Por que especialistas estimam vacinas anuais contra a covid:melhores sites futebol
O imunologista e vacinologista, Herbert Guedes, professor da Universidade Federal do Riomelhores sites futebolJaneiro (UFRJ) e pesquisador da Fiocruz, explicoumelhores sites futebolentrevista à BBC News Brasil que as respostas para todas essas dúvidas passam basicamente por dois aspectos sobre os quais o mundo ainda tem grandes dúvidas: se o vírus vai passar por mutações a pontomelhores sites futebolescapar das vacinas e anticorpos e se a defesa do nosso corpo vai cair ao longo do tempo, necessitando assimmelhores sites futebolreforços a cada um ou dois anos, por exemplo.
Apesar das incertezas e da faltamelhores sites futeboldiversas informações cruciais sobre o coronavírus, para Guedes e outros dois especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o cenário atual tende à necessidademelhores sites futebolnovas doses nos próximos anos. "A gente tem que ter consciência que a gente vai ter que conviver com o vírus por um tempo."
Mesmo com a percepção comummelhores sites futebolque a pandemia está se aproximando do fim, com diversos países suspendendo completamente as medidasmelhores sites futebolrestrição, é importante lembrar que a covid-19 ainda mata maismelhores sites futebol1.200 pessoas por dia no Brasil, e esse número cresce a cada dia. Até agora, morreram maismelhores sites futebol635 mil pessoas no paísmelhores sites futebolrazão da pandemia.
Por que a vacinação da covid poderia ser anual?
A resposta a essa pergunta passa por 4 aspectos: imunidade/memória, variantes, logística e sazonalidade. Mas principalmente os dois primeiros.
1. Em quanto tempo a imunidade cai e precisamosmelhores sites futebolmais dosesmelhores sites futebolvacina?
Quando o corpo humano é invadido por um vírus ou uma bactéria, por exemplo, nosso sistema imunológico se defende com duas respostas principais: a resposta imune inata (a célula percebe que foi infectada e dispara sinaismelhores sites futebolalerta) e a resposta imune adaptativa (com capacidademelhores sites futebolgerar memória imunológica, como os linfócitos chamadosmelhores sites futebolcélulas T e células B).
No momento da invasão, o nosso sistema imunológico armazena uma espéciemelhores sites futebol"ficha técnica" com informaçõesmelhores sites futebolcomo combater esses agentes infecciosos. Esse é o objetivo primordial da vacina: gerar célulasmelhores sites futebolmemória a fimmelhores sites futebolcombater o invasor quando este surgir.
Vale lembrar que as vacinas atuais contra a covid-19 são eficazesmelhores sites futebolcombater a forma grave da doença, e não a infecção. Ou seja, ajudam muito mais o corpo a evitar hospitalizações e mortes do que contrair o vírus.
Só que essa memória não dura para "sempre"melhores sites futebolrelação a todos os agentes infecciosos. E no caso da covid-19, o corpo vai "perdendo" o acesso a essa memóriamelhores sites futeboluma forma aparentemente rápida, ficando mais vulnerável ao longo do tempo. Mas quanto? Não se sabe ao certo.
O virologista Fernando Spilki, professor e coordenador da rede Corona-ômica.BR/MCTI (que monitora o crescimento das principais variantes do vírus no país), explica à BBC News Brasil que "há alguns indíciosmelhores sites futebolque você teria pelo menos 9 meses, medindo anticorpos, mas isso não quer necessariamente dizer que não vá ter proteção clínica do pontomelhores sites futebolvista da imunidade celular".
Há estudos que apontam a possibilidademelhores sites futebola imunidade não durar um ano, mas ainda não há certeza sobre isso. O Centromelhores sites futebolPrevenção e Controlemelhores sites futebolDoenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo, divulgou recentemente que a proteção dada pela terceira dose (booster) contra a covid-19 grave não dura mais do que quatro meses, o que sugere a necessidademelhores sites futebolse aplicar uma quarta dose.
Além disso, o avanço da pandemia tem levado a mudanças na estratégia da aplicaçãomelhores sites futebolvacinas. Inicialmente, a terceira dosemelhores sites futebolreforço era para ser administrada seis meses após a segunda dose, mas o surgimento das variantes levou autoridades a anteciparem o intervalomelhores sites futebolaplicação para quatro meses a fimmelhores sites futebolaumentar a resposta imune das pessoas e tentar garantir a proteção.
