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O revolucionário legado para a Físicabetesporte telegramChien-Shiung Wu, a 'Marie Curie chinesa':betesporte telegram
"O trabalho que a tornou famosa mudou a compreensão dos cientistas sobre o universo", escreveubetesporte telegramneta, Jada Yuan, no artigo Discovering Dr. Wu, publicado no jornal americano Washington Post.
Sua meticulosidade, precisão e elegância científica já eram bem conhecidas. Na verdade, havia um ditado entre os físicos dabetesporte telegramépoca: "Se o experimento foi feito por Wu, está correto".
Ela foi chamadabetesporte telegram"Marie Curie chinesa", "rainha do núcleo atômico", "a primeira dama da Física".
"Nunca ganhou o Nobel, mas seu nome é frequentemente mencionado ao ladobetesporte telegramgigantes da física que ganharam, como Curie, Einstein, Fermi e Feynman", observa Yuan.
Livros emprestados
Wu nasceubetesporte telegramXangaibetesporte telegram1912, numa épocabetesporte telegramque não se permitia a todas as meninas estudar.
Ainda assim, ela frequentou a escola para meninas que seus pais conseguiram fundar.
Aos 11 anos, ela foi enviada a um internato para continuarbetesporte telegramformação.
"Teve sorte", escreveu Yuan. Ela era a filha do meio, entre dois irmãos, que nasceram "de pais politicamente progressistas, verdadeiros revolucionários, que defendiam os direitos das mulheres e a educação das meninas".
Wu estava começando a se formar como professora.
"À noite, porém, ela pegava emprestado livrosbetesporte telegramfísica e matemática das colegas e os estudavabetesporte telegramsegredo. Por que física? Ela nunca me disse, mas na décadabetesporte telegram1920 surgiram descobertas emocionantes na Europa e nos Estados Unidos, impulsionadas pela teoria da relatividadebetesporte telegramEinstein", contabetesporte telegramneta.
E uma mulher também entrou no seu radar, segundo escreveu Xiaomeng Han no artigo Chien-Shiung Wu - A Heroic Experimental Physicist, publicadobetesporte telegramum dos sites da Universidadebetesporte telegramHarvard, nos EUA:
"Inspirada na históriabetesporte telegramMarie Curie e impressionada com o rápido avanço da física moderna", ela decidiu embarcar na travessia transatlântica para os Estados Unidosbetesporte telegram1936.
Dois anos antes, havia conseguido um diplomabetesporte telegramCiências pela Universidade Nacional Centralbetesporte telegramNanjing.
Mas ficar não era uma opção: "Não havia nenhum lugar na China para obter um doutoradobetesporte telegramfísica atômica", diz Yuan.
Ela tinha 24 anos e, do barco, viu seus pais pela última vez.
A hipótese
Wu continuou seus estudos na Universidade da Califórniabetesporte telegramBerkeley e,betesporte telegram1943, se tornou uma das primeiras pesquisadorasbetesporte telegramfísicabetesporte telegramPrinceton.
Em 1944, se juntou à equipebetesporte telegrampesquisa da Universidadebetesporte telegramColumbia e mais tarde trabalhou no Projeto Manhattan.
Na primaverabetesporte telegram1956, umbetesporte telegramseus colegas, Tsung-Dao Lee, comentou que ele e outro físico, Chen-Ning Yang, tinham uma hipótese relacionada a um conceito conhecido como conservação da paridade.
"Eles argumentavam que os sistemasbetesporte telegrampartículas fundamentais da natureza, sensíveis à força nuclear fraca, se comportavambetesporte telegramforma diferente daqueles com propriedades equivalentes refletidasbetesporte telegramum espelho hipotético ou, mais apropriadamente, daqueles virados 180 graus", explica Manuel Lozano Leyva, professorbetesporte telegramfísica atômica e nuclear da Universidadebetesporte telegramSevilha, na Espanha.
Questionavam, assim, se a paridade se conservavabetesporte telegraminterações fracas, o que era ousado, pois desde 1925, os físicos supunham que nosso mundo é indistinguívelbetesporte telegramsua imagem no espelho, e a teoria científica predominante refletia essa suposição, indica a Sociedade Americanabetesporte telegramFísica (APS, na siglabetesporte telegraminglês).
"Yang mais tarde disse que minha avó era a única pessoa que entendia a urgência e a importânciabetesporte telegramtestarbetesporte telegramteoria", escreveu a netabetesporte telegramWu.
Espelho, espelho meu…
Vázquez-Mozo, que é professor do departamentobetesporte telegramfísica fundamental da Universidadebetesporte telegramSalamanca, na Espanha, explica à BBC News Mundo que macroscopicamente, se olharmos o mundobetesporte telegramum espelho, não veremos nenhum fenômeno que as leis da natureza proíbem.
"Se você for destra e se refletir no espelho, verá a si mesma escrevendo com a mão esquerda. Não há nenhuma lei da natureza que diga que todo mundo tem que ser destro. Você está vendo algo diferente, mas que também é possível."
"A ideiabetesporte telegramque o mundo quando refletidobetesporte telegramum espelho ainda é possível é algo quebetesporte telegramalguma forma foi dado como certo, e não apenas no mundo que vemos ao nosso redor, mas no mundo microscópico das partículas elementares".
