Por dentro dos camposbet max'reeducação' para onde são mandados muçulmanos na China:bet max

Legenda da foto, Nos últimos anos, a China tem construído camposbet maxinternação para muçulmanos

O governo tem refutado acusaçõesbet maxque as pessoas estejam sendo mantidasbet maxcamposbet maxinternação e sendo forçadas a jurar lealdade ao presidente chinês, mas admite que "extremistas religiosos" estão sendo mantidosbet max"centrosbet maxreeducação" na região, que está próxima à fronteira com o Tibet.

A BBC tentou chegar perto da construção. Para tentar evitar o rigoroso escrutínio policial a qualquer jornalista que se aproxime, nós pousamos no aeroportobet maxUrumqi, nas proximidades, nas primeiras horas da manhã.

Mas depoisbet maxchegarmosbet maxDabancheng, distrito no nortebet maxXinjiang, fomos seguidos por ao menos cinco carros com policiais uniformizados e também à paisana, alémbet maxfuncionários do governo.

Já estava claro que nosso planobet maxvisitar uma dúziabet maxcamposbet maxinternação nos dias seguintes não seria nada fácil. À medida que avançamos pela estrada, descobrimos que mais cedo ou mais tarde o comboiobet maxpoliciais iria tentar nos impedir.

Centenasbet maxmetros à frente, vimos algo inesperado: a ampla extensãobet maxterra empoeirada não está mais vazia. Em seu lugar, um enorme projeto está tomando forma: uma minicidade surgindo no meio do deserto, cheiabet maxguindastes, alémbet maxfilas e filasbet maxprédios cinzentos - todos com maisbet maxquatro andares.

Tentamos obter imagens para mostrar o tamanho da construção, mas fomos interrompidos por um dos carros. Nosso veículo foi parado - os policiais pediram que as câmeras fossem desligadas e que nós deixássemos o local.

Mesmo assim, conseguimos descobrir algo significativo: uma enorme quantidadebet maxatividades extras que até agora eram desconhecidas fora da China.

Legenda da foto, Reportagem da BBC foi seguida por policiais uniformizados e à paisana

Imagensbet maxsatélite mostram construçãobet maxprisões

O aplicativo do Google Earth pode levar meses ou até anos para atualizar as imagensbet maxáreas remotas do planeta.

Entretanto, outros serviçosbet maxsatélites públicos, como um sistema europeubet maxdados sobre o espaço, fornecem muito mais imagens atualizadas, embora a resolução seja menor.

Em outubrobet max2018, imagens do serviço europeu mostram como os prédios cresceram. Não é apenas uma "grande" prisão, mas um enorme campobet maxinternação. E ele é apenas uma das várias estruturas prisionais que foram erguidasbet maxXinjiang nos últimos anos.

Xinjiang é uma região autônoma da China. A maior partebet maxsua população é uigur, uma etnia muçulmana.

Antesbet maxnossa tentativabet maxvisitar o campo, nós paramos no centrobet maxDabancheng.

Foi impossível falar abertamente com qualquer pessoa - nossos seguidores tratavam com agressividade qualquer pessoa que trocasse conosco um aceno.

Então decidimos telefonar para números aleatórios da cidade. Alguém sabe dizer o que são essas 16 torres que as autoridades estavam tão desesperadas para nos impedirbet maxfilmar?

"É uma escolabet maxreeducação", diz um hoteleiro. Um lojista concorda: "Há dezenasbet maxmilharesbet maxpessoas lá agora. Eles têm alguns problemas com seus pensamentos."

Essa gigante instalação, porém, não se encaixariabet maxnenhuma definição objetivabet maxescola. Em Xinjiang, "ir à escola" ganhou um significado próprio.

A China tem constantemente negado que esteja prendendo muçulmanos sem julgamento ou qualquer processo. Nesse contexto, um eufemismo para as prisões tem ganhado terreno - educação.

Como resposta às críticas internacionais, as autoridades passaram a usar essa descrição, inclusivebet maxcampanhasbet maxpublicidade. O canalbet maxTV estatal tem mostrado peçasbet maxpropaganda com salasbet maxaulas limpas e cheiasbet maxestudantes agradecidos, aparentemente dispostos a se submeter ao curso.

