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'Minha vida foi roubada': mulher é induzida pela mãe a acreditar por anostimemaniaum 'mundo estranho':timemania
Chegando lá, Ruth disse aos filhos que não voltariam mais para a antiga casa.
"Não conseguimos dizer adeus (para as pessoastimemaniaVancouver). Foi um rompimento abrupto dos relacionamentos", relembra.
Quando ela perguntava atimemaniamãe por que tinha feito isso, nunca recebia uma explicação convincente. "Ela só dizia: 'Sinto muito, não posso te dizer. Quando você for mais velha eu conto'."
O mesmo aconteceu quatro anos depois - dessa vez, a família se mudou para New Brunswick, na costa leste do Canadá.
Apesar disso, a vida era normal para a famíliatimemaniaPauline - eles recomeçavam e construíam uma nova vidatimemaniauma nova cidade. Mas, por dentro, a garota se sentia confusa, ansiosa etimemaniadepressão.
"Eu sabia que algo ruim estava acontecendo. Não sabia o que era, mas sempre senti que havia algo terrível que não estava sendo dito", afirma.
Suspeitas
Aos 11 anostimemaniaidade, Pauline já tinha frequentado seis escolas diferentes desde que perdera o contato com o pai.
E outro homem havia entrado na vida da família, um pastor evangélico chamado Stan Sears.
A mãetimemaniaPauline tinha conhecido Stantimemaniaum grupotimemaniaapoio para famíliastimemaniaalcoólatras - ele era um dos orientadores psicológicos, e ela o procurou quando enfrentava dificuldades com o alcoolismotimemaniaWarren e se preparava para deixá-lo.
Mas nas duas vezestimemaniaque a famíliatimemaniaPauline se mudoutimemaniarepente, Stan coincidentemente se mudou para os mesmos lugares que eles.
"O que eu sabia era que independentemente do que estivesse acontecendo, Stan também estava envolvido", diz Pauline.
Quando chegaram a New Brunswick, eles fincaram raízes. Em 1988, quando Pauline tinha 23 anos, ela havia se formado e trabalhava no jornal da cidadetimemaniaSaint John, até quetimemaniamãe telefonou com uma proposta inesperada.
"Ela disse: 'Agora estou pronta para explicar todas as coisas estranhas que aconteceram natimemaniavida'."
'Coloque suas joias no envelope'
As duas mulheres combinaramtimemaniase encontrar diantetimemaniaum motel no meio do caminho entre as cidadestimemaniaque estavam vivendo. Quando chegou lá, Ruth colocou um bilhete e um envelope vazio nas mãostimemaniaPauline.
O bilhete dizia: "Não diga nada. Tire suas joias e as coloque no envelope. Eu vou explicar, mas não diga nada."
"Foi muito esquisito. Eu pensei: Quem é você? O que está fazendo? Mas fiz o que ela me pediu", diz Pauline.
Quandotimemaniamãe a levou a um dos quartos do motel, Stan Sears estava lá à espera delas.
Stan e Ruth disseram a Pauline que, nos últimos 16 anos, estiveram fugindo da máfia, e que a família virara alvotimemaniacriminosos porque seu pai, Warren, havia se envolvido com o crime organizado.
Ela não podia usar suas joias, disse a mãe, porque precisavam descobrir se elas tinham dispositivostimemaniaescuta.
Stan disse que tudo começou depois que ele deu conselhos a um chefe da máfia que queria deixar para trás a vida no crime. Quando a organização descobriu que o homem violou o códigotimemaniasilêncio, eles o mataram. Em seguida, foram procurar Stan, que provavelmente sabia demais.
Quando Ruth, ex-mulhertimemaniaum criminoso, começou a trabalhar como secretária na igrejatimemaniaStan, ela também virou alvo.
"Eles me disseram que cada umtimemanianós tinha alguém nos seguindo e nos vigiando à distância. E que tentaram me sequestrar, me envenenar ou me matar muitas vezes, mas essas pessoas intervieram para me mantertimemaniasegurança ao longo dos anos."
Além dessa força-tarefa aprovada pelo governo que os protegia, Stan explicou que também havia comunidades pouco conhecidastimemaniaalgumas partes do país onde os que eram perseguidos pela máfia podiam conseguir proteção. Esses locais eram conhecidos como "o mundo estranho".
Depoistimemaniaanos como fugitiva, a mãetimemaniaPauline disse que tinha decidido voltar a sumir do mapa e buscar proteçãotimemaniauma dessas comunidades.
Stan já viviatimemaniaum desses locais, mastimemaniamulher não quis fugir com ele. Por isso, estava vivendo sozinho e trabalhando neste "mundo estranho" com seus agentes.