"Quando se aplica a terceira dose, você aumenta a resposta imune do indivíduo. Então, aumenta a respostamelhores sites futebolanticorpos e aumenta a celular (aumenta as células T e Bmelhores sites futebolmemória)", explica Guedes. Ou seja, a terceira dose teve a capacidademelhores sites futebolaumentar os níveismelhores sites futebolanticorpos neutralizantes, que são anticorpos que vão neutralizar regiões que não estão aumentando tanto com a chegada do invasor.
E o que falta então para sabermos quanto tempo realmente dura a capacidade do corpomelhores sites futebolcombater o coronavírus?
Atualmente, o principal indicador utilizado é a taxamelhores sites futebolhospitalizados e mortos entre os vacinados (e há quanto tempo eles foram imunizados).
Mas Spilki explica que um dos desafios da covid-19 é a ausênciamelhores sites futebolmarcadores exatos. "Nós ainda não temos o que chamamosmelhores sites futebolcorrelatomelhores sites futebolproteção. Quantomelhores sites futebolanticorpos preciso ter para estar protegidomelhores sites futeboluma infecção mais grave? Quantomelhores sites futebolanticorpos preciso ter para evitar a multiplicação do vírus e não transmiti-lo? Quantomelhores sites futebolresposta imune celular preciso ter para me protegermelhores sites futeboluma infecção mais grave?"
Ele esclarece que isso se dá porque acabamosmelhores sites futeboldescobrir a doença.
"Isso é uma coisa que leva bastante tempo mesmo para a gente conseguir determinar. No momentomelhores sites futebolque tivermos isso bem definido, esses marcadoresmelhores sites futebollaboratório, vai ficar ainda mais fácil, porque vai poder se analisar soro, sanguemelhores sites futebolpessoasmelhores sites futebolgeral e determinar: precisamos dar uma renovada na vacinação, precisamos ir adiante."
2. Haverá variantes com mutações significativas a pontomelhores sites futebol'driblar' nossa imunidade?
O influenza é um vírusmelhores sites futebolconstante mudança. E não émelhores sites futebolhoje: há registromelhores sites futebolmutação dele na décadamelhores sites futebol1950, por exemplo. O coronavírus, assim como o influenza, especialmente após o descobrimento da variante ômicron, trouxe dúvidas e comparações devido amelhores sites futebolquantidademelhores sites futebolmutações que facilitam a adesão às células humanas para invadi-las e possuem comportamento similar se analisarmos por essa perspectiva.
Spilki explica ainda que o vírus da gripe (influenza) tem um genoma segmentado (divididomelhores sites futebolpartes), o que propicia uma evolução mais rápida. "Ele não depende apenasmelhores sites futebolmutação, o genoma também faz mutação, também tem alterações na sequênciamelhores sites futebolletrinhas do RNA. (...) Ele também consegue se misturarmelhores sites futeboldiferentes espécies ao longo do tempo, o que é uma vantagem evolutiva".
No caso da gripe, a imunização acontece nos meses que antecedem o inverno, estaçãomelhores sites futebolque o númeromelhores sites futebolcasosmelhores sites futebolinfluenza costuma subir (por diversos motivos, entre eles mais aglomeraçõesmelhores sites futebollugares fechados). A vacina é aplicada sazonalmente porque o vírus da gripe muda continuamente.
Renato Mancini Astray, pesquisador científico do Instituto Butantan, explicoumelhores sites futebolentrevista à BBC News Brasil que as mutações do influenza são imprevisíveis, "por isso que é sempre uma surpresa, sempre uma expectativa para saber qual é a cepa que vai circular no ano seguinte, no ano corrente da fabricação das vacinas".
Quem recomenda as cepas da vacina da gripe sazonal é a Organização Mundial da Saúde (OMS) que, a partirmelhores sites futeboluma hipótese baseadamelhores sites futeboldados epidemiológicos das cepas que estãomelhores sites futebolcirculação, e do desempenhomelhores sites futebolcepas anteriores, seleciona geralmente três principais cepas para a próxima estação.
"Para o vírus que virá no próximo ano, ela [a vacina atual] não é uma vacina que vai proteger completamente, porque as mutações que o influenza sofre fazem com que ele escape um pouco da resposta imunológica", explica Astray, do Butantan.
Guedes, da Fiocruz, afirma que a atualização da vacinamelhores sites futebolinfluenza ocorre, então, tanto por causa das mutações quanto para aumentar a resposta imune anualmente.
