'Não podemos ensinar as meninas do futuro com livros do passado':curso apostador profissional

"Há estereótiposcurso apostador profissionalhomens e mulhares camuflados no que parecem ser papeis bem estabelecidos para cada gênero", diz a socióloga Rae Lesser Blumberg.

A especialista, da Universidade da Virginia, pesquisa livros didáticoscurso apostador profissionaltodo o mundo há maiscurso apostador profissionaluma década, e diz ter visto as mulheres serem sistematicamente excluídas dos textos e ilustrações, ou retratadascurso apostador profissionalpapeis subservientes.

"Estereótipocurso apostador profissionalgênero é um temacurso apostador profissionalmenor destaque na educação. Não ocupa as manchetes dos jornais enquanto milhõescurso apostador profissionalcrianças permanecem fora da escola", afirma.

Apesarcurso apostador profissionalo índicecurso apostador profissionalmatrículas escolares ter aumentado dramaticamente desde o ano 2000, a Unesco estima que maiscurso apostador profissional60 milhõescurso apostador profissionalcrianças nunca pisaramcurso apostador profissionaluma salacurso apostador profissionalaula - 54% delas são meninas.

"Esses livros perpetuam a desigualdadecurso apostador profissionalgênero. Não podemos educar as crianças do futuro com livros do passado."

Invisíveis

Em 2016, a Unesco, agênciacurso apostador profissionaleducação da ONU, divulgou um alerta usando palavras duras.

Atitudes sexistas são tão comuns que livros didáticos frequentemente sabotam a educação das garotas e limitam suas carreiras e expectativacurso apostador profissionalvida, diz a Unesco - e eles representam um "obstáculo escondido" no caminho da igualdadecurso apostador profissionalgênero.

Seja a medidacurso apostador profissionallinhascurso apostador profissionaltexto, proporçãocurso apostador profissionalpersonagens nomeados, mençõescurso apostador profissionaltítulos, citaçõescurso apostador profissionalíndexes ou outros critérios, "as pesquisas mostram que as mulheres são muito subrepresentadascurso apostador profissionallivros e no currículocurso apostador profissionalgeral", diz o pesquisador Aaron Benavot, da Universidadecurso apostador profissionalAlbany, no Canadá, e ex-diretor do relatório Global Education Monitorin (GEM)curso apostador profissional2016 da Unesco.

Mas o problema tem mais facetas do que se sabe,curso apostador profissionalacordo com especialistas.

O aspecto mais evidente seria o usocurso apostador profissionalum linguajar considerado enviesado, já que, normalmente, palavras no masculino são usadas como sinônimocurso apostador profissionalhumanidade.

Em seguida, há o problema da invisibilidade, já que as mulheres costumam estar ausentes dos textos, e seus papeis na história e na vida cotidiana são subordinados aos personagens masculinos.

"Havia um livros sobre cientistas do qual eu me lembro especialmente, e a única mulher nele era (a física e química) Marie Curie", disse Blumberg.

"Mas por acaso ela foi mostrada descobrindo o rádio? Não, ela aparecia olhando timidamente sobre o ombro do marido enquanto ele falava com outra pessoa - um homem que parecia elegante e distinto."

Em terceiro lugar, há os estereótipos tradicionais sobre trabalhos que homens e mulheres fazem, tanto dentro quanto foracurso apostador profissionalcasa, assim como expectativas sociais clichês e traços que são atribuídos a cada um dos gêneros.

Um livro didático italiano dá um exemplo impressionante que ensina vocabulário para ocupações diferentes, com 10 opções diferentes para homens -curso apostador profissionalbombeiro a dentista - e nenhuma para mulheres.

Enquanto isso, mulheres costumam ser retratadascurso apostador profissionaltarefas domésticas, desde cozinhar e lavar roupas até cuidar das crianças e dos idosos.

"A preocupação também é que as mulheres seram consideradas passivas, submissas, cumprindo esses papeis estereotípicoscurso apostador profissionalgênero", diz a especialistacurso apostador profissionaleducação Catherine Jere, professora convidada na Universidade East Anglia, que também esteve envolvida no relatório GEM.

'Se alienígenas viessem visitar...'

O problema está longecurso apostador profissionalser novo. Livros didáticos estão sob escrutínio desde os anos 1980, depoiscurso apostador profissionaluma pressão do movimento feminista por reformas na educação, principalmentecurso apostador profissionalpaíses desenvolvidos.