Não há menção aos motivos pelos quais os estudantes foram escolhidos ou quanto tempo esses cursos duram.

Legenda da foto, Em Xinjiang, diversos prédios estão sendo construídos para abrigar muçulmanos

Mas há pistas. Algumas entrevistas soam mais como confissões.

"Hoje tenho uma profunda compreensão sobre meus próprios erros", diz um homem para a câmera. "Serei um ótimo cidadão quando eu voltar para casa."

O objetivo desses campos, segundo nos contaram, seria combater os extremismos, por meiobet maxuma misturabet maxteoria jurídica, desenvolvimentobet maxhabilidades para o trabalho e aulasbet maxchinês.

Sejam escolas ou campos, o objetivo é o mesmo. As instalações são exclusivas para a minoria muçulmanabet maxXinjiang - boa parte dessas pessoas não tem o chinês como língua materna.

O vídeo também sinaliza que as escolas criaram regrasbet maxvestimenta - nenhuma das mulheres está usando lenços na cabeça, como normalmente é costume entre muçulmanos.

Por que a China criou os camposbet maxinternação?

Em Xinjiang, há cercabet max10 milhõesbet maxuigures. Eles falam turco e se assemelham a pessoas da Ásia Central. Já a maioria da população da China pertence à etnia Han.

A cidadebet maxKashgar, no sul do país, é muitas vezes apontada como geograficamente mais próximabet maxBagdá do quebet maxPequim - culturalmente, a população também sente essa proximidade maior com o Iraque.

E com uma históriabet maxrebeliões e resistência ao governo centralizador, a relação entre os uigures e os chefes modernos do Estado da China tem se mostrado tão preocupante quanto distante.

Depois do comunismo se instalar no país, Xinjiang ocasionalmente se desgarrou do governo com breves períodosbet maxindependência. Desde então, não são raros os protestos e momentosbet maxviolência.

A riqueza mineral,bet maxparticularbet maxóleo e gás, é quase cinco vezes maior que a da Alemanha, por exemplo. Ela também trouxe uma enorme quantidadebet maxinvestimentos, rápido crescimento econômico e uma ondabet maxmigraçãobet maxcolonos chineses da etnia Han.

Os uigures, entretanto, têm constantemente reclamado que a distribuição dos lucros desse crescimento é desigual. Em resposta a essas críticas, as autoridades chinesas alegam que houve melhorias nas condiçõesbet maxvida dos moradores da região.

Legenda da foto, Imagensbet maxsatélites mostram rápido crescimentobet maxcamposbet max'reeducação' para muçulmanos da etnia uigur

Nas últimas décadas, centenasbet maxpessoas morrerambet maxlevantes violentos, ataques entre comunidades e repressão policial.

Em 2013, um ataque contra pedestres na praça Tiananmen,bet maxPequim, matou duas pessoas, além dos três ocupantes uiguresbet maxum carro. Foi um momento marcante na história da região e, embora tenha sido um ato pequeno, abalou as fundações do Estado chinês.

No ano seguinte, 31 pessoas foram mortasbet maxum ataque a faca perpetrado por membros da comunidade uigurbet maxuma estaçãobet maxtrem na cidadebet maxKunming, a maisbet max2 mil kmbet maxXinjiang.

Ao longos dos últimos quatro anos, Xinjiang tem sido alvobet maxalgumas das medidasbet maxsegurança mais restritivas e abrangentes já implantadas por um governo contra seu próprio povo.

Isso inclui usobet maxtecnologiabet maxlarga escala: reconhecimento facial por câmeras, dispositivos capazesbet maxmonitorar e ler conteúdosbet maxcelulares e coletabet maxmassabet maxdados biométricos.

Novas e severas punições foram implantadas para restringir a identidade e práticas islâmicas - foram proibidos, entre outras coisas, o usobet maxlongas barbas e lenços na cabeça, alémbet maxinstrução religiosa a crianças e nomes que soem como islâmicos.