Ansiedade e medo
Stan e Ruth também disseram a Pauline que esta eratimemaniachancetimemaniafinalmente estarem juntos - eles estavam apaixonados havia muitos anos, mas nunca tinham conseguido fazer nada a respeito.
Pauline ficoutimemaniachoque com a quantidadetimemanianovas informações. "Eu fiquei doentetimemaniamedo etimemaniatristeza, sentia que a vida estava se despedaçando ao meu redor", diz.
Ela passou aquele fimtimemaniasemana ouvindo as históriastimemaniaStan etimemaniaRuth, que explicavam muitas das coisas estranhas que aconteceram durantetimemaniainfância e adolescência, como a veztimemaniaque ela chegoutimemaniacasa e encontrou a mãe jogando for a toda a comida da geladeira.
Stan disse que eles tinham sido informadostimemaniaque alguém estava tentando envenená-los.
Em outro momento, a família foi fazer uma trilha durante a semana e dormiu uma noitetimemaniaum chalé nas montanhas. Segundo Stan, havia pessoas atrás deles, por isso tiveram que se ausentar por cercatimemaniadois dias.
Houve também o diatimemaniaque a família foi jogar bolichetimemaniaveztimemaniair à escola, e o diatimemaniaque as crianças chegaramtimemaniacasa e foram obrigadas a tomar banho, esfregando muito os pés, e tiveram que usar um saco plástico nos pés, por cima das meias, o resto do dia.
"Mesmo que soasse absurdo, as explicações faziam com que esses eventos esquisitos se encaixassemtimemaniauma narrativatimemaniaque éramos perseguidos."
Dublês
Quando Pauline teve que ir embora do motel, Stan perguntou se poderia colocar um localizador no carro dela, para que "os homens do bem" pudessem segui-la e protegê-la. Ele também deu a ela um pequeno rádio para que ela sinalizasse caso precisassetimemaniaajuda.
"Ele me disse: 'Use só se atimemaniavida estiver mesmotimemaniaperigo, porque as pessoas vão arriscar as vidas delas por você'."
Pauline voltou para a vida normal - a reforma que estava fazendo com o namoradotimemaniacasa e sem emprego no jornal - mas tinha dificuldadestimemanialidar com as coisas que havia descoberto. Ela tinha cada vez mais medo.
Ela sempre olhava para trás para ver se estava sendo seguida, deixoutimemaniair a restaurantes por medotimemaniater a comida envenenada e planejava rotastimemaniafugatimemaniacasa.
Enquanto isso, a históriatimemaniaRuth e Warren ficava mais elaborada. E do "mundo estranho" chegaram as informaçõestimemaniaque muitas pessoas não eram quem Pauline e seu irmão pensavam ser.
"Eles diziam que algumas das pessoas que eram próximastimemanianós na minha infância, que estavam no crime organizado, foram presas, mortas ou estavam desaparecidas - e foram substituídas por dublês", conta Pauline.
"Às vezes o dublê era posto pelos 'bonzinhos' e outras vezes pelos 'maus'. Então nunca se sabia 100% quem era."
Segundo Stan, eles passavam meses estudando gravações para entender como se comportar como as pessoas que iriam substituir, e faziam plásticas e maquiagem para se disfarçar.
Pauline encontrava esses dublêstimemaniaveztimemaniaquando. No diatimemaniaque seu irmão se casou, por exemplo, ela reencontrou o pai e a tia depoistimemaniaanos sem vê-los. Mas os dois, segundo disseram a ela, eram dublês.
"Minha mãe ficou muito chateada no casamento, porque a irmã dela tinha que ser uma dublê. E ela ficava dizendo: 'Olhe os dedos do pé dela, são exatamente os mesmostimemaniaPenny. Como é que se faz os dedostimemaniaalguém ficarem assim?'."
Confiança
Mesmo cheiatimemaniadúvidas, Pauline sempre confiou emtimemaniamãe e Stan. "Era uma história maluca e eu tive dificuldadetimemaniaacreditar. Mas se não pudesse confiar neles,timemaniaquem confiaria?", diz.
Aterrorizada e paranoica, ela decidiu abandonar tudo para vivertimemaniauma das comunidades do "mundo estranho" comtimemaniamãe. Stan disse a ela que haveria trabalho e que ela estaria segura.
Ela terminou com o namorado, pediu demissão do trabalho, vendeutimemaniacasa e se mudou com Ruth e Stan para Halifax,timemaniaNova Scotia, uma província no extremo leste do Canadá.
Ali, eles esperariam a confirmaçãotimemaniaque era seguro entrar no "mundo estranho". Mas o momento adequado nunca chegava.
"Nos disseram (atravéstimemaniaStan) que a máfia desconfiava o que estávamos planejando e estava nos ameaçando. Ficávamos sempre à espera."
