O que sabemos sobre São José, o paifreebet rulesJesus — e as dúvidas a respeitofreebet rulessua biografia:freebet rules

Crédito, Domínio público

Legenda da foto, José idoso na época do nascimentofreebet rulesJesus,freebet rulesquadrofreebet rulesJean Bourdichon

"Juntando tudo isso temos alguma informação a respeito da pessoafreebet rulesJosé."

Ele constata, entretanto, que se tratafreebet rulesuma pessoa "bastante controvertida", já que mesmo os textos canônicos — aqueles relatos que integram a bíblia contemporânea — apresentam algumas discrepâncias nas poucas informações a respeito da figura paterna humana da criaçãofreebet rulesJesus.

"Na bíblia ele é sempre apresentado como um homem justo, essa é a expressão recorrente", diz o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregorianafreebet rulesRoma e vice-diretor do Lay Centrefreebet rulesRoma.

De acordo com as escrituras, Maria era uma moça virgem prometidafreebet rulescasamento a ele. Quando ele percebe que Maria estava grávida, conclui que éfreebet rulesoutro homem e, para não expô-la para a sociedade, planeja deixá-lafreebet rulessegredo.

"Em sonho, e isso é uma característica fortefreebet rulesSão José, o anjo explica a ele que Maria está grávida do Espírito Santo. Ele aceita essa situação e, consequentemente, aceita o papelfreebet rulespai adotivofreebet rulesJesus", contextualiza Domingues.

O vaticanista explica que essa construção da imagemfreebet rulesJosé é a tônica:freebet rulesum homem forte, quefreebet rulessonho ouvia a vozfreebet rulesDeus.

"E ele não fala, não tem falafreebet rulesJosé na bíblia, mas apenas fala sobre ele. Portanto, pode ser considerado um homem silencioso, sereno, introspectivo", analisa.

"Era uma pessoafreebet rulesouvir e agir,freebet rulesação."

Doutor pela Universidade Estadualfreebet rulesCampinas (Unicamp) e pesquisador da Universidade Federalfreebet rulesSão Paulo (Unifesp), o estudiosofreebet rulesnarrativas e documentos sobre santos Thiago Maerki pontua que "sabemos pouco sobre São José porque os evangelhos oficiais nos apresentam poucos momentos da vida dele".

"José viveufreebet rulesNazaré, na Galileia. Os evangelhos se referem a ele aclamando-o como 'homem justo' escolhido por Deus para ser o pai amorosofreebet rulesseu filho Jesus, ao casar-se com Maria", resume o pesquisador e estudioso da vidafreebet rulessantos José Luís Lira, fundador da Academia Brasileirafreebet rulesHagiologia e professor da Universidade Estadual Vale do Aracaú, do Ceará.

"José passou pela provação da gravidezfreebet rulesMaria,freebet rulesquem ele era noivo, mas não era o pai do filho dela", pontua Lira.

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Legenda da foto, José mostrando seu trabalho a Jesus,freebet rulesquadrofreebet rulesGeorgesfreebet rulesLa Tour

111 anos, muita saúde, todos os dentes na boca

Se faltam palavras a respeitofreebet rulesJosé nos chamados textos canônicos, há informações importantes que pesquisadores coletaram nos chamados textos apócrifos, relatos sobre o períodofreebet rulesJesus que foram redigidos nos primeiros séculos da era comum e acabaram não sendo reconhecidos como basilares do cristianismo.

O mais completo e importante desses relatos é o texto chamadofreebet rulesHistóriafreebet rulesJosé, o Carpinteiro, possivelmente escrito entre os séculos 6 e 7.

Ali, esse trabalhador nazareno é apresentado como uma figura mais velha, um homem viúvo já paifreebet rulesalgumas crianças.

Maria, ainda menina, é encarregadafreebet rulesajudá-lo a cuidar dos filhos. Nesse sentido, quando ela atingisse a idadefreebet rules14 anos e meio, eles deveriam se casar.

E é nesse contexto que Maria engravidafreebet rulesJesus e toda a narrativa cristã se principia.

Um dos aspectos mais curiosos desse texto é que, nele, a mortefreebet rulesJosé é descrita — quando ele tinha impressionantes 111 anos.

"E o texto ressalta que ele tinha uma ótima saúde, com todos os dentes intactos e tendo trabalhado até seu último diafreebet rulesvida, o que mostra certo vigor apesar da idade avançada", pontua Maerki.

Sobre a morte, aliás, o relato apócrifo recupera essa ideiafreebet rulesum homem que era sempre avisado e orientado pela voz divina.

"Ele teria sido avisado por um anjo da morte", diz o pesquisador.

"Muito provavelmente isso não tem nenhum fundamento", admite Moraes.

"Mas ajuda a consolidar uma sériefreebet rulescoisas. É um textofreebet rulespelo menos 1,4 mil anos sobre uma figura controvertida, que é José, sobre quem os evangelhos não dizem muito. Pela tradição, até para preservar o dogma da virgindadefreebet rulesMaria, faz sentido montar a cenafreebet rulesuma jovenzinha com um sujeito muito mais velho."

