Os idiomas que sobreviveram ao colapso das civilizações:cadastrar conta na betano

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Legenda da foto, Escribas fazem seus registroscadastrar conta na betanoNínive, na antiga Assíria (hoje, território iraquiano)

A escrita cuneiforme já existia há cercacadastrar conta na betano3.000 anos quando Nabu-kusurshu empunhou pela primeira vez seu estiletecadastrar conta na betanojunco. Ela foi inventada pelos sumérios, que a usaram inicialmente para registrar as raçõescadastrar conta na betanoalimentos — e tambémcadastrar conta na betanocerveja — pagas aos trabalhadores ou fornecidas para os templos.

Ao longo do tempo, os textos sumérios ficaram mais complexos. Eles registravam belos mitos e canções, incluindo umacadastrar conta na betanocelebração à deusa da cerveja, Ninkasi, e seu habilidoso uso do "barrilcadastrar conta na betanofermentação, que faz um som agradável".

Quando o idioma sumério começou a ser gradualmente abandonado e substituído pelo acadiano, mais moderno, os escribas inteligentemente escreveram longas listascadastrar conta na betanosímbolos nos dois idiomas, criando essencialmente os primeiros dicionários, para garantir que a sabedoria das tábuas mais antigas fosse sempre compreendida.

A geraçãocadastrar conta na betanoNabu-kusurshu — que teria falado acadiano ou talvez aramaico nacadastrar conta na betanovida diária — foi uma das últimas a usar a escrita cuneiforme. Mas ele provavelmente acreditava que era apenas um jovem escritor comumcadastrar conta na betanouma longa linhagemcadastrar conta na betanoescritores, preservando a escrita cuneiforme para muitas outras gerações, sob o olhar benevolentecadastrar conta na betanoNabu, o deus da escrita e "escriba do universo".

Ele copiava fielmente as tábuas antigas, anotando, por exemplo, que um sinal sumério pronunciado como "u" podia significar presentecadastrar conta na betanocasamento, ladrão ou nádegas. Ele escrevia nas tábuas que fazia as cópias "para seu próprio estudo", talvez como treino ou trabalho escolar, e as colocava no templo como oferenda.

"Ele está aprendendo a escrever, aprendendo essas listas, entre outras coisas, e dedicando seu trabalho ao deus Nabu e ao templo", afirma Jay Crisostomo, professorcadastrar conta na betanocivilizações e idiomas do Oriente Próximo da Universidadecadastrar conta na betanoMichigan, nos Estados Unidos.

Crisostomo estudou profundamente as tábuascadastrar conta na betanoNabu-kusurshu. E foram suas humildes listas, silenciosamente escritas na sombracadastrar conta na betanoum enorme zigurate — um templocadastrar conta na betanoformacadastrar conta na betanopirâmide com degraus —, que fizeram com que Nabu-kusurshu se tornasse imortal.

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Legenda da foto, Tábua cuneiforme bilíngue, com palavrascadastrar conta na betanoidioma sumério e acadiano. Os escribas escreveram essas listas para garantir que as tábuas sumérias, mais antigas, pudessem ser sempre compreendidas

Muitoscadastrar conta na betanonós sonhamoscadastrar conta na betanoescrever uma mensagem que possa ser lida daqui a milharescadastrar conta na betanoanos, talvez para compartilhar poesia com as gerações futuras ou para avisá-los sobre os riscos escondidos nos resíduos nucleares.

Ocorre que este não é um mero exercício intelectual. Houve, no passado, pessoas que criaram mensagens imortais — ou pelo menos, que duraram por muito tempo — com sucesso. E algumas dessas pessoas, como Nabu-kusurshu, chegaram a nos deixar uma chave para civilizações inteiras.

No século 19, os estudiosos lutavam para decifrar um idioma misterioso encontradocadastrar conta na betanotábuas carbonizadas e rachadas, nas ruínascadastrar conta na betanotemplos e palácios da Mesopotâmia cobertos por areia: o sumério, completamente perdido e esquecido.