Um estudocurso apostador profissional2011, considerado a maior pesquisacurso apostador profissionallarga escala já conduzida neste campo - que analisou maiscurso apostador profissional5.600 livros infantis publicados durante o século 20 - estimou que homens são representados quase duas vezes maiscurso apostador profissionaltítulos e 1,6 vezes mais como personagens centrais.

Desde que o problema foi identificado, dizem os pesquisadores, houve progresso na redução do sexismo, mas ele é "muito lento".

Alguns dos livros analisados foram publicados muito tempo atrás, mas muitos continuam sendo usados - especialmentecurso apostador profissionalpaíses onde a renda é mais baixa ecurso apostador profissionalescolas que não têm orçamento para substitui-los.

"Está ficando pior a cada ano, porque o mundo está progredindo, as mulheres estão se dedicando a novos trabalhos e os trabalhos domésticos estão mudando", diz Blumberg. "E os livros não estão melhorando no mesmo ritmo, então o abismo aumenta."

"Se alienígenas viesse nos visitar, não teriam ideia do que as mulheres realmente fazem,curso apostador profissionaltermos pessoais ecurso apostador profissionaltrabalho, se lessem nossos livros escolares."

Preocupação universal

As pesquisas também mostram que o problema é praticamente universal. Com apenas algumas diferençascurso apostador profissionalfrequência e intensidade, o sexismo é pervasivocurso apostador profissionallivros tantocurso apostador profissionalnações desenvolvidas quantocurso apostador profissionalpaísescurso apostador profissionaldesenvolvimento.

Os dados são desencontrados, mas uma gamacurso apostador profissionalestudos publicados na última década acumula provas. Um livrocurso apostador profissionalhistória para crianças do 3º ano fundamental na Índia, por exemplo, simplesmente não mostra nenhuma mulher profissional.

Já uma criança no Quênia que esteja sendo educadacurso apostador profissionalinglês verá, nos seus livros, homens ativos tendo "ideias interessantes", enquanto mulheres e meninas cozinham e penteiam cabeloscurso apostador profissionalbonecas.

Homens eram 80% dos personagenscurso apostador profissionallivros feitos pelo Ministério da Educação do Irã. Na Índia, só 6% das ilustrações mostravam mulheres e, na Geórgia, eram 7%.

Livroscurso apostador profissionalmatemáticacurso apostador profissionalCamarões, Costa do Marfim, Togo e Tunísia tinham uma proporçãocurso apostador profissionalpersonagens mulheres menor que 30%,curso apostador profissionalacordo com a medição feitacurso apostador profissionalum estudo comparativocurso apostador profissional2007.

Uma pesquisa com livros escolares no Reino Unido e na China também revelou que 87% dos personagens eram do sexo masculino.

Na Austrália, um estudo realizadocurso apostador profissional2009 descobriu que 57% dos personagens também eram homens - apesarcurso apostador profissionalque, na população do país, há mais mulheres.

"Algumas pessoas pensam que os livros didáticoscurso apostador profissionalpaísescurso apostador profissionalrenda mais alta seriam um pouco mais modernos, mas na Austrália, duas vezes mais homens eram retratadoscurso apostador profissionalcargos administrativos e quatro vezes maiscurso apostador profissionalpolítica e no governo", diz Jere.

"Há um caso extremocurso apostador profissionalum livro chinês, onde apenas uma heroína da Revolução Comunistacurso apostador profissional1949 aparececurso apostador profissionaltodo o livro", descreve Blumberg.

"E ela não é retratada lutando por novas leis e nem na linhacurso apostador profissionalfrente com Mao. Ela é mostrada apenas dando um guarda-chuva para um guarda."

Influênciacurso apostador profissionalajuda para a educação

Parte do problema, segundo os especialistas, é que os livros tentam mostrar algo sobre "o que seria normalcurso apostador profissionaluma sociedade" aos olhoscurso apostador profissionalcriançascurso apostador profissionalidade escolar.

Ao ajudar a estabelecer o currículocurso apostador profissionalum país, os leitores são considerados uma ferramenta educacional poderosa.