"A última vez que a bíblia fala a respeitofreebet rulesSão José é no episódio do encontrofreebet rulesJesus no templo, quando ele tinha 12 anosfreebet rulesidade", assinala Lira.

"Quando Jesus iniciafreebet rulesvida pública, com maisfreebet rules30 anos, não se fala maisfreebet rulesJosé. Numa das pregaçõesfreebet rulesJesus anunciam quefreebet rulesmãe ali estava, mas não José. E no momento da crucificação fica claro que Maria era viúva e Jesus a confia a João, evangelista, que dela cuidou daquele diafreebet rulesdiante."

"Isto posto, não se pode afirmar quando ele morreu", conclui o hagiólogo.

Para Lira, "a fonte mais segura" sobre a biografiafreebet rulesJosé é o pouco que está escrito nos evangelhos.

"Existem outras fontes como os apócrifos, com destaque para a Históriafreebet rulesJosé, o Carpinteiro, escritofreebet rulescopta entre os séculos 6 e 7", lembra.

O pesquisador, contudo, acredita que o documento seja um relatofreebet rules"duvidosa veracidade", enfatizando que a "própria língua copta surgiu no Egito no século 3, muito depois, portanto, da passagemfreebet rulesJosé na Terra".

"Eu diria que [o livro apócrifo] é um romance. Muitos foram os escritosfreebet rulessantos, teólogos, historiadores, mas nenhuma fonte é mais segura do que os evangelhos", analisa.

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Legenda da foto, Teria sido José realmente carpinteiro?

Profissão

Dentro da construçãofreebet rulesJosé no imaginário contemporâneo, um elemento que se faz presente é o aspecto profissional. José era o carpinteiro.

Jesus era o filho do carpinteiro. José era o trabalhador dedicado e Jesus teria aprendido o ofício com o pai, tendo-o praticado até o iníciofreebet rulessua missão evangelizadora.

Essa narrativa parte dos textos bíblicos, a partir das traduções consolidadas, e é carregadafreebet ruleselementos da tradição.

Moraes observa que o termo utilizado para descrever José nos textos gregos antigos, contudo, não deixam claro o ofício exato praticado por ele.

"É uma palavra meio genérica, no mundo antigo, para significar artesão ou qualquer profissãofreebet rulestrabalho braçal. O que ele fazia especificamente é muito difícil dizer", comenta o professor.

"A tradição optou por chamá-lofreebet rulescarpinteiro. Pode ter sido? Pode, mas pode ter sido qualquer trabalhador braçal. Era um fabricante, um artesão, um técnico que fazia alguma coisa. Tanto que depoisfreebet rulesimagem fica vinculada ao trabalho, sendo ele reconhecido como patrono dos trabalhadores na tradição católica", completa ele.

"[O termo carpinteiro] é da tradução. O que a gente sabe é que ele fazia trabalhos manuais", contextualiza Domingues.

"Aí há a discussão: se ele tinha um negócio próprio, então eles não eram tão pobres assim. É, pode ser que não. Mas, por outro lado, eramfreebet rulesNazaré. Que era e até hoje é uma cidade marginalizada, não era o centro da história toda."

A ideiafreebet rulesum homem mais velho

Domingues conta que são tradições cristãs orientais, como a Igreja Ortodoxa, que consolidaram a ideiafreebet rulesque José já era viúvo quando se casou com Maria.

"A Igreja Ortodoxa aceita que ele tenha tido um casamento antes. Porque,freebet rulesfato, seria muito estranho um homem mais velho ainda não ter se casado. Por essa narrativa, ele teria tido filhos antes e, nesse sentido, Jesus poderia ter irmãos, mantendo a virgindadefreebet rulesMaria", afirma.

O vaticanista ressalta, contudo, que para a Igreja Católica a narrativa é "simplesmente que José se casou com Maria" sem nada, nos textos, que diga "que ele era um homem velho".

"Criou-se uma tradição. Por muitos anos ele foi apresentado como um homem mais velho. Talvez pela sabedoria, por conseguir ouvir a voz do espírito, por ser uma pessoa tranquila que já viveu muito da vida."

"Não há nada explícito nesse sentido, mas uma tradição que se criou. Na época era normal que o homem fosse um pouco mais velho, mas essa visãofreebet rulesque ele era muito mais velho, enfim, faz partefreebet rulestodas essas lendas e tradições posteriores. Que, importante dizer: não mudam a essência do que José representa para a Igreja", comenta Domingues.

Lira concorda que não exista, "concretamente, qualquer registro da idadefreebet rulesJosé oufreebet rulesMaria, pelo menos biblicamente falando".

"Uma comparação é feita pela idadefreebet rulesque comumente se considera que as pessoas casavam naquela época, mas não é uma regra absoluta, por isso não considero tais idades", argumenta.

"Essa 'velhice'freebet rulesJosé se propagou, principalmente, para mostrar que ele teria respeitado a virgindadefreebet rulesMaria. Mas, eu, particularmente, creio que tudo foi obra do Espírito Santo, e José poderia ser jovem ou velho e mesmo assim respeitaria e honraria a missão que lhe foi confiadafreebet rulescuidar da mãe do filhofreebet rulesDeus e do próprio filhofreebet rulesDeus, a quem ele, José, deu nome: Jesus", afirma o hagiólogo.