A maior dificuldade desse desafio foi o fatocadastrar conta na betanoque o sumério não tem relação com nenhum outro idioma conhecido. Mas os estudiosos haviam recentemente decifrado o acadiano, graças às suas similaridades com idiomas vivos, como o árabe e o hebraico. E também encontraram as listascadastrar conta na betanopalavrascadastrar conta na betanosumério e acadiano elaboradascadastrar conta na betanoargila pelos antigos escribas, que podiam ser usadas como dicionário.

Entre elas, um conjuntocadastrar conta na betanotábuas se destacou pelacadastrar conta na betanopreservação impecável e "boa e distinta escrita": as tábuascadastrar conta na betanoNabu-kusurshu. Elas foram encontradas pertocadastrar conta na betanotijolos e pilares quebrados quando os arqueólogos abriram os salões, há muito tempo enterrados, do templocadastrar conta na betanoBorsippa, pertocadastrar conta na betano1880.

"Muito do que sabemos sobre os sumérios deve-se a esse homem, Nabu-kusurshu", afirma Crisostomo. Ele acredita que o jovem escriba, que teria cercacadastrar conta na betano20 anoscadastrar conta na betanoidade, tenha produzido quase um quartocadastrar conta na betanotodas as cópias conhecidascadastrar conta na betanouma listacadastrar conta na betanosinais bilíngues que foi fundamental para decifrar o idioma.

Para dar uma ideia dacadastrar conta na betanoimportância, suas listas ajudaram a decifrar registroscadastrar conta na betanotrês milênioscadastrar conta na betanohistória dos sumérios, incluindo seu uso pioneiro da roda e da hora com 60 minutos.

Ao todo, há maiscadastrar conta na betanoum milhãocadastrar conta na betanotextoscadastrar conta na betanoescrita cuneiforme do antigo Oriente Próximocadastrar conta na betanodiferentes idiomas, que hoje podem ser lidos graças às indicações imortais deixadas por escribas comuns, como Nabu-kusurshu.

O que ajudou essas mensagens a sobreviver e preservar seu significado por tanto tempo? E como podemos usar esse conhecimento para preparar nossas próprias mensagens para os leitores do futuro?

Crédito, Ashmolean Museum/Heritage Images/Getty Images

Legenda da foto, Tábua com inscrições no sistema Linear B, usadocadastrar conta na betanoCreta e na Grécia continental, antes da chegada do alfabeto

A maior parte das ideias e dos pensamentos expressos pelos seres humanos raramente sobrevive ao momento presente. A história é repletacadastrar conta na betanoreferências ao que se perdeu — não apenas mensagens individuais, mas idiomas inteiros. E, com eles, foram-se as recordações das sociedades que os falavam.

Quem se lembra do gútio, um idioma do mundo antigo, por exemplo?

Milharescadastrar conta na betanoanos atrás, alguém deu a um tradutor gútio um pagamentocadastrar conta na betanocerveja, segundo um recibo sumériocadastrar conta na betanoargila. E isso é tudo o que sabemos sobre os gútios. Todos os sentimentos do povo gútio, tudo o que eles queriam contar para o mundo — tudo foi perdido. Permanecem apenas algumas descrições pouco elogiosas, feitas pelos sumérios.

Por outro lado, existem mensagens que resistiram a séculoscadastrar conta na betanoguerras, invasões e desastres naturais. Embora os espanhóis tenham destruído montanhascadastrar conta na betanolivros dos maias, por exemplo,cadastrar conta na betanoescrita sobreviveucadastrar conta na betanoraros manuscritoscadastrar conta na betanocascascadastrar conta na betanoárvores e monumentoscadastrar conta na betanopedra, mantendo vivos os mitos e as profecias antigas.

Qual o segredo dessa extraordinária longevidade literária? Fiz esta pergunta a três especialistascadastrar conta na betanoalguns dos textos e idiomas mais antigos do mundo e também perguntei como eles escreveriam suas próprias mensagens para o futuro, com base nas suas percepções.

Todos eles mencionaram, é claro, certos aspectos materiais. A argila e a pedra são mais duráveis que o papel ou os métodoscadastrar conta na betanogravação digital. O clima e o ambiente correto também ajudam na preservação: as tábuascadastrar conta na betanoescrita cuneiforme, na verdade, eram muitas vezes cozidas e endurecidas pelo fogocadastrar conta na betanocidades sendo atacadas.