Essas políticas parecem marcar uma mudança fundamental no pensamento oficial: o separatismo da região não é apenas um problema isolado e individual, mas sim algo inerente à cultura uigur e ao islãbet maxgeral.

Essa mudança coincide com um aperto proposto pelo atual presidente do país, Xi Jinping, no qual a lealdade à família e à fé, pilares da cultura uigur, deve ser subordinada ao Partido Comunista.

A identidade única dos uigures desperta suspeitas no governo chinês. Esse pontobet maxvista foi reforçado por relatórios que mostraram que centenas deles viajaram à Síria para lutarbet maxvários grupos rebeldes.

Nos últimos anos, os uigures passaram a conviver com "verificações étnicas"bet maxdiversos pontosbet maxchecagembet maxpedestres e veículos, enquanto os residentes chineses da etnia han são frequentemente liberados sem qualquer questionamento.

Eles também enfrentam severas restriçõesbet maxviagem, tanto dentro quanto forabet maxXinjiang - um decreto força os residentes a entregarem todos os passaportes à polícia.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Um checkpoint da polícia na cidadebet maxKashgar,bet maxmarçobet max2017

Autoridades do governo uigur também estão proibidas pelo Estado chinêsbet maxpraticar o islã, frequentar mesquitas ou fazer jejum durante o Ramadã, períodobet maxque a maioria dos muçulmanos pratica um jejum ritual.

Diantebet maxtudo isso, talvez não seja tão surpreendente que a China tenha introduzido outra solução mais antiga e mais direta para a "deslealdade" que enxergabet maxmuitosbet maxseus cidadãos uigures.

Apesar das negativas do governo, a evidência mais convincente da existência dos camposbet maxinternação vembet maxinformações das próprias autoridades.

Páginasbet maxlicitações do governo local, descobertas pelo acadêmico alemão Adrian Zens, convidam potenciais contratantes e fornecedores a concorrerbet maxprojetosbet maxconstrução das instalações. Os documentos mostram detalhes dos novos prédios e também da reformabet maxestruturas que já existiambet maxXinjiang.

Em muitos casos, as propostas exigem a instalaçãobet maxrecursos abrangentesbet maxsegurança, como torresbet maxvigia, arame farpado, sistemasbet maxvigilância e salasbet maxguarda.

Cruzando essas informações com outras fontes da mídia, o pesquisador Adrian Zenz diz que várias centenasbet maxmilhares e possivelmente maisbet maxum milhãobet maxuigures e outras minorias muçulmanas podem ter sido internadas para "reeducação".

Os documentos, entretanto, nunca se referem às instalações como camposbet maxinternação, mas como centrosbet maxeducação ou "reeducação".

Uma das licitações provavelmente se refere à área que visitamos - um concursobet maxjulhobet max2017 oferece a instalaçãobet maxum sistemabet maxaquecimentobet max"um localbet maxtransformação por meio da escolabet maxeducação"bet maxalgum lugar no distritobet maxDabancheng.

Os eufemismos para descrever as obras e as quantidadesbet maxmaterial descritas apontam para uma redebet maxconfinamentobet maxmassabet maxrápida expansão.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Em outubrobet max2013, um ataque na praça Tiananmen matou duas pessoas

'Nunca mais falei com minha mãe'

Em 2002, Reyila Abulaiti viajoubet maxXinjiang para o Reino Unido para estudar. Ela conheceu e casou com um britânico, ganhando cidadania britânica e iniciando uma família.

No ano passado,bet maxmãe a visitou como faz todos os verões, passando um tempo com a filha e o neto e fazendo um poucobet maxturismobet maxLondres.

Xiamuxinuer Pida,bet max66 anos, é uma engenheira aposentada com longos anosbet maxserviços prestados a uma companhia estatal chinesa. Ela voltou para Xinjiangbet max2bet maxjunho.

Sem notícias da mãe, Reyila ligou para verificar se ela tinha chegadobet maxcasa. A conversa foi curta e aterrorizante.

