O drama do 'armário duplo': a violência 'invisível' entre casais do mesmo sexo:stefan poker
A históriastefan pokerErica é parecida com astefan pokermuitas outras mulheres vítimasstefan pokerviolência doméstica, mas se difere no fatostefan pokerque não é um homem o responsável pelas agressões, mas uma mulher.
E não é um caso isolado. Coletivos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) afirmam que a violência entre casais do mesmo sexo é mais comum do que se imagina. Eles denunciam que, apesarstefan pokeracontecer com frequência, pouca atenção é dada a esse tipostefan pokerviolência.
"É uma violência invisível e um tabu", assegura a BBC Mundo Paco Ramírez, presidente da confederação LGBT Colegas, baseada na Espanha.
Níveis semelhantes
Ainda que agressões, humilhações repetidas, ameaças ou controle doentio não sejam fenômenos exclusivos das relações heterossexuais, a violência entre pessoas do mesmo sexo é bem menos estudada.
Além disso,stefan pokermuitos países a união homoafetiva não é reconhecida legalmente.
Na América Latina, muito recentemente, Argentina, Uruguai, Brasil, Colômbia e alguns Estados do México aprovaram casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto o Equador e o Chile reconhecem as uniões estáveis.
No caso do Brasil, especificamente, o Supremo Tribunal Federal decidiustefan poker2011 por unanimidade o reconhecimento legal da união homoafetiva. Em 2013, o Conselho Nacionalstefan pokerJustiça aprovou resolução que impede os cartórios brasileirosstefan pokerse recusarem a converter uniões estáveis homoafetivasstefan pokercasamento civil.
Embora não haja estudos globais, os levantamentos existentes, principalmente centradosstefan pokerpaíses anglo-saxônicos, indicam que o problema existe e poderia ocorrerstefan pokerníveis semelhantes aosstefan pokercasais heterossexuais.
Essa é a conclusãostefan pokerum estudo divulgadostefan poker2014 pela Escola Feinbergstefan pokerMedicina da Northwester University,stefan pokerChicago, que revisou pesquisas anteriores que sugeriam que entre 25% e 75%stefan pokerlésbicas, gays e transexuais já foram vítimasstefan pokerviolência doméstica, para concluir que "a faltastefan pokerdados representativos e a subnotificaçãostefan pokercasosstefan pokerabuso pintam um quadro incompleto do panorama real, sugerindo taxas ainda mais altas (de abuso)".
"A violência doméstica é exacerbada porque casais do mesmo sexo têmstefan pokerlidar com o estresse adicionalstefan pokerpertencerem a uma minoria sexual. Isso leva a uma relutânciastefan pokerabordar questões ligadas a violência doméstica", diz o psicólogo Richard Carroll, um dos autores do estudo.
Em outra pesquisa, do Centrostefan pokerPrevenção e Controlestefan pokerEnfermidadesstefan pokerEstados Unidos, que ouviu maisstefan poker16 mil pessoas, o índicestefan pokermulheres lésbicas e homens gays que afirmaram ter sido vítimasstefan pokerviolência íntima (física, sexual ou psicológica) por parte dos companheiros ou ex-companheiros foi similar e,stefan pokeralguns casos, superior aostefan pokerheterossexuais.
Mesmo que nenhum estudo tenha identificado se a violência doméstica é maiorstefan pokercasosstefan pokercasais homossexuais que nos demais - os dados normalmente não indicam o sexo do agressor e podem estar relacionados a momentos anteriores aos que pessoas passaram a se identificar como homossexuais -, os achados refletem o que muitos na comunidade LGBT já viam como um fato: as mulheres heterossexuais não são as únicas vítimasstefan pokerviolência entre casais, não é certo que os homens nunca sejam vítimas e tampouco que as mulheres não possam ser a parte agressora.
Crenças falsas
Carlos García, trabalhador social especializadostefan pokerviolência doméstica, conversou com 27 homens e mulheres na Espanha que viveram situaçõesstefan pokerviolência doméstica. Observou que os homens dificilmente se identificavam como vítimas. "Me diziam: É que não podia me ver como uma dessas mulheres maltratadas que aparecem na televisão. Tinha que ser outra coisa", disse García à BBC Mundo.
"Socialmente, acredita-se que se a violência acontece entre pessoas do mesmo sexo, então tem que ser nos dois sentidos, pois não haveria dominação nem submissão", afirma García, que compartilhou seus achados no livro La huellastefan pokerla violencia en parejas del mismo sexo ("A Marca da Violência entre Casais do Mesmo Sexo",stefan pokertradução livre).
Por isso, se é difícil para uma mulher hétero denunciar abusos do próprio companheiro, no caso dos homossexuais pode ser ainda pior. É o que está sendo chamadostefan poker"armário duplo": alémstefan pokerter a dificuldadestefan pokeradmitir ser vítimastefan pokerviolência da(o) própria(o) companheira(o), ainda temstefan pokerse identificar como LGBT a uma autoridadestefan pokerque - muitas vezes - não confia.
Além disso, há numerosos casosstefan pokerque os agressores ameaçam divulgar a orientação sexual da vítima no círculo familiar oustefan pokeramizades, e usam isso como mecanismostefan pokercontrole.
Quando a pessoa decide denunciar, nem sempre encontra instituições ou autoridades prontas para protegê-la.