Mas as percepções mais fascinantes dos especialistas foram sobre os próprios escritores.

Quando falamos sobre os escritoscadastrar conta na betanoum passado distante, é tentador retratá-los como uma espéciecadastrar conta na betanoconjunto acidentalcadastrar conta na betanofragmentos históricos. O legadocadastrar conta na betanoNabu-kusurshu, por exemplo, pode parecer um acaso da história — as tábuas do cervejeiro que se tornaram uma espéciecadastrar conta na betanoPedracadastrar conta na betanoRosetta.

Mas os estudiosos indicam que nem tudo se deve à sorte e à coincidência. Existem certos hábitos, valores e decisões que podem não garantir exatamente a imortalidade literária, mas, pelo menos, aumentam as suas possibilidades.

É claro que a melhor formacadastrar conta na betanotestar esses fatores seria realizar um experimento controlado, com diferentes escritos sendo expostos a desafios — como o colapso da civilização — para vermos qual deles sobrevive. Não temos nada parecido com isso na história, mas temos algo que se aproxima desta situação.

Crédito, Nikolas Kokovlis/NurPhoto/Getty Images

Legenda da foto, Na Grécia, a escrita desapareceu depois que um desastre atingiu a elite letrada perto do ano 1200 a.C. e só foi reintroduzida muito tempo depois

O povo que esqueceu como se escreve

Imagine duas ilhas no mar Mediterrâneo, na Idade do Bronze, com ovelhas pastando pacificamente entre os olivais. Nas duas ilhas, há pessoas ocupadas, escrevendocadastrar conta na betanotábuascadastrar conta na betanoargila.

Uma dessas ilhas é o Chipre, perto da costa do Oriente Próximo. A outra é Creta.

Na ilhacadastrar conta na betanoCreta e na Grécia continental, existe uma elite: são os micênicos. Eles escrevemcadastrar conta na betanogrego, usando uma escrita chamada Linear B.

Tudo vai bem até que, perto do ano 1400 a.C., um desastre atinge os micênicos. Primeiro, o seu paláciocadastrar conta na betanoCreta é destruído. E, cercacadastrar conta na betano200 anos mais tarde, os palácios no continente têm o mesmo destino.

O Chipre também é atingido por uma catástrofe e os historiadores até hoje discutem exatamente o que aconteceu. A ilha sofre alguma espéciecadastrar conta na betanocolapso econômico, cidades são abandonadas e novos gruposcadastrar conta na betanopessoas chegam do exterior.

No Chipre, mesmo com a vida se alterando dramaticamente, os moradores locais continuam a escrever e experimentar novas técnicas, tomadas emprestadascadastrar conta na betanodiferentes culturas vizinhas que também praticam a escrita.

Mas,cadastrar conta na betanoCreta e na Grécia continental, agora sem os palácios, as pessoas paramcadastrar conta na betanoescrever. A escrita morre. Não apenas a Linear B, mas também o conhecimento fundamental da escrita parece desaparecer. É como se toda uma sociedade esquecesse como se escreve.

Isso é particularmente surpreendente porque foicadastrar conta na betanoCreta que surgiram os escritos mais antigos da Europa, datadoscadastrar conta na betanoaté pelo menos 1800 a.C. Mas todo aquele legado histórico é varrido com o colapso da elite micênica.

E, quando as pessoas começam a escrevercadastrar conta na betanonovo na Grécia, séculos depois, elas usam uma escrita totalmente diferente - o alfabeto, importado do exterior. Sua própria tradição mais antiga é perdida para sempre.

"Na Grécia, após a perda dos palácios micênicos, simplesmente parece não ter havido escrita nenhuma por algum tempo", afirma Philippa Steele, coordenadoracadastrar conta na betanopesquisacadastrar conta na betanoestudos clássicos da Universidadecadastrar conta na betanoCambridge, no Reino Unido, e especialista nos antigos escritoscadastrar conta na betanoCreta, Chipre e da Grécia.

"Entre 1200 [a.C.] e perto do século 8 [a.C.], não há nada, até onde sabemos. Enquanto isso, o Chipre seguiu escrevendo por todo aquele período", explica Steele. Mas o que causou a diferença?