"Ela me disse que a polícia estava revistando a casa", lembra. E era Reyila o alvo da investigação. Ela precisava enviar cópiasbet maxseus documentos, prova do endereço no Reino Unido, uma cópia do passaporte britânico, os númerosbet maxtelefone e informações sobre os cursos que fez.

E então, depoisbet maxpedir a ela para enviá-los atravésbet maxum serviçobet maxbate-papo chinês, Xiamuxinuer disse algo que causou um arrepio na espinhabet maxReyila.

"Não me liguebet maxnovo", pediubet maxmãe. "Não me ligue nunca mais."

Foi a última vez que a filha ouviu a vozbet maxsua mãe. Ela acredita que engenheira aposentada estejabet maxalgum campobet maxinternação.

"Minha mãe foi detida sem motivo", diz ela. "Até onde sei, o governo chinês quer excluir a identidade uigur do mundo."

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, A engenheira aposentada Xiamuxinuer Pida, 66, pediu para quebet maxfilha nunca mais entrebet maxcontato

A BBC realizou longas entrevistas com oito uigures que vivem no exterior.

Seus depoimentos são consistentes, fornecendo evidências das condições e rotinas dentro dos campos e da ampla base na qual as pessoas são detidas.

A atividade religiosa, qualquer dissidência, mesmo que branda, ou vínculos com os uigures que vivembet maxpaíses estrangeiros parecem ser suficientes para levar as pessoas ao sistemabet max"reeducação".

'Se você não cantasse da maneira correta, apanhava'

Legenda da foto, Ablet Tursun Tohti conta que apanhou dentro dos centrosbet maxinternação na China

Todas as manhãs, antes do nascer do sol, Ablet Tursun Tohti,bet max29 anos, era acordado com seus companheiros detidos. Eles tinham um minuto para chegar ao pátiobet maxexercícios, conta. Depoisbet maxse alinharem, eram obrigados a correr.

"Havia uma salabet maxpunição para quem não corresse rápido o suficiente", diz. "Na sala havia dois homens, um para te bater com um cinto, e outro para te chutar", conta.

O pátiobet maxexercícios do campo onde ele diz ter ficado detido, na cidadebet maxHotan, ao sulbet maxXinjiang, pode ser claramente visto por fotosbet maxsatélite.

"Nós tínhamosbet maxcantar uma música chamada 'Sem o Partido Comunista não pode haver uma nova China'. Também aprendemos sobre legislação. Se você não as recitasse da forma correta, você podia apanhar."

Ablet ficou no campo por um mês ao finalbet max2015 e,bet maxqualquer forma, ele é uma das pessoas que tiveram sorte. Naquela época, os cursosbet max"reeducação" foram mais curtos. Nos últimos dois anos, há poucos relatosbet maxpessoas libertadas.

Ele foi um dos últimos uigures que conseguiram deixar a China antes da apreensãobet maxmassabet maxpassaportes. Ele conseguiu se refugiar na Turquia, um país com grande quantidadebet maxuigures, por causa da proximidade cultural e linguística.

Ablet conta que seu paibet max74 anos e seus oito irmãos estão internados nos camposbet maxreeducação. "Não há ninguém da família do ladobet maxfora", diz.

'Disseram que eu precisava ser educado'

Legenda da foto, Abdusalam Muhemet, 41, foi preso depoisbet maxter recitado um verso islâmicobet maxum funeral

Abdusalam Muhemet,bet max41 anos, também está vivendo na Turquia. Ele foi detido pela políciabet maxXinjiangbet max2014 por ter recitado um verso islâmicobet maxum funeral.

A polícia lhe disse que ele não seria punido, conta, mas que tampouco estava livre. "Me disseram que eu precisava ser educado", diz Muhemet. A instalação para onde ele foi levado não se parecia com uma escola.

Na fotobet maxsatélite, é possível ver as torresbet maxguarda e a cercaem volta do perímetro do Centrobet maxTreinamentobet maxEducação Legal Han'airike, local para onde Muhemet foi levado. Também é possível enxergar as sombrasbet maxarames farpados projetadas sobre o solo arenoso.

