Eleição na Venezuela: faltaup betimesperançaup betimreversão da crise pode aumentar ondaup betimmigração para o Brasil:up betim
"Na soma total, chegamos à estimativaup betim6,9 milhõesup betimpessoas que deixaram o país nesse período. Suspeitamos que nem todas as pessoas responderam com sinceridade, mas, mesmo que consideremos a metade disso, ainda é escandaloso", disse à BBC Brasil o consultor político Jesus Seguías, presidente da Datincorp.
"Especialmente considerando que aqui as pessoas não estão sendo expulsas por uma guerra, como na Síria. Elas estão saindo porque não têm esperançaup betimmudança. O venezuelano é o latino-americano mais arraigado a seu país. Este é o país que historicamente teve menos migrantesup betimtoda a América."
De acordo com Seguías, 45% dos entrevistados afirmaram que o principal motivoup betimseus familiares para deixar o país é a situação econômica. Em segundo lugar, com 25% das respostas, aparece a "desesperança". Em terceiro, a sensaçãoup betiminsegurança e sóup betimquarto, com 11%, a situação política.
"As pessoas não estão indo embora nesse momento porque há um governo socialista, mas, sim, porque há uma crise econômica, independentementeup betimela ter sido criada por um governo socialista", diz.
Recuperação rápida, se houver consenso
Pesquisasup betimintençãoup betimvoto dizem que a oposição tem cercaup betim70% do apoio popular e o presidente Maduro, um alto índiceup betimrejeição.
No entanto, o presidente mantém um núcleo duroup betimpelo menos 5 milhõesup betimeleitores que se mantêm leais ao projeto chavista. Este apoio, aliado ao fatoup betimque muitos dos eleitores da oposição estão deixando o país e à campanhaup betimparte dos opositores para boicotar o pleito, pode fazer com que Maduro se mantenha no poder.
"O impacto do que vai acontecer no domingo será notável, não há dúvida. Se Maduro fica no poder, isso pode aumentar a desesperança. Mas se ganhar Falcón e o governo o reconhecer, tenha certezaup betimque isso freará imediatamente a saída dos venezuelanos. Com exceção dos que já têm tudo planejado, passagem comprada", diz Seguías.
O ex-governador do Estadoup betimLara Henri Falcón, considerado o principal nome da oposição, é um ex-chavista que rompeu com o regimeup betim2010, mas manteve o apoio que tinha nas eleições locais.
Hoje, ele afirma que o governoup betimChávez "perseguia a iniciativa privada" e diz que suas posições são "de centro". Duasup betimsuas principais propostas são a libertaçãoup betimpresos políticos e a dolarização da economia, para conter a inflação.
Para o analista político, a promessaup betimdolarizar a economia é bem aceita pela população, mas não vai resolver todos os problemas econômicos e políticos que fazem com quem boa parte dos venezuelanos decida ir embora.
"O país precisa voltar a ter produtividade para que seja mais competitivo. A Venezuela está perdendo praticamente toda aup betiminteligência profissional. Cercaup betim13 mil dos 70 mil médicos do país emigraram. Nas universidades públicas, há cursos fechando por faltaup betimalunos. Cercaup betim73% dos que foram têm educação superior, completa ou incompleta."
Cenário incerto
Claudia Vargas, pesquisadora da Universidade Simón Bolívar acredita que seja qual for o resultado das eleições, a migração deve se manter, pelo menos até que o cenário pós-eleitoral se defina.
"Quando a oposição conseguiu uma vitória importante no Parlamento,up betim2017, algumas pessoas atrasaramup betimsaída do país, porque havia a esperançaup betimmudança no cenário político. Depois, o governo convocou a Assembleia Constituinte, e as pessoas retomaram a migração", relembra.
Apesar da realização das eleiçõesup betimmaio, o novo presidente deve assumir apenasup betimjaneiroup betim2019. Mas a violenta disputa política nos últimos anos, diz Vargas, deixou os venezuelanos desconfiados da disposição do governoup betimnegociar a saídaup betimMaduro do poder.
"Digamos que a oposição vença. O que o governo vai fazerup betimtodos esses meses até o novo presidente assumir? E se uma nova medida for aprovada, dizendo que o novo presidente vai assumirup betimjunho, nãoup betimjaneiro? Muitas pessoas vão dizer 'esperei que as coisas mudassem, mas tudo vai continuar como estava'."
