A mulher que estudou Jornalismo para buscar o assassino do pai e conseguiu levá-lo à cadeia na Colômbia:betano 100

Diana López
Legenda da foto, A jornalista colombiana Diana López, 31, tinha 10 anos quando o pai foi assassinado

Um ciclo que, como esta mulherbetano 10031 anos diz à BBC, começa e termina naquela festabetano 100que comemorava seus dez anos - seu último aniversário feliz.

Entre a escola e o violão

Embetano 100infância, Diana López viveu combetano 100mãe e avó maternabetano 100La Paz, pequena cidade ao norte da Colômbia.

O pai, Luis López, morava a algumas horasbetano 100distância dali,betano 100Barrancas, onde era vereador. E visitava a filha duas ou três vezes por mês.

Em 1997, o político pretendia se tornar prefeitobetano 100seu município, desafiando assim o poderoso líder regional Juan Francisco Gómez, conhecido como Kiko.

"Meu pai denunciava a corrupção da administraçãobetano 100Kiko Gómez, que na época era prefeito, e por isso assassinos acabaram combetano 100vida", diz Diana López.

Diana ainda criança com o pai

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O paibetano 100Diana era vereador e pretendia se tornar prefeito

Até aquele incidente, a infânciabetano 100Diana era dividida entre a escola, suas aulasbetano 100violão e acompanharbetano 100avóbetano 100atividades como fazer compras.

Como era criança, não imaginava os profundos problemas que a população local começava a enfrentar com a chegada do paramilitarismo, mas já sabia quais ruas estava proibidabetano 100percorrer.

Ela ouvia falar dos assassinatos que se multiplicaram embetano 100região e dos confrontos com os guerrilheiros, mas, para ela, os paramilitares eram apenas "pessoas más que matavam outros".

Ela não entendia por quê.

Um telefonema às 10 horas da manhã daquele 22betano 100fevereiro, com a notíciabetano 100que seu pai havia sido baleado, forçou-a a buscar explicações e a encarar a realidade.

'Mataram-no duas vezes'

Luis López não morreu imediatamente depoisbetano 100ser baleado no pescoço.

Ele foi levadobetano 100Barrancas a um hospitalbetano 100Valledupar, a quase três horasbetano 100distância, para que tentassem salvarbetano 100vida com uma traqueostomia.

Acabou morrendo na salabetano 100cirurgia, enquanto Diana, aindabetano 100estadobetano 100choque, estava na salabetano 100espera.

"Tudo foi muito rápido, não tive tempo para nada, as pessoas começaram a me abraçar. Eu usava uma blusa laranja e minha mãe teve que me levar a uma loja para me comprar roupas pretas", lembra a jornalista.

López diz que seu pai "foi morto duas vezes" porque não recebeu assistência médica imediatabetano 100Barrancas e foi tratado apenas três horas depoisbetano 100ter sido baleado.

"Agora eu sei, pelas minhas próprias investigações como jornalista, que a hemorragia poderia ter sido interrompida no hospitalbetano 100Barrancas, mas ele foi transportado no carro do prefeito e não na ambulância municipal. Perdeu grandes quantidadesbetano 100sangue ao longo do caminho", diz ela, que acredita que a negligência foi intencional.

Luis López Peralta completaria 40 anos três dias depois.

Diana com o pai, Luis López

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Luis López completaria 40 anos três dias depoisbetano 100ter sido assassinado

O dia seguinte

No velório, "eu não queria ver meu pai no caixão, eu preferia manter a imagem da última vez que o vi", diz ela à BBC.

Diana ficou tão chocada com tudo o que aconteceu que nem conseguiu chorar pelo pai.

"Não se assimila no momento o que está acontecendo. Foi um impacto muito grande para entender que as pessoas são mortas porque buscam justiça. É uma dor que nunca cura, é irreparável."

Ao velório foram muitas pessoas que ela não conhecia, embora ali ela distinguiu uma que, à época, não causava nenhuma suspeita: Kiko Gómez.

