'Lobo Feroz', o homem acusadoroletinha apostaabusarroletinha aposta276 crianças na Colômbia:roletinha aposta
A idade deles variava entre sete e 12 anos. O homem colocava as crianças entre suas pernas, no colo, para mostrar a eles jogos online ou abrir contas para elesroletinha apostaredes sociais por onde poderiam se comunicar depois.
Deixi Tapia, uma mulher morena, simpática, que tinha pertoroletinha aposta50 anos e era dona da lan house Vasedeca, tem arrepios quando se lembra dessas cenas - que sempre pareceram normais para ela.
Ela repreendia constantemente, sem sucesso, aquele homemroletinha apostaorigem colombiana, especialistaroletinha apostacomputação eroletinha apostaatitudes reservadas, que trabalhou para ela por 18 meses. Ela o conheceu como "Danilo Gutiérrez".
As autoridades da Colômbia têm registrosroletinha apostasua verdadeira identidade: Juan Carlos Sánches Latorre, nascidoroletinha aposta13roletinha apostasetembroroletinha aposta1980roletinha apostaEl Espinal (Tolima), criadoroletinha apostaBarranquilla e denunciadoroletinha apostaseu país por 276 abusosroletinha apostameninos e meninas entre 2001 e 2006.
Ele foi preso recentemente na Venezuela - a polícia o procurava havia maisroletinha apostacinco anos. "Eu sabia que ele tinha algo a esconder, sabia! Sabe Deus o estrago que ele causou", diz à BBC a ex-cheferoletinha apostaSánchez, aindaroletinha apostachoque com as reportagens sobre seu ex-funcionário na imprensa. Sánchez foi presoroletinha apostadezembro do ano passado na cidade.
Ele já estivera detido na cidade colombiana La Modelo entre março e novembroroletinha aposta2008, mas o Sétimo Tribunal Penal Municipalroletinha apostaBarranquilla ordenouroletinha apostaliberação devido ao vencimento dos termos no julgamento contra ele por abusarroletinha apostauma criançaroletinha apostaoito anosroletinha apostaidade.
Foi quando aproveitou a oportunidade para fugir para a Venezuela.
'Modus operandi'
Sánchez ficou livre até 30roletinha apostajaneiroroletinha aposta2017, nove anos depois, quando a Interpol entrou na jogada. As investigações internacionais revelaram que havia um "modus operandi" na maneira como Sánchez atuava. Ele entravaroletinha apostacontato com os meninosroletinha apostashoppings ou nas ruasroletinha apostaBarranquilla e os levava depois para motéis para fazer fotos e filmagens deles nus, oferecendo-lhes dinheiro ou ameaçando-o com armas brancas.
A imprensa colombiana se referia a ele como "Lobo Feroz" ou "Sadyko 13", como o próprio criminoso se identificava na internet. Ele encontrou um esconderijo na Venezuela no finalroletinha aposta2008, segundo conhecidos e vizinhos.
Deixi o descreve como um homemroletinha apostarecursos escassos, instável, nômade queroletinha apostanenhum momento mencionava seu passado na Colômbia. Segundo ela, Sánchez demonstrava pânico diante das câmeras e fugia delas. Odiava quando alguém queria tirar foto dele e alegava que "não era fotogênico".
Causava estranheza que comprasse guloseimas para as crianças, uma vez que conhecido justamente porroletinha apostaavareza. "Ele não tomava nem água se tivesse que comprá-la".
Discussões e suspeitas
No começo, ele era um funcionário bem versadoroletinha apostasuas habilidades informáticas, respeitoso, que seguia todas as diretivas da lan house - fez até amizades com professores e estudantesroletinha apostafaculdades e universidades próximas.
"Ele trazia muitos clientes. Eu deveria ter notado", se desculpa Deixi.
Depois, Sánchez começou a desafiá-laroletinha apostadiscussõesroletinha apostatrabalho e demonstrou pouca paciência com clientes, especialmente com as mulheres.
