D. Maria 1ª: a rainha portuguesa que perdeu um filho ao recusar imunização:betmotion tips free
O continente europeu registrou uma médiabetmotion tips free400 mil mortes ao ano no século 18, e um terço dos sobreviventes ficava cego como sequela. Os pacientes também enfrentavam terríveis erupções cutâneas e desenvolviam pústulas que desfiguravam a pele.
O vírus circulou por milharesbetmotion tips freeanos, tempo suficiente para que culturas da Ásia e da África observassem que todos os sobreviventes se tornavam imunes a novas infecções.
Assim, a relação entre o contato com formas brandas dos agentes infecciosos e a criaçãobetmotion tips freedefesas no corpo fez surgir a variolação, ou inoculação, que consistiabetmotion tips freeusar o pus expelido por doentes e introduzirbetmotion tips freepessoas saudáveis.
Na China, triturava-se as crostas secas da pele dos infectados, e o pó era então soprado no nariz. São as predecessoras das atuais vacinas.
A variolação chegou à Europa no começo do século 18, através dos turcos, e ganhou força entre famílias reais no continente.
Uma aristocrata inglesa, Lady Montague, foi uma das grandes promotoras da técnica. Ela havia sido vítima da varíola, ficou com marcas profundas no rosto e buscou a inoculaçãobetmotion tips freeseus filhos quando viveubetmotion tips freeIstambulbetmotion tips free1718.
O riscobetmotion tips freemorte para quem se submetia à variolação erabetmotion tips freeaté 3%, segundo um artigobetmotion tips freeStefan Riedel, da Escolabetmotion tips freeMedicinabetmotion tips freeHarvard. Ainda assim, representava reduzirbetmotion tips freedez vezes a chancebetmotion tips freemorrer por contrair a doença.
"O métodobetmotion tips freevariolação era, sim, razoavelmente disseminado e aceito, mas não havia um consenso científico estabelecido. Era um método empírico, sem protocolos bem delineados. Estudosbetmotion tips freesegurança e eficácia começaram mais sistematicamente no começo do século 19 para a vacinação. Os atuais formatosbetmotion tips freetestesbetmotion tips freeeficácia começaram apenas no começo do século 20", diz Peter Schulz, professor da Faculdadebetmotion tips freeCiências Aplicadas da Unicamp e divulgador científico.
Foi nos últimos anos do século 18,betmotion tips free1796, que o inglês Edward Jenner produziria uma vacina contra a varíola: a primeira vacina da história.
A escritora e jornalista portuguesa Isabel Stilwell, autora do romance histórico D. Maria I: Uma Rainha Atormentada por um Segredo que a Levou à Loucura, conta que o rei inglês George 3º, "que tinha uma afeição particular pela rainha D. Maria 1ª e era um apologista fanático da variolação", fez um apelo para que inoculassem o príncipe D. José. Conselhos semelhantes vieram da corte austríaca.
D. Maria vetou o procedimento, relata Stilwell, "temendo os riscos e convencidabetmotion tips freeque nos países do sul (da Europa) a varíola era sempre mais benigna".
Religiosidade
Outro fator historicamente considerado na recusa da variolação foi a extrema religiosidadebetmotion tips freeD. Maria 1ª. Ela via o método como "contrário à vontadebetmotion tips freeDeus".
"A religiosidadebetmotion tips freeD. Maria é a religiosidadebetmotion tips freePortugal", diz a historiadora Mary del Priore, autorabetmotion tips freeD. Maria I: As Perdas e as Glórias da Rainha que Entrou para a História como 'A Louca'.
"Se você fechar os olhos e imaginar Lisboa no século 18, você vai encontrar uma cidade onde procissões percorriam as ruas diariamente, onde acreditava-sebetmotion tips freeaparições da Virgem Maria, do Menino Jesus. Onde acreditava-se que o demônio podia estar presente, que o demônio podia ter invadido um convento, um mosteiro. Essas crenças populares estavam muito vivas no final do século."
Del Priore diz que "Portugal, ao contrário dos países do norte da Europa e mesmo da França e Itália, era um reino profundamente comprometido com a Igreja Católica. Portugal vai cultivar mais a religião do que a ciência, dada abetmotion tips freepopulação rural, agrícola, dada a pobreza do reino".
Por outro lado, a historiadora lembra que foi sob o reinadobetmotion tips freeD. Maria que foram fundadas a Academia Real das Ciênciasbetmotion tips freeLisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte.
O espírito lusitanobetmotion tips freedevoção à época seria aproveitado politicamente.
"D. Maria percorre essas procissões com o povo, ela se mistura ao povo nas festas religiosas, ela foi realmente a rainha adorada pelo povo português", conta.
Isabel Stilwell credita a resistênciabetmotion tips freeD. Maria 1ª à variolação mais à "ansiedade crônica e à progressiva dificuldadebetmotion tips freetomar decisões", mas diz que "é verdade que (a rainha) sofria a influência da Priora da Estrela (freira carmelita ebetmotion tips freeconfidente), que tendia a desvalorizar os médicos".
Um primogênito esperado
O nascimentobetmotion tips freeD. José foi bastante aguardado. Promessas foram feitas para que nascesse um menino, como a construção da Basílica da Estrela,betmotion tips freeLisboa.
