Fugindo da guerra, congoleses enfrentam violência, racismo e desemprego para recomeçar no Brasil:7games jogo do app

Congolesa lavando roupa no tanque após chegar do trabalho, enquanto carrega o peso7games jogo do appseu filho nas costas

Crédito, Fabio Teixeira/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Congoleses enfrentam violência, pobreza e desemprego para recomeçar no Brasil
Homem7games jogo do appculto

Crédito, Fabio Teixeira/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Fiel participa7games jogo do appculto evangélico7games jogo do appigreja pentecostal fundada por pastor congolês7games jogo do appBrás7games jogo do appPina, frequentada majoritariamente por refugiados do país

Os irmãos são parte7games jogo do appuma comunidade7games jogo do appquase dois mil refugiados ou solicitantes7games jogo do apprefúgio congoleses no Rio, segundo estimativas7games jogo do applideranças locais.

A grande maioria vive7games jogo do appfavelas, tendo fugido dos perigos e dificuldades7games jogo do appseu país para enfrentar uma rotina7games jogo do appviolência e tiroteios no Rio. Estão concentrados7games jogo do appBrás7games jogo do appPina, na zona norte, sobretudo na favela Cinco Bocas;7games jogo do appBarros Filho, também na zona norte; e7games jogo do appDuque7games jogo do appCaxias e no Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense.

As histórias7games jogo do appAli, Chadrac e muitos outros são7games jogo do appdor, sacrifício, famílias separadas, viagens arriscadas - e muitas vezes7games jogo do appdecepção com o país no qual vieram buscar uma vida melhor.

Chadrac Kembilu Nkusu acende velas durante um apagão na favela Cinco Bocas

Crédito, Fabio Teixeira/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Moradores ficaram dias sem eletricidade após uma forte chuva no Rio no fim do ano

Em meio à crise econômica e aos altos índices7games jogo do appdesemprego no Brasil, Ali tem passado os últimos meses7games jogo do appbusca7games jogo do appemprego, e já pensa7games jogo do appdesistir.

"Estou procurando há muito tempo. Já estou cansado7games jogo do appprocurar. A gente está sofrendo mesmo", diz o jovem7games jogo do app24 anos, que já trabalhou como ajudante7games jogo do appeletricista, pintor, pedreiro e sonha7games jogo do apppoder estudar para ser técnico ou engenheiro elétrico.

"O Brasil é muito bom, mas não estamos conseguindo uma oportunidade para sermos felizes aqui", afirma.

Êxodo7games jogo do apppaíses7games jogo do appguerra

De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), os congoleses são o segundo maior grupo a ter a solicitação7games jogo do apprefúgio acolhida pelo governo brasileiro depois da Síria, com 953 pedidos reconhecidos entre 2007 e 2017, o equivalente a 13% dos refúgios acatados no período.

Ali Ngangu Ntela começa a desmembrar uma cabeça7games jogo do appporco cuja carne será usada no preparo7games jogo do appuma refeição

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Legenda da foto, Congoleses preparam comidas típicas7games jogo do appseu país, como o fufu, um fubá preparado com ervas e carne

Os congoleses chegam fugindo7games jogo do appuma guerra que gera massacres, mortes a machadadas, estupros, tráfico humano, doenças e desnutrição. O presidente Joseph Kabila, no poder desde 2001, se recusa a sair apesar7games jogo do appseu mandato ter expirado no fim7games jogo do app2016.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a crise humanitária no país vem se agravando, com quase cinco milhões7games jogo do apppessoas deslocadas internamente7games jogo do apprazão do conflito - e quase 700 mil tendo fugido do país.

A maioria fugiu para nações vizinhas como Uganda e Burundi, na maioria das vezes se submetendo a travessias arriscadas. Outros foram para a vizinha Angola, como o jogador7games jogo do appfutebol Luta Espoir-Babou. Com medo7games jogo do appter que voltar para a RDC, ele decidiu fugir para o Brasil.

Ao lado7games jogo do appsua esposa, grávida, Luta passou mais7games jogo do appum mês escondido no convés7games jogo do appum navio7games jogo do appcontêineres para chegar ao Rio com as roupas do corpo e sem dinheiro. O filho nasceu meses depois, mas morreu com 10 meses,7games jogo do appjaneiro do ano passado,7games jogo do appmeio aos festejos do Réveillon. "Eu passei a festa com tristeza", diz Luta, que fugiu7games jogo do appseu país7games jogo do app2008, primeiro para a Angola7games jogo do app2016 para Brasil, com medo7games jogo do appser enviado7games jogo do appvolta para a RDC.

Ali Ngangu Ntela acende um charuto7games jogo do appcasa

Crédito, Fabio Teixeira/ BBC News Brasil

Legenda da foto, 'O Brasil é muito bom, mas não estamos conseguindo uma oportunidade para sermos felizes aqui', diz congolês

Ele vive na favela Cinco Bocas,7games jogo do appBrás7games jogo do appPina. A comunidade é dominada por uma facção e tem tiroteios constantes por causa7games jogo do appincursões7games jogo do appoutro grupo criminoso que tenta se estabelecer no local. Para Luta, a violência parece maior e mais constante do que no Congo, a guerra fazendo parte da rotina.

Migrantes enfrentam violência e racismo

Cerca7games jogo do app50 famílias7games jogo do appcongoleses moram7games jogo do appCinco Bocas e costumam se reunir nos fins7games jogo do appsemana nos cultos7games jogo do appuma igreja evangélica fundada por um pastor do país. Muitos já deixaram o Brasil, seguindo na peregrinação7games jogo do appbusca7games jogo do appoportunidade. Uma parte foi buscar refúgio na França.

