Chico Buarque revisita 'Anoscasino bacana playChumbo'casino bacana playlivrocasino bacana playcontos:casino bacana play

Estorvo foi escrito no Leblon, bairro da Zona Sul do Rio onde Chico mora, e concluído no Marais,casino bacana playParis, onde tem apartamento. Por um momento, pensoucasino bacana playusar pseudônimo - como fez na época da ditadura militar quando gravou três canções, Acorda, Amor e Jorge Maravilha (1974) e Milagre Brasileiro (1975), como Julinho da Adelaide. Mas desistiu da ideia ao desconfiar que, se o livro fizesse sucesso, morreriacasino bacana playraiva por ninguém saber que era dele. "Não ia conseguir segurar", cai na risada.

Com o originalcasino bacana playEstorvocasino bacana playmãos, Schwarcz resolveu arriscar. Antescasino bacana playdistribuir provas do romance para jornalistas, resolveu enviá-las para dez ou doze críticos, como José Paulo Paes (1926-1998) e Leyla Perrone-Moisés.

"Estorvo era um livro forte e original", recorda Perrone-Moisés, doutoracasino bacana playLíngua e Literatura Francesa e professora da Faculdadecasino bacana playFilosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

"Seus méritos como romancista são vários: perfeito domínio da língua (o que qualquer escritor devia ter, mas nem sempre tem), concisão, vocabulário, senso agudocasino bacana playobservação, imaginação narrativa e originalidade".

Publicado no dia 2casino bacana playagostocasino bacana play1991, Estorvo esgotou a tiragem inicialcasino bacana play30 mil exemplarescasino bacana playapenas dois dias. Ao todo, segundo estimativas extraoficiais, vendeu 173 mil exemplares. Conquistou o Jabuticasino bacana playmelhor romance e ganhou versão para o cinema escrita e dirigida por Ruy Guerra. Nesta sexta-feira (22/10), a obra é relançada pela Companhia das Letras, com novo projeto gráfico e ediçãocasino bacana playcapa dura.

"Profundamente pessimista, Estorvo era profético. Chico retratou uma sociedadecasino bacana playdissolução, vítima da alienação, da corrupção e da violência criminosa", continua Perrone-Moisés. "Na ocasião, (o crítico) Roberto Schwarz observou que o romance era uma metáfora do Brasil daquele momento, e que a trama dava a sensaçãocasino bacana playque 'o futuro pode dar mais errado ainda'. Trinta anos depois, o Brasil está,casino bacana playfato, ainda pior. Estamos, como o personagem do romance, numa desesperada fuga para não se sabe onde".

'Esta canção não é mais que uma canção...'

Nesta sexta-feira (22/10), chega às livrarias, também, Anoscasino bacana playChumbo e Outros Contos.

São, ao todo, oito narrativas curtas: Meu Tio, sobre uma jovem prostituída pelos pais; O Passaporte, um artista sabotado que resolve se vingar; Os Primoscasino bacana playCampos, uma família às voltas com a violência policial; Cida, uma mulhercasino bacana playsituaçãocasino bacana playrua; Copacabana, um passeio nostálgico pelas ruas do bairro; Para Clarice Lispector, Com Candura, um jovem poeta ecasino bacana playidolatria por uma escritora famosa; O Sítio, um casal que decide viajar na pandemia; e Anoscasino bacana playChumbo, um larcasino bacana playpécasino bacana playguerra na ditadura.

"Gostariacasino bacana playnão distinguir o Chico poeta do Chico prosador. Todas as suas obras -casino bacana playforma mais evidente suas canções - revelam uma incrível sensibilidade para a sonoridade da língua", destaca Marisa Lajolo, doutoracasino bacana playTeoria Literária e Literatura Comparada pela USP e professoracasino bacana playLetras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Até agora, Chico Buarque tinha escrito (e publicado) um único conto, Ulisses, no suplemento literário do jornal Estadocasino bacana playS. Paulo,casino bacana play1966. Na ediçãocasino bacana play30casino bacana playjulho, o aspirante a escritor dividiu a página 3 com pesos-pesados da literatura brasileira, como o poeta Augustocasino bacana playCampos e o crítico literário Otto Maria Carpeaux (1900-1978).