Mas o que Lee e Yang argumentaram é que ninguém havia provado isso experimentalmente: "Ninguém comprovou que trocar a direita pela esquerda, o que acontece ao refletir algo no espelho, não tem consequências para a física subatômica".
Decaimento beta
Eles indagaram onde se podia ver que "direita e esquerda são intercambiáveis ou não no mundo subatômico", e dentre os cenários avaliados, apontaram o decaimento beta, "que é um processo nuclearbetesporte telegramque um próton, por exemplo, emite um elétron e se transformabetesporte telegramum nêutron".
"E quem era a eminência naquela época do estudo experimental do decaimento beta? Wu."
O experimento foi digno do usobetesporte telegramtécnicasbetesporte telegramcriogenia.
"O que o experimentobetesporte telegramWu mostrou é que existem certos fenômenos no mundo subatômico que, quando os vemos refletidosbetesporte telegramum espelho, são impossíveis."
"É por isso que a simetria da paridade não é preservada na físicabetesporte telegrampartículas elementares."
A natureza a nível microscópico distingue a direita da esquerda.
"Wu tem o grande méritobetesporte telegrampensar e projetar o experimento, ela teve a coragembetesporte telegramfazer um experimento que pouquíssimos grupos pensavambetesporte telegramfazer, porque todo mundo dava como certo que a paridade era preservada no mundo subatômico."
"A maioria dos grupos experimentais dizia: Por que vou fazer um experimentobetesporte telegramalgo que já sei?"
Segundo Lozano, este experimento ainda é "admirável depoisbetesporte telegramtantas décadas".
É que demonstra "uma habilidade experimental excepcional e um afãbetesporte telegramrigor indiscutível", diz ele à BBC News Mundo.
Na vésperabetesporte telegramNatal, a cientista já contava com resultados, mas continuou, junto abetesporte telegramequipe, verificando-os nos dias que se seguiram.
Transcendência
O professor destaca que "pouco a pouco, se foi descobrindo que as consequências dessa sutil violação da simetria explicavam não só muitos fenômenos observados, mas também algo tão essencial sobre por que há algobetesporte telegramvezbetesporte telegramnada".
"Ou, pelo menos, por que nosso universo é feitobetesporte telegrammatéria praticamente sem rastrobetesporte telegramantimatéria."
"Essa violaçãobetesporte telegramsimetria prevista por Lee e Yang, mas demonstrada por Wu, é o que, salvo dúvidas sutis que ninguém explica, nos permite existir."
Os resultados das mediçõesbetesporte telegramWu "destruíram um conceito fundamental da física nuclear que havia sido universalmente aceito por 30 anos, abrindo caminho para uma reconsideração das teorias da física e levando a novas descobertasbetesporte telegramlongo alcance, sobretudo uma melhor compreensão das características das partículas elementares, e uma teoria mais unificada das forças fundamentais", diz a APS.
Em 1957, Lee e Yang ganharam o Prêmio Nobel por este trabalho teórico. Wu não foi incluída.
"Chien-Shiung Wu foi vítimabetesporte telegramalgum tipobetesporte telegramdiscriminação? Sustento que sim, mas se tal injustiça aconteceu, tentaram mais do que compensar. Madame Wu recebeu cargos, honras e, acimabetesporte telegramtudo, carinhobetesporte telegramtodo o mundo ", reflete Lozano.
Wu morreubetesporte telegram1997, nos Estados Unidos. Havia visitado a China anos antes.
"Na China, minha avó era como uma estrelabetesporte telegramrock. E, no iníciobetesporte telegram2021, ela se tornou uma espéciebetesporte telegramestrelabetesporte telegramrock aqui também, quando o Serviço Postal dos EUA emitiu um selo comemorativo do tipo Forever ("eterno") embetesporte telegramhomenagem", escreveu Yuan.
Sem limites
Wu e o marido tiveram um filho, Vincent, que também é físico.
"Minha avó tinha aquela curiosidade que eu também vejo no meu pai, aquela ideiabetesporte telegramque o mundo físico ao seu redor é algo que pode ser decifrado, (...) que você tem que se esforçar o suficiente para descobrir, que você tem que querer ser esse detetive", disse Yuan à BBC News Mundo.
Diantebetesporte telegramseu ambicioso experimento, ela "nunca se deixou intimidar pela logística ou o pensamento convencional" ou porque muitos o viam como "impossível".
Yuan, que cresceubetesporte telegramoutra parte dos Estados Unidos, passou muitas férias no apartamento dos avósbetesporte telegramNova York.
Ela se lembra dos belos elementos da cultura chinesa — dos objetos esculpidosbetesporte telegramjade, das pinturasbetesporte telegrampergaminho, da porcelana.
Conta que a avó gostavabetesporte telegramreceber convidados e reunir a família, que a ajudava com os deveresbetesporte telegramcasa — "queria que eu me saísse bembetesporte telegrammatemática e ciências" — e insistia para que praticasse violino.
E diz que gostariabetesporte telegramver a reação dela à decisãobetesporte telegramse tornar jornalista, "em vezbetesporte telegramcientista".
"Acho que ela teria me dado muito apoio por ter encontrado uma paixão, e isso foi uma espéciebetesporte telegramlegado para mim. Ela nunca me fez ver que havia limites para mim, como mulher, mas que tudo era possível se eu quisesse fazer, se eu quisesse trabalhar duro, se quisesse tentar."
- Texto originalmente publicadobetesporte telegramhttp://vesser.net/geral-61983342
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