Skid Row: como a maior cracolândia dos EUA se mantém há décadas 'nos fundos'x estrela vermelhaHollywood:x estrela vermelha

Barracasx estrela vermelhamoradoresx estrela vermelharuax estrela vermelhaSkid Row, Los Angeles

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, Pelo menos 4 mil pessoas ocupam as ruas da área conhecida como Skid Row,x estrela vermelhaLos Angeles

A menosx estrela vermelhameia horax estrela vermelhacarro das mansõesx estrela vermelhaHollywood e da Calçada da Fama, a Skid Row reúne a maior concentraçãox estrela vermelhapessoasx estrela vermelhasituaçãox estrela vermelharua dos Estados Unidos (a cracolândiax estrela vermelhaSão Paulo, para efeitox estrela vermelhacomparação, reúnex estrela vermelhamédia 1860 usuários, segundo um levantamento do governo do Estado publicadox estrela vermelha2017).

Depoisx estrela vermelhaanosx estrela vermelhapredominância do crack, a heroína se tornou a droga mais popular da região, conta Santiago, que aplicou uma seringa com heroína pela primeira vez aos 13 anos. Há dez, ele dormex estrela vermelhauma das centenasx estrela vermelhabarracas que se aglomeramx estrela vermelhafrente a murosx estrela vermelhatransportadoras e grandes depósitos na região.

Legenda do vídeo, Por dentro da Skid Row, a maior 'cracolândia' dos EUA

"Eu fui abusado quando criança. Eu fui para as drogas para diminuir a dor. Agora sou um viciado e preciso disso."

Ele mostra uma seringa para a reportagem e fala sobrex estrela vermelharotina.

"Tem a picada do café da manhã, uma picada no almoço, uma no jantar e um picada à meia noite. Isso me faz funcionar."

'Ímã' para os mais vulneráveis

No início do século 20, a Skid Row já era conhecida por reunir trabalhadores sem emprego fixo, alcoólatras e desempregadosx estrela vermelhauma das franjas do centro da cidade. O termo (caminhox estrela vermelhaderrapagem) surgiu no século 17, associado às áreas onde trabalhadores temporários organizavam o escoamentox estrela vermelhatroncos para a produçãox estrela vermelhamadeira e celulose.

Desde então, áreas urbanas degradadas,x estrela vermelhacujas ruas se reúnem pessoasx estrela vermelhasituação precária, ficaram conhecidas nos EUA como "skid rows" - a mais famosa dos Estados Unidos é ax estrela vermelhaLos Angeles, mas há outras grandes skid rows no país, como ax estrela vermelhaChicago.

No fim dos anos 1980, o termo ficou conhecido internacionalmente por dar nome à bandax estrela vermelhahair metal liderada por Sebastian Bach.

Em Los Angeles, apesar do crescimento acelerado nos últimos anos, acompanhando a epidemiax estrela vermelhaopióides (analgésicos altamente viciantes e derivados do ópio, incluindo heroína) que se espalha pelos EUA, a Skid Row ganhou seu principal impulso há quatro décadas.

Em 1976, o Conselho Municipalx estrela vermelhaLos Angeles lançou um plano urbanístico que mais tarde ficou conhecido como "políticax estrela vermelhacontenção". A estratégia da prefeitura consistiax estrela vermelhaconcentrarx estrela vermelhaum único lugar da cidade toda a ofertax estrela vermelhaabrigos, refeições populares, ONGsx estrela vermelhareabilitação e serviços para a população desempregada, sem moradia e com problemasx estrela vermelhasaúde mental.

Home na rua, segurando placax estrela vermelhatrânsito,x estrela vermelhaSkid Row, Los Angeles

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, Depois do predominância do crack, usuáriosx estrela vermelhadrogasx estrela vermelhaSkid Row passaram a usar principalmente heroína

A área da Skid Row passaria a funcionar como um ímã para a populaçãox estrela vermelharua da cidade, que encontraria serviços básicos apenas ali - deixando as outras áreas cidade para a populaçãox estrela vermelhaclasse média e rica.

O resultado, dizem especialistas, foi um perverso ciclo vicioso: com a população mais vulnerável nas ruas, albergues e pequenos hotéis da região, a ofertax estrela vermelhadrogas cresceu muito mais rápido do que ax estrela vermelhaempregos ou serviçosx estrela vermelhasaúde.

Assim, o consumox estrela vermelhasubstâncias pesadas e a população da área explodiram - sobrecarregando as ONGs e órgãos públicos que se instalaram na região com a premissax estrela vermelhacontê-lo.

'Eu e você divididos por uma circunstância'

"Ninguém nunca sonhoux estrela vermelhaser sem-teto, esse não é o sonhox estrela vermelhaninguém. As pessoas que estão vivendo nas ruas somos nós. Não são nós e eles. Só há nós. Eles são você e eu - divididos por alguma circunstância", diz Georgia Berkovich, diretora da Midnight Mission, mistox estrela vermelhaabrigo e clínicax estrela vermelharecuperação que existe há maisx estrela vermelha100 anos.