Em Ulisses, o herói grego da epopeiacasino bacana playHomero é transformadocasino bacana playcaixeiro viajante.

"Ulisses quer abrir as janelas, as janelas não deixam. O rostocasino bacana playPenélope também estava emperrado. - Penélope, cadê seu sorriso? Suas saudades, seus braços, seus amores, cadê? Mas qual, você não larga esse tricô. Ora, mulher, seu Ulisses chegou e pronto! Cadê meu jantar, cadê meu jornal, cadê?", dizia um trecho do conto.

"O mais difícil para mim quando vou escrever, seja literatura ou música, é começar", confidenciou Chico ao jornalista e escritor Humberto Werneckcasino bacana playTantas Palavras (2017). "E, para escrever contos, vou ter que começar várias vezes...".

Naquele mesmo ano, no dia 1ºcasino bacana playmaiocasino bacana play1966, Chico lançou seu primeiro álbum, Chico Buarquecasino bacana playHollanda, com 12 das suas 528 músicas. Dessas 12, A Banda e A Rita estão entre as 10 mais tocadas nos últimos dez anos.

Segundo o Escritório Centralcasino bacana playArrecadação e Distribuição (ECAD),casino bacana playmúsica mais executada é Iolanda (1984), versão do artista para uma canção do compositor cubano Pablo Milanés, e a mais regravada, Gente Humilde (1970), letracasino bacana playChico e Viníciuscasino bacana playMoraes (1913-1980) e músicacasino bacana playAníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955).

Os bastidores da criação

Chico já enveredou por outros gêneros, como a novela Fazenda Modelo (1974), livremente inspiradacasino bacana playA Revolução dos Bichos (1945),casino bacana playGeorge Orwell (1903-1950).

"Enquanto Orwell satiriza uma ditaduracasino bacana playesquerda, Chico satiriza umacasino bacana playdireita", observa Rinaldocasino bacana playFernandes, doutorcasino bacana playTeoria e História Literária pela Unicamp, autorcasino bacana playlivros sobre a obracasino bacana playChico e organizador do livro Chico Buarque - O Romancista (2011). "Em Fazenda Modelo, já temos um escritorcasino bacana playtalento, com pleno domínio da técnica narrativa e da construção dos personagens".

Depoiscasino bacana playFazenda Modelo, vieram o livro infantil Chapeuzinho Amarelo (1979), dedicado à Luísa,casino bacana playcaçula, então com dois anos, e o poema A Bordo do Rui Barbosa (1981), ilustrado pelo artista plástico Vallandro Keating, um colega da Faculdadecasino bacana playArquitetura e Urbanismo (FAU). Só peças teatrais, foram quatro: Roda Viva (1967); Calabar (1973), com Ruy Guerra; Gota D'Água (1975), com Paulo Pontes (1940-1976); e Ópera do Malandro (1978).

Por ocasiãocasino bacana playFazenda Modelo, Chico descobriu um apaixonante mundo novo: o da literatura.

Às voltas comcasino bacana play"novela pecuária", paroucasino bacana playcompor, ficava reclusocasino bacana playcasa e só atendia ao telefone quando era chamado para jogar bola. De lá para cá, aperfeiçoou seu métodocasino bacana playtrabalho. Costuma pensar no que está escrevendo desde o momentocasino bacana playque acorda até a horacasino bacana playque vai dormir. À noite, deixa um bloquinho ao lado da cama.

"Às vezes, vêm ideias na vigília, ou quando desperto", explica para a jornalista e biógrafa Regina Zappa no livro Para Seguir Minha Jornada (2011). Quando sofre algum bloqueio, sai para caminhar no Leblon ou joga paciência no computador. "Uma hora jogando até ter uma ideia".

Gostacasino bacana playescrever todos os dias, nem que seja uma linha ou parágrafo, ecasino bacana playreler "mil vezes" o que escreveu. Tem mais. Quando escreve, não lê. Tampouco ouve música ou toca violão.

Um escritorcasino bacana playconstrução

Em 30 anoscasino bacana playprodução literária, Chico lançou mais cinco romances: Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009), O Irmão Alemão (2014) e Essa Gente (2019). Juntos, já foram traduzidos para "maiscasino bacana play20 idiomas", segundo a editora, que não divulga o totalcasino bacana playexemplares vendidos.