O então prefeito foi oferecer suas condolências à família e chegou a chamar o paibetano 100Dianabetano 100"companheirobetano 100luta".

A morte do pai não seria o único golpe que Diana receberia naquele fatídico fevereirobetano 1001997.

Um dia depois do enterrobetano 100Luis López,betano 100avó também morreu depoisbetano 100um longo períodobetano 100problemasbetano 100saúde.

O prefeito suspeito

No ano do assassinatobetano 100Luis López, Juan Francisco Gómez foi reconhecido pelo Congresso colombiano como "o melhor prefeito do país" e recebeu a Ordem Simón Bolívarbetano 100Democracia.

Enquanto Diana viviabetano 100adolescência, a carreira políticabetano 100Kiko Gómez continuava decolando. Entre 2011 e 2015, ele foi eleito governadorbetano 100La Guajira.

À época dessa eleiçãobetano 100governador, Diana Lopez já havia escolhido estudar Jornalismo para tentar fazer com que o assassinatobetano 100seu pai não ficasse impune.

"Na adolescência, fiquei muito deprimida por causa da ausência dele, sempre quis que a justiça fosse feita", lembra. "Sempre acreditei que a morte do meu pai ficaria impune. Eu não era ninguém, por isso escolhi o Jornalismo como carreira, para me livrarbetano 100toda a inquietação que sentia."

Sua família soube por várias fontes que a ordem para matar seu pai havia sido dada por Gómez. Asseguraram que o político dissebetano 100uma festa "Eu matei aquele filhobetano 100um sapo".

Sapo é uma expressão usada na Colômbia para quem é delator ou informante, algo considerado uma alta traição entre as máfias.

Diana Lopez com o pai

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Diana começou a ter desmaios repentinos após o julgamento do assassinato do pai

Jornalismo

Depoisbetano 100concluir a universidade na cidadebetano 100Barranquilla, Diana escolheu Bogotá como seu próximo destino para, a partir daí, buscar justiça.

Na capital colombiana, ela conheceu Gonzalo Guillén, outro jornalista interessadobetano 100investigar Kiko Gómez. Guillén percorreu La Guajira reunindo informações sobre as centenasbetano 100vítimas das máfias da região.

O experiente jornalista, agora aposentado, depoisbetano 100coletar dezenasbetano 100testemunhos e inúmeros documentos, disse à BBC Mundo que escolheu enviar todas as informações ao Ministério Público para embasar uma investigação sobre Gómez,betano 100vezbetano 100apenas escrever uma reportagem.

"Encontrei 131 mortes atribuídas a Kiko Gómez na primeira etapa do trabalho com as vítimas e suas famílias. A situação era tão terrível que fiz um relatório e o enviei ao procurador-geral da nação porque novas ameaças continuavam aparecendo", diz Guillén.

Assim, foi aberto um processo judicial contra Gómez, incluindo uma acusação pelo assassinato do paibetano 100Diana López.

Em 12betano 100outubrobetano 1002013, por instrução do Ministério Público colombiano, Gómez, então governadorbetano 100La Guajira, foi preso.

Poucos meses depois, por meiobetano 100um decreto, o presidente Juan Manuel Santos aceitou a renúncia ao cargo que Kiko Gómez escreveu na prisão La Picota,betano 100Bogotá.

Ameaças

Já com o processobetano 100curso,betano 1002015, o choro da mãebetano 100Diana não foi suficiente para convencê-la a se afastar do julgamentobetano 100Kiko Gómez.

A mãe temia que algo acontecesse combetano 100filha por ela acusar um político tão poderoso.

De um dia para o outro, o telefone da jovem jornalista começou a receber todo tipobetano 100intimidação, até hoje não identificadas.

Frases como "Eu não sei perder" ou "Eu vou provar que você não brinca comigo" chegaram ao celular dela.

Intimidada e sem o apoio da maioriabetano 100sua família, Diana decidiu continuar procurando provas e testemunhas para tentar provar que o ex-governador fora quem ordenou o assassinatobetano 100seu pai quase duas décadas antes.