É claro que não sabemos ao certo. Mas Steele acredita que pode ter a ver com a forma como as duas comunidades trataram a técnica da escrita.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Philippa Steele, especialistacadastrar conta na betanoescritos antigos da Universidadecadastrar conta na betanoCambridge, no Reino Unido, com a tábuacadastrar conta na betanoargila que contém uma mensagem para o futuro

Rabiscos compartilhados

No Chipre, existem muitas evidências arqueológicas do que Steele chamacadastrar conta na betano"reflexoscadastrar conta na betanoescrita": rabiscoscadastrar conta na betanopessoas comuns que adaptaram a escrita para seus próprios usos, como comerciantes para marcar suas vasilhas.

Steele indica que esses experimentos informais disseminados podem ter aumentado a resistência da escrita. Mesmo após convulsões, destruição e a chegadacadastrar conta na betanonovas pessoas, os moradores locais do Chipre continuaram a escrever sobre pequenas tábuascadastrar conta na betanoargila que ofereciam aos seus deuses.

Mais tarde, eles também escreveram textos diferentes próximos uns aos outros — emparelhando, por exemplo,cadastrar conta na betanoescrita silábica cipriota com a dos fenícios. Este processo acabaria ajudando a decifrar o idioma local.

Mas,cadastrar conta na betanoCreta e na Grécia continental, a escrita Linear B nunca se expandiu para o restante da sociedade, a julgar pelas descobertas arqueológicas, segundo Steele. Os escribas micênicos eram anônimos ecadastrar conta na betanoarte não era particularmente valorizada.

"Não existe nenhuma ilustraçãocadastrar conta na betanopessoas escrevendo, nem ilustraçõescadastrar conta na betanoobjetos envolvidos na escrita", explica ela.

Também não havia grandes textoscadastrar conta na betanoLinear B escritos nas fachadas rochosas, nem nas paredes dos palácios, que pudessem ter lembrado às pessoas que existia essa ferramenta valiosa chamada escrita.

Ao contrário, a escrita Linear B vivia escondida no interior dos palácios. E, quando os palácios caíram, ela não tinha onde pudesse sobreviver.

Para Steele, "quando ler e escrever é algo restrito, o sistemacadastrar conta na betanoescrita pode desaparecer mais facilmente se o seu contextocadastrar conta na betanouso deixarcadastrar conta na betanoexistir".

Ela argumenta que estas percepções do passado podem nos ajudar a resolver problemas importantes no presente, como salvar os sistemascadastrar conta na betanoescrita ameaçados dos dias atuais.

Mas o sistema Linear B teve uma sobrevida. Os estudiosos levaram um longo tempo para decifrá-lo, pois ele não foi escrito ao ladocadastrar conta na betanonenhum texto remanescente. Mas eles acabaram conseguindo nos anos 1950. E, hoje, é possível ler grande parte desses textos.

Perguntei a Steele como ela escreveria uma mensagem para a eternidade. Ela me fornece não só uma resposta, mas uma mensagem real, na formacadastrar conta na betanouma tábua.

Ela é feitacadastrar conta na betanoargila, para maior durabilidade, "e, idealmente, deveria ser queimada", embora ela usasse argilacadastrar conta na betanomodelagem seca naturalmente.

A mensagem é multilíngue, "para que haja maior possibilidadecadastrar conta na betanoque pelo menos um dos idiomas ainda seja falado no futuro distante — e uma mensagem multilíngue oferece mais indicações para os decifradores do futuro que uma mensagemcadastrar conta na betanoum único idioma", explica Steele.

Quando falamoscadastrar conta na betanomultilíngue, queremos dizer que a mesma mensagem foi escritacadastrar conta na betanodiversos idiomas lado a lado, como na Pedracadastrar conta na betanoRosetta e nas tábuascadastrar conta na betanoNabu-kusurshu.

A professora escolheu uma mensagem simples: "meu nome é Pippa Steele e escrevi istocadastrar conta na betanoCambridge no anocadastrar conta na betano2022".

