'Minha vida foi roubada': mulher é induzida pela mãe a acreditar por anosmc daniel luva betum 'mundo estranho':mc daniel luva bet

Pauline Dakin
Legenda da foto, Pauline Dakin escreveu um livro sobremc daniel luva betexperiência com o transtorno delirante | Foto: Penguin

Chegando lá, Ruth disse aos filhos que não voltariam mais para a antiga casa.

"Não conseguimos dizer adeus (para as pessoasmc daniel luva betVancouver). Foi um rompimento abrupto dos relacionamentos", relembra.

Quando ela perguntava amc daniel luva betmãe por que tinha feito isso, nunca recebia uma explicação convincente. "Ela só dizia: 'Sinto muito, não posso te dizer. Quando você for mais velha eu conto'."

O mesmo aconteceu quatro anos depois - dessa vez, a família se mudou para New Brunswick, na costa leste do Canadá.

Apesar disso, a vida era normal para a famíliamc daniel luva betPauline - eles recomeçavam e construíam uma nova vidamc daniel luva betuma nova cidade. Mas, por dentro, a garota se sentia confusa, ansiosa emc daniel luva betdepressão.

"Eu sabia que algo ruim estava acontecendo. Não sabia o que era, mas sempre senti que havia algo terrível que não estava sendo dito", afirma.

Pauline emc daniel luva betfamilia
Legenda da foto, Warren, Ruth, Teddy and Pauline, por voltamc daniel luva bet1969, antes da separação do casal

Suspeitas

Aos 11 anosmc daniel luva betidade, Pauline já tinha frequentado seis escolas diferentes desde que perdera o contato com o pai.

E outro homem havia entrado na vida da família, um pastor evangélico chamado Stan Sears.

A mãemc daniel luva betPauline tinha conhecido Stanmc daniel luva betum grupomc daniel luva betapoio para famíliasmc daniel luva betalcoólatras - ele era um dos orientadores psicológicos, e ela o procurou quando enfrentava dificuldades com o alcoolismomc daniel luva betWarren e se preparava para deixá-lo.

Mas nas duas vezesmc daniel luva betque a famíliamc daniel luva betPauline se mudoumc daniel luva betrepente, Stan coincidentemente se mudou para os mesmos lugares que eles.

"O que eu sabia era que independentemente do que estivesse acontecendo, Stan também estava envolvido", diz Pauline.

Quando chegaram a New Brunswick, eles fincaram raízes. Em 1988, quando Pauline tinha 23 anos, ela havia se formado e trabalhava no jornal da cidademc daniel luva betSaint John, até quemc daniel luva betmãe telefonou com uma proposta inesperada.

"Ela disse: 'Agora estou pronta para explicar todas as coisas estranhas que aconteceram namc daniel luva betvida'."

Pauline commc daniel luva betmãe e irmão emmc daniel luva betformatura,mc daniel luva bet1987
Legenda da foto, A família criou raízes na terceira cidade para onde mudou – mas as crianças deixaram para trás parentes e amigos sem se despedir

'Coloque suas joias no envelope'

As duas mulheres combinarammc daniel luva betse encontrar diantemc daniel luva betum motel no meio do caminho entre as cidadesmc daniel luva betque estavam vivendo. Quando chegou lá, Ruth colocou um bilhete e um envelope vazio nas mãosmc daniel luva betPauline.

O bilhete dizia: "Não diga nada. Tire suas joias e as coloque no envelope. Eu vou explicar, mas não diga nada."

"Foi muito esquisito. Eu pensei: Quem é você? O que está fazendo? Mas fiz o que ela me pediu", diz Pauline.

Quandomc daniel luva betmãe a levou a um dos quartos do motel, Stan Sears estava lá à espera delas.

Stan e Ruth disseram a Pauline que, nos últimos 16 anos, estiveram fugindo da máfia, e que a família virara alvomc daniel luva betcriminosos porque seu pai, Warren, havia se envolvido com o crime organizado.

Ela não podia usar suas joias, disse a mãe, porque precisavam descobrir se elas tinham dispositivosmc daniel luva betescuta.