Certa vez, participoucasino bacana playuma tardecasino bacana playautógrafoscasino bacana playOslo, na Noruega. No meio da coletivacasino bacana playimprensa, um dos repórteres perguntou: "É verdade que você também cantacasino bacana playseu país?". Gaiato, Chico respondeu: "Por acaso, também canto".

O segundo romance, Benjamim, chegou às livrariascasino bacana play7casino bacana playdezembrocasino bacana play1995. Chico chegou a suspender a turnê do álbum Paratodos (1993) para se dedicarcasino bacana playtempo integral ao livro. Para Benjamim não soar como continuaçãocasino bacana playEstorvo, fugiu da primeira pessoa, deu nome aos personagens, mudou o tempo verbal.

Quando chegou ao último capítulo, mostrou o material para Rubem Fonseca. O amigo implicou com o sobrenomecasino bacana playAlyandro, Escarlate. "Muito alegórico", disse. Chico não se convenceu. E pediu uma explicação melhor. "Para dizer a verdade, esse sobrenome é uma merda!", disparou Fonseca. Convencido, Chico mudou para Aliandro Sgaratti.

Benjamim teve recepção menos calorosa que Estorvo - o crítico Wilson Martins (1921-2010) chegou a chamar a literaturacasino bacana playChicocasino bacana play"amadorística"casino bacana playresenha no jornal O Globo. Mesmo assim, vendeu 84 mil exemplares. A exemplocasino bacana playseu antecessor, também foi adaptado para o cinema. No longacasino bacana playMonique Gardemberg, Danton Mello e Paulo José (1937-2021) se revezaram no papelcasino bacana playBenjamim Zambraia.

Budapeste, seu terceiro romance, foi lançadocasino bacana play10casino bacana playsetembrocasino bacana play2003. A princípio, José Costa, o protagonista, seria arquiteto e não escritor. Com 285 mil exemplares vendidoscasino bacana play30 países, ganhou o Jabuticasino bacana playmelhor livro e virou longa nas mãoscasino bacana playWalter Carvalho.

"Considero como o maior méritocasino bacana playChico Buarquecasino bacana playcoragem e versatilidadecasino bacana playtrabalharcasino bacana playmúltiplos campos artísticos", afirma Tânia Mattos Perez, doutoracasino bacana playEstudos Literários pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora do livro Chico Buarque - A Alegoria e o Duplo na Ficção (2017), que temcasino bacana playBudapeste seu romance preferidocasino bacana playChico. "Trata-secasino bacana playum livro engenhoso, original e poético".

Três vezes Jabuti

Em 25casino bacana playmarçocasino bacana play2009, Chico Buarque lançou seu quarto romance, Leite Derramado. Se a tiragem inicialcasino bacana playEstorvo eracasino bacana play30 mil exemplares, acasino bacana playLeite Derramado saltou para 70 mil. E, pela terceira vez, ganhou o mais tradicional prêmio da literatura brasileira, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Na categoria romance, Leite Derramado tirou o segundo lugar - o primeiro foi para Se Eu Fechar Os Olhos Agora, do jornalista Edney Silvestre. Em compensação, arrebatou o prêmiocasino bacana playlivro do anocasino bacana playficção e,casino bacana playquebra, embolsou R$ 30 mil. "Pelo visto, e o Jabuti não me deixa mentir, tenho me aventurado na literatura com sucesso", declarou, na cerimôniacasino bacana playpremiação.

Quem não gostou nada do resultado foi o editor Sérgio Machado (1948-2016). Responsável pela publicaçãocasino bacana playSe Eu Fechar Os Olhos Agora, ele anunciou que o Grupo Editorial Record, do qual era presidente, passaria a boicotar o Jabuti. "Tomamos a decisãocasino bacana playnão mais compactuar com a comédiacasino bacana playerros", avisoucasino bacana playcarta. No ano seguinte, a CBL mudou o regulamento: só os primeiros colocadoscasino bacana playcada categoria disputariam o prêmiocasino bacana playlivro do ano.