"Danilo", como se apresentava, controlava os computadores - somente ele tinha as senhasroletinha apostaacesso e desbloqueava as máquinas para as crianças e adolescentes usarem, ainda que as leis da cidade proibíssem a permanênciaroletinha apostamenoresroletinha apostaidaderoletinha apostalugares com acesso à internet.
"Eu fechei os olhos para isso, me enganei. E ele prejudicou muitas crianças, especialmente os meninos", lamenta Deixi.
Mas ela começou a prestar mais atençãoroletinha apostaSánchez eroletinha apostaseu comportamento suspeito.
"Ele andava com um gorro na cabeça. Na praça Bolívar, ele sempre andava com cinco ou seis meninos da região."
Em novembro do ano passado, dias antesroletinha apostaas autoridades da Interpol prenderem Sánchez, Deixi o encontrouroletinha apostauma agência bancária, onde ele lhe apresentouroletinha apostasuposta esposa, Mariana, uma jovemroletinha aposta20 anos recém-formadaroletinha apostaComunicação Social.
Sua ex-chefe ainda brincou que era a primeira vez que ela o via sem gorro na cabeça.
"As pessoas vão amadurecendo, superando as frustrações", ele respondeu.
Comportamento
Sánchez se apresentava como Danilo também no lugar onde morava. Mildred*, a cabelereira que era dona do estabelecimento e alugava os quatro quartos superiores, conta que ele era uma pessoa discreta, que nunca infringiu nenhuma regra da casa, e com quem pouco falava - apenas um "bom dia" ou "boa noite" quando se cruzavam.
Ela foi surpreendida pelas autoridades da Interpol que vieram buscá-loroletinha aposta1ºroletinha apostadezembro às 10h da manhã. Sánchez morou ali por pouco maisroletinha apostatrês meses e uma vez chamou a atenção por pagar o aluguelroletinha apostadinheiroroletinha apostaespécie, algo bem raroroletinha apostase ter na Venezuela.
A polícia voltou horas depois para devolver a Mildred as chaves das portas do primeiro andar e do quarto dele, após recolher roupas e pertences do suspeito. Ali havia cartazesroletinha apostaséries infantis, como Power Rangers e os Cavaleiros do Zodíaco.
'Alfaiate'
Sergio*, vendedorroletinha apostasucos e cigarros na rua Carabobo, regiãoroletinha apostacasas antigas e fachadas coloridas considerada patrimônio culturalroletinha apostaMaracaibo, ficou boquiaberto ao saber que o Juan Carlos que ele via com frequência era um abusadorroletinha apostamenores.
"Ele vinha todos os dias almoçar neste restaurante", disse ele apontando para Kantv, um pequeno estabelecimento da área.
Sánchez foi vizinhoroletinha apostaSergio há 10 anos.
"Era uma pessoa "normal, fechada eroletinha apostaporte fraco", descreveu Sergio. Ele conta que Sánchez estava sempreroletinha apostashorts e camisetas esportivas quando andava por ali, perto das sedes administrativas da prefeitura, do governo, do Conselho Legislativo e da catedral.
Sergio diz que Sánchez sempre mostrava bolosroletinha apostanotasroletinha apostabolívares ao pagar suas comidas. Ele andava com uma fita métrica no pescoço e se vendia como "alfaiate".
Um dia, Sergio brincou com ele e convidou-o para viajar à Colômbia para escapar da crise econômica venezuelana. "Ele me disse que não, que lá a vida era difícil e que era melhor ficar aqui. Às vezes eu o via com garotas bonitasroletinha aposta18 ou 20 anos."
Néstor Humberto Martínez, procurador-geral da Colômbia, informou no dia 24roletinha apostajaneiro que seu escritório pediu à Venezuela a extradiçãoroletinha apostaSánchez. Ele também convocou as vítimas do abusador no país para comparecer às audiências.
Na Venezuela, não há registrosroletinha apostaacusações contra ele.