Stan disse que tudo começou depois que ele deu conselhos a um chefe da máfia que queria deixar para trás a vida no crime. Quando a organização descobriu que o homem violou o códigomc daniel luva betsilêncio, eles o mataram. Em seguida, foram procurar Stan, que provavelmente sabia demais.

Quando Ruth, ex-mulhermc daniel luva betum criminoso, começou a trabalhar como secretária na igrejamc daniel luva betStan, ela também virou alvo.

"Eles me disseram que cada ummc daniel luva betnós tinha alguém nos seguindo e nos vigiando à distância. E que tentaram me sequestrar, me envenenar ou me matar muitas vezes, mas essas pessoas intervieram para me mantermc daniel luva betsegurança ao longo dos anos."

Além dessa força-tarefa aprovada pelo governo que os protegia, Stan explicou que também havia comunidades pouco conhecidasmc daniel luva betalgumas partes do país onde os que eram perseguidos pela máfia podiam conseguir proteção. Esses locais eram conhecidos como "o mundo estranho".

Depoismc daniel luva betanos como fugitiva, a mãemc daniel luva betPauline disse que tinha decidido voltar a sumir do mapa e buscar proteçãomc daniel luva betuma dessas comunidades.

Stan já viviamc daniel luva betum desses locais, masmc daniel luva betmulher não quis fugir com ele. Por isso, estava vivendo sozinho e trabalhando neste "mundo estranho" com seus agentes.

Pauline com 7 anos
Legenda da foto, 'Fico triste por mim e por meu irmão. Éramos crianças cujas vidas foram roubadas', diz a canadense

Ansiedade e medo

Stan e Ruth também disseram a Pauline que esta eramc daniel luva betchancemc daniel luva betfinalmente estarem juntos - eles estavam apaixonados havia muitos anos, mas nunca tinham conseguido fazer nada a respeito.

Pauline ficoumc daniel luva betchoque com a quantidademc daniel luva betnovas informações. "Eu fiquei doentemc daniel luva betmedo emc daniel luva bettristeza, sentia que a vida estava se despedaçando ao meu redor", diz.

Ela passou aquele fimmc daniel luva betsemana ouvindo as históriasmc daniel luva betStan emc daniel luva betRuth, que explicavam muitas das coisas estranhas que aconteceram durantemc daniel luva betinfância e adolescência, como a vezmc daniel luva betque ela chegoumc daniel luva betcasa e encontrou a mãe jogando for a toda a comida da geladeira.

Stan disse que eles tinham sido informadosmc daniel luva betque alguém estava tentando envenená-los.

Em outro momento, a família foi fazer uma trilha durante a semana e dormiu uma noitemc daniel luva betum chalé nas montanhas. Segundo Stan, havia pessoas atrás deles, por isso tiveram que se ausentar por cercamc daniel luva betdois dias.

Houve também o diamc daniel luva betque a família foi jogar bolichemc daniel luva betvezmc daniel luva betir à escola, e o diamc daniel luva betque as crianças chegarammc daniel luva betcasa e foram obrigadas a tomar banho, esfregando muito os pés, e tiveram que usar um saco plástico nos pés, por cima das meias, o resto do dia.

"Mesmo que soasse absurdo, as explicações faziam com que esses eventos esquisitos se encaixassemmc daniel luva betuma narrativamc daniel luva betque éramos perseguidos."

Pauline com 23 anos
Legenda da foto, Cinco anos depoismc daniel luva better ouvido a 'revelação'mc daniel luva betRuth e Stan, Pauline decidiu confrontá-los e descobriu as mentiras sobremc daniel luva betvida

Dublês

Quando Pauline teve que ir embora do motel, Stan perguntou se poderia colocar um localizador no carro dela, para que "os homens do bem" pudessem segui-la e protegê-la. Ele também deu a ela um pequeno rádio para que ela sinalizasse caso precisassemc daniel luva betajuda.

"Ele me disse: 'Use só se amc daniel luva betvida estiver mesmomc daniel luva betperigo, porque as pessoas vão arriscar as vidas delas por você'."

Pauline voltou para a vida normal - a reforma que estava fazendo com o namoradomc daniel luva betcasa e sem emprego no jornal - mas tinha dificuldadesmc daniel luva betlidar com as coisas que havia descoberto. Ela tinha cada vez mais medo.

