O que é a 'matéria escura' da alimentação, que pode ajudar na prevenção do câncer:apostas pinnacle

O termo apareceu ligado ao contexto alimentar no fimapostas pinnacle2019,apostas pinnacleum artigo publicado na revista científica Nature, assinado pelos cientistas Albert-László Barabási, Giulia Menichetti e Joseph Loscalzo, das universidadesapostas pinnacleHarvard e Northeastern, nos EUA.

Na época, a pesquisa citava 26.625 elementos alimentares catalogados no maior bancoapostas pinnacledados do gênero no mundo, o canadense FooDB. Atualmente, esse número estáapostas pinnacle70.926 — e a cada descoberta, a lista se expande. Mas o trabalho dos três cientistas agora inclui dadosapostas pinnacleoutros bancos além do FooDB e o registro deles já ultrapassa astronômicos 135 mil componentes nutricionais.

Apenas uma fração minúscula (eram 150,apostas pinnacle2019) deste total já tem estabelecida informações como concentração química e seus efeitos.

À BBC News Brasil, a cientista e coautora do estudo Giulia Menichetti disse que novas descobertas possibilitarão entender como ocorre a interação entre compostos químicos alimentares e proteínas do corpo humano.

Isso pode levar a novos tratamentos e programasapostas pinnacleprevenção mais eficazes contra doenças como o câncer.

Eapostas pinnacleposseapostas pinnacleum catálogo muito mais amploapostas pinnacleinformação nutricional, também "será possível ajudar órgãosapostas pinnaclesaúde pública a simular cenáriosapostas pinnaclesubstituiçãoapostas pinnaclealimentos", afirma ela.

Os pesquisadores ressaltam que será fundamental o usoapostas pinnacleinteligência artificial, especificamente machine learning —apostas pinnacleque máquinas aprendem padrões a partirapostas pinnacledados históricos e criam novos modelos para análise humana ou automatizada — com o objetivoapostas pinnacledecifrar a "matéria escura" nutricional.

Uma equipe da universidade Imperial College London, por exemplo, está focadaapostas pinnacledescobrir moléculas anticancerígenas ou outros elementos que atuem contra doenças neurodegenerativas, cardiovasculares e virais. Um modeloapostas pinnacleinteligência artificial foi abastecido com 8 mil moléculasapostas pinnaclealimentos como uvas, chá, laranja e cenoura. Daí saíram 100 moléculas candidatas a potencial anticancerígeno.

O PhyteByte, do Departamentoapostas pinnacleAgricultura dos Estados Unidos, que é outro projeto com inteligência artificial, também varre bancosapostas pinnacledados alimentares para tentar prever como esses compostos reagem dentro do corpo humano.

O caso da picanha com alho

O desafioapostas pinnaclecompreender o que é exatamente uma dieta saudável vai alémapostas pinnacleentender melhor os compostos nutricionais: reside também na complexa cadeia química do nosso corpo — a influênciaapostas pinnacleenzimas, do metabolismo eapostas pinnacleprocessos na microbiota intestinal.

Imagine alguém que comeu uma carne temperada com alho. Moléculasapostas pinnaclecarne vermelha passam por um processo metabólico no intestino eapostas pinnacleconversão no fígado que vira no organismo uma substância chamada N-óxidoapostas pinnacletrimetilamina ou TMAO.

Cientistas descobriram que cardíacos têm quatro vezes mais chanceapostas pinnaclemorrerapostas pinnaclequalquer causa se apresentarem altos níveisapostas pinnacleTMAO no sangue.

Se a carne é consumida com alho, a alicina presente no tempero, mencionada anteriormente, pode bloquear a produçãoapostas pinnacleuma forma anterior do TMAO — a TMA.

Com o problema estancado na origem, os níveisapostas pinnacleTMAO permanecem mais baixos na corrente sanguínea.

Mas comer picanha com alho não é garantia contra infartos. Há que se considerar também as condiçõesapostas pinnacletemperatura da preparação e, no casoapostas pinnacleum item com alto nívelapostas pinnacleindustrialização, a influência das toxinas adicionadas nos processosapostas pinnacleprodução, conservação e acondicionamento.

E como o estudo do Imperial College London ressalta, há particularidades do organismo e do estiloapostas pinnaclevidaapostas pinnaclecada indivíduo.

Essa miríadeapostas pinnaclefatores pode ser a explicação para os questionamentos feitos tanto pela comunidade científica quanto pela populaçãoapostas pinnaclegeral sobre pesquisas alimentares: estudos sustentando, por exemplo, que "ovo é saudável", e outros concluindo, na semana seguinte, que seu consumo diário pode levar ao riscoapostas pinnacleencurtar a vidaapostas pinnaclealguém.