Quem vêx estrela vermelhatailleur vermelho, maquiagem pesada e cabelos escovados caminhando apressadax estrela vermelhauma reunião para outrax estrela vermelhaum dos casarões da região pode questionar seu conhecimentox estrela vermelhacausa.

Ela própria explica. "Eu era uma criança solitária, criada por uma mãe solteira. Então, comecei a beber muito jovem. A ficar bem louca", diz, enquanto olha, do terraço da ONG, um grupo vendendo isqueiros e cachimbos para crackx estrela vermelhauma esquina próxima.

"O que aconteceu comigo também acontece com muita gente, mas, como sou alcoólatra, isso me trouxe, aos 24 anos, para o crack."

Em 2018, ela completa 25 anos sóbria. "O que é algo grande, pelo menos para uma garota como eu", ela diz.

Homem usando armax estrela vermelhabrinquedo dentro da barraca

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, Assim como na cracolândia, moradoresx estrela vermelharua também usam drogasx estrela vermelhabarracas montadas na rua

Para Berkovich, o poder público erra ao se concentrarx estrela vermelharemediar a faltax estrela vermelhacasas e o abusox estrela vermelhasubstâncias proibidas.

"Estamos tentando parar o sangramento,x estrela vermelhavez lidar com o que causa a faltax estrela vermelhamoradia, que é nosso sistemax estrela vermelhaadoções, os sistemas prisional, educacional,x estrela vermelhamoradia,x estrela vermelhadoenças mentais,x estrela vermelhaabusosx estrela vermelhadrogas e álcool. Todas essas coisas estão alimentando a faltax estrela vermelhamoradias e precisam ser corrigidas."

Cachimbos e seringas para reduzir danos

Entre os principais desafios para os abrigos e programas sociais locais estão a "tentação" durante a processox estrela vermelhareabilitação, seja pela oferta e ou pela convivência com drogas pesadas, e a escolha, por alguns,x estrela vermelhasimplesmente continuar consumindo as substâncias nas ruas da área.

Para ter acesso à maioria dos programasx estrela vermelhamoradia ou desintoxicação da região, os pacientes precisam se comprometer a abandonar completamente a droga antesx estrela vermelhainiciar o tratamento - o que afasta muitos potenciais candidatos ou gera desistências e pacientes reincidentes.

Algumas instituições, como a Homeless Health Care Los Angeles, financiada por dinheiro público ex estrela vermelhadoadores, recorrem a técnicas menos radicais, como a conhecida como "reduçãox estrela vermelhadanos".

Desde 1985, a ONG já reverteu maisx estrela vermelha400 overdoses com a aplicaçãox estrela vermelharemédios, e distribuiu milharesx estrela vermelhaseringas, agulhas, kitsx estrela vermelhaesterilização e piteiras para cachimbos, enquanto mantém serviçosx estrela vermelhadesintoxicação, testesx estrela vermelhadoenças transmissíveis por sangue ou via sexual e encaminhamento para programasx estrela vermelhamoradia da prefeitura.

Mulher entrandox estrela vermelhabarracax estrela vermelhaSkid Row,x estrela vermelhaLos Angeles

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, Programasx estrela vermelhaassistência concentrou moradoresx estrela vermelharua e dependentes químicos na região

"Não queremos que eles usem agulhas sujas ou as dividam com seus amigos, porque elas podem espalhar HIV, hepatite C e outras doenças", explica um funcionário, enquanto prepara um kit para uma jovemx estrela vermelhamenosx estrela vermelha20 anos com o pescoço, os braços e as pernas cobertosx estrela vermelhacicatrizes.

Ele ressalta que a ideia não é manter as pessoas no vício, mas ajudá-los a reduzirx estrela vermelhaexposição a doenças e overdoses enquanto eles se preparam para o processox estrela vermelhadesintoxicação.

"Nosso serviço não depende da abstinênciax estrela vermelhadrogas. Nós não tentamos subestimar os riscos potenciais delas. Ao contrário, queremos tentar reduzir as consequências negativas que surgem durante o usox estrela vermelhadrogas injetáveis para que as metasx estrela vermelhareabilitação sejam realistas e alcançáveis."

'Não é que eu ame minhas drogas mais que meu filho'

A BBC News Brasil conheceu Tonya, que abre esta reportagem, na saída da clínicax estrela vermelhareduçãox estrela vermelhadanos. Ela havia acabadox estrela vermelhaentregar seringas usadasx estrela vermelhatrocax estrela vermelhaoutras.

"Eu não peguei HIV graças a eles. Vi muita gente morrer contaminada porque não sabe usar drogas com responsabilidade."

Ela se emociona quando perguntada sobre família.

"Minha mãe veio aqui me procurar no Natal. Ela queria ter certezax estrela vermelhaque eu estava bem e veio direto para a minha barraca, eu estava saindo quando ela estava entrado", lembra, sorrindo.