Ele descreve a mesma rotinabet maxexercícios, bullying e "lavagem cerebral".

Outro sobrevivente é Ali (nome fictício), que tem 25 anos. Ele conta quebet max2015 foi levado a um campobet maxinternação depoisbet maxa polícia encontrarbet maxseu celular fotosbet maxuma mulher usando um niqab, um véu que cobre o rosto.

"No campo havia uma velha senhora, que foi levada lá por ter feito uma peregrinação a Meca", ele conta. "Também tinha um idoso que não pagoubet maxcontabet maxágua a tempo."

Durante uma sessãobet maxexercícios forçados, um carro oficial entrou no campo e o portão ficou aberto por alguns momentos.

Crédito, Google Earth

Legenda da foto, Segundo especialistas, os camposbet maxinternação recebem ao menos 11 mil pessoas

"De repente, uma criancinha correu na direção da mãe, que estava se exercitando com a gente. Ela abraçou o filho e começou a chorar. Então um policial agarrou a mulher pelo cabelo e outro arrastou a criança pelo campo."

No lugar das limpas salas mostradas pelos comerciais da TV estatal, emerge dos relatos uma imagem bastante diferente.

"As portas dos dormitórios ficavam trancadas à noite", lembra Ablet. "E não havia banheiros nos quartos, eles davam apenas um tigela."

Não há uma formabet maxverificar se os relatosbet maxtortura e as péssimas condições dos camposbet maxinternação são verdadeiros. A BBC questionou o governo chinês sobre essas denúncias, mas não obteve resposta.

Para os uigures que vivem forabet maxXinjiang, as notícias da região praticamente desapareceram. O medo gera silêncio. Há diversos relatosbet maxpessoas excluídasbet maxgrupos familiaresbet maxbate-papo ou que nunca mais fizeram ou receberam ligações.

Como resultado das prisões e separação entre parentes, dois valores centrais na cultura uigur - fé e família - estão sistematicamente sendo eliminados. Há casosbet maxcrianças deixadasbet maxorfanatos depois que seus pais foram presos.

Legenda da foto, Ali foi preso depoisbet maxa polícia encontrar fotosbet maxuma mulherbet maxvéubet maxseu celular

'Não sei onde minha filha está'

Bilkiz Hibibullah chegou à Turquiabet max2016 com cincobet maxseus filhos. Sua filha mais nova, Sekine Hasan, que agora teria três anos e meio, ficoubet maxXinjiang com o pai - maridobet maxBilkiz.

O plano da família era fazer um passaporte para a menina e juntá-la ao restante dos parentesbet maxIstambul, mas os pais nunca conseguiram o documento para a filha.

Bilkiz acredita que seu marido foi presobet maxmarço do ano passado. Desde então ela perdeu contato com a família que ainda vive na China e não faz ideia do paradeirobet maxsua filha menor.

"No meio da noite, depoisbet maxmeus filhos dormirem, eu choro muito", conta. "Não há nada mais triste do que não saber ondebet maxfilha está, se está viva ou morta. Se ela pudesse me ouvir agora, eu não diria nada alémbet maxpedir desculpas."

Legenda da foto, Bilkiz Hibibullah: 'Não há nada mais triste do que não saber ondebet maxfilha está, se está viva ou morta'

Construçãobet maxcampos aumentou nos últimos anos

É possível lançar luz sobre o segredo obscurobet maxXinjiang usando apenas dadosbet maxsatélitebet maxcódigo aberto disponíveis publicamente.

A GMV é uma multinacional aeroespacial com experiênciabet maxmonitorar infraestruturas do espaço para organizações como a Agência Espacial Europeia e a Comissão Europeia.

Suas análises passaram por uma listabet max101 instalações localizadasbet maxXinjiang. O relatório foi desenvolvido a partirbet maxinformações da imprensa e pesquisas acadêmicas sobre os camposbet max"reeducação".

A companhia mediu as estruturas já existentes e aquelas que passam por expansão. Foram identificadas características comuns, como torresbet maxvigia e cercasbet maxsegurança - equipamentos necessários para monitorar e controlar o movimentobet maxpessoas.

