O que torna os países nórdicos tão felizes?:
Apesar do frio eseus longos e escuros invernos, a Finlândia foi apontada como o país mais feliz do mundo pelo segundo ano consecutivo, segundo o World Happiness Report, um relatório produzido por organizações e institutospesquisa internacionais e divulgado20março,um evento das Nações Unidas.
A Finlândia é o país com maior pontuaçãoseis fatores do ranking: expectativavida, apoio social, corrupção, renda, liberdade e confiança e expectativavida saudável. São 156 países analisados, e o Brasil está32º lugar.
O relatório mede o "bem-estar subjetivo" - o quão felizes as pessoas são, e por quê.
Outro destaque do ranking é que ele é dominado por países nórdicos - além da Finlândia, estão entre os dez primeiros a Dinamarca, a Noruega, a Islândia e a Suécia.
O que torna esses países tão felizes - e o quanto dessa felicidade é genuína?
Topo da lista
Já faz tempo que os países nórdicos lideram rankings do tipo. A explicação mais conhecida para isso é que, embora esses países tenham altas alíquotasimposto sobre a renda, a população recebetroca serviços estataisalta qualidade.
Dinamarqueses, por exemplo, pagam até 51,5%impostos sobrerenda, mas conseguem estudar gratuitamente e com qualidade até a universidade, têm sistemasaúde públicaalto nível, licença-maternidade e paternidade generosa e auxílio-desemprego.
O país dá amplo apoio a pais e mães, com creches públicas, e tem orgulhoseu legadodireitos femininos.
A Finlândia, porvez, foi o segundo país do mundo a dar às mulheres o direito ao voto e o primeiro a conceder a elas plenos direitos políticos.
Ali, 41,5% dos parlamentares são mulheres; nos EUA, por exemplo, elas ocupam apenas 24% dos assentos do Congresso atual.
'Hygge'
Existe um conceito dinamarquês traduzido como "acolhedor" ou "aconchego" que se refere a reconhecer momentosalegria extraordinária oureconhecimento social.
O conceito do "hygge" (pronuncia-se "hu-ga") foca no valor das experiências e dos relacionamentos, mais do quebens materiais. Por exemplo, sentar-se junto à lareirauma noite fria, vestindo uma roupa quente, bebendo vinho e acariciando um animalestimação pode ser, para alguns, a tradução perfeitahygge.
Suécia, Noruega e Finlândia também têm seus conceitos equivalenteshygge.
Os finlandeses, por exemplo, têm suas saunas, que há milharesanos promovem uma tradição sagrada para criar vínculos com outras pessoas, sob rígidas regras e costumes.
Os suecos têm a "fika", que pode ser traduzida como "um café", mas que na prática é um momento cultural obrigatório, que as pessoas fazem ao mesmo tempo, para socializar entre si.
O mal da 'utopia da felicidade'
No entanto, alguns finlandeses afirmam que os fatores por trásrankingsfelicidade não refletemfelicidadesi, mas simqualidadevida.
O argumento por trás disso é que os fatores sendo analisados não registram,fato, a emoção da felicidade, que é subjetiva para cada indivíduo.
No ano passado, um relatório do Conselho NórdicoMinistros e o Instituto da Pesquisa da Felicidade,Copenhague, indicou que a fama dos países nórdicos como uma utopia da felicidade acabava encobrindo problemas significativosparte da população, sobretudo entre os mais jovens.
Os pesquisadores analisaram dados coletados durante cinco anos, entre 2012 e 2016, para tentar construir um retrato mais fiel desses chamados "superpoderes da felicidade".
E descobriram que 12,3% da população que mora nos países nórdicos admitiram estar sofrendo ou tendo dificuldades; entre os jovens nórdicos, essa porcentagem é13,5%.
Saúde mental
Outra descoberta é que a saúde mental é uma das barreiras mais significativas para o bem-estar subjetivo.
"Cada vez mais jovens estão se sentindo solitários e estressados, tendo distúrbios mentais", diz Michael Birkjaer, um dos autores do estudo. "Estamos vendo uma epidemiaproblemas mentais e solidão alcançando as costas dos países nórdicos."
Na Dinamarca, 18,3% das pessoas entre 16 e 24 anos afirmaram sofrerproblemas mentais; entre as mulheres nessa faixa etária, a proporção subia para 23,8%.
O relatório também identificou que, na Finlândia, o suicídio foi responsável por um terçotodas as mortes registradas nesse mesmo grupo etário.
Esses dados podem parecer sombrios, mas são índices muito inferiores aos registradospaíses como Rússia e França.
Enquanto 3,9% da população nórdica foi marcada na categoria "em sofrimento" na pesquisa, essa porcentagem subia para 26,9% na Rússia e 17% na França.
Ou seja, o retrato da Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia continua sendo relativamente róseo - só não é tão perfeito quanto alguns pintaram.
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