Ela sempre olhava para trás para ver se estava sendo seguida, deixoumc daniel luva betir a restaurantes por medomc daniel luva better a comida envenenada e planejava rotasmc daniel luva betfugamc daniel luva betcasa.

Enquanto isso, a históriamc daniel luva betRuth e Warren ficava mais elaborada. E do "mundo estranho" chegaram as informaçõesmc daniel luva betque muitas pessoas não eram quem Pauline e seu irmão pensavam ser.

"Eles diziam que algumas das pessoas que eram próximasmc daniel luva betnós na minha infância, que estavam no crime organizado, foram presas, mortas ou estavam desaparecidas - e foram substituídas por dublês", conta Pauline.

"Às vezes o dublê era posto pelos 'bonzinhos' e outras vezes pelos 'maus'. Então nunca se sabia 100% quem era."

Segundo Stan, eles passavam meses estudando gravações para entender como se comportar como as pessoas que iriam substituir, e faziam plásticas e maquiagem para se disfarçar.

Pauline encontrava esses dublêsmc daniel luva betvezmc daniel luva betquando. No diamc daniel luva betque seu irmão se casou, por exemplo, ela reencontrou o pai e a tia depoismc daniel luva betanos sem vê-los. Mas os dois, segundo disseram a ela, eram dublês.

"Minha mãe ficou muito chateada no casamento, porque a irmã dela tinha que ser uma dublê. E ela ficava dizendo: 'Olhe os dedos do pé dela, são exatamente os mesmosmc daniel luva betPenny. Como é que se faz os dedosmc daniel luva betalguém ficarem assim?'."

Stan and Ruth nos anos 1990
Legenda da foto, Até a morte, Ruth acreditou nas históriasmc daniel luva betStan, mesmo depois que ficou claro que elas eram apenas delírios

Confiança

Mesmo cheiamc daniel luva betdúvidas, Pauline sempre confiou emmc daniel luva betmãe e Stan. "Era uma história maluca e eu tive dificuldademc daniel luva betacreditar. Mas se não pudesse confiar neles,mc daniel luva betquem confiaria?", diz.

Aterrorizada e paranoica, ela decidiu abandonar tudo para vivermc daniel luva betuma das comunidades do "mundo estranho" commc daniel luva betmãe. Stan disse a ela que haveria trabalho e que ela estaria segura.

Ela terminou com o namorado, pediu demissão do trabalho, vendeumc daniel luva betcasa e se mudou com Ruth e Stan para Halifax,mc daniel luva betNova Scotia, uma província no extremo leste do Canadá.

Ali, eles esperariam a confirmaçãomc daniel luva betque era seguro entrar no "mundo estranho". Mas o momento adequado nunca chegava.

"Nos disseram (atravésmc daniel luva betStan) que a máfia desconfiava o que estávamos planejando e estava nos ameaçando. Ficávamos sempre à espera."

Nessa época, no entanto, Pauline conheceu Kevin, que se tornaria seu marido e a quem contou os segredos. Ele se comprometeu a ir viver com ela na comunidade.

Em 1993, cinco anos depoismc daniel luva better ouvido as explicaçõesmc daniel luva betsua mãe emc daniel luva betStan, Pauline decidiu que deveria confirmar se as coisas que eles disseram eram verdade.

Foi quando ela decidiu inventar quemc daniel luva betcasa havia sido roubada - e escolheu um momentomc daniel luva betque Stan estivesse visitandomc daniel luva betmãe.

"Liguei para ela e disse: 'Alguém entrou na minha casa. O que eu faço?'". Sua mãe respondeu: "Vou perguntar a um amigo nosso e ligomc daniel luva betvolta".

Stan tinha dito a Ruth e a Pauline que elas não podiam nunca ir à polícia para dar queixa das ameaças e das coisas estranhas que ocorriammc daniel luva betsuas vidas - já que a polícia, segundo ele, não era confiável.

Ruth ligou para Pauline minutos depois, dizendo que não podia falar ao telefone e que a filha deveria ir encontrá-la imediatamente.