A empresa categorizou a probabilidadebet maxcada área ser realmente uma instalaçãobet maxsegurança, colocando 44 delas como "alta" e "muito alta".

Então, eles fixaram a captaçãobet maximagens por satélite dessas localidades ao longo do tempo. As imagens mostram a construção do campo onde Abdusalem Muhemet ficou preso, por exemplo.

A GMV não é capazbet maxdizer como as estruturas estão sendo usadas, mas está claro que, nos últimos anos, a China tem construído muitas novas instalaçõesbet maxsegurança, a uma velocidade notável e crescente. Também há indíciosbet maxque o governo tem construído instalações cada vez maiores.

Embora o númerobet maxconstruções tenha diminuídobet maxrelação a 2017, neste ano as instalações apresentam perímetros maiores. Estima-se que, desde 2003, os camposbet maxinternaçãobet maxmuçulmanosbet maxXinjiang tenham crescidobet max440 hectares.

Legenda da foto, A reportagem tentou descobrir horáriosbet maxoraçãobet maxuma mesquitabet maxKashgar, sem sucesso

O número não parece grande, mas o potencialbet maxpessoas presas pode surpreender. Em Los Angeles, por exemplo, um complexo prisionalbet max14 hectares abriga 7 mil presos.

Pegamos uma das descobertas da GMV - o aumento do tamanho dos edifícios nas instalaçõesbet maxDabancheng - e a mostramos para uma equipe da empresa australiana Guymer Bailey Architects, que tem longa experiênciabet maxdesignbet maxprisões.

Usando as medições das imagensbet maxsatélite, eles calcularam que, no mínimo, a instalação poderia abrigar cercabet max11 mil pessoas.

A maior prisão dos Estados Unidos, por exemplo, tem 10 mil prisioneiros - ela ficabet maxNova York. A maior da Europa, nos arredoresbet maxIstambul, tem 11 mil.

Segundo a companhia australiana, a construçãobet maxDabancheng deve manter os prisioneirosbet maxsalas individuais. Se os dormitórios fossem usados por mais pessoas, a capacidade subiria para 130 mil detentos.

Nós mostramos as imagens para o arquiteto Raphael Sperry, presidente da organização Arquitetos/Designers/Urbanistas para Responsabilidade Social. Ele concordou que as instalações são prisões. "Essa é uma detenção realmente sombria. Ela parece um local projetado para abrigar o maior número possívelbet maxpessoasbet maxuma área tão pequena quanto possível, com o menor custobet maxconstrução", disse.

"Acho que 11 mil pessoas é uma estimativa subestimada… Pelas informações que temos, não podemos dizer como o interior dos prédios é usado. Por isso, quando alguém falabet max130 mil me parece, infelizmente, bastante possível."

Algumas das prisões não foram construídas do zero. São adaptaçõesbet maxescolas e fábricas. Essas são mais próximasbet maxáreas urbanas.

As autoridadesbet maxXinjiang não responderam às perguntas da BBC sobre os camposbet max"reeducação" da região.

No condadobet maxYining, no norte do país, também tentamos visitar alguns campos. Antes, tivemos acesso a projetosbet maxconstruçãobet maxcinco "centrosbet maxtreinamento e educaçãobet maxhabilidades vocacionais" com o objetivobet max"salvaguardar a estabilidade".

No centro da cidade, paramos ao ladobet maxum grande númerobet maxprédios que costumavam ser uma escolabet maxensino médio. Agora, há uma gradebet maxferro protegendo o local e seguranças no portão da frente. Também há torresbet maxvigia no antigo parquinho e no campobet maxfutebol.

Do ladobet maxfora, familiares formavam uma fila para passar pela revista da equipebet maxsegurança. Mais uma vez, dois ou três carros nos seguiram. Quando nós tentamos gravar os campos, os policiais colocaram as mãos sobre as lentes. Disseram que havia um treinamento militar naquele momento e, por isso, deveríamos nos retirar.

