'Quase morri por atrasopokermasterdiagnósticopokermastermalária': como doença continua fazendo vítimaspokermastertodo Brasil:pokermaster

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Legenda da foto, Os mosquitos Anopheles são os transmissores do protozoário causador da malária

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Legenda da foto, Izabella durante viagem ao Pará: por causa da demora no diagnóstico, estudante teve febrepokermastermaispokermaster40°C

5 médicos diferentes até começar tratamento

Para Izabella Delfino Ramos, o diagnóstico demorou a chegar, mesmo após ela avisar os profissionaispokermastersaúde que havia estadopokermasteruma área endêmica da malária.

Estudantepokermasterdireito da Universidade Federal Fluminense,pokermasterNiterói, no RiopokermasterJaneiro, Izabella passou 2018 muito interessadapokermasterestudar como a tecnologia interferia napokermasterárea.

"Como era ano eleitoral e fake news estavam surgindo, desenvolvemos um projeto sobre isso e por ele eu fui convidada a conhecer o Polo Avançado José VeríssimopokermasterOriximiná, município no Pará e realizar uma pesquisa sobre informações e cidadania nos quilombos da Calha Norte", diz ela.

Antes da viagem, ela precisou checar se estavapokermasterdia com a vacina contra a febre amarela, mas nada além disso.

"Como meu pai é paraense e minha mãe é do Pantanal, eu já conhecia alguns cuidados, como tentar usar calças e blusaspokermastermanga compridas para evitar picadaspokermasterinsetos. Viajamospokermasterum grupopokermastercercapokermaster20 pessoas e subimos o Rio Trombetas e afluentes por cercapokermaster15 dias, ida e volta, com professores, e pós-graduandos", lembra ela, que na época tinha 21 anos.

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Legenda da foto, 'Usávamos repelentes constantemente e eu não descia do barco para me molhar no rio - acreditava estar protegida sempre', conta Izabella

No quilombo da Tapagem, a agente comunitáriapokermastersaúde e líder do quilombo informoupokermasterum surtopokermastermalária na área e pediu para que, caso os visitantes apresentassem sintomas, realizassem o "teste da lâmina", um exame rápido pelo qual, com uma gotapokermastersangue colocadapokermasterum microscópio, consegue-se localizar o protozoário.

"Ela explicou que o tratamento era simples e que não havia mortes, e o grupo encarou a informação tranquilamente. Usávamos repelentes constantemente na pele e eu não descia do barco para me molhar no rio, ou seja, acreditava estar protegida sempre", diz Izabella.

Duas semanas depois da volta, Izabella assistia a apuração dos votos do segundo turno das eleições presidenciais quando sentiu um calafrio forte, algo que nunca havia experimentado antes. Horas depois, notou que também estava com febre.

"Enviei uma mensagem para o diretor da minha faculdade, que vai para Oriximiná regularmente há muitos anos, para perguntar se ele pensava que poderia ser malária e ele duvidou, porque nunca teve", relata.

Como a febre da malária se manifestapokermasterciclos e pode cessar por maispokermasterum dia antespokermastervoltar, a estudante imaginou que pudesse estar com virose ou dengue.

"Mas procurei hospitais no SUS, epokermastertodos eles eu informava: 'Eu vimpokermasteruma zona endêmicapokermastermalária'. Passei por quatro médicos do SUSpokermasterdatas diferentes e a doenças seguia progredindo muito, até que decidi buscar um médico particular, que também informou que não acreditava se tratarpokermastermalária."

Izabella já apresentava sintomas bastante assustadores quando recebeu a ligaçãopokermasterum técnicopokermasterenfermagem, que, mesmo sem conseguir entrarpokermastercontato com o médico responsável, avisou à jovem que os resultados eram graves e que ela deveria dar entrada no setorpokermasteremergências.

