Como o casamento do príncipe Harry e Meghan Markle pode mudar as relações raciais no Reino Unido?:casino p

Príncipe Harry e Meghan Markle

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O fatocasino pMeghan ser negra vem gerando reações racistas desde que seu relacionamento com Harry veio a público no ano ano passado

'Pingocasino pcafé'

Outdoor contra discriminação

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Legenda da foto, Estudo do governo mostra que desigualdade social entre minorias persiste

"Não terá qualquer impacto, porque a monarquia não tem podercasino pfato sobre a sociedade britânica, a não ser por seu papel simbólico", diz à BBC Brasil o sociólogo Kehinde Andrews, professor da Universidade Birmingham City, no Reino Unido, e autor do livro Resistindo ao Racismo.

"A monarquia é um dos maiores símboloscasino pbranquitude, colonialismo e imperialismo. Colocar um pingocasino pcafé nesta mistura não vai fazer diferença."

Não é o que acredita a escritora e jornalista Afua Hirsh. Em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, ela argumenta que o casamento real pode mudar para sempre a questão racial no Reino Unido ao "representar algo genuinamente diferente do que já ocorreu antes".

Hirsh cita a épocacasino pque o príncipe Charles era solteiro e uma baronesa sugeriu que ele deveria se casar com uma mulher negra como um símbolo do compromisso da família real com a integração racial e o multiculturalismo.

Na ocasião, alguns presumiram que uma união assim seria um retorno aos casamentos por estratégia e não por amor. "Era óbvio para os comentaristas da época que casar com uma negra e casar com alguém que se ama não eram coisas compatíveis. Afinal, você não poderia esperar que um herdeiro do trono se sentisse atraído por uma pessoa assim", disse a escritora.

"Nesse contexto, o casamentocasino pHarry e Meghan tornará realidade algo que o establishment britânico sequer conseguia conceber há 17 anos – que um membro da família real pode amar e se casar com alguém com uma descendência étnica não só distinta da sua, mas uma descendência que tem sido a mais excluída do Reino Unido - negra e africana."

A curadora Irenosen Okajie, que é britânica-nigeriana, também mostrou otimismo diante do novo casal da realeza. O fato do príncipe Harry namorar abertamente Meghan mudou a forma como ela vê a família real. "De repente, eles – ou Harry, ao menos – parecem ter a mente mais aberta", escreveu elacasino pum artigo no jornal americano The New York Times.

"E não fui só eu. Amigos debatiam a possibilidadecasino pum noivado e se os membros da família real seriam progressistas o suficiente para dar permissão a Harry. Quando o anúncio veio, a reaçãocasino ppessoas não brancascasino pambos os lados do Atlântico foi efusiva."

Diversidade e desigualdade

Astrid e Mike
Legenda da foto, Astrid é francesa e Mike, do Quênia ecasino pRuanda; eles estão juntos há 10 anos | Foto: Arquivo Pessoal

A população na Inglaterra e no Paíscasino pGales vem se tornando mais etnicamente diversa nas últimas décadas: 86% da população se declarou branca no ultimo censo,casino p2011 - eram 91,3% no levantamentocasino p2001 e 94,1%casino p1991.

Mas a desigualdade social persiste entre minorias étnicas, como mostrou um relatório do governo divulgadocasino poutubro. A taxacasino pdesemprego nestes grupos é o dobro daquela registrada entre brancos. E eles têm duas vezes mais chancescasino pviver na pobreza.

Ao mesmo tempo, relacionamentos inter-raciais tornaram-se mais comuns: quase umcasino pcada dez habitantes estava casado ou vivendo com alguémcasino poutra etniacasino p2011, 35% mais do que no censo anterior. Mas o índice cai para um a cada 25 entre aqueles que se declaram brancos.

Astrid, que é francesa, e Mike, cuja família vem do Quênia ecasino pRuanda, estão juntos há 10 anos e tiveramcasino pprimeira filha há um ano. Astrid diz que, às vezes, ela "pensa demais sobre como as pessoas reagirão". "Meu avô expressava algumas opiniões negativas sobre africanos, então, eu tinha medocasino pcomo ele se comportaria, mas, quando ele conheceu o Mike, ele o amou."

Ambos defendem estar na horacasino po rótulo inter-racial ser deixadocasino plado e que casais assim sejam vistos com naturalidade. Astrid diz que o novo casal real "é incrível" e mostra "o quão diversa e moderna a família real é". "Será um grande exemplo para a Inglaterra e uma representação fiel da sociedade britânica."

Shantania e Billy
Legenda da foto, Casal já sofreu ataques na internet por seremcasino petnias diferentes | Foto: Arquivo Pessoal

Shantania Beckford,casino p24 anos, tem descendência jamaicana, e Billy Clifford,casino p23 anos, é inglês. Eles se conheceram pela internet e, juntos, têm maiscasino p300 mil seguidores. Seu relacionamento já foi alvocasino pataques online.