Quando chegou lá, Pauline ouviu Ruth e Stan dizerem que duas pessoas tinham sido presas namc daniel luva betrua horas antes. Essas pessoas tinham fotografias delamc daniel luva betmãos, a estavam seguindo e buscaram coisas específicas emmc daniel luva betcasa.

"Quando ela disse isso, eu percebi que era tudo falso. Porque ninguém tinha entrado na minha casa, eu inventei", afirma.

"Nesse momento, eu soube que todas as histórias, as mudanças, os dublês, era tudo mentira."

Pauline no diamc daniel luva betseu casamento com Stan
Legenda da foto, Especialistas consultados por Pauline dizem que Stan provavelmente sofriamc daniel luva bettranstorno delirante

Confronto

Quando Pauline confrontou a mãe, Ruth Dakin ficou chateada, mas não porquemc daniel luva betfilha havia descoberto a verdade, mas porque, deixandomc daniel luva betacreditar na história, ela ficaria exposta aos "perigos".

Ao expor a situação para Stan, ele lhe disse que deveria ter havido algum tipomc daniel luva beterro no relatório sobre os homens misteriosos e que haveria uma investigação.

"Minha memória daquela noite é do quão triste ele estava. Eu não era mais como eles", relembra.

Durante meses, Pauline e Ruth tentaram convencer uma à outra. Pauline dizia que Stan estava enganando Ruth, a mãe dizia que a filha estava cega. Elas nunca chegaram a um acordo.

Furiosa e decepcionada, Pauline decidiu retomarmc daniel luva betvida: entroumc daniel luva betcontato com o pai, que estava doente e havia voltado a beber, e se afastou da mãe emc daniel luva betStan.

A relação das duas nunca se recuperou por completo, mas Pauline diz que ter dado à luz duas meninas a ajudou a se recuperar do trauma. "Quando você tem filhos as coisas mudam, eles se tornam o foco do seu amor", diz.

Ruth teve câncermc daniel luva bet2010, alguns anos após a mortemc daniel luva betStan, e viveu seus últimos nove meses com Pauline.

Ela nunca deixoumc daniel luva betacreditar nas histórias do pastor. Nem mesmo quando, depois que ele morreu, pararammc daniel luva betchegar cartas do "mundo estranho" e também ameaças da máfia e mensagens cifradasmc daniel luva betsupostos colaboradores.

Pauline Dakin com suas duas filhas
Legenda da foto, Ter filhas, segundo Pauline, ajudou-a a recuperar,mc daniel luva betparte, o relacionamento com Ruth antesmc daniel luva betsua morte

Mas o que mais incomodava Pauline era o fatomc daniel luva betque Stan não parecia ser louco.

Quatro anos atrás, ainda tentando entender por que o pastor inventara tantas mentiras, ela leu um artigo médico sobre uma doença mental conhecida como transtorno delirante.

"Quando li o artigo, pensei: 'Isso descreve Stan perfeitamente. Alguém que parece normal e é competente no trabalho, mas tem ideias malucas sobre certas coisas'."

Ela contactou o autor do artigo, um psiquiatramc daniel luva betHarvard, que se entusiasmou commc daniel luva bethistória.

Ele confirmou que Stan tinha todas as característicasmc daniel luva betuma pessoa com o transtorno delirante. Outro pesquisador especialista confirmou o diagnóstico.

Encontrar um motivo por trás do discursomc daniel luva betStan ajudou Pauline a se reconciliar com seu passado, mesmo que ela nunca tenha se recuperado completamente dos problemas causados pela redemc daniel luva betmentiras.

"Tive muita penamc daniel luva betminha mãe. Ela teve uma vida difícil e era vulnerável a Stan, por que ele era uma pessoa gentil e carinhosa."

"Mas também lamentei por mim e por meu irmão. Éramos apenas duas crianças pequenas cujas vidas foram roubadas", diz.

Pauline, que hoje é professora-assistente da Escolamc daniel luva betJornalismo da universidade canadense King's College, transformoumc daniel luva betinfânciamc daniel luva betum livro, chamado Run, Hide, Repeat: A memoir of a fugitive childhood (Corra, se esconda, repita: memóriasmc daniel luva betuma infânciamc daniel luva betfuga,mc daniel luva bettradução livre).