Próximo havia uma família, uma mãe e duas crianças, esperando ao lado da cerca. Um dos seguranças tentou impedir que eles falassem com a reportagem. Outro oficial pediu que a família se pronunciasse. Questionado sobre quem eles estavam visitando, um dos filhos respondeu: "Meu pai".

Legenda da foto, 'A estabilidade é uma benção, a instabilidade é uma calamidade', diz cartazbet maxXinjiang

Na sequência, os policiais tentaram cobrir a lente das câmeras novamente.

Na cidadebet maxKashgar, outrora um centro pulsante da cultura uigur, as ruas estreitas estão estranhamente vazias. Muitas das portas estão fechadas com cadeado.

Em uma delas, podemos ver um cartaz instruindo as pessoas a como responder perguntas sobre o paradeirosbet maxseus familiares. "Diga que eles estão sendo cuidados pelo bem da sociedade", diz o aviso.

A principal mesquita da cidade mais parece um museu. Tentamos descobrir quando será a próxima oração, mas ninguém parece saber. "Estou aqui apenas para lidar com turistas. Não sei nada sobre orações", diz um funcionário.

Na praça, há alguns homens velhos sem barba. Perguntamos onde as outras pessoas foram. Um deles murmura que não pode falar com jornalistas. Outro homem responde: "Ninguém mais vem aqui."

Um policialbet maxcapacete está limpando os degraus da mesquita. Turistas chineses tiram fotos.

Deixamos Kashgar por uma rodovia, rumo ao sudoeste, uma área pontilhadabet maxvilarejos e fazendas uigur, alémbet maxmuitos campos suspeitos. Como sempre, fomos seguidos, mas logo fomos surpreendidos: a estrada foi fechada.

Os policiais disseram que o solo havia derretido pelo sol quente. "Não é seguro prosseguir", afirmaram. Percebemos que outros carros estavam sendo direcionados para o estacionamentobet maxum shopping center. No rádio da polícia, ouvimos instruções para que a estrada continuasse fechada "por enquanto".

Depois, eles disseram que a espera poderia demorarbet maxquatro a cinco horas. Nos aconselharam a retornar.

Procuramos rotas alternativas, mas outros obstáculos sempre se materializam, mas com explicações diferentes. Outra estrada foi fechada por "treinamento militar". Tentamos por quatro vias diferentes, todas fechadas inesperadamente. Desistimos.

Alguns quilômetros à frente havia outro acampamento para cercabet max10 mil pessoas.

Alguns uigures colaboram com o sistema?

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Shohrat Zakir, presidente da regiãobet maxXinjiang, disse que a violência diminuiu com programabet maxinternação

Há uiguresbet maxposiçãobet maxautoridadebet maxXinjiang. Muitos dos policiais e oficiais que nos pararam eram dessa etnia. Nunca saberemos se eles sentiram algum conflito.

Embora alguns digam que o sistemabet maxprisões e controle seja semelhante ao apartheid da África do Sul, isso não é inteiramente verdade.

Muitos uigures têm interessebet maxmanter esse sistema.

Na realidade, um paralelo melhor pode ser encontrado dentro do próprio passado totalitário da China. Como na Revolução Cultural, uma sociedade está sendo informadabet maxque precisa ser desmontada para ser salva.

Shohrat Zakir, um uigur e,bet maxteoria, o segundo político mais poderoso da regiãobet maxXinjiang, sugere que a batalha já está quase ganha. "Nos últimos 21 meses, nenhum ataque terrorista violento ocorreu e o númerobet maxcasos criminais, incluindo aqueles que põembet maxrisco a segurança pública, caiu significativamente", disse ele à mídia estatal.

"Xinjiang não é apenas um lugar bonito, mas seguro e estável."

O mundo ainda não ouviu ninguém que ficou presobet maxDabancheng, a gigantesca instalação secreta.

Nossa reportagem mostra evidênciasbet maxque há um programabet maxinternaçãobet maxmassabet maxmuçulmanos sem julgamento, acusação ou qualquer processo legal. Para o governo, o programa se chama "reeducação".

A China diz que o projeto é um sucesso. Mas a História tem muitos precedentes preocupantes sobre onde esse processo pode acabar.