D. Maria era a mais velha entre 4 irmãs e, apesarbetmotion tips freeprevisto na lei real, havia diversas forças contrárias a uma mulher no comando do país.
Garantir um primogênito homem era, segundo Mary del Priore, "um passaporte para D. Maria não só garantir a descendência, o trono para a Casabetmotion tips freeBragança, mas também uma revanche pessoal com o desprezo pelo qual ela foi tratada pelo pai a vida toda".
José nasceubetmotion tips free1761, ganhou o títulobetmotion tips freePríncipe da Beira e entrava no caminho para se tornar algum dia reibetmotion tips freePortugal.
O próprio avô chegou a participarbetmotion tips freeuma trama liderada pelo Marquêsbetmotion tips freePombal para que o trono fosse passado direto para o neto, atropelando a linha sucessória, mas isso não se concretizou.
Quando tinha 27 anos, o herdeiro da coroa fez uma viagem à cidade portuguesabetmotion tips freeCaldas da Rainha.
Duas semanas depois, jábetmotion tips freevolta a Lisboa, fortes sintomas começaram a aparecer - febres, dores musculares, dificuldade para respirar e manchas vermelhas. No início pensava-se que era uma forma branda da varíola, mas o cenário logo se complicou.
Del Priore contabetmotion tips freeseu livro que "Maria passou a ficar no palácio, rezando. As oraçõesbetmotion tips freenada adiantaram. O jovem príncipe fechou os olhos no dia 11betmotion tips freesetembro, às quatro e meia da tarde, depoisbetmotion tips freese confessar e receber a extrema-unção".
Abalosbetmotion tips freesérie
A mortebetmotion tips freeD. José foi a primeirabetmotion tips freeuma sériebetmotion tips freeum curto intervalo que abalou profundamente a rainha. Dois anos antes, ela já havia perdido o marido (que também era seu tio) e companheiro fiel, D. Pedro 3º.
Menosbetmotion tips freedois meses depois do funeralbetmotion tips freeD. José, morria na Espanhabetmotion tips freefilha Mariana Vitória - tambémbetmotion tips freevaríola, aos 19 anos. Além dela, o genro e o neto sucumbiram à mesma doença no espaçobetmotion tips freesemanas - todos os eventos ocorrerambetmotion tips freenovembro. Em meados do mês seguinte falecia o rei da Espanha, Carlos 3º, seu primo e conselheiro político.
No mesmo período houve também a perda do padre confessorbetmotion tips freeD. Maria, visto como um pilarbetmotion tips freesua vida, o frei Ináciobetmotion tips freeSão Caetano.
Em três meses a monarca vivenciava seis lutos, quatro por varíola.
"A morte do filho vai ser realmente um dos muitos fatores que vai levar D. Maria à profunda depressão da qual ela será vítima. Não havia remédios na época, não havia diagnósticos sobre a melancolia que hoje chamamosbetmotion tips freedepressão. Não havia medicamentos", diz Del Priore.
Stilwell afirma que já havia sinais anteriores desse quadro: "Graças à publicação das cartas da Priora do Convento da Estrela para D. Maria, publicadas pela historiadora Alice Lázaro, ficamos a saber sem sombrabetmotion tips freedúvida que muito antesbetmotion tips freeter chegado ao trono ela já sofriabetmotion tips freeum estado mental delicado. Referem-se a ansiedade, pânico, tristeza e mesmo 'medobetmotion tips freeensandecer'".
Rumos da história mudam
Com a mortebetmotion tips freeJosé, o trono português iria para o filho João, futuro D. João 6º. O abalo mental que dominava a rainha antecipou a chegada dele ao poder, na décadabetmotion tips free1790, como regente. Dessa forma foi alterada substancialmente a históriabetmotion tips freePortugal e do Brasil: D. Pedro, filhobetmotion tips freeD. João, seria o primeiro imperador brasileiro.
As descrições sobre o estadobetmotion tips freeD. Maria nessa época passavam por "(a rainha) parece por vezes estar morta e não consegue ser animada" e "delírio constante". Um viajante inglês citava conversas "de natureza pouco casta".
A população começa a acreditar que a rainha havia sido envenenada.
D. Maria partiu com a família real para o Brasilbetmotion tips free1807. A fuga desbaratada com o avançobetmotion tips freeforçasbetmotion tips freeNapoleão Bonapartebetmotion tips freedireção a Lisboa teve uma passagembetmotion tips freefama anedótica protagonizada pela rainha. Ela teria dito ao cocheiro que seguia para o porto: "Não corram tanto. Vão pensar que estamos a fugir!". A corte chegou ao paísbetmotion tips free1808.
No Brasil,betmotion tips freedecisão consonante combetmotion tips freereligiosidade, a rainha se instala com seu séquito no Convento do Carmo, no Rio.
D. Maria é constantemente conduzida pelas suas damasbetmotion tips freecompanhia nos passeios pela cidade, fato ligado ao surgimento da expressão brasileira "maria-vai-com-as-outras".
Em marçobetmotion tips free1816, D. Maria 1ª morre no Brasil, aos 81 anos,betmotion tips freeconsequênciabetmotion tips free"extrema debilidade". Seus restos mortais foram abrigados depoisbetmotion tips freeum mausoléu na Basílica da Estrela, a igreja que mandou erguer.
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