Mas como aparecem essas mudanças e mutações no vírus? Bom, todo ciclomelhores sites futebolreplicação do vírus influenza pode passar por mutações, e nesse caso pode ocorrer a "deriva antigênica", que é como se fosse uma "estratégia" do vírus para mudarmelhores sites futebolestrutura, e com isso escapar do nosso sistema imunológico (isso tudomelhores sites futebolforma aleatória, e não planejada pelo vírus). Então precisamosmelhores sites futebolnovos anticorpos e vacinas para se proteger.
E o coronavírus Sars-CoV-2, que causa a doença covid-19?
Por questões evolutivas, Spilki não aposta na possibilidademelhores sites futebolatualização do coronavírus na mesma velocidade que se dá com o vírus influenza a pontomelhores sites futebolobrigar a atualização anual da vacina. "Mas nós teremos necessidade ao longo do tempomelhores sites futebolir renovando vacinas", ressalta.
Astray, do Butantan, afirma que a variante ômicron já escapou bastante da resposta imune mediada por anticorpos, fazendo com que eles não sejam mais tão eficazes para bloquear a infecção, mas, graças às vacinas atuais, o sistemamelhores sites futeboldefesa do corpo ainda se mostra eficaz para diminuir a gravidade da doença, só que essa taxa vem caindo.
"Foi o que aconteceu, por exemplo, quando entraram as variantes. A gente tinha então vacinas que tinham uma eficácia, por exemplo, na segunda dosemelhores sites futebol86%, 90% contra sinais clínicos. Entraram as variantes e a gente começou a ver essa eficácia baixar para próximomelhores sites futebol70%, 60%. Esse tipomelhores sites futebolsinal populacional já indica que você precisa dar uma reforçada nessa memória", diz Spilki.
A princípio, as variantes (novas versões do coronavírus com mudanças genéticas consolidadas) têm bastante semelhança entre si, a pontomelhores sites futebolnão afetarem tanto a eficácia da vacina. Mas não é possível prever quanto o coronavírus ainda vai sofrer mutações, emelhores sites futebolque medida elas serão capazesmelhores sites futeboldriblar nosso sistema imunológico.
Mesmo com todas essas incertezas, Guedes, Astray e Spilki estimam, com base nas parcas informações disponíveis, que a população será imunizada anualmente por algum tempo ainda.
"Na minha opinião, o que se espera chegar? Seriam doses anuais, o que se espera, atualizando frente aquilo que circulou. Como se faz com o influenza. Vai atualizando para garantir essa proteção. Agora, se vai ser um ano, se vai ser 6 meses, não tem como a gente saber, depende muito. A dinâmica ainda está acontecendo. E por que a gente pensa sempremelhores sites futebolanual? Porque passaram as estações, inverno, verão, passa pelo ciclo sazonal e aí, passado esse período, vamos vacinar com os vírus que transitaram para garantir a proteção", diz Guedes.
Para Spilki, é provável atualizar as vacinas com as mutações gerais, como ômicron, e outros alvos, para tentar bloquear também a infecção, e não "só" a forma grave da doença. Ele estima que a aplicação das vacinas deve avançar para doses anuais, e não menos que isso para todas as faixas etárias, também por questões logísticas.
Na opiniãomelhores sites futebolAstray, o cenário mais provável é "que a gente vai ter uma indicaçãomelhores sites futeboluso, um reforço anual, ou bianual, a cada dois anos, ou ainda uma questãomelhores sites futebolreforçomelhores sites futebolcampanha, se começarem a aparecer muitos casos, masmelhores sites futeboluma população vulnerável".
Ele estima que a imunização primária contra a doença deve ocorrer na pré-adolescência, "para todo mundo ficar protegido e diminuir a circulação da doença", mas a "questão do reforço deve acabar sendo mais predominante para os gruposmelhores sites futebolrisco''.
Não está claro, ressaltam os especialistas, como seria esse esquema vacinal, ou seja, quantas doses seriam aplicadasmelhores sites futebolcada um desses grupos. E por quanto tempo.
"Se nós formos continuar a conviver com o vírus, então a vacinação também irá continuar. Ora para aumentar a resposta imune, ora para atualizar a vacina contra novas variantes", diz Guedes.
Como serão as novas vacinas?
O Sistemamelhores sites futebolSaúde Britânico (NHS) explica que o principal ingredientemelhores sites futebolqualquer vacina é uma pequena quantidademelhores sites futebolbactéria, vírus ou toxina que foi enfraquecida (vacina viva) e destruída (vacina morta) primeiromelhores sites futebollaboratório.