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Legenda da foto, Estudante passou por cinco médicos até conseguir dar início ao tratamento

"Além da febre alta, eu vi meus dedos azuis 'tampapokermastercaneta' e senti o sangue pararpokermasterfluir para a minha cabeça. Tive muitos vômitos e dificuldade para me manterpokermasterpé."

No mesmo dia ela teve a notíciapokermasterque um professor da pós-graduação apresentou sintomas da malária, mas, por já ter sofrido com a doença durante uma viagem para a África, percebeu os sinais rapidamente, foi até o ambulatório da Fiocruz no Rio, pegou os medicamentos e voltou pra casa.

"Quando a febre baixou, consegui, com um cansaço indescritível, organizar minha ida sozinha para o atendimentopokermasteremergência da Fiocruz. No táxi, tive a pior febre da minha vida, era como se eu estivesse congelando mesmo com muito calor dentro do carro. Cheguei ao local com pressão arterial 80x40 [o normal é por voltapokermaster80x120], frequência cardíacapokermaster152 [considerada alta para uma pessoapokermasterrepouso] e quase 41ºCpokermasterfebre", lembra Izabella.

Na Fundação, um profissionalpokermastersaúde realizou o teste para malária com sangue arterial colhido por meio do acesso à pelvepokermasterIzabella e ela recebeu as medicações: cloroquina, primaquina e artusanato, que atuam contra o protozoário causador da malária, o plasmodium.

"Nos primeiros dias, eu não aguentava ficar com nenhuma delas no corpo, vomitava tudo."

Depoispokermastercinco diaspokermasterinternação, Izabella recebeu autorização para continuar o tratamentopokermastercasa e um atestadopokermasterum mêspokermastercasapokermasterrepouso porque baço e fígado estavam inchados, outra sequela, geralmente temporária, da doença.

"Retornei à Fiocruz para mais alguns exames depois, e à eles sou eternamente grata por terem me dado auxílio. Ainda no primeiro dia lá, acessei o manual/guia do Ministério da Saúde que relata que morrem mais pessoaspokermastermalária fora da zona endêmica do que na zona endêmicapokermastersi. Acredito que eu não consegui ter lido ele antes por causa do intenso cansaço. Na Fiocruz me mostraram o quão simples é o teste da lâmina que ninguém fez durante os 10, 15 dias que eu passei malpokermastercasa."

"Eu quase morri, mas aprendi a ser muito mais cuidadosa com atendimentos médicospokermastergeral e mal posso esperar para voltar à Amazônia", completa a jovem.

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Legenda da foto, Ilustração mostra hemáceas infectadas por parasita da malária

O que é a malária

A malária é causada por protozoários que infectam a fêmea do mosquito Anopheles darlingi. O mosquito vetor costuma picar no fim da tarde, durante todo o período noturno e ao amanhecer.

Existem cinco tipos diferentes da doença,pokermasteracordo com as espécies do protozoário Plasmodium: falciparum, vivax, ovale, malariae e knowlesi.

"O vivax e o falciparum são os mais comuns. Este último representa somente 15% dos casos no Brasil, mas é predominante na África e consideravelmente mais perigoso, oferecendo risco aumentadopokermastercomplicações cerebrais, renais, pulmonares e tambémpokermastermorte. É por isso que a gente não vê tanta gente morrendo aqui. Mas à medida que o paciente fica doente mais tempo, pode desenvolver anemia gravepokermasterambos os tipos", explica o infectologista Marcus Lacerda, especialistapokermasterSaúde Pública pela Fiocruz-Amazonas e pesquisador da malária.

Dados do Programa NacionalpokermasterPrevenção e Controle da Malária (PNCM) mostram que, no anopokermaster2019, o Brasil notificou 157.454 casospokermastermalária, uma reduçãopokermaster19,1%pokermasterrelação a 2018, quando foram registrados 194.572 casos da doença no país. Em relação à malária falciparum e à malária mista, a redução foipokermaster18,9%, sendo notificados 21.126 casospokermaster2018 e 17.139pokermaster2019.