Ali Ngangu Ntela vestido para uma festa da comunidade congolesa

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Legenda da foto, Refugiados trazem para o Brasil os trajes africanos7games jogo do appestampas marcantes e cores fortes

"As pessoas sempre reclamam da violência. Mas o sofrimento é igual ao dos brasileiros que moram nesses locais", conta Charly Kongo, congolês que chegou ao Rio dez anos atrás e hoje é uma das lideranças da comunidade na cidade.

"Não é por vontade que vivem nesses lugares. Mas a maioria das famílias não ganha nem um salário mínimo e não tem outra opção."

Para Kongo, além7games jogo do apptodas as dificuldades enfrentadas no Brasil por pessoas7games jogo do appdiferentes nacionalidades que chegam buscando refúgio, os africanos sofrem mais por causa do racismo no país.

Congoleses choram a morte7games jogo do appente querido falecido7games jogo do appacidente7games jogo do appcarro no ano passado

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Legenda da foto, Espírito comunitário é forte entre os imigrantes congoleses que vivem no Rio

Ele acredita que refugiados sírios ou7games jogo do appoutros países com pele mais clara têm mais facilidade7games jogo do appconseguir empregos e7games jogo do appter acesso a vagas que o grupo7games jogo do appcongoleses têm dificuldade7games jogo do appalcançar, mesmo que tenha tido boa educação7games jogo do appcasa.

"Para a gente, as vagas reservadas são nas áreas7games jogo do applimpeza, construção civil, carregador", diz Kongo. "Como acontece com a maioria dos negros no Brasil. Se aqui é difícil ver negros7games jogo do apppostos altos, imagina para refugiados negros conseguirem um bom trabalho."

Retrato7games jogo do appmãe e filha congolesas que vivem7games jogo do appRamos, na zona norte do Rio, ao lado do gato7games jogo do appestimação da família

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Legenda da foto, Congoleses reclamam7games jogo do appdeficuldade para conseguir um emprego no Brasil

"As pessoas ficam decepcionadas, com certeza. A esperança que tinham vai pelo ralo. Mesmo assim, sentem que no final é melhor estar aqui do que no Congo. Sentem que pelo menos dá para viver", afirma Kongo, que mora7games jogo do appNova Iguaçu e dá aulas7games jogo do appfrancês no Abraço Cultural, um centro7games jogo do appidiomas onde os professores são refugiados.

Sem futuro 'na informalidade'

Irmão7games jogo do appAli, Chadrac Kembilu Nkusu tinha apenas 16 anos quando chegou ao Brasil. Aos 21, ele está vivendo7games jogo do appvender camisetas imitando marcas como Nike, Adidas e Calvin Klein do lado7games jogo do appfora da estação das barcas7games jogo do appCharitas,7games jogo do appNiterói, onde vive. Mas as vendas estão paradas, e a geladeira está vazia.

"Sair com fome do Congo para passar fome aqui no Brasil... Que vergonha, né?"

Rosto ensaboado7games jogo do appAli na superfície da água

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Legenda da foto, Congoleses aproveitam dias7games jogo do appsol para pasar o dia no piscinão7games jogo do appRamos, praia artificial na zona norte do Rio

As dificuldades ao longo desses cinco anos foram tantas que Chadrac resolveu tentar a sorte7games jogo do appParis, onde vivem outros familiares. Mas não passou do aeroporto7games jogo do appLisboa. Passou cinco dias preso7games jogo do appuma cela na imigração. Acredita que foi barrado por racismo, já que tinha os vistos necessários para entrar na Europa. Foi enviado7games jogo do appvolta ao Brasil.

Com um jeito extrovertido e disposto, Chadrac diz ser "muito inteligente" e ter tido uma boa educação7games jogo do appum colégio particular católico na RDC. "Eu fico me perguntando: eu vou passar a vida toda no Brasil vendendo (produtos no mercado) informal? Eu, que tenho tanto conhecimento? Por isso estou batalhando para entrar na universidade."

Congolês depena uma galinha para preparar uma refeição

Crédito, Fabio Teixeira/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Cerca7games jogo do app50 famílias7games jogo do appcongoleses moram no bairro Cinco Bocas e costumam se reunir nos fins7games jogo do appsemana nos cultos7games jogo do appuma igreja evangélica

O sonho dele é estudar Letras, para aprimorar o português (que fala bem) e ensinar o francês, que é a língua oficial7games jogo do appseu país. Está buscando uma vaga7games jogo do appum curso pré-vestibular universitário.

"Acho que eu vou ser uma pessoa no futuro no Brasil. A pessoa que eu sou hoje, as qualidades que eu tenho, ninguém valoriza. Para valorizar a minha capacidade, eu tenho que estudar, me formar", afirma.

Chadrac usa um colar com um pingente7games jogo do apposso marcado com as iniciais RDC enviado pela mãe, que continua no país. Foi ela quem organizou a ajuda para que os filhos pudessem fugir7games jogo do app2013, para tentar protegê-los.

Ali arruma as tranças do cabelo na favela Cinco Bocas

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Legenda da foto, Muitos congoleses já deixaram o Brasil após se decepcionarem com a falta7games jogo do appoportunidades

"Ela fez7games jogo do apptudo para ajudar a sair7games jogo do applá", conta Ali.

Hoje, conseguir um visto para o Brasil no Congo está muito mais difícil, diz Chadrac. "Ela está lá e o clima não está bom. Está procurando como sair desse país miserável. Isso me estressa muito, fico desesperado", diz Chadrac.

"É por isso que tenho que conseguir algum futuro bom para mim no Brasil."

*Fabio Texeira é fotojornalista e documentarista e está acompanhando as trajetórias7games jogo do appcongoleses no Rio para o documentário "Brasil, meu refúgio".