"É difícil lidar com isso diariamente. Especialmente (para) meu filho, meu pequeno menino. Eu digo a ele para não usar drogas para não terminar como a mamãe. Não é que eu ame minhas drogas mais do que ele. Eu sou viciada, entende?"

Segundo o departamentox estrela vermelhaplanejamento da prefeitura, moradias e ofertax estrela vermelhaserviçosx estrela vermelharecuperação aos usuários são prioridade central para a cidade - o número totalx estrela vermelhasem-teto, incluindo regiões fora da Skid Row (como a popular Praiax estrela vermelhaVenice, que vem se tornando um novo polo) variax estrela vermelhaacordo com estimativas oficiais ex estrela vermelhaONGs entre 34 mil e 60 mil pessoas.

A população da cidade parece concordar com a urgência e os eleitores aprovaram, por meiox estrela vermelhavoto, a cobrançax estrela vermelhaum novo imposto sobre propriedades, que renderá US$ 1,2 bilhão para os cofres públicos - o valor será 100% destinado à construçãox estrela vermelha10 mil moradias populares nos próximos 10 anos.

A BBC News Brasil acompanhou uma operação da políciax estrela vermelhaLAx estrela vermelhabuscax estrela vermelhatraficantes na região e perguntou a um dos oficiais sobre as perspectivas da região na próxima década.

"Em 10 anos… eu não vejo isso melhorando. Para mim, não. Estamos aqui tentando lutar por eles e ajudá-los, mas os números estão crescendo e não há abrigo suficiente", ele responde. "Sabemos que há muitas pessoas aqui usando drogas, e tentamos lidar com isso da melhor maneira, mas não temos agentes suficientes aqui para lidar com todas as situações."

Uma colega policial aponta para a esquina. "Aquela missão ali é uma áreax estrela vermelharecuperação, você vê? E eles estão vendendo drogas bem na frente."

'Cansadox estrela vermelhaficar cansado'

Mulher comprando drogasx estrela vermelhaSkid Row, Los Angeles

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, A região tem o dobrox estrela vermelhapessoas da cracolândia, áreax estrela vermelhaconsumo e vendax estrela vermelhacrack no centrox estrela vermelhaSão Paulo

Perto dali, Santiago leva a reportagem até a barraca azul onde dorme há 10 anos.

"Esta é minha casa na Skid Row. Eu durmo, como e uso minhas drogas aqui. É assim que vivo. Em uma barraca."

A BBC News Brasil pergunta como ele consegue dinheiro para se manter.

"Os EUA não são um pais rico para todos. Acho que há interpretação errada. No Brasil, se virem ou ouvirem que LA é rica, que tem ajuda financeira e serviços públicos para todo mundo… nao é tão simples."

O homem continua: "Mensalmente,x estrela vermelhadrogas, gasto quase mil dólares. O que eu não tenho. Mas o dinheiro vai aparecendo com a colegax estrela vermelhamaterial reciclável, bicos no postox estrela vermelhagasolina, limpeza carros ou ajudando uma mulher como esta que está passando a carregar as coisas…"

Santiago estáx estrela vermelhaum dos intervalos do usox estrela vermelhacrack e heroína e conversa com a reportagem enquanto penteio o cabelo longo - ele acaboux estrela vermelhatomar banhox estrela vermelhauma das ONGs locais.

Seringas distribuídas a dependentes químicos

Crédito, Apu Gomes/BBC

Legenda da foto, Em Skid Row, uma ONGx estrela vermelhaassistência a usuáriosx estrela vermelhadrogas distribui seringas e cachimbos a dependentes químicos

"A ondax estrela vermelhaUS$ 15 ou US$ 20x estrela vermelhacrack dura por voltax estrela vermelha2 ou 3 horas. É o tempox estrela vermelhaquebrar um pedaço da pedra, fumar, depois fumar alguns cigarros, fumar um baseado, beber uma cerveja, e depois fumar outro trago e sentir aquela aceleração, uma sensaçãox estrela vermelhacalor, e você sente mais ou menos como se não pudesse pensar, mas você ainda pode se controlar", diz.

Sua droga preferida dos últimos anos é a heroína.

"Se eu não tiver, ficox estrela vermelhaabstinência. E eu odeio acordar e ter diarreia, não ser capazx estrela vermelhacontrolar meu vômito. É para aí que a heroína vai te levar. Eu preciso ter pelo menos uma dose para seguirx estrela vermelhafrente, se não estaria vomitando, com um cheiro ruim, e eu não gostaria que você me visse assim."

Tem vontadex estrela vermelharecomeçar?

"Eu estou ficando cansadox estrela vermelhaficar cansado. Eu sei que quando eu ficar limpo e sóbrio, não vou precisar olhar para trás, para isso. Vou deixar o passado e caminhar para frente", diz.

"Quero estudar computação gráfica, gestãox estrela vermelhapequenos negócios e filosofia e atingir meus objetivos. Vou usar meus objetivosx estrela vermelhacurto prazo para ajudar meus objetivosx estrela vermelhalongo prazox estrela vermelhaser produtivo e bem-sucedido."

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