Por que menos refugiados chegaram à Europa, mas mais morreram afogados2016:

Refugiadosbalsa.

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Legenda da foto, O númerorefugiados que chega à Europa pela Grécia diminuiu, mas as chegadas pela Itália aumentaram

Mas como explicar que, embora as chegadasrefugiados pelo mar tenham diminuído, o númeropessoas que morreram afogadas ou desapareceram tenha aumentado?

Rota mais perigosa

Uma das razões se encontra ao longo das principais rotas migratórias que cruzam o Mar Mediterrâneo.

Em 2015, 84% dos refugiados conseguiram chegar à Europa. Mais850 mil pessoas fizeram a viagem pela chamada rota oriental, que sai da Turquia e atravessa o Mar Egeu até chegar às ilhas gregas.

Este ano, o númeropessoas que chegaram por esta mesma rota caiu para 180 mil.

No mesmo período, houve um aumento do fluxo na chamada rota central, que parte da Líbia e chega à Itália.

Guarda costeira italiana

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Legenda da foto, Atualmente, os trabalhosresgate no mar são coordenados pela Guarda Costeira da Itália

"As chegadas na Grécia foram contidasgrande parte como consequência do acordo firmado entre Turquia e União Europeia", afirmou Federico Fossi, porta-voz do Acnur na Itália.

Segundo o acordo, que entrouvigor no dia 20março2016, os imigrantes que chegam à Grécia são devolvidos para a Turquia se não solicitarem asilo ou se o pedido for rejeitado.

"De modo geral, vimos uma redução bastante drástica no númerochegadas", explicou Fossi à BBC Mundo, o serviçoespanhol da BBC.

"No entanto, se observarmos o caso da Itália, na rota central do Mediterrâneo, este é um anorecorde: chegaram cerca 179 mil pessoas. No ano passado, foram 150 mil e,2014, 170 mil", continuou.

"A rota central é mais perigosacomparação com a do leste do Mediterrâneo."

A distância entre a Turquia e as ilhas gregas que mais receberam refugiados2015, como Kos ou Lesbos, é5 a 10 quilômetros.

Já para sair da Líbia e alcançar Lampedusa, a ilha italiana mais próxima, é preciso percorrer 280 quilômetros.

A probabilidade éque umcada 47 migrantes que fazem esse trajeto morra afogado.

Traficantes 'implacáveis'

Refugiados resgatados no mar

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Legenda da foto, A maioria dos migrantes que chega à Itália é provenientepaíses africanos

Mas o perigo não está apenas na geografia das rotas migratórias.

"Os traficantespessoas são implacáveis e estão usando táticas muito piores que no passado. Eles colocam muita gentebarcos bem menores e também acreditamos que estejam conseguindo um número limitadoembarcações", disse Joel Millman, porta-voz da OIM.

Em muitos casos, os traficantes utilizam simples lanchas infláveis, incapazesaguentar toda a viagem.

"O momento mais perigoso normalmente é quando o barcoresgate se aproxima. As pessoas entrampânico, querem ser resgatadas e acabam indo só para um lado da lancha, que vira e afunda. Elas caem no mar e muitas não conseguem nadar", acrescenta Fossi.

"Estamos falandogrupos100 a 150 pessoasbotes infláveis e entre 400 e 700 pessoaspequenos barcospescamadeira. Basta o naufrágiouma destas embarcações para que se tenha um grande númeromortes", continua.

Em 2016, umcada quatro migrantes que atravessaram o Mediterrâneo (26%) eram crianças, a maioria delas desacompanhadas. As mulheres representaram 17% e os homens 57%,acordo com as duas agências das Nações Unidas.

Criançasum centroacolhidasrefugiados

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Legenda da foto, Agências da ONU estimam que as crianças desacompanhadas são um quarto dos refugiados que atravessam o Mar Mediterrâneo

Além disso, dependendo da rota que tomam para chegar ao Mediterrâneo, muitos ficam ainda mais vulneráveis à ação dos traficantes.

"São pessoas que atravessam o deserto, principalmente pelo Níger, e chegam à Líbia, onde encontram um ambiente que facilita a ação dos traficantespessoas", explica Millman.

Enquanto a maior parte dos que chegaram à Grécia2015 e2016 foram sírios, afegãos e iraquianos, as principais nacionalidades dos que saem da Líbia para a Itália são nigeriana, eritreia e guineana.

"Os sírios são quase imediatamente vistos como refugiados. Muitos políticos e jornalistas costumam achar que as pessoas que vêm da África Subsaariana não são refugiados, mas migrantes econômicos."

"Mas isso é incorreto, porque embora o númeromigrantes econômicos seja menor, os direitosproteção internacional são individuais. Ou seja, cada uma dessas pessoas tem o direitopedir proteção internacional como refugiada", diz Fossi.

Como reduzir as mortes?

Hoje, os trabalhosresgate são coordenados pela Guarda Costeira da Itália.

Em novembro2014, a União Europeia lançou a Operação Triton, que sucedeu a Mare Nostrum, executada até então pelo governo italiano.

Além disso, a zona é patrulhada por barcosresgatevárias organizações não governamentais.

"Levandoconta o númeropessoas que morrem e desaparecem no mar, não dá para dizer que (esses esforços) são suficientes. Se fossem, haveria menos vítimas. Mas sem os grandes esforços dos grupossocorristas, haveria muitas mais", avalia Fossi.

Refugiadosbalsa

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Legenda da foto, Os traficantespessoas chegam a colocar até 150 pessoaslanchas infláveis que não aguentam a travessia do Mediterrâneo

"Depois do naufrágio19abril2015 (quando morreram mais700 pessoas) a Operação Triton foi ampliada, ganhou mais barcos e deixouter como função exclusiva o controlefronteiras", acrescenta.

"Busca e resgate passaram a fazer parte da missão, e o raioação da operação foi aumentado para além das 30 milhas náuticas na costa líbia", afirma.

O Acnur e as ONGs que participam dos trabalhossalvamento defendem que, além das operaçõesresgate, sejam tomadas medidas legais para reduzir o risco das viagens.

"As medidas legais incluem melhorar as admissões por razões humanitárias, a reunião familiar e a expediçãovistos humanitários, civis etrabalho para os refugiados", esclarece Fossi.

"Falamos da possibilidadeuma pessoa chegar à Europa como refugiada, sem arriscar a vida nas mãostraficantes. Estamos nos acostumando com as mortes dessa gente no mar. E isso é muito triste."