Com a ajudacadastrar conta na betanoalguns amigos, Steele escreveucadastrar conta na betanoinglês, espanhol, chinês e árabe, que são os idiomas mais falados no mundo e também são bem representados localmente. "É claro que eu poderia ter acrescentado vários outros", explica ela.

Crédito, Diego Cupolo/NurPhoto/Getty Images

Legenda da foto, Os maias usavam hieróglifos como estes, encontradoscadastrar conta na betanoPalenque, no México

Mensagens dos maias, esperando para serem lidas

Uma possível lição das antigas civilizaçõescadastrar conta na betanoCreta e Chipre é que, para escrever uma mensagem que dure para sempre, uma boa ideia é começar garantindo que as pessoas possam entendê-la no presente.

Como ressaltam frequentemente as pessoas que trabalhamcadastrar conta na betanodecifração, este foi o propósito original da maioria dos escribas: a comunicação. As civilizações antigas normalmente não pretendiam criar um código indecifrável, muito pelo contrário.

"Um código existe para que fique secreto e somente possa ser lido por alguns grupos", afirma Christian Prager, especialistacadastrar conta na betanomaia clássico da Universidadecadastrar conta na betanoBonn, na Alemanha. Ele faz partecadastrar conta na betanouma equipe que está compilando um dicionário e bancocadastrar conta na betanodados online sobre a escrita maia.

"Com a escrita maia, que era tão presente para o público nas estelas [grandes pilarescadastrar conta na betanopedra com inscrições] e construções, acontece o contrário. Ela estava ali para ser compreendida", afirma ele.

A escrita maia foi usada por cercacadastrar conta na betano2.000 anos. Os idiomas dos maias ainda são falados no México, Belize, Honduras e Guatemala.

Os primeiros hieróglifos maias datamcadastrar conta na betanocercacadastrar conta na betano250 a.C. As pessoas continuaram a escrevercadastrar conta na betanosegredo mesmo depois da conquista espanhola e até o final do século 17.

Atualmente, cercacadastrar conta na betano60% dos hieróglifos foram decifrados — o suficiente para entender a essênciacadastrar conta na betanotodos os textos, segundo Prager.

O processo para entender cada símbolo pode ser lento e trabalhoso, mas os estudiosos modernos são auxiliados por escribas maias mortos há séculos, que acrescentaram pequenos marcadores aos seus símbolos para oferecer uma indicação do seu significado.

Recentemente, um desses marcadores — o que significa "pedra" — ajudou Prager e seus colegas a descobrir o símbolocadastrar conta na betano"esculpir uma nova estela". A relação com os idiomas maias vivos também contribuiu muito para decifrar este símbolo.

Embora poucas pessoas no mundo maia soubessem escrever, Prager acredita que um número relativamente grandecadastrar conta na betanopessoas conseguia entender mensagens básicas, como o retratocadastrar conta na betanoum rei e seu nome exibidoscadastrar conta na betanouma estela na praça do mercado.

"Tenho certezacadastrar conta na betanoque eles conseguiam dizer 'este é o nome do rei'", afirma Prager. "Quando damos cursos sobre a escrita maia hojecadastrar conta na betanodia,cadastrar conta na betanoquestãocadastrar conta na betanotrês dias você consegue ler a escrita maia. Talvez não os detalhes linguísticos específicos, mas você consegue reconhecer sequênciascadastrar conta na betanosímbolos."

Esculpir o seu nomecadastrar conta na betanouma pedra grande, idealmente ao ladocadastrar conta na betanoum autorretrato, parece ser um formato realmente atemporal, com significado permanente, não apenas no mundo maia. Os nomes dos reis e a palavra "rei" são frequentemente as primeiras a serem descobertascadastrar conta na betanoescritos não decifrados.

Crédito, Joern Haufe/Getty Images

Legenda da foto, Manuscrito maia do século 12, mantido na Biblioteca do Estado da Saxôniacadastrar conta na betanoDresden, na Alemanha

Organismo vivo

A escrita maia pode ser imortal, não apenascadastrar conta na betanoforma figurativa, mas também literalmente. Para os maias, ela tinha vida própria.

"A escrita era um organismo próprio", explica Prager. "Você pode ver isso quando examina os hieróglifos, existe algo animado neles. Os maias clássicos consideravam animados muitos objetos do dia a dia, incluindo a escrita. As estelas recebiam nomes individuais. Isso diz muito sobre o valor que elas tinham e o quanto elas eram, e são, parte da cultura."

