Por que Aristóteles achava que temos uma geladeira na cabeça - e outras curiosidades sobre o cérebro:7 games email
Morgado, autor7 games emailmais7 games emailuma centena7 games emailtrabalhos7 games emailpsicobiologia e neurociência, expõe7 games emailMateria Gris tudo o que temos aprendido sobre o cérebro e a mente "e o muito que ainda temos a aprender".
Mas quanto sabemos realmente sobre o cérebro e por que ele segue sendo o órgão mais complexo e misterioso do corpo humano? Nesta entrevista à BBC News, o neurocientista dá algumas respostas.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - O sr. diz7 games emailseu livro que "o que hoje é conhecido por nós e nos parece normal, tempos atrás era desconhecido e misterioso". Por que nos custou tanto para compreender para que serve o nosso cérebro?
7 games email Ignacio Morgado - Essa coisa7 games emailque sabemos que pensamos com o cérebro é muito nova. Eu digo muitas vezes a meus alunos: "Sei que estão certos7 games emailque pensamos com o cérebro, mas como vocês sabem? Vocês sentem o cérebro pensando ou trabalhando?" A verdade é que não sentimos. Não há nada que nos diga, nem sequer intuitivamente, que pensamos com o cérebro. Nós sabemos isso porque a ciência, a cultura, o conhecimento nos ensinaram.
Tanto é assim que, durante séculos, havia muita gente que achava que não era o cérebro, mas sim outros órgãos do corpo que nos permitiam pensar e raciocinar.
Além disso, demorou muito até que as pessoas acreditassem que as enfermidades mentais eram ligadas ao cérebro. Hoje nos parece natural, mas durante muito tempo acreditava-se que eram algo espiritual.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - Como os "espíritos naturais" que o médico e filósofo grego Claudio Galeno propôs como "instrumentos da alma".
7 games email Morgado - Na Antiguidade, não se sabia como funcionava o cérebro, nem tudo o que ele faz mas achavam que deveria haver algo ali dentro. É emocionante falar sobre eles! "O que faz os nervos funcionarem? Tem que haver alguma coisa! Algo tem que viajar pelos nervos que vá até os músculos para que estes se contraiam e andemos e falemos ou nos movamos", eles se perguntavam.
Mas naqueles tempos antigos não se sabia nada7 games emaileletricidade, que hoje sabemos que é a chave do funcionamento dos neurônios. Qualquer um7 games emailnós também teria recorrido a uma explicação curiosa, que poderíamos chamar7 games email"espíritos", que se transformam para tornar possíveis as diferentes funções do corpo, como propôs Galeno, o grande médico da Antiguidade, ao falar7 games email"espíritos naturais" e "espíritos animais".
Hoje podemos pensar que estavam muito equivocados e confusos, mas provavelmente as mentes mais lúcidas da época sabiam que esses "espíritos" eram algo que um dia chegaríamos a conhecer com mais precisão.
Isso foi o que ocorreu quando, muito mais tarde, na metade do século 18, o italiano Luigi Galvani começou a descobrir com seus experimentos com rãs que a eletricidade podia fazer com que os músculos se contraíssem, o que lhe permitiu saber que o cérebro produz7 games emailprópria eletricidade.
E agora sabemos que cada neurônio é como uma pequena central elétrica e que o cérebro é, juntamente com o sistema digestivo, o órgão do nosso corpo que mais gasta energia.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - Em algum momento até se disse que o cérebro era um refrigerador, e talvez não estivessem tão enganados…
7 games email Morgado - Sim! Foi Aristóteles quem disse isso, o grande pai da filosofia. Estudar o pensamento7 games emailAristóteles é fascinante, porque seus próprios erros estão baseados7 games emailgrandes acertos,7 games emailcoisas que ele via e que lhe pareciam muito normais para entender que o cérebro não podia ser o órgão da sensibilidade.