'Os médicos diagnosticam aquilo que veem'

De acordo com o guiapokermastertratamento da malária do Ministério da Saúde, nas regiõespokermasterque a malária não é endêmica tem-se observado manifestações graves da doença, possivelmente pelo retardo da suspeita clínica, do diagnóstico e do tratamento.

"Aqui no Sudeste e atépokermasteroutras regiões fora da área amazônica, o diagnóstico é mais difícil, já que os médicos não costumam fazer diagnóstico daquilo que eles não veem", diz Lacerda.

É aí que entra o papel da prática conhecida por "medicina do viajante",pokermasteracordo com o infectologista. "A pessoa precisa ter um bom graupokermasterinformação e ela mesma sinalizar para o médico que tevepokermasteruma áreapokermastermalária. É uma co-responsabilidade do paciente."

Sintomas da malária

Os sintomas costumam aparecer entre 14 e 21 dias após a picada do mosquito infectado. A principal manifestação é febre que dura maispokermastersete dias.

"Isso deve ascender no profissionalpokermastersaúde a suspeitapokermasterpassagem por área endêmica", aponta o infectologista.

Outros sinais, são:

  • Febre alta e dorpokermastercabeça
  • Calafrios
  • Tremores
  • Náuseas e vômitos
  • Pressão baixa
  • Cansaço extremo
  • Convulsões
  • Hemorragia
  • Alteração da consciência

As gestantes, as crianças e as pessoas infectadas pela primeira vez estão sujeitas a maior gravidade da doença, principalmente por infecções pelo P. falciparum, que, se não tratadas adequadamente epokermasterforma rápida, podem ser letais.

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Legenda da foto, Imunizante aprovado no ano passado age contra protozoário pouco comum no Brasil

Luta para a erradicação da malária no Brasil

Com exceção do Rio Grande do Sul, a malária esteve presentepokermastertodos os Estados brasileiros até o início das primeiras campanhapokermastererradicação,pokermaster1960, que visavam essencialmente o controlepokermastermosquito.

"Agíamos com o veneno, borrifando nas casas, e com esse controle dos mosquitos, ficou restrita à região amazônica, onde o controle é difícil por umidade e temperatura alta. No Sul e Sudeste, por exemplo, quando tem o inverno, você tem um controle natural do mosquito. Já a região amazônica não tem inverno bem definido e há muita umidade", aponta Lacerda.

Hoje, usam-se mosquiteiros impregnados com inseticida e há a tentativa constantepokermasterrealizar o diagnostico e tratamento precoce para quebrar o ciclo da doença. Como o ciclopokermastervida do mosquito épokermasterum mês, se todos os que estiverem infectados morrerem, não há mais transmissão.

"A maior dificuldade é que as pessoas migram, viajam. Hoje o objetivo não é acabar com os mosquitos, mas sim com aqueles que têm o parasita. E isso é possível,pokermasterteoria, com tratamento precoce."

Como é feito o diagnóstico da malária?

O diagnóstico da malária é feito pela observação dos parasitas no sangue. O método mais utilizado é a microscopiapokermastergota espessapokermastersangue.

Quais são os medicamentos usados para o tratamentopokermastermalária no Brasil?

Pelo baixo riscopokermasteros infectados morrerem, o Ministério da Saúde e as sociedades brasileiraspokermasterInfectologia epokermasterMedicina Tropical não recomendam o usopokermastermedicamentos preventivos.

Quando usadaspokermasterforma correta, as medicações têm alta taxapokermastercura. Elas são gratuitas e estão disponíveis nos centrospokermasterreferência da doença epokermasteralguns postospokermastersaúde nos municípios onde o númeropokermastercasos é alto.