"Chico Buarque já declarou que a ideiacasino bacana playescrever Leite Derramado surgiu quando escutou, na vozcasino bacana playMônica Salmaso, O Velho Francisco (1987)", observa Ana Maria Clark Peres, doutoracasino bacana playLiteratura Comparada pela Universidade Federalcasino bacana playMinas Gerais (UFMG) e autora do livro Chico Buarque: Recortes e Passagens (2017). "E mais: Eulálio, o protagonista, tem o mesmo nome do 'tataravô baiano'casino bacana playParatodos (1993). O romance, porcasino bacana playvez, nos remete a Barafunda (2010), na qual o eu lírico embaralha lembranças: 'Gravei na memória / Mas perdi a senha'".

Homenagem ao meio-irmão

O quinto romance, O Irmão Alemão, chegou às livrariascasino bacana play7casino bacana playnovembrocasino bacana play2014. Antes, Chico não sabia que seu pai, o historiador Sérgio Buarquecasino bacana playHolanda (1909-1982), tinha tido um filho alemão. Foicasino bacana play1930, quando ele, então repórtercasino bacana playO Jornal, trabalhou como correspondentecasino bacana playBerlim. Sérgio se casou com Maria Amélia, mãecasino bacana playChico Buarque e seus irmãos,casino bacana play1936.

Quem revelou o segredo foi o poeta Manuel Bandeira (1886-1968),casino bacana play1967. Durante visita acasino bacana playcasa no Rio, Bandeira deixou escapar: "Ah, o Sérgio... Aquele filho alemão!". Chico, então com 22 anos, arregalou os olhos: "Filho alemão?". Vinícius indagou: "Você não sabia?". Não, não sabia.

O tal "filho alemão" a que Bandeira se referia era Sérgio Ernst (1930-1981). Abandonado pela mãe, Anne Margerithe Ernst, foi adotado pelo casal Arthur e Pauline Günther. Já adulto, tornou-se jornalista, cantor e apresentadorcasino bacana playTV na antiga Alemanha Oriental.

Sérgio Günther morreucasino bacana play1981,casino bacana playcâncer no pulmão. Chico começou a escrever O Irmão Alemãocasino bacana playsetembrocasino bacana play2012, mas teve que interrompercasino bacana playmarçocasino bacana play2013. "Não consigo mais escrever sem saber o que,casino bacana playfato, ocorreu com meu irmão", confidenciou a Schwarcz. Sua ida a Berlim foi registrada por Miguel Faria Jr. no documentário Chico: Artista Brasileiro (2015).

"Pela força, tanto biográfica quanto ficcional,casino bacana playdar vida a um personagem quase 'fantasma' até 2012, anocasino bacana playque foi confirmadacasino bacana playexistência, meu romance favorito é O Irmão Alemão", elege Sylvia Cyntrão, doutoracasino bacana playLiteratura pela Universidadecasino bacana playBrasília (UnB) e organizadora de Chico Buarque - Sinal Aberto! (2015).

Chico Buarque jantavacasino bacana playParis quando soube,casino bacana playmaiocasino bacana play2019, que tinha ganhado, por unanimidade, o Prêmio Camões, o mais prestigiado da língua portuguesa. "Fiquei muito feliz e honradocasino bacana playseguir os passoscasino bacana playRaduan Nassar", declarou,casino bacana playcomunicado oficial.

Cinco meses depois, o presidente Jair Bolsonaro fez mistério sobre assinar o diploma. "Tenho prazo? Então, 31casino bacana playdezembrocasino bacana play2026, eu assino", avisou, fazendo alusão a um segundo mandato, já que o atual terminacasino bacana play31casino bacana playdezembrocasino bacana play2022. O gracejo não ficou sem resposta. "A não assinatura do Bolsonaro é, para mim, um segundo prêmio Camões", rebateu o cantor,casino bacana playseu perfil no Instagram.

Seu mais recente romance é Essa Gente,casino bacana play2019. Foi o que levou menos tempo para escrever: 11 meses. Esboçou as primeiras linhascasino bacana playnovembrocasino bacana play2018 e colocou o ponto finalcasino bacana playsetembrocasino bacana play2019. Publicadocasino bacana play9casino bacana playnovembrocasino bacana play2019, mereceu elogios do escritor indiano Salman Rushdie. "A imaginação literáriacasino bacana playChico Buarque é bela e peculiar", afirmou o autorcasino bacana playVersos Satânicos (1989). "Lercasino bacana playficção é sempre um prazer".

casino bacana play Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube casino bacana play ? Inscreva-se no nosso canal!