"Me disseram que riramstefan pokeralgumas mulheres que foram à polícia contar que o agressor é outra mulher", disse à BBC Mundo Karen Vasquez, psicóloga e coodenadorastefan pokerpromoçãostefan pokersaúde sexual da Associaçãostefan pokerPsicologiastefan pokerPorto Rico.
Algo semelhante aconteceu com um dos homens entrevistados por García. Quando ele foi à polícia denunciar as surras que recebia do namorado, não o viram como vítima, mas como alguém que tinha se envolvido numa briga.
"Se é uma pessoa trans imigrante e vítimastefan pokerviolência, por que vai chamar a polícia? Obviamente não se sentem seguros", assegura Genevive Rodríguez, organizadorastefan pokerLa Línea, uma entidadestefan pokerBoston, dos EUA, que luta contra abusosstefan pokercasaisstefan pokercomunidades LGBT estefan pokerminorias.
O maior temor é a discriminação ou baixa confiança na atuação da polícia. Na Venezuela, os tribunais também foram identificados como importantes obstáculos para denunciar este tipostefan pokeragressão,stefan pokeracordo com um estudo publicadostefan poker2003 por Reynaldo Hidalgo, professorstefan pokercriminologia da Universidadestefan pokerLos Andes.
Invisíveis
Tudo isso contribui para que ganhem visibilidade apenas os casos mais extremos. Como um caso recente que foi parar nos jornais espanhóis,stefan pokeruma mulherstefan poker53 anos acusadastefan pokermatarstefan pokerparceira a facadas após uma discussão no meio da noite.
Na Argentina, um espaço para mulheres lésbicas e bissexuais chamado La Fulana começou a reunir notícias sobre casosstefan pokerviolências entre mulheres e percebeu que estes eram relatados como briga entre mulheres, entre "amigas", e que não aparecia a palavra "lésbica", segundo explicou à BBC Mundo Paz Dellacasa, coordenadora geral do centro.
Segundo Dellacasa, quando uma lésbica se arriscava a fazer uma denúncia nas autoridades, o caso era registrado como uma "briga" ou "desentendimento", e nãostefan pokercomo violênciastefan pokergênero.
"O que queremos é que nos reconheçam. O que não tem nome, não existe. E o que não existe, não tem direito", salienta Dellacasa.
No Chile, o Movimentostefan pokerLibertação e Integração Homossexual (Movilh), abriu seu próprio centro para atender vítimas que chegavam à procurastefan pokerproteção por não ter aonde ir.
Agora, a entidade está se reunindo com representantes do Ministério da Mulher estefan pokerIgualdadestefan pokerGênero para ajudar a desenvolver políticas públicas que incorporem as lésbicas.
"Há uma vontadestefan pokerir aprimorando as leis, mas, sem dúvidas, há também uma resistência cultura", assegura Rolando Jiménez, porta-voz do Movilh.
Jiménez disse que, apesarstefan pokertudo, no Chile, o deficit mais grave está no caso dos homens, "porque o ministério não tem competência para atendê-los".
"Hojestefan pokerdia, não há possibilidadestefan pokerum homem agredido pelo parceiro e comstefan pokervida perigo, procurar um centrostefan pokerproteção e ser acolhido nesse espaço", diz Jiménez.
Vazio legal e resistência
Muitos países têm leis específicas para violênciastefan pokergênero - mas nem sempre a legislação engloba os homossexuais.
É o que acontece na Espanha, onde a leistefan pokerviolênciastefan pokergênero protege apenas as mulheres que são agredidas por homens.
"Muitas feministas não querem que a lei seja ampliada para não diluir o objetivo. Por isso, optamos para pedir proteção e direitos por meio das leis específicas LGBT que estão sendo aprovadasstefan pokerdiferentes comunidades autônomas [regionais]", afirma Paco Ramírez, da confederação espanhola LGBT Colegas.
No entanto,stefan pokeruma audiência no Parlamento espanholstefan poker2009, o centro Aldartestefan pokeratenção a gays, lésbicas e trans pediu que a lei contra violência contra mulheres fosse alterada para incluir esses grupos.
Especialistas como García veem a violência contra gays, lésbicas e trans cometida por pessoas da mesma orientação sexual como violênciastefan pokergênero e pedem que as autoridades a reconheçam como tal.
"A sociedade tem que entender que a violênciastefan pokergênero não é somente a do homem contra a mulher, masstefan pokertudo que se considera 'masculino' contra o que é 'feminino'", avalia García. Para ele, 'masculino' nesse caso são atributos como salário maior, mais força física ou prestígio social.
Sob a ótimastefan pokerGarcía, os padrõesstefan pokergênero, então, podem funcionar independentemente do sexo da pessoa.
Mas a realidade é sempre mais complexa.
Erica, a argentina que apanhou da primeira namorada, era, fisicamente, mais forte questefan pokeragressora e praticava boxe, mas nunca se defendeu dos ataques com força.
"Quando ela ficava violenta, me dava taquicardia. Tentava acalmá-la e dizia o que ela queria... Se a segurasse pelas mãos e a continha, ela ficava ainda mais violenta", relata.
Apesar do medo das reações da companheira, tinha outra razão para se submeter à violência disse Erica: "No início, não podia acreditar que precisava me defenderstefan pokeruma pessoa que amava".