Estima-se que um aluno ou aluna leia maiscurso apostador profissional32 mil páginascurso apostador profissionallivros didáticos desde o ensino fundamental até o médio. Cercacurso apostador profissional75% dos trabalhoscurso apostador profissionalclasse e 90% das tarefascurso apostador profissionalcasa é feita a partir deles, assim como uma alta proporção do planejamento dos professores.

Mesmo que o acesso à internet e a outros recursos digitais aumentem o acesso a ferramentascurso apostador profissionalaprendizagem, "os livros didáticos continuam centrais especialmentecurso apostador profissionalpaíses mais pobres", segundo Aaron Benavot.

"Quando eles mostram expectativas muito limitadas sobre o que garotos e garotas podem ser, as crianças são socializadas dessa forma", diz Jere.

O impacto que esses livros podem ter na visãocurso apostador profissionalmundo das crianças já foi mapeada pela pesquisa acadêmica.

Um estudo israelense com crianças do 1º ano fundamental, por exemplo, mostrou que aquelas que eram expostas a retratoscurso apostador profissionalhomens e mulheres como iguais tendem a pensar que a maior parte das carreiras eram apropriadas tanto para meninas quanto para meninos.

Já os que aprendiam com livros didáticos que mostravam viéscurso apostador profissionalgênero acreditavam que os estereótipos eram aceitáveis.

Em muitas partes do mundo, as pesquisas também sugerem uma ligação entre a representaçãocurso apostador profissionalcientistas mulherescurso apostador profissionallivros e os números menorescurso apostador profissionalmeninas que acabam segundo disciplinascurso apostador profissionalciência, tecnologia, engenharia e matemática - as chamadas disciplinas STEM, na siglacurso apostador profissionalinglês.

Sinaiscurso apostador profissionalprogresso

No entanto, os acadêmicos afirmam que houve progresso nos últimos anos. O relatório GEM, da Unesco, mostra que conteúdo relacionado à igualdadecurso apostador profissionalgênero aumentou nos livros escolarescurso apostador profissionaltodo o mundo, com referências mais frequentes a direitos das mulheres e discriminaçãocurso apostador profissionalgênero, especialmentecurso apostador profissionallivros didáticos da Europa, da América do Norte e da África subsaariana.

Alguns países estão capitaneando as mudanças - a Suécia, por exemplo, é o principal deles, o que não surpreende dadas as atitudescurso apostador profissionalgeral do paíscurso apostador profissionalrelação à igualdadecurso apostador profissionalgênero.

Livros do currículo nacionalcurso apostador profissionaleducação incorporam personagens e pronomes com gênero neutro, assim como um retrato mais igualitário dos papeiscurso apostador profissionalhomens e mulheres na vida cotidiana.

"Na verdade, se você vir alguém usando um avental e mexendocurso apostador profissionaluma panelacurso apostador profissionalum livro sueco, há uma chance altacurso apostador profissionalque seja um homem", diz Blumberg.

Talvezcurso apostador profissionalmaneira mais surpreendente,curso apostador profissionalHong Kong pesquisadores documentaram um número igualcurso apostador profissionalpersonagens homens e mulherescurso apostador profissionallivros didáticoscurso apostador profissionalinglês.

E também haveria progresso na Jordânia, nos territórios palestinos, no Vietnã, na Índia, no Paquistão, na Costa Rica, na Argentina e na China.

Mas uma investigação mais aprofundadacurso apostador profissionallivros didáticoscurso apostador profissionalnível nacional é um processo longo e caro - que geralmente é atrapalhado por cortescurso apostador profissionalorçamento e excessocurso apostador profissionalburocracia.

"Algumas das mudanças foram superficiais e o comprometimento dos governos não é sustentável quando há uma mudançacurso apostador profissionalregime", diz Benavot.

Para tentar corrigir essa desigualdade, os especialistas sugerem métodos alternativos para contrabalancear os textos lidoscurso apostador profissionalsalacurso apostador profissionalaula.

Foram feitas algumas tentativas neste sentido na Índia e no Malauí - por exemplo, estimular os estudantes a contestarem os próprios livros, apontando o viéscurso apostador profissionalgênero e os estereótipos que encontram.

"O problema pode ser compensado chamando a atenção para ele, e os alunos costumam gostar desse trabalhocurso apostador profissionaldetetive", afirma Blumberg.

"Mas precisamos treinar os professores primeiro e, finalmente, precisamos reescrever esses livros se queremos uma educação melhor."

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