'AdmiradoresPinochet não são bem-vindos no Chile', diz senador que recusou almoço com Bolsonaro:
Em entrevista à BBC News Brasilseu gabinete, Quintana Leal deixou claro que não questiona a legitimidadeBolsonaro, quedecisão "não tem a ver com o cargo da Presidência, mas com a pessoaJair Bolsonaro e suas declarações homofóbicas, misóginas erelação à tortura. Participaruma atividadehomenagem a ele (Bolsonaro), atingiria muitas pessoasnosso país que se sentem prejudicadas por suas declarações".
Quintana Leal diz que declarações recentes do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, elogiando Augusto Pinochet, jogaram saluma ferida profunda ainda aberta na sociedade chilena. Lorenzoni disse que Pinochet "tevedar um banhosangue" para ajeitar a economia do país.
"Esse é um tema muito doloroso para o Chile, não só para quem foi vítima direta da violaçãodireitos humanos cometida pela ditadura."
Segundo dados oficiais, mais3 mil pessoas foram assassinadas e mais30 mil foram torturadas nos anos Pinochet.
"Quando ele (Bolsonaro) se declara um admiradorPinochet, isso é muito forte. Os admiradoresPinochet não são bem vindos ao Chile", afirma Quinta Leal, manifestando preocupação com o que Bolsonaro "representa".
"Porque à medida que sigamos endossando lideranças que começam com discursos populistas, mas terminam consolidando regimes totalitários, a ameaça não é só para um país. Termina sendo uma ameaça para a humanidade. Isso aconteceu na Europa dos anos 1930."
O presidente do Senado chileno ressaltou, entretanto, que "se amanhã Bolsonaro ou o governo nos mandam um projeto que melhora as relaçõescooperação, isso tem prioridade e urgência".
"Reitero que o Brasil é um país com o qual nós queremos ter o melhor entendimento, temos profundo respeito pelo povo brasileiro e temos uma relação comercial muito boa. O Brasil é muito importante para o Chile, e acredito que o contrário também."
Ao chegar ao Chile na quinta-feira, Bolsonaro foi questionado sobre a recusaQuintera Leal mas evitou aprofundar a discussão. "Os convidados para o almoço, isso não foi feito pela minha assessoria. Quem convidou aqui do Chile sabia quem estava convidando", respondeu a jornalistas.
Prosul e Venezuela
Para realçar quediferença com Bolsonaro se dáum plano mais estreito do que o do espectro político, Quintana Leal relatou que aceitou almoçar com outro presidentedireita, Iván Duque, da Colômbia, que é um presidentedireita, com quem tem "posições bastante antagônicas".
"Dividimos a mesa,um clima muito civilizado. Mas nunca escuteiDuque expressões que atacam os pilares centrais da democracia, os valores essenciaisdireitos humanos."
Duque está no Chile para participar do encontrochefesEstado da América do Sul que discutirá a criaçãoum novo organismo internacional na América Latina, para substituir a Unasul, UniãoNações Sul-Americanas, entidade consideradaesquerda. A nova iniciativa tem sido chamada informalmenteProsul.
A exemploPiñera e Bolsonaro, Quintana Leal vê essa iniciativa com bons olhos. "Nós concordamos com o presidente Piñeraque é importante ter uma referência regional e a Unasul já não estava cumprindo esse objetivose reunir, com cooperação, interação", diz, acrescentando ser necessário o cuidado"não se trocar um organismo internacional ideológico por outro tão ideológico quanto o anterior".
Os líderes que participam do encontro são identificados com a nova ondadireita que tingiu o mapa latino-americanoazul, desde a primeira eleiçãoPiñera,2010. Ela sucede uma vogagovernosesquerda e centro-esquerda, na América Latina, iniciada no começo dos anos 2000.
Quinta Leal diz acreditar que essas alternâncias na região são cíclicas. "Como Duque, Piñera... São países que têm alternância no poder. Pode ganhar um setor ou outro. E, na região, regimes como oMaduro, com o qual não concordamos, não ajudam precisamente a forçacentro-esquerda."
O presidente do Senado chileno diz ser necessário "buscar uma saída pacífica, diplomática e democrática para a crise humanitária na Venezuela", mas que a melhor saída para isso não é "lógica militar, como defende (o presidente americano Donald) Trump".
"Se depositamos nas Nações Unidas a confiança para resolver temas complexos, que afetam a democracia, a liberdade, temos que ser coerentes com isso. E não buscar soluções bilaterais ou com visões particulares para tentar resolver essa crise."
*Colaborou André Shalders, da BBC News BrasilSão Paulo.
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