Nessa época, no entanto, Pauline conheceu Kevin, que se tornaria seu marido e a quem contou os segredos. Ele se comprometeu a ir viver com ela na comunidade.
Em 1993, cinco anos depoistimemaniater ouvido as explicaçõestimemaniasua mãe etimemaniaStan, Pauline decidiu que deveria confirmar se as coisas que eles disseram eram verdade.
Foi quando ela decidiu inventar quetimemaniacasa havia sido roubada - e escolheu um momentotimemaniaque Stan estivesse visitandotimemaniamãe.
"Liguei para ela e disse: 'Alguém entrou na minha casa. O que eu faço?'". Sua mãe respondeu: "Vou perguntar a um amigo nosso e ligotimemaniavolta".
Stan tinha dito a Ruth e a Pauline que elas não podiam nunca ir à polícia para dar queixa das ameaças e das coisas estranhas que ocorriamtimemaniasuas vidas - já que a polícia, segundo ele, não era confiável.
Ruth ligou para Pauline minutos depois, dizendo que não podia falar ao telefone e que a filha deveria ir encontrá-la imediatamente.
Quando chegou lá, Pauline ouviu Ruth e Stan dizerem que duas pessoas tinham sido presas natimemaniarua horas antes. Essas pessoas tinham fotografias delatimemaniamãos, a estavam seguindo e buscaram coisas específicas emtimemaniacasa.
"Quando ela disse isso, eu percebi que era tudo falso. Porque ninguém tinha entrado na minha casa, eu inventei", afirma.
"Nesse momento, eu soube que todas as histórias, as mudanças, os dublês, era tudo mentira."
Confronto
Quando Pauline confrontou a mãe, Ruth Dakin ficou chateada, mas não porquetimemaniafilha havia descoberto a verdade, mas porque, deixandotimemaniaacreditar na história, ela ficaria exposta aos "perigos".
Ao expor a situação para Stan, ele lhe disse que deveria ter havido algum tipotimemaniaerro no relatório sobre os homens misteriosos e que haveria uma investigação.
"Minha memória daquela noite é do quão triste ele estava. Eu não era mais como eles", relembra.
Durante meses, Pauline e Ruth tentaram convencer uma à outra. Pauline dizia que Stan estava enganando Ruth, a mãe dizia que a filha estava cega. Elas nunca chegaram a um acordo.
Furiosa e decepcionada, Pauline decidiu retomartimemaniavida: entroutimemaniacontato com o pai, que estava doente e havia voltado a beber, e se afastou da mãe etimemaniaStan.
A relação das duas nunca se recuperou por completo, mas Pauline diz que ter dado à luz duas meninas a ajudou a se recuperar do trauma. "Quando você tem filhos as coisas mudam, eles se tornam o foco do seu amor", diz.
Ruth teve câncertimemania2010, alguns anos após a mortetimemaniaStan, e viveu seus últimos nove meses com Pauline.
Ela nunca deixoutimemaniaacreditar nas histórias do pastor. Nem mesmo quando, depois que ele morreu, pararamtimemaniachegar cartas do "mundo estranho" e também ameaças da máfia e mensagens cifradastimemaniasupostos colaboradores.
Mas o que mais incomodava Pauline era o fatotimemaniaque Stan não parecia ser louco.
Quatro anos atrás, ainda tentando entender por que o pastor inventara tantas mentiras, ela leu um artigo médico sobre uma doença mental conhecida como transtorno delirante.
"Quando li o artigo, pensei: 'Isso descreve Stan perfeitamente. Alguém que parece normal e é competente no trabalho, mas tem ideias malucas sobre certas coisas'."
Ela contactou o autor do artigo, um psiquiatratimemaniaHarvard, que se entusiasmou comtimemaniahistória.
Ele confirmou que Stan tinha todas as característicastimemaniauma pessoa com o transtorno delirante. Outro pesquisador especialista confirmou o diagnóstico.
Encontrar um motivo por trás do discursotimemaniaStan ajudou Pauline a se reconciliar com seu passado, mesmo que ela nunca tenha se recuperado completamente dos problemas causados pela redetimemaniamentiras.
"Tive muita penatimemaniaminha mãe. Ela teve uma vida difícil e era vulnerável a Stan, por que ele era uma pessoa gentil e carinhosa."
"Mas também lamentei por mim e por meu irmão. Éramos apenas duas crianças pequenas cujas vidas foram roubadas", diz.
Pauline, que hoje é professora-assistente da EscolatimemaniaJornalismo da universidade canadense King's College, transformoutimemaniainfânciatimemaniaum livro, chamado Run, Hide, Repeat: A memoir of a fugitive childhood (Corra, se esconda, repita: memóriastimemaniauma infânciatimemaniafuga,timemaniatradução livre).
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