De fato, quando uma estela deixavacadastrar conta na betanoser usada, ela recebia rituais funerários. E essas crenças mais profundas têm consequências práticas úteis com relação à leituracadastrar conta na betanotextos maias clássicos hojecadastrar conta na betanodia.

Os escribas maias mantiveram as formas dos símbolos exatamente iguais, desde as primeiras inscriçõescadastrar conta na betanopedra até os últimos livroscadastrar conta na betanocascascadastrar conta na betanoárvores, por exemplo. Prager acredita que, provavelmente, era o desejo dos escribas "usar um sistemacadastrar conta na betanoescrita inalterado, como fizeram seus ancestrais".

"É impressionante, é algo que você encontra muito raramente [entre as escritas antigas]", afirma o especialista. E é conveniente, pois significa que, se você souber a escrita, poderá ler documentos maiascadastrar conta na betanotodos esses períodos.

Quando perguntei a Prager como ele escreveria uma mensagem para que pudesse ser lida daqui a milharescadastrar conta na betanoanos, ele respondeu com uma escala e ambiçãocadastrar conta na betanonível maia: "A mensagem teria que ser monumental e feitacadastrar conta na betanopedra, para suportar o vento, o clima e os seres humanos!"

Para ele, o melhor exemplocadastrar conta na betanouma mensagem duradoura é a Grande Muralha da China. Mesmo na época dacadastrar conta na betanoconstrução, ela mostrava aos inimigos as fronteiras do domínio chinês e o poderio político e econômicocadastrar conta na betanoquem a construiu.

Paracadastrar conta na betanoprópria mensagem, Prager imagina "construções monumentais espalhadas por um terreno e que não possam ser apagadas", com um texto inscritocadastrar conta na betanotodos os idiomas modernos e antigos, gravado na megaconstrução a cada 100 metros. "Uma dessas mensagens sobreviverá às catástrofes futuras", conclui ele.

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Relevo neo-assíriocadastrar conta na betanoum homemcadastrar conta na betanoNimrud, no norte da Mesopotâmia (hoje, território iraquiano)

A lista do cervejeiro

Na épocacadastrar conta na betanoque Nabu-kusurshu, o jovem cervejeirocadastrar conta na betanoBorsippa, estudava com suas listas pertocadastrar conta na betano450 a.C., muitos dos idiomas que dominaram o Oriente Próximo já haviam desaparecido, incluindo línguas antes poderosas, como o hurrita e o hitita.

Também o amorita, idioma falado pelos poderosos reis nômades da Síria antiga e mencionadocadastrar conta na betanocartas antigas como tendo sido um idioma muito útil para se aprender, desapareceu sem deixar um traçocadastrar conta na betanoescrita.

E, enquanto isso, o sumério — considerado o menos práticocadastrar conta na betanotodos eles, já que havia caídocadastrar conta na betanodesuso no dia a dia - sobreviveu por muito mais tempo. A partircadastrar conta na betanocercacadastrar conta na betano2000 a.C., "ninguém falava sumério, mas o idioma ainda era escrito. E isso é parte da minha extrema fascinação por ele", afirma Jay Crisostomo. "O que fez com que ele continuasse?"

A resposta pode estar naqueles primeiros sinais cuneiformes, pressionados na argila pelos sumérios. Crisostomo explica que, desde o princípio, a escrita foi associada aos sumérios. Ao longo do tempo, foi mantidacadastrar conta na betanoassociação a uma cultura antiga e seus deuses, cidades e lendas, além do poder decorrente dessa cultura.

Sucessivos reis usaram esta associação para legitimar seu próprio poder, mesmo se eles próprios não tivessem antepassados sumérios. Eles chegaram a compor cançõescadastrar conta na betanosumério prevendo que suas palavras seriam valorizadas por pessoas "no futuro distante".

E, colecionando tábuas, divulgando seu conhecimento sobre os sumérios, contratando escribas ou sendo retratados com um estilete no cinto, eles também se tornaram parte dessa linhagem imortal.