"Caso Maduro permaneça no poder, o númeroup betimmigrantes deve aumentar. Mas mesmo que ganhe algum dos outros candidatos da oposição, as pessoas continuarão saindo, porque o problema não é só político. O que acontece com as pessoas que não têm comida? Que precisamup betimum tratamento médico que não está disponível na Venezuela?"
Para o estatístico Felix Seijas, diretor da empresaup betimpesquisa Delphos e professor da Universidade Central da Venezuela, uma vitóriaup betimMaduro no domingo pode,up betimfato, aumentar a nova onda migratória, especialmente considerando que as férias escolares no país começamup betimjunho.
"São pessoas jovens e,up betimprincípio, bastanteup betimoposição. Mas agora também há pessoas que apoiavam o governo, mas sentem que não têm mais como manter o padrãoup betimmínimoup betimvida", disse à BBC Brasil
"Inicialmente, a migração eraup betimpessoas que tinham possibilidades, estudos, podiam prever o que ia acontecer. Depois, começou essa ondaup betimclasse mais popular, menos preparada. Não é um migranteup betimaeroporto, masup betimfronteiras,up betimônibus", disse à BBC Brasil.
Para Jesús Seguías, os próximos meses devem,up betimqualquer modo, levar ao fim do governo Maduro. A pergunta mais importante, no entanto, é quando e como isso acontecerá.
"Se ele sai pela via eleitoral e por uma viaup betimconsenso eup betimnegociação, isso cria as condições para que a recuperação econômica da Venezuela aconteçaup betimum tempo relativamente curto. E as pessoas podem querer ficar e voltar. Mas se isso ocorrer com violência, a Venezuela pode ficar presaup betimuma espiralup betimviolência que pode durar décadas", afirma.
Brasil se prepara para aumento do fluxo
De acordo com o ACNUR, maisup betim800 venezuelanos cruzam a fronteira brasileira diariamente nos últimos meses. Desde o inícioup betim2017, maisup betim50 mil entraram no país, principalmente por Roraima. Destes, pelo menos a metade são solicitantesup betimrefúgio.
Para as Forças Armadas brasileiras, que participamup betimuma operação do governo federal para receber os venezuelanos na fronteira do país com Roraima, "a situação não tende a melhorarup betimcurto e médio prazo".
"A análise é que a escassezup betimágua,up betimenergia, grande evasãoup betimmédicos, proliferaçãoup betimdoenças que não existiam há tempos como sarampo e difteria... tudo isso aponta para um cenário negativo", disse à BBC Brasil o tenente-coronel Souza Filho, assessorup betimcomunicação social da Operação Acolhida.
"Com a possível reeleiçãoup betimMaduro, não se prevê mudança, e, sim, manutenção do que se encontra. Não sabemos se o fluxo dos venezuelanos para cá vai aumentar, mas estamos montando estruturas pensando na possibilidadeup betimtermos o dobro ou o triplo do fluxo atual."
Segundo Souza Filho, há um abrigo para cercaup betim500 pessoas na cidadeup betimPacaraima, onde os venezuelanos chegam após atravessar a fronteira amazônica, eup betimBoa Vista, foram construídos seis abrigos permanentes e dois temporários. A rede é capazup betimatender 4 mil venezuelanos - e já atende cercaup betim3.900.
Outros quatro abrigos estão sendo construídos, e dois deles já devem funcionar até o final do mêsup betimmaio.
A açãoup betimacolhida envolve 300 militares, representantesup betim12 ministérios, da Polícia Federal,up betimagências da ONU, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) eup betimONGs.
"Entram cercaup betim150 desassistidos semanalmente e queremos poder atender 400, 500 desassistidos, ou seja, pessoas que declaram que necessitamup betimajuda humanitária. Muitos outros se declaram como turistas por terem veículo, capacidadeup betimlocomoção, algumas posses, algum capital e acreditam que vão se inserir no mercado local", explica.
Colômbia, Chile, Peru e Argentina continuam sendo os destinos mais procurados pelos venezuelanos no continente. O Brasil apareceup betimseguida, mas, segundo a pesquisadora Cláudia Vargas, pode vir a se tornar um destino mais importante para os venezuelanos, caso o fluxoup betimmigrantes emergenciais aumente muito rapidamente.
"Atualmente, o idioma ainda é uma barreira para muitos. Eles preferem ir aos outros países da América Latina, porque há maiores chancesup betimconseguirem bons empregos", afirma.