido antesbetclasseachegar ao "Celeiro" e planeja mostrar aos jurados selfies tiradas no local, além dos testemunhos gravados dos dois homens - que já foram deportados - e dos agentes da fronteira.
"Esse caso não é sobre ajuda humanitária", disse Walters. Segundo o promotor, o que estábetclasseajulgamento é que Warren "protegeu" os dois migrantes dos agentes da lei. Críticosbetclasseaorganizaçõesbetclasseacaridade que atuam na fronteira afirmam que esses grupos ajudam pessoas a entrar nos Estados Unidos ilegalmente.
Mas a defesa afirma que o caso é sim sobre ajuda humanitária e as açõesbetclasseaWarren são partebetclasseaseu comprometimentobetclasseaevitar o sofrimento que testemunhou tantas vezes ao longo do deserto. "Scott tinha um objetivo: oferecer bondade humana na formabetclasseaajuda humanitária", disse aos jurados o advogado Gregory Kuykendall.
Segundo a defesa, Warren chegou ao "Celeiro" e foi surpreendido pela presença dos migrantes, que tinham bolhas nos pés, tosse e dores do peito e disseram estar exaustos e famintos depoisbetclasseacaminhar pelo deserto por dois dias, quando haviam comido apenas um burrito dividido entre os dois. Kuykendall afirma que, ao ajudar os homens, Warren seguiu o protocolo adotado pela No More Deaths nesses casos.
As acusações criminais contra Warren provocaram reações dentro e fora dos Estados Unidos. A Anistia Internacional enviou carta aberta a autoridades americanas como partebetclasseauma campanha internacional pedindo que o DepartamentobetclasseaJustiça retire as acusações contra Warren e parebetclassea"criminalizar ajuda humanitária".
Para Brian Griffey, pesquisador da Anistia Internacional na América do Norte, é preocupante o fatobetclasseaque alguém que não trouxe os migrantes para os Estados Unidos, mas simplesmente ofereceu água, comida e abrigo, seja alvobetclasseaacusação criminalbetclasseatráficobetclasseapessoas.
"É um precedente muito perigoso que, tememos, pode ser o primeirobetclasseauma campanha do governo americano para criminalizar a ajuda humanitária, assim como o apoio mais amplo a migrantes e pessoasbetclasseabuscabetclasseaasilo na fronteira entre Estados Unidos e México", diz Griffey à BBC News Brasil.
Mortes no deserto
Segundo especialistas, o númerobetclasseamortes no deserto começou a crescer a partirbetclasseameados da décadabetclassea1990, quando o então presidente Bill Clinton adotou uma nova política para evitar a entradabetclasseaimigrantes ilegais no país.
Até então, era relativamente fácil cruzar a fronteirabetclasseaáreas urbanas. Com a nova estratégia, o governo concentrou agentes, tecnologia e infra-estruturabetclasseasegurança nessas áreas que registravam maior fluxo, impedindo a passagem dos imigrantes. Assim, as rotas usadas pelos que tentam entrar nos Estados Unidos foram desviadas para áreas mais remotas e perigosas do deserto.
A expectativa erabetclasseaque, diante dos riscos maiores, menos gente se arriscaria na jornada. "Mas enquanto as pessoas estiverem deixando condiçõesbetclasseavida precáriasbetclasseaoutros lugares e vindo para cá porque acreditam que é o melhor para elas, irão continuar atravessando a fronteira, porque não têm outra alternativa", diz à BBC News Brasil uma das integrantes da No More Deaths, Justine Orlovsky-Schnitzler.
Nos últimos 20 anos, estima-se que maisbetclassea7 mil restos mortais tenham sido encontrados na fronteira. O númerobetclasseamortos, porém, pode ser bem maior, já que muitos nunca são localizados. O Arizona concentra a maioria das mortes. No condadobetclasseaPima, onde fica Ajo, o departamentobetclasseamedicina legal registrou 2.816 restos mortais desde 2000.
Muitos desses cadáveres e ossadas são encontrados por voluntários da No More Deaths e vários outros gruposbetclasseaajuda humanitária que atuam na região. Até recentemente, essas organizações tinham uma relação tranquila com as agências governamentais que atuam na fronteira.
Mas isso vem mudando nos últimos anos, especialmente com o endurecimento do governo do presidente Donald Trump contra imigração ilegal. Segundo ativistas, houve um aumento no númerobetclasseavoluntários detidos e processados e o governo cancelou permissões para que entrembetclasseadeterminadas áreas no deserto.
Warren e outros voluntários da No More Deaths já haviam sido processados e sujeitos a multas por entrarbetclasseauma reserva natural sem autorização e por "abandonobetclasseapropriedade", referente aos recipientesbetclasseaágua e comida que deixaram nas trilhas no deserto por onde os migrantes passam.
"É certamente assustador enfrentar esse tipobetclasseaacusação legal. Mas a realidade é que as pessoas ainda estão morrendo na fronteira. E enquanto isso continuar a acontecer, nós vamos estar lá tentando salvar vidas", afirma Orlovsky-Schnitzler.
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