A acusaçãoexclusivebetestupro que divide a Itália:exclusivebet

'Estou assustada e ferida'

O repórter da BBC James Reynolds se encontrou com a mulher numa praça,exclusivebetRoma. A aparência jovem e a magreza da mulher chamaram atenção. O apertoexclusivebetmão foi tímido.

Ela estava acompanhada do advogado, que logo anunciou que a mulher estava preparada para falar.

Reynolds quis saber por que ela decidiu falar sobre o caso. "Falar é a única formaexclusivebetexpressar minha dor. Comunicar é a melhor formaexclusivebetobter justiça", disse a mulher.

Quando perguntada sobre como ela estava, a mulher buscou na bolsa um pacoteexclusivebetlençosexclusivebetpapel. "Estou um pouco ferida. Cheiaexclusivebetmedo. Estou assustada e ferida", respondeu.

O jornalista quis saber como foi quando ela registrou a ocorrência. "Inicialmente, eles acreditaramexclusivebetmim. Os advogados e os psicólogos no hospitalexclusivebetNápoles… A violência ficou evidente no exame médico. Os policiais também acreditaram, assim como a promotoria. Mas a corteexclusivebetapelação decidiu soltar dois dos caras."

A mulher falou ainda que o fatoexclusivebetos homens terem sido soltos a deixa apavorada. "Eles sabem onde moro, porque já tinham me seguido atéexclusivebetcasa uma outra vez. Estou assustada, acho que eles podem querer vingança."

O que diz a corte napolitana

A Justiça decidiu que os três homens acusadosexclusivebetestuprar a mulher poderão aguardar o julgamentoexclusivebetliberdade.

A BBC News obteve uma cópia da decisãoexclusivebet24 páginas do tribunal. O documento detalha o histórico médico da mulher, que enfrenta distúrbios alimentares e depressão. Descreve também que ela teria supostamente sido abusada pelo próprio pai.

"A combinação das condições da vítima nos leva a julgar que ela é indignaexclusivebetconfiança - e, portanto, não se pode confiar apenas naexclusivebetversão dos acontecimentos", diz um trecho da sentença.

O documento diz ainda que a mulher tem uma "personalidade histriônica",exclusivebetreferência ao transtornoexclusivebetpersonalidade caracterizado por um comportamento excessivamente emotivo, dramático e necessidadeexclusivebetchamar atenção para si mesma.

Os advogados argumentam que o prontuário médico da mulher não pode ser usado para dizer que ela inventa coisas.

O tribunal também diz que imagens do suposto ataque feitas por câmerasexclusivebetsegurança não mostram nenhum sinalexclusivebetresistência ou trauma depois do encontro da mulher com os três homens.

Na Itália, o argumento "ela não resistiu, ela não cambaleou depois, portanto, ela queria" tem, muitas vezes, valor nos julgamentos.

Há, contudo, uma juíza italiana que se revoltou contra essa lógica.

"Se uma mulher não se revolta, significa que a mulher a quer", exemplifica a juíza Paola di Nicola, que escreveu um livro sobre preconceitoexclusivebetgênero no sistema judicial italiano. "Isso é inaceitável. Muitas vezes termina com a absolvição dos homens."

O caso do estupro ganhou manchetes na Itália, que se dividiu entre os que acham que a mulher foi vítima e os que acham que ela está dramatizando o que aconteceu no elevador da estaçãoexclusivebettrem.

"Ela foi promíscua e tem uma tendênciaexclusivebetmentir", opinou uma publicação. A opinião pública também começou a duvidar da história da mulher.

É difícil não comparar o caso da italiana com um episódio recente, que aconteceu na Espanha. Em 2018, mulheres foram às ruas protestar depois que a corte decidiu aplicar punições leves a um grupoexclusivebethomens acusadosexclusivebetestuprar uma mulher – na Espanha, esse episódio ficou conhecido como o "caso da matilhaexclusivebetlobos".

Na Itália, assim como na Espanha, não há uma definição clara do que é consentimento quando se trataexclusivebetestupro. O uso da força, ameaça ou abusoexclusivebetautoridade temexclusivebetser provado para que um caso seja considerado violência sexual sob a lei italiana.

Assim, é mais fácil para uma vítima ter credibilidade quando os resultados físicosexclusivebetuma agressão são visíveis.

Feridas no rosto e na alma

Em 2013, por exemplo, o ex-parceiroexclusivebetLucia Annibali planejou um ataque com ácido contra ela, que deixou o rosto da mulher gravemente desfigurado.

Ele está na prisão. Ela se elegeu para o Parlamentoexclusivebet2018.

Lucia Annibali se sente com sorte por ter sobrevivido. Mas as sequelas, para ela, representam muito.

"Em parte, eu morri um pouco. Um ataque com ácido tira uma parteexclusivebetvocê. Seu rosto,exclusivebetaparência some. Então, parteexclusivebetmim morreu quando o ataque aconteceu", disse.

Quando questionada se o que precisa mudar é a lei ou a cultura na Itália, Annibali respondeu: "Ambos".

"Uma cultura apropriada pode ajudar a construir a lei. Os instrumentos estão lá e o que nos falta é o uso adequado desses instrumentos", disse.

As cicatrizesexclusivebetLucia Annibali são visíveis. Já as marcasexclusivebetrelações sexuais forçadas nem sempre são tão fáceisexclusivebetver.

A jovem do casoexclusivebetNápoles respondeu a uma última pergunta do repórter da BBC, que quis saber o que ela imagina para a vida no futuro.

A mulher quer tentar ajudar outras mulheres. "Eu gostariaexclusivebetlançar uma associação que proteja as mulheresexclusivebetrisco."

O advogado da jovemexclusivebet24 anos se aproximou gentilmente. Achava que ela pudesse estar exausta demais para continuar falando. Os dois foram embora, para se preparar para o julgamento.

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