Passado
Um adolescenteroletinha apostauns 15 anos foi vizinhoroletinha apostaSánchez entre 2014 e 2017 na rua 96F do bairro Los Claveles. Conta que nunca ouviu nada sobre os casosroletinha apostaabuso sexual envolvendo aquele que se apresentava como "Danilo".
"Ele morou aqui. No celular dele, um Nokia velho, tinha uns 800 jogos. Mil tiposroletinha apostaDragon Ball. Ele ficava pertoroletinha apostacasa para roubar a senha do wifi", relata.
A vizinhança o via como um homem inocente, conversador, especialistaroletinha apostacomputadores que ajudava as pessoas com trabalhos universitários.
Por algum tempo, Sánchez se dedicou a revender comida. Chegou a passar necessidade, perdeu peso e não conseguiu pagar o aluguel - teve que vender seus eletrodomésticos para sobreviver.
"Danilo" não vivia sozinho. Ele morava com a mulher, Roselín, com quem manteve uma relaçãoroletinha apostamaisroletinha apostadois anos pelo menos, segundo contam os vizinhos. A mulher declarou ao jornal Diario Versión Final que Sánchez chegou a amarrá-la na cama para forçá-la a ter relações sexuais.
Ela também denunciou que ele a fotografava nua, sob ameaça, e disse que o ex-marido tinha uma câmera cheiaroletinha apostaimagens eróticas.
O Facebook era, talvez, um dos únicos lugaresroletinha apostaque "Danilo" revelavaroletinha apostaidentidade real. Na página, ele usava seu nome verdadeiro, "Juan Carlos Sánchez", e se descrevia como "técnicoroletinha apostacomputadores, trabalhador, desenvolvedorroletinha apostasoluções, criativo, analista e divertido".
Mensagens bíblicas, anúnciosroletinha apostaaparelhos eletrônicos à venda, fotografiasroletinha apostaMariana,roletinha apostanamorada, publicaçõesroletinha apostaautoajuda, relatos sobre videogames e imagens dos Cavaleiros do Zodíaco são algumas das coisas que ele publicouroletinha apostaseu mural.
Mas enquanto disfarçava nas redes sociais, Sánchez somava vítimas. Reportagem no jornal colombiano El Tiempo cita Sánchez como um dos "principais fornecedoresroletinha apostapornografia infantil" ao mexicano Héctor Manuel Farías, abusadorroletinha apostasérie presoroletinha apostajulhoroletinha aposta2007 e que distribuía o material para vários países, segundo a Interpol.
A investigação descobriu 1,4 mil enviosroletinha apostamateriais ao mexicanoroletinha apostaque as vítimas são meninos entre dois e 15 anos. O colombiano recebeu entre 200 e 400 dólares pelos catálogosroletinha apostaimagensroletinha apostameninosroletinha apostaBarranquilla, segundo autoridades citadas pelo jornal.
Ediçãoroletinha apostavídeos
Donaroletinha apostaoutra lan house onde Sánchez trabalhou, Leidys* foi surpreendida com um grito súbito dele enquanto dialogava com um cliente que perguntou se ali era possível contratar ediçõesroletinha apostavídeo. Quando ela estava negando o serviço, Sánchez a interrompeu: "Eeeei! O que é? Eu sei editar vídeos".
Isso aconteceuroletinha apostaagostoroletinha aposta2017. Foi seu terceiro emprego no setorroletinha apostalan houses, bem pertoroletinha apostaonde ele morava - e onde acabou sendo preso meses depois.
"Ele entende muitoroletinha apostacomputação. Não consigo acreditar que seja essa pessoaroletinha apostaquem estão falando", conta a mulher. "Ele era 100% profissional. Gostavaroletinha apostavir trabalhar até mesmo aos domingos."
Esses, inclusive, eram os diasroletinha apostaque ele não tinha qualquer supervisão.
"Danilo" tinha dezenasroletinha apostadocumentos bloqueadosroletinha apostaseus computadores e redes na lan house.