A vacina contra o influenza, por exemplo, é feita com ovos embrionadosmelhores sites futebolgalinhas, onde o vírus será multiplicado. Esses ovos são incubados por cercamelhores sites futebol3 dias e o líquido que envolve o embrião é retirado, centrifugado, concentrado, fragmentado e inativado. É esse líquido, portanto, que se torna a suspensão da vacinamelhores sites futeboluma cepa do vírus. Para a vacina trivalente (contra três tipos), é necessário unir e misturar as três suspensõesmelhores sites futebolcada vacina monovalente.
As vacinas contra o coronavírus usam diversas técnicas, como vírus inativado, vírus atenuado, mistura com outros vírus e até pedaços do genoma do vírus (RNA), como a proteína spike (usada para invadir a célula humana).
Cada vacina possui seu esquema vacinal, definido após testes que indicam a formulação e intervalo entre as doses, além do momentomelhores sites futebolque elas serão administradas. Os testesmelhores sites futebollaboratório é que irão definir as doses, as quais serão colocadas à prova nas primeiras fases dos ensaios clínicos e a dosagem será testada e regulada, ajustada.
Normalmente, o processomelhores sites futeboldesenvolvimentomelhores sites futeboluma vacina pode levar cercamelhores sites futebol10, 15 anos ou mais, pois costuma trilhar um caminho muito definido, com etapas estabelecidas. Só o planejamento costuma levarmelhores sites futebol6 meses a 1 ano para ser feito. Pausas, testes e verificações estão presentes. Os aspectos regulatórios para desenvolvimentomelhores sites futeboluma vacina, que são as exigências para a liberação, podem levar anos para serem concluídos.
Mas a emergência da pandemiamelhores sites futebolcovid-19 fez com que esses prazos fossem todos acelerados. Especialistas e autoridades médicas ao redor do mundo garantem, com basesmelhores sites futeboltestesmelhores sites futebolmilharesmelhores sites futebolvoluntários e avaliação e acompanhamentomelhores sites futeboloutros milharesmelhores sites futebolpessoas vacinadas, que os procedimentosmelhores sites futebolsegurança e eficácia foram preservados.
"A vacina é um produto farmacêutico muito controlado, muito vigiado, estudado ao máximo, porque você toma uma vacina quando você está saudável e não é algo que você toma já estando doente. O rigor para você colocar uma vacina no mercado, todas as agências sanitárias, os médicos que são responsáveis pela segurança dessas preparações", explica Astray.
Com o avanço da pandemia, as vacinas podem acabar precisando ser atualizadas. Ou seja, a nova forma do vírus é estudada e isolada pelos cientistas e a vacina, reconstituída. Mas isso não significa que o processomelhores sites futebolprodução comece todo da estaca zero. Laboratórios têm estimado que isso durariamelhores sites futeboltornomelhores sites futebolseis meses.
E não se trata apenasmelhores sites futebolatualizaçõesmelhores sites futebolrelações às variantes, com objetivomelhores sites futeboltorná-las mais eficazesmelhores sites futebolreconhecer e combater as novas versões do coronavírus. Há também tecnologias diferentes que podem ser utilizadas.
No Reino Unido, a vacina da gripe intranasal (em spray inalável) já é distribuída para os alunos da rede públicamelhores sites futebolensino, por exemplo. E isso pode acontecer também com o coronavírus, ajudando a combater o coronavírus emmelhores sites futebolprincipal portamelhores sites futebolentrada (emelhores sites futebolsaída): as vias aéreas superiores.
Isso porque muitas das vacinas injetáveis contra a covid-19 geram menos anticorpos nessa região, principalmente no caso da variante ômicron.
Há maismelhores sites futeboluma dezenamelhores sites futebolvacinas inaláveis contra a covid-19, aindamelhores sites futebolfasemelhores sites futebolestudos. Estima-se que essa formamelhores sites futebolimunização teria um papel fundamental para ajudar a evitar não só que as pessoas fiquem gravemente doentes, mas, antes disso, que sejam infectadas e contaminem outras pessoas. A vacina inalável também é considerada mais fácilmelhores sites futebolser distribuída para uma grande parcela da população, porque demanda menos tempo e técnica.
"(Vacinas nasais) são a única maneiramelhores sites futebolrealmente evitar a transmissãomelhores sites futeboluma pessoa para outra", disse Jennifer Gommerman, imunologista da Universidademelhores sites futebolToronto (Canadá),melhores sites futebolentrevista ao jornal The New York Times.
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