Maerki credita à tradição essa construção da imagemfreebet rulesJosé como um ancião.

"É uma ideia baseada nos livros apócrifos como uma tentativafreebet rulesmostrar que José, por ser idoso, não teriafreebet rulesfato tido relações sexuais com Maria e não era o pai carnalfreebet rulesJesus. Foi uma construção ideológica dos evangelhos apócrifos", defende ele.

"Essa concepção acabou muito difundida pela arte religiosa, pela escultura, pelo teatro, pela pintura. E se propagou. Enraizou-se no cristianismo por meio da arte e acabou defendida por grandes teólogos expoentes do cristianismo", explica Maerki.

Quando a questão esbarra na questãofreebet rulesum casamento celibatário ou não, contudo, o dogma católico da virgindade perpétuafreebet rulesMaria acaba sendo um entrave a mais para qualquer discussão.

Na própria bíblia há passagens mencionando irmãosfreebet rulesJesus. Várias leituras são feitas, conforme o viés interpretativo e conforme a denominação religiosafreebet rulesquem promove tal interpretação.

O catolicismo, que defende Jesus como filho único, entende a questão como reflexãofreebet rulestradução, defendendo quefreebet rulesidiomas orientais antigos seria a mesma palavra para designar irmão e primo, por exemplo.

"A origem dessa polêmica pode ser uma questãofreebet rulestradução da bíblia a partir dos idiomas primitivos", ressalta Maerki.

"No aramaico [falado por Jesus] não havia uma palavra específica para designar primos, isso é comprovado."

Há ainda a ideia, aceita por vertentes protestantes,freebet rulesMaria tendo outros filhos com José depois do nascimentofreebet rulesJesus.

"O protestante não tem nenhum problema com o fatofreebet rulesela ter continuado comfreebet rulesvida", afirma Moraes.

"O protestante acredita que Jesus é filho do Espírito Santo, que foi gerado nela como obra do Espírito Santo e que José não participa desse processo. Mas, depoisfreebet rulesnascido Jesus, ela continuou afreebet rulesvida conjugal com seu esposo e, juntos, tiveram filhos e filhas sem nenhum problema", explica.

"Para os católicos, a coisa não é assim porque existe o dogma da virgindadefreebet rulesMaria, como uma mulher que nunca foi tocada por homem algum, manteve-se virgem mesmo vivendo com José."

Em meio a tantas controvérsias, uma passagem do evangelhofreebet rulesJoão suscita uma outra polêmica.

"É quando, no capítulo 8, a questão da paternidadefreebet rulesJesus é trazida à tona, com judeus dizendo para Jesus: 'Não somos bastardos, temos um pai que é Deus'", diz o teólogo.

"Alguns intérpretes entendem algo como 'não somos bastardos, enquanto você, Jesus, é'."

"Ou seja, por essa leitura, Jesus teria sido filhofreebet rulesprostituição e a mãe dele saiu com essa conversafreebet rulesque tinha sido gerado pelo Espírito Santo. Pode significar que, na virada do primeiro século [quando o evangelhofreebet rulesJoão teria sido escrito], o judaísmo já não engolia isso [de Jesus como filhofreebet rulesDeus]", afirma ele.

"São interpretações polêmicas que também mostram conflitos a respeito da paternidadefreebet rulesJesus", completa.

"José é uma figura extremamente controvertida."

Mensagem

O vaticanista Filipe Domingues ressalta que a importância da hagiografiafreebet rulesJosé se baseia na mensagem.

"Jesus nasceufreebet rulesum contextofreebet rulesfamília. Ele tinha um pai, uma mãe e foi criada por uma família com um modelofreebet rulesmasculinidade presente", diz.

"Na época, isso significava que ele teve alguém que lhe ensinou uma profissão e o amparofreebet rulesum pai protetor", pontua ele.

"A ideiafreebet rulesque Deus se encarnou como menino e nasceu no seiofreebet rulesuma família é muito importante."

Domingues ressalta que essa imagem incorpora então as característicasfreebet rulesJosé como "homem justo", "modelofreebet rulespai", "homem que protege", "homem que ensina".

Acabou se tornando um modelo cristãofreebet rulespaternidade.

"Não à toa, aqui na Itália o Dia dos Pais é o diafreebet rulesSão José [19freebet rulesmarço]", afirma ele.

"Tornou-se o modelo masculinofreebet rulessantidade, conforme a tradição do catolicismo."

Sua figura passou a ser venerada como afreebet rulesum santo deste os cristãos primitivos.

"No século 9º, essa devoção propriamente dita se incrementou", explica o hagiólogo Lira.

A data comemorativa, 19freebet rulesmarço, foi oficializada apenasfreebet rules1621, sob o papa Gregório 15 [(1554-1623)].

"Papa Pio 9º (1792-1878) proclamou-o 'patrono universal da Igreja'. E, ao longo da história, cada vez mais se teve adeptos àfreebet rulesdevoção", comenta Lira.

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