"Eu me intrometi completamente na investigação, ajudei a trazer parentes para testemunhar, também dei meu depoimento e foi assim que tudo começou", lembra.

No entanto, quanto mais ela descobria detalhes sobre o crime, mais difícil era seguirbetano 100frente.

"Voltei para o momentobetano 100que eles o mataram, senti essa dor novamente", diz ela, visivelmente abalada.

Diana diz que até hoje sofre desmaios repentinos. Ela também teve que fazer terapia para lidar com o episódio mais dolorosobetano 100sua vida.

Kiko Gómez no velóriobetano 100Luis López

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Kiko Gómez, condenado pelo assassinatobetano 100Luis López, no velório do vereador

Culpado

Apesarbetano 100tudo isso, na opiniãobetano 100Gonzalo Guillén, a contribuiçãobetano 100Diana foi decisiva para que Kiko Gómez fosse, por fim, declarado culpado da morte do pai da jornalista.

"Fiquei muito surpreso que,betano 100meio à gigantesca covardiabetano 100La Guajira, ela tenha sido tão corajosa", diz Guillén. "Ela descobriu uma sériebetano 100coisas que os promotores nem sequer viram."

A defesa do ex-governador alegou que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) haviam ordenado a morte do paibetano 100Diana; a guerrilha negou.

Em 27betano 100junhobetano 1002017, 20 anos e alguns meses após a mortebetano 100Luis López, Juan Francisco Gómez foi condenado por um juizbetano 100Bogotá e atualmente cumpre uma sentençabetano 10055 anos por esse e outros dois homicídios.

As sentenças contra o político estãobetano 100fasebetano 100recursos.

Diana López e seu colete à provabetano 100balas
Legenda da foto, A jornalista precisa levar seu colete à provabetano 100balas para todo lugar que vai

Colete à provabetano 100balas e escoltas

Diana López recorda que no diabetano 100que soube que Kiko Gómez foi condenado, sentiu uma avalanchebetano 100emoções: paz, medo, emoção, alegria...

No momentobetano 100que foi informada da sentença, estavabetano 100pé na fila para receber atendimento médico.

Entrou então no consultório aos prontos, a pontobetano 100o médico achar que ela estivesse sob dor física muito intensa.

"Corri para o tribunal para verificar a sentença, fiquei chocada", diz.

Depois, celebrou o feito tomando uma taçabetano 100vinho no barbetano 100um amigo.

Mas, como vítima, acusadora e jornalista, ela iniciaria a partir dali uma vida muito diferente: seria forçada a estar sempre acompanhadabetano 100dois guarda-costas, andarbetano 100carro blindado e usar um colete à provabetano 100balas. Ela não tem ideiabetano 100quanto tempo ainda vai ter que viver assim, mas sente que o perigo não passou.

"Eu quase nunca saio para viajar ou para lugares onde não posso entrar no meu esquemabetano 100segurança."

Diana Lopez antesbetano 100entrarbetano 100carro blindado
Legenda da foto, A jornalista recebe proteção do Estado colombiano e só se locomovebetano 100carro blindado

A festabetano 100aniversário

Um dia depoisbetano 100Gómez ter sido condenado, Diana procurou um médico especialista indicado por seu terapeuta e viveu o que ela chamabetano 100momento mais especialbetano 100sua vida - algo que ela conta com a voz embargada.

"(O médico) me fez voltar ao meu último momento com meu pai, sem qualquer técnicabetano 100hipnose ou algo parecido, só com a minha mente", conta.

E foi assim que ela regressou a 6betano 100janeirobetano 1001997, para seu último aniversário com seu pai ebetano 100avó. No começo e no finalbetano 100toda essa história.

"Fui com a minha mente para o último diabetano 100que estive com meu pai e pela primeira vez na vida me lembrei daquele momento sem chorar. Vi as roupas que ele vestia. Eu o vi, vi tudo o que aconteceu naquele dia. Senti paz e tranquilidade que a justiça tinha sido feita porbetano 100morte."