Aristóteles via o coração como o órgão da sensibilidade, ele acreditava que era o órgão que nos permitia pensar e raciocinar. Mas o cérebro tinha que servir para algo… Não estaria ali por nada! Segundo Aristóteles, tínhamos um refrigerador na cabeça. É uma teoria incrível.
Ao observar a estrutura do cérebro, ele pensou que era um refrigerador7 games emailsangue. O coração, sendo o órgão das paixões, esquentava muito o sangue quando estava apaixonado, e este era refrigerado no cérebro, que o devolvia ao resto do corpo para que seguisse funcionando normalmente.
Demoramos muito para deixar essas ideias para trás. Inclusive hoje7 games emaildia, muita gente seguem atribuindo ao coração uma capacidade cognitiva, mental, que ele não possui.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - Por que continuamos nos apegando a essa teoria? Por 7 games email que segue vigente a dicotomia entre cérebro e coração?
7 games email Morgado - É porque é muito mais bonito um coração com uma flecha cravada do que um cérebro, que tem esse aspecto tão… tosco! [risos] O coração é bem mais vermelho, e o cérebro é escuro, estratificado. Não é um órgão que nos convide a chamar a atenção7 games emailum ponto7 games emailvista estético. O coração, sim. Ligá-lo às emoções e aos sentimentos é algo a que já estamos absolutamente acostumados.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - Sabemos pouco sobre o cérebro?
7 games email Morgado - Em, quando aparece alguém na universidade e me pergunta: "Ignacio, é verdade que sabemos muito pouco sobre o cérebro? Eu lhes mostro um livro bem grosso que tenho na minha sala, ponho7 games emailsuas mãos e lhes digo: "Olha este livro. Acredita que isto é saber pouco?" E geralmente me respondem, "Não, não! Isto é saber muitíssimo!" [risos]
E nós aprendemos muito sobre o funcionamento do cérebro, sobretudo depois que nosso compatriota espanhol Santiago Ramón y Cajal descobriu como são os neurônios, que são células individuais que se conectam entre si por meio7 games emailcontato, mas não por continuidade, e isso faz do cérebro um órgão inteligente. Nós aprendemos muitíssimo, mas ainda existem muitas coisas para aprender.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - Mas, por mais que tenhamos aprendido, sabemos muito mais sobre a mente que sobre o cérebro, não?
7 games email Morgado - Sem dúvida! E é por isso que a mente começou a ser conhecida - até onde é possível conhecê-la - muito antes do cérebro.
Os grandes pensadores da Antiguidade sabiam muito sobre a mente humana, embora não soubessem nada sobre o cérebro. E os escolásticos [filósofos teólogos] medievais escreveram tratados sobre a mente humana que ainda hoje têm uma validade extraordinária.
Ainda hoje continua-se separando a mente do cérebro. Continuamos pensando que o mental é algo espiritual, diferente do cérebro e do corpo, raiz desse dualismo que foi primeiro proposto pelos escolásticos e mais tarde pelo filósofo francês René Descartes (alma-corpo).
Nos Estados Unidos, o pesquisador7 games emailorigem suíça Louis Agassiz começou a propor que o cérebro dos negros era inferior ao dos brancos e que, portanto, os negros tinham apenas que realizar trabalhos7 games emailmenor importância - nada7 games emailtrabalhos intelectuais nem7 games emailfazer parte da elite social.
Mais tarde, os nazistas tentaram adotar a eugenia. O militar e psiquiatra nazista Max7 games emailCrinis apresentou a Adolf Hitler a teoria da "morte gentil", e foi iniciado um macabro programa7 games emaileliminação dos "débeis" e dos doentes mentais e criar uma raça "superior", que para eles era a ariana.
Foi demonstrado claramente ao longo do tempo que nenhuma raça é inferior a outra devido a seu cérebro ou7 games emailgenética, mas eles tinha que justificar esse racismo ideológico, que foi um dos maiores males7 games emailque da humanidade já sofreu.
Também houve teorias que diziam que o cérebro da mulher era inferior ao do homem, coisa que felizmente já superamos.