Esses "cercos" tecnológicos dificultavam o trabalho dos próprios donos e provocaramroletinha apostademissão.
"Ele mudava diariamente os IPs (númerosroletinha apostaidentificação da rede) dos computadores, até três ou quatro vezes por dia". Esses registros permitem às autoridades e especialistasroletinha apostacomputação saber a localizaçãoroletinha apostatodos os usuários da internet.
Nem ela, nem o marido sabiam mudar a configuração das redes. A maioria delas tinha o nome do ex-funcionário. "Danilo 01", "Danilo 02", Danilo 03". Os acessos a elas era restrito a quem detinha usuário e senha que só ele conhecia.
Meses antes, funcionários da Interpol haviam prendido o donoroletinha apostauma outra lan house ali perto que era frequentada por Sánchez. O local estava envolvidoroletinha apostauma denúnciaroletinha apostaque alguém havia feito o uploadroletinha apostaum vídeoroletinha apostapornogragfia infantil dali.
Leidys conta que o ex-funcionário sempre ficava inquieto quando se falava sobre polícia e que,roletinha apostauma ocasião, quando ela precisou chamar policiais para o estabelecimento, ele logo saiu correndo.
'Quem sabe tenha deixado a maldade para trás'
Michell Parra é um jovemroletinha aposta20 e poucos anos, moreno, magro,roletinha aposta1,68mroletinha apostaaltura. Seus pais contrataram Sánchez para trabalharroletinha apostaseu negócio, a apenas alguns metrosroletinha apostadistância da lan houseroletinha apostaDeixi, que o havia demitido por mau comportamento.
"Era como um tio para nós. Nunca o vi como abusador. Ele não tinha muito dinheiro. Era muito saudável, não tinha qualquer vício. Seu único vício, aliás, era o computador", conta, defendendo o Juan Carlos que ele conheceu.
Parra se diz incrédulo ao descobrir as acusações que pesavam sobre seu amigo. Os dois compartilhavam o gosto por animes. Saíam juntos para se divertir, apesar da diferençaroletinha apostaidade.
"Éramos do mesmo círculoroletinha apostaamizade. Ele foi meu professor. Era um mestre, um deus do computador. Nunca mostrou esse ladoroletinha apostaabusador para nós", afirma.
O grupo era formado por sete jovens e por Sánchez. Eles saíam juntos para beber e falar sobre as namoradas.
Parra não acredita nos maus-tratos que ele teria imposto a Roselín, que também eraroletinha apostaamiga. "Ela nunca falou sobre isso. Nunca apareceu com marcas, nem nada", diz.
Ele diz também não acreditar que Sánchez tenha administrado cifras milionáriasroletinha apostafronteiras estrangeiras.
"Eu via os extratosroletinha apostasua conta e ele não tinha muito dinheiro. Eu o ajudei a vender as coisas porque ele não tinha como se sustentar", defende.
Sobre a vida que levava na Colômbia, Sánchez havia dito apenas que morava com a mãe e que se mudara para a Venezuelaroletinha apostabuscaroletinha apostauma vida melhor.
Ele nunca mencionou nenhum tiporoletinha apostaacusação.
Ainda segundo Parra, Sánchez chegou a fazer amizade com policiais, a quem ajudavaroletinha apostaapresentaçõesroletinha apostatrabalho. Um detetive da Interpol teria dado a ele uma recompensaroletinha apostadinheiro pela ajuda a conseguir três qualificações consecutivas.
Parra confessa que prefere acreditar que Juan Carlos, seu "mestre e protetor", seu amigo, teveroletinha apostapersonalidade transformada quando se mudou para Maracaibo.
"Vai ver ele deixou para trás toda a maldade que tinha no passado. Eu nunca desejaria nenhum mal para ele. Se o encontrasse hoje, eu daria um abraço. Sempre foi um bom amigo para mim e nunca vi esse monstro que ele escondia", conclui.
*Nomes fictícios