'Cortei meus pulsos porque não tinha opção': o drama das meninas obrigadas a se casar:esporte365 com

Shafa
Legenda da foto, Shafa tem apenas 16 anos, mas já sofreu um casamento forçado e um aborto involuntário

esporte365 com No Sri Lanka, a idade legal mínima para casamento é 18 anos. Mas uma antiga lei local permite que meninas muçulmanas sejam uma exceção a essa regra, apesaresporte365 commuitas pessoas no país serem contra isso. A jornalista da BBC Saroj Pathirana conversou com uma jovem obrigada a se casar nesse esquema.

Quando Shafa (nome fictício) tinha 15 anos, foi obrigada a se casar.

"Enquanto estudava para uma prova, me apaixonei por um menino", diz, com lágrimas nos olhos.

"Meus pais não gostaram e me mandaram para a casa do meu tio. Enquanto eu estudava lá, um homem que frequentava a casa disse a eles que queria se casar comigo."

Shafa, que vemesporte365 comuma família muçulmana e viveesporte365 comuma aldeia remota do Sri Lanka, se negou. Ela queria se casar com o jovem que amava depois que terminasse seus estudos.

Mas apesaresporte365 comsua resistência, seus tios organizaram seu casamento com o amigo da família.

Sempre que se manifestava contra a união, apanhava. Os tios também ameaçavam se matar se ela continuasse se negando.

"Cortei os pulsos porque não tinha outra opção", conta Shafa, levantando as mangas para mostrar as cicatrizes. "Também tomei algumas pílulas."

Sasha
Legenda da foto, Shafa é muçulmana e viveesporte365 comuma pequena aldeia no Sri Lanka, onde o casamento infantil é recorrente

"Enquanto eu estava no hospital, subornaram os médicos e me levaram a um hospital privado. Alguns dias depois, me obrigaram a casar com esse homem."

Vítimaesporte365 comviolência

Como não tinha outra saída, Shafa decidiu ficar com seu novo marido, mas ele suspeitava que ela mantivesse a relação com o antigo namorado. "Ele me batia frequentemente."

"Quando disse a ele que estava grávida, ele me ergueu e me atirou no chão. Em seguida me disse que só me queria por uma noite, que já tinha me usado e não precisava maisesporte365 commim", disse.

No hospital, ela descobriu que havia perdido o bebê como resultado da violência. Mas quando foi à polícia, não levaram a sérioesporte365 comdenúncia.

Um dia, foi chamada para a mesquita do vilarejo. Ali, seu marido disse que queria manter o casamento, mas ela se opôs.

Dias mais tarde, Shafa começou a receber ligações e mensagensesporte365 comtextoesporte365 comestranhos que perguntavam quanto ela cobrava para dormir com eles.

Ela descobriu que seu marido havia publicadoesporte365 comfoto e seu númeroesporte365 comcelular nas redes sociais.

Mãeesporte365 comShafa
Legenda da foto, A mãeesporte365 comShafa tenta manter a família unida e busca ajuda paraesporte365 comfilha

Nas ligações, os homens a ameaçavam com uma linguagem vulgar e diziam que conseguiram o número "graças a seu marido".

"Eu gravei todas as chamadas e ainda tenho as mensagensesporte365 comtexto", conta Shafa, sem deixaresporte365 comchorar, mas ainda assim determinada a contaresporte365 comhistória.

Ajuda psicológica

O paiesporte365 comShafa não quis se envolver no que estava acontecendo. Mas a mãe levou a filha a um centroesporte365 combem-estar social para que ela recebesse ajuda psicológica e legal após a experiência traumática do casamento.

As duas vão ao centroesporte365 comsegredo - a busca por ajuda psicológica ainda é um tabu no Sri Lanka.

A mãeesporte365 comShafa mantém seus cinco filhos trabalhando todos os dias no vilarejo. Foi expulsaesporte365 comsua cidade natal pelos rebeldes separatistas Tigres Tamilesesporte365 com1990.

"Mandei minha filha para a casa do meu irmão por causaesporte365 comum incidente, nunca pensei que ela passaria por isso", diz.

Ela diz que se opôs ao casamento forçado, mas seu irmão não a ouviu.

"Agora eu temo poresporte365 comsegurança e educação (por causa das mentiras que seu marido espalhou sobre ela). Ela não pode ir ao colégio nem andaresporte365 comônibus. Seu futuro é incerto", diz a mãe.

Braçosesporte365 comShafa
Legenda da foto, Safa tem cicatrizes nos pulsos, lembrançaesporte365 comuma tentativaesporte365 comsuicídio

Pressão real

Todo ano, centenasesporte365 comjovens como Shafa, que pertencem à minoria muçulmana do Sri Lanka, são obrigadas a se casar por pressãoesporte365 compais ou tutores.