Mas agora circula um livro que fala sobre a "supremacia feminina". Para justificá-la, há cientistas que se agarram a dados que lhes agradam, mas se esquecem7 games emailoutros, que não encaixam em7 games emailtese. Isso me dá a impressão7 games emailque essa não é a melhor maneira7 games emailajudar a igualdade entre homens e mulheres.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - O sr. diz que agora sabemos muito mais sobre o cérebro, mas quais são as questões pendentes mais importantes?
7 games email Morgado - A nossa grande questão pendente é descobrir como curar as enfermidades mentais e neurológicas, particularmente essas7 games emailque temos tanto medo, como o mal7 games emailAlzheimer. Depois, há coisas que nos interessam mais do ponto7 games emailvista filosófico ou que interessam mais aos cientistas, como a forma com que os neurônios tornam possível a consciência, a subjetividade ou a imaginação.
Há tanto que nos falta saber… É impressionante! Temos um corpo que podemos ver e tocar e que nos parece algo muito compreensível. Mas quando pensamos na nossa imaginação, nos nossos pensamentos, na nossa mente… "O que é isso? É ar? É fumaça? São outra vez os espíritos naturais que voltaram?" [risos]
E, olha que nos custa sair dos espíritos! Quando uma coisa fica muito complicada para nós, seres humanos, temos a tendência a explicá-la7 games emailuma forma sobrenatural, acreditando que haja coisas que nos ultrapassam, que vão além7 games emailnós mesmos. Essa incapacidade que o cérebro humano tem7 games emailentender certas coisas7 games emailnossa própria mente é precisamente o que faz com que existam tantas crenças sobrenaturais e que os seres humanos tenham vivido, desde a mais remota Antiguidade até o presente, mergulhados nelas.
Se pudéssemos entender tudo isso que chamam7 games emailos mistérios da nossa consciência e7 games emailnossa subjetividade, o mais profundo da mente humana, provavelmente muitas ideologias religiosas e sobrenaturais não existiriam.
A ciência ainda não é capaz7 games emailexplicar bem muitas coisas que vão além7 games emailnós mesmos, e eu tenho a impressão7 games emailque o cérebro humano não evoluiu o suficiente para compreendê-las.
7 games email BBC 7 games email News 7 games email - E se conseguirmos? E se um dia pudermos compreender realmente como funciona nosso cérebro?
7 games email Morgado - Mas eu me pergunto: por que vamos acreditar que nosso cérebro tem a capacidade7 games emailentender tudo? Nós dizemos, "não pode ser que ainda não conseguimos entender certas coisas!". Temos a ânsia7 games emailsaber.
Um chimpanzé não pode entender o que é uma raiz quadrada ou o conceito7 games emailentropia. Seu cérebro não tem a capacidade7 games emailcompreender certas coisas, por isso não tratamos7 games emailensiná-las a eles. Mas tampouco ele se pergunta o que é a imaginação, o que é a subjetividade ou como o cérebro cria a consciência.
Se o chimpanzé tivesse um cérebro humano, poderia fazer raízes quadradas, mas também teria um problema que agora não tem e se perguntaria sobre todas essas coisas [risos].
Isso é o que pode acontecer conosco também. Dentro7 games emailalguns anos, pode ser que saibamos o que é a subjetividade e entendamos como o cérebro a cria, mas então teríamos outros problemas que agora nem sequer somos capazes7 games emailimaginar.
Muitas das coisas que nos perguntamos são uma criação7 games emailnossa própria mente. E acreditamos que as perguntas que nos fazemos são absolutas, que estariam aqui mesmo que nós não existíssemos.
"Por que as coisas precisam ter um princípio e um fim?" Se não existisse nenhum cérebro, nem nenhuma mente humana que a fizesse, essa pergunta não teria sentido. Mas nossa mente é como é e precisa saber por que as coisas acontecem. "Por que somos assim?" Algum dia saberemos. Mas aí, então, teremos novas perguntas. Sempre haverá incógnitas que nos ultrapassam.
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