"A questão écadastrar conta na betanoreivindicar a autoridade que remonta ao início da escrita e do conhecimento", afirma Crisostomo.

Crédito, Mario Tama/Getty Images

Legenda da foto, Jovens iraquianos jogam futebol à sombra das ruínascadastrar conta na betanoum ziguratecadastrar conta na betanoBorsippa, no Iraque

Essa herança literária estava presentecadastrar conta na betanotoda parte, incluindo hinos e profecias, mas tambémcadastrar conta na betanocanções populares muito antigas. Como no mundo maia, a relação entre a escrita e o poder era anunciada com inscrições monumentais. As tábuascadastrar conta na betanoNabu-kusurshu eram mantidas e protegidas por toda uma cultura.

Mas talvez houvesse também um elementocadastrar conta na betanoescolha individual. Nabu-kusurshu parece ter sentido orgulho pelacadastrar conta na betanoescrita e tido o cuidadocadastrar conta na betanoaperfeiçoá-la, pois ela era excepcionalmente clara.

Crisostomo está vasculhando os museus do mundocadastrar conta na betanobuscacadastrar conta na betanomais tábuascadastrar conta na betanoNabu-kusurshu. Já foram descobertas cercacadastrar conta na betano24 delas.

Ele estudou todos os detalhes da escrita do cervejeiro, desde como ele modelava seus sinais até o espaçamento das linhas. "São coisas como estas que fazem você começar a se sentir como se conhecesse aquelas pessoas", segundo o professor.

Apesar do seu amor pela linguagem escrita, Crisostomo afirma quecadastrar conta na betanomensagem para o futuro provavelmente seria uma imagem, para que "pudesse transcender a necessidade do idioma" e evitar as armadilhas da decifração.

Criando mensagens 'à provacadastrar conta na betanofuturo'

Parece, então, que uma boa regra é fazercadastrar conta na betanomensagem para o futuro suficientemente gigantesca para que não possa ser ignorada - ou tão pequena que possa deslizar pela história quase sem ser notada, talvez protegida pelacadastrar conta na betanoaparente pouca importância.

Uma indicação visual ou contextual parece ajudar, seja acrescentando uma imagem ou colocando-acadastrar conta na betanoalgum lugar relevante para o seu significado, como um templo ou monumento.

E os estudiosos parecem achar óbvio o usocadastrar conta na betanoum idioma existente, sem tentar criar um idioma artificial "à provacadastrar conta na betanofuturo". Afinal, os idiomas reais têm culturas que os amam e sustentam, fornecendo aos decifradores do futuro uma enorme quantidadecadastrar conta na betanoindicações e significados.

Nos dias atuais, a escrita cuneiforme vem experimentando um renascimento, com uma jovem geraçãocadastrar conta na betanoiraquianos aprendendo e experimentando essa escrita. E um sentimento similar vem dando nova vida aos hieróglifos maias. Falantes nativos dos idiomas maias usam os hieróglifos para fazer arte e construir novas estelas para celebrar eventos importantes.

Essa conexão e companheirismo entre seres humanos separados por longos períodoscadastrar conta na betanotempo talvez seja a etapa finalcadastrar conta na betanouma mensagem criada para a eternidade. Não importa o quanto nos esforcemos, só podemos confiar que, no outro lado da linha, haverá no futuro outra pessoa, ouvindo nossa voz fraca e com disposição suficiente para prestar atenção no que estamos dizendo.

Crisostomo relembra frequentemente este ponto enquanto trabalha com as tábuas antigas, algumas marcadas pelas digitais dos escribas mortos milênios atrás.

"Às vezes, você se senta ali, coloca seu polegar exatamente no mesmo lugar e pensa 'talvez esta pessoa estivesse segurando esta tábua desta mesma forma, 4.000 anos atrás, segurando e escrevendo — e eu estou aqui sentado, lendo o que eles escreveram'."

Sophie Hardach é autora do livro "Languages are Good for Us" ("Os idiomas são bons para nós",cadastrar conta na betanotradução livre), sobre os estranhos e maravilhosos usos dos idiomas pelos seres humanos ao longo da história.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

- Este texto foi publicado originalmente em http://vesser.net/geral-62668691

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