"Essa ideiaapostas pinnacleidentificar um determinado alimento associado a uma determinada doença é quase uma missão impossível", diz Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdadeapostas pinnacleSaúde Pública da USP e coordenador do Núcleoapostas pinnaclePesquisas Epidemiológicasapostas pinnacleNutrição e Saúde (NUPENS/USP).

Por isso, uma linha atualapostas pinnacleinvestigação na ciência nutricional é identificar padrõesapostas pinnaclealimentação que favorecem ou prejudicam a saúde.

"Há um interesse agoraapostas pinnacleestudar padrõesapostas pinnaclealimentação porque são eles que influenciam o desenvolvimentoapostas pinnacleuma doença", explica Monteiro. "Numa relação entre alimento e doença, é muito difícil você isolar um item específico. As pessoas não escolhem os alimentos um a um, é um bloco. Numa feijoada, por exemplo, você está comendo feijão, a carne, a gordura utilizada na preparação, o alho, a cebola. Você não tem como separar uma coisa da outra. São 'clusters'apostas pinnaclealimentos", diz o especialista.

O professor da USP lidera um grande estudo que tem como objetivo acompanhar 200 mil pessoas no Brasil por um período mínimoapostas pinnacle10 anos — e que ainda aceita participantes. Os padrõesapostas pinnaclealimentação delas serão analisadosapostas pinnacleassociação com o riscoapostas pinnacledesenvolver doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, obesidade e vários tiposapostas pinnaclecâncer).

Uma outra pesquisa do tipo, feita com 100 mil participantes entre 2009 e 2017 pela Universidadeapostas pinnacleParis, na França, e com contribuição da USP, demonstrou a relação do consumoapostas pinnaclealimentos ultraprocessados com doenças que atingem um grande grupoapostas pinnaclepessoas.

"A gente identificou há uns dez anos uma característica do padrãoapostas pinnaclealimentação muito baseadaapostas pinnacleuma forma distante do que é o natural, um padrãoapostas pinnacleque a pessoa praticamente consome só comida tão processadaapostas pinnacleque você já não distingue o seu elemento original. Qual é o alimento que forma um macarrão instantâneo? Uma gordura hidrogenada, um óleoapostas pinnaclepalma, um monteapostas pinnaclesal, glutamatoapostas pinnaclesódio que simula o gostoapostas pinnacleproteína,apostas pinnaclecarne, o pozinho com aromas. O macronutriente lá não é mais o alimento original. Enquanto numa refeição preparadaapostas pinnacleuma panela,apostas pinnacleuma cozinha padrão, você identifica o alimento, ainda está muito claro", explica Carlos Augusto Monteiro.

Vida moderna

Para Andrea Pereira, médica nutróloga da áreaapostas pinnacleOncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e autora do livro recém-lançado Dieta do Equilíbrio — A Melhor Dieta Anticâncer, "a ciência sabe que verduras, legumes e frutas têm muitos fatores antioxidantes e isso vai levar a uma maior proteção do organismo e à melhora do sistema imunológico".

Ela diz que "todo dia, células se dividemapostas pinnacleforma errada, mas nem todo mundo vai ter câncer. Porque o sistema imunológico protege você. Mas um sistema imunológico comprometido não vai funcionar e isso está associado a uma dieta ruim, ao baixo consumoapostas pinnaclefrutas".

Na explicaçãoapostas pinnaclePereira, "a vida moderna leva você a consumir formas mais calóricas e com menos fibras. Fibras levam mais tempo para mastigar. As pessoas comemapostas pinnaclepoucos minutosapostas pinnaclefrente ao computador, na frente da TV, ultraprocessados com altas calorias e muita gordura".

"As fibras estimulam o trato gastrointestinal, com menos absorçãoapostas pinnaclegordura. Se o seu intestino não funciona bem, você tem mais inflamação local, o que ocasiona risco maiorapostas pinnaclecâncer do trato gastrointestinal", diz.

Como lembra Michael Bronstein, da equipe do Imperial College London que está usando inteligência artificial para estabelecer a relação entre a "matéria escura" nutricional e potenciais tratamentos para doenças, a "alimentação é talvez o fator simples mais importante para modificar o riscoapostas pinnacledesenvolver câncer".

"É isso que nos encoraja a olhar com mais atenção sobre o que comemos".

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