Segundo a advogadaesporte365 comdireitos humanos Ermiza Tegal, os casamentosesporte365 commeninas muçulmanas aumentaramesporte365 com14% para 22%esporte365 comum ano, uma alta atribuída a uma tendência conservadora.

Shafa tinha 15 anos quando foi obrigada a casar, mas gruposesporte365 comapoio a mulheres muçulmanas acompanharam casosesporte365 commeninasesporte365 com12 anos que sofreram o mesmo.

As leis do Sri Lanka proíbem o casamentoesporte365 commenoresesporte365 comidade. Para se casar é preciso ter ao menos 18 anos.

Mas um regulamento mais antigo chamado Leiesporte365 comCasamento e Divórcio Muçulmano (MMDA) dá permissão aos líderes da comunidade muçulmana, que são homens emesporte365 commaioria,esporte365 comdecidir a idade do casamento.

Não há uma idade mínima, ainda que um casamento com uma menina com menosesporte365 com12 anos demande uma permissão especialesporte365 comuma autoridade islâmica.

As meninas e suas mães têm sofridoesporte365 comsilêncio durante décadas, mas agora ativistas muçulmanas estão exigindo uma reforma da MMDA, apesar das ameaçadas dos líderes da comunidade conservadora.

Niñas en una escuela musulmán.
Legenda da foto, Questões legais colocam meninas muçulmanas sob a ameaçaesporte365 comcasamentos forçados

Reforma

Como o Sri Lanka planeja reformaresporte365 comConstituição, ativistas acreditam que esta seja a horaesporte365 comagir.

A ONU e a União Europeia também pediram ao governo que mudasse a MMDA e outras leis discriminatórias.

Mas não há muita esperança, já que um comitê criado pelo governo há quase 10 anos para analisar a reforma da MMDA não conseguiu formular propostas concretas.

Grupos muçulmanos como Jamiyathul Ulama e Thawheed Jamaath resistiram durante muito tempo aos pedidosesporte365 commudança.

O tesoureiro da Thawheed Jamaath, BM Arshad, disse que a organização sempre apoia a reforma da MMDA quando as propostas surgemesporte365 comdentro da comunidade, mas se negou a estabelecer uma idade mínima para os casamentos.

"Nem o Islã nem a Thawheed Jamaath aceitam o casamento infantil", diz Arshad. "Mas a Thawheed Jamaath jamais aceitará fixar uma idade mínima para o casamento."

"Algumas meninas não têm que se casar inclusive depois dos 18 anos. É direito da pessoa que se casa decidir quando fazê-lo", diz.

Arshad negou as acusaçõesesporte365 comqueesporte365 comorganização ameaça ativistas muçulmanas.

'Não destruam a infância dessas meninas'

O centro que recebe Shafa eesporte365 commãe já ajudou maisesporte365 com3 mil mulheres muçulmanas com diferentes problemas nos últimos três anos, incluindo 250 vítimasesporte365 comcasamento infantil.

"Tenho que ficar longeesporte365 comcasa por causa das ameaçasesporte365 comhomens", diz a assistente social que dirige o centro. "Tenho medoesporte365 comlevar meus filhos à escola."

A ativista Shreen Abdul Saroor, da Redeesporte365 comMulheresesporte365 comAção (WAN, na siglaesporte365 cominglês), é uma das poucas mulheres muçulmanas que ousa revelar seu rosto eesporte365 comidentidade.

"O casamento infantil é uma violação à lei", diz.

Ela insiste que 18 anos deve ser a idade legal do casamento para todas as comunidades no Sri Lanka, independentementeesporte365 comnacionalidade e religião.

BM Arshad
Legenda da foto, BM Arshad, tesoureiro do grupo Thawheed Jamaath, é contra estabelecer uma idade mínima para o casamento

Uma menina não é fisicamente madura o suficiente para dar à luz outra criança, diz a ativista.

"Quando vemos todas essas meninas casando, isso afeta toda a comunidade. A sociedade retrocede", acrescenta.

"A minha mensagem à comunidade muçulmana e aos líderes religiosos é: por favor, não destruam a infância dessas meninas."

Determinação

Apesar do trauma, Shafa sempre foi uma aluna brilhante e está decidida a voltar a estudar.

Sua família espera que a jovem consiga um bom emprego, mas ela ainda enfrenta muitos desafios.

"Os homens se aproximam e fazem piadas grosseiras quando vou a aulas particulares", diz.

Shreen Saroor
Legenda da foto, Ativista Shreen Saroor pede à comunidade muçulmana que proteja as meninas

"É um assédio grave, eu me sinto desanimada, indefesa, não sei o que fazer."

Mas ela se nega a deixar os assediadores vencerem. Seu objetivo é se tornar advogada.

"É porque você quer ajudar outras vítimas como você?", pergunto.

"Sim", responde ela, enquanto nosso olhar se cruza e sintoesporte365 comdeterminação.