"O tratamento da malária no Brasil, quando causada pelo Plasmodium vivax, que é a maioria dos casos, envolve a combinaçãopokermasterdois antimaláricos, primaquina e cloroquina — que já não é usadapokermasterpaíses africanos por causa da resistência adquirida pelos parasistas" explica Luiz Carlos Dias, professor do InstitutopokermasterQuímica da Unicamp (Universidade EstadualpokermasterCampinas) e colaborador da organização da MMV (Medicines for Malaria Venture).

Há, ainda, um outro medicamento, chamadopokermasterKozenis, o qual o professor classifica como o mais revolucionário para tratar a malária causada pelo parasita mais comum no Brasil.

"O tratamento envolve dose única que elimina o parasita Plasmodium vivax e previne recaídas. Essa droga pode ajudar muito na adesão dos pacientes ao tratamento, que seria um passo enorme nos esforçospokermastercontrole e eliminação da malária. A tafenoquina (substância do remédio) não combate a malária causada pelo Plasmodium falciparum e só é recomendada para pessoas acimapokermaster16 anos ou mais, alémpokermasterser necessário um teste rápido para verificar a deficiência da enzima Glicose-6-Fosfato Desidrogenase, que determina a aptidão do paciente para o tratamento."

Existe vacina para malária, mas ela não é tão útil para os brasileiros

A aprovação da primeira vacina da história contra a malária, chamadapokermastermosquirix, foi dada pela OMS (Organização MundialpokermasterSaúde)pokermasteroutubropokermaster2021, após 34 anospokermasterdesenvolvimento. Ela combatepokermasterforma eficiente o parasita mais letal da doença, o Plasmodium falciparum — que é raro no Brasil, onde a vacina não será assim tão útil, apesarpokermasterser um grande marco para a ciência.

Há, ainda uma outra candidatapokermasterdesenvolvimento. Trata-se da vacina R21, que funcionapokermasterforma semelhante àquela que já existe:pokermasterplataforma envolve o usopokermasterum fragmento da proteína do Plasmodium falciparumpokermasteruma proteína da hepatite B para estimular o sistema imunológico.

"A tecnologia da R21 é mais eficiente e parece fornecer uma resposta mais robusta contra o Plasmodium falciparum. Para saber se haverá proteção cruzada e apresentar eficácia também contra o Plasmodium vivax, precisamos esperar os resultadospokermastereficácia e segurançapokermasterfase 3 envolvendo as cercapokermaster5 mil pessoas sendo realizadospokermasterBurquina Fasso, no Quênia,pokermasterMali e na Tanzânia", aponta Dias.

Desafios para desenvolvimentopokermastermedicamentos e vacinas contra a malária

Para o professor Luiz Carlos Dias, são muitos os desafios que explicam por que a primeira vacina demorou maispokermastertrês décadas para ser aprovada.

"Compromisso político, apoio e investimentopokermasterpesquisas, mas também temos enormes desafios científicos e tecnológicos", aponta.

Um deles é o fatopokermasterque doença afeta populações vulneráveispokermasterpaísespokermasterrenda mais baixa e, por isso, não atrai investimento nem interesse por partepokermastergrandes farmacêuticas.

Outro obstáculo diz respeito aos estágiospokermastervida dos diferentes parasitas Plasmodium no corpo humano, que são complexos.

"Quando a fêmea do mosquito pica uma pessoa e se alimenta do sangue humano, os parasitas do Plasmodium presentes na saliva do mosquito podem ser transferidos para a corrente sanguínea da pessoa sendo picada. Em poucos minutos, esses parasitas saem da corrente sanguínea, se instalam no fígado, iniciam um processopokermasterreprodução, voltam ao sangue e infectam os glóbulos vermelhos, causando seu rompimento."

"É preciso saberpokermasterque momento as vacinas devem induzir uma respostapokermasterproteção, o que traz enormes desafios, pois uma candidata vacinal pode não funcionarpokermastertodos os estágiospokermastervida do parasita", explica o professor da Unicamp.

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