"Alguns não acreditam que negros e brancos devem ficar juntos, mas nós rimos disso. Não podemos deixar a negatividade nos atingir, apagamos os comentários e seguimoscasino pfrente", afirma Shantania, que diz ter ficado surpresa com o anúncio do casamento.

"Para ser honesta, não pensava que deixariam uma negra entrar na família real. Meghan é uma mulhercasino pqualidades, mas como será que a rainha se sente quanto a isso?" Para ela, o novo casal real representa um avanço. "As pessoas aceitarão melhor casais inter-raciais agora e falarão sobre essa questão."

Porcasino pvez, Sara Khoo,casino p23 anos, que tem descendência chinesa e islandesa e namora com Adam D'hill,casino p28 anos, que é português e afroame, acha dificíl comentar sobre o assunto. "Porque eu não vejo como as pessoas podem ter um problema com esse relacionamento. Não vemos isso como um problema."

Já a inglesa Andrea Walker,casino p55 anos, que foi casada com um paquistanês e teve três filhos com ele, acredita que os apoiadores da família real ficarão divididos com o relacionamentocasino pHarry e Meghan.

Andrea conta quecasino pfamília e acasino pseu ex-marido foram muito receptivas ao seu relacionamento, mas que houve colegas e estranhos não se comportaram assim. Ela diz que, desde então, as atitudes das pessoascasino prelação a casamentos inter-raciais mudaram, mas não está seguracasino pque uma união assim na família real seria muito bem aceita por todos.

"O racismo sempre estará por aí, não importa o que aconteça, mas você tem esperança que as pessoas superem isso."

Simbolismo

Família real britânica

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Legenda da foto, Até hoje, a linhagem real britânica passou longe da miscigenação

A escritora Afua Hirsh, que é negra, destaca que, ao longocasino psua vida, a família real sempre teve um simbolismo do que é ser britânico. "Mas era uma representação que me excluía - e isso importava. Fazia outras pessoas pensarem que ser autenticamente britânico e ser negro eram identidades incompatíveis."

A jornalista destaca que todo governo tentoucasino palguma forma, ao menos retórica, reconhecer e proteger a diversidade racial, mas que a família mais importante da sociedade britânica não fazia nada nesse sentido. "Algo que não é surpreendente já que o próprio conceitocasino pfamília real é uma antítesecasino pdiversidade."

A branquitude estaria inclusive na origem do termo "sangue azul", usado para designar alguém da realeza. Segundo alguns etimologistas, ele surgiucasino preferência à pele destas pessoas, que,casino ptão alva, permitiria ver as veias e artérias "azuis" sob ela.

Existe a hipóetesecasino pque Meghan não seria a primeira mestiça a fazer parte da família real britânica. Alguns historiadores já levantaram suspeitascasino pque a rainha Charlotte (1744-1818), mulher do rei George III (1738-1820), seria afrodescendente.

Como isso nunca foi comprovado, permanece como um fato histórico que não houve miscigenação na linhagem real britânica. Assim, o noivado entre Harry e Meghan subverteria as regras vigentes até hojecasino pquem pode ou não ser parte da família real do pontocasino pvista étnico, opinou a curadora Irenosen Okajie.

"Casamentos inter-raciais estão se multiplicando no Reino Unido. De certa forma, o príncipe e Meghan são fruto dessa tendência e não pioneiros. O que é mais intrigante é que, com esse par improvável, mais pessoas não brancas se sentirão parte da instituição mais antiga do país", escreveu ela.

"Estamos entrandocasino puma nova eracasino pque as fronteirascasino praça e classe serão abolidas no Reino Unido,casino pque as pessoas terão a mente mais aberta sobre que pode ser seu parceiro?"

O sociólogo Kehinde Andrews mantem-se completamente cético: "Já estamos vendocasino pnegritude ser minimizada, dizendo que ela 'passa por branca' ou não é negra, algo absurdo, porquecasino pmãe é negra e isso basta para que ela seja identificada assim".

Andrews avalia que dizer que o casamento aliviará a tensão racial no país é "uma loucura". "Se um presidente negro como o Obama, quecasino pfato detém poder, não conseguiu fazer isso nos Estados Unidos, a família real britânica vai ter algum impacto?", questiona.

"Sempre há quem aponte a miscigenação para dizer que não existe um problema racial no país. O Brasil é um exemplo disso. Mas, tanto aí quanto no Reino Unido, as taxascasino pdesemprego, pobreza, criminalidade são maiores entre os negros, que continuarão a ser discriminados como eram há 50 anos."