Conheça a linguagem secreta das seitas – e como ela penetroubet165áreas inesperadas do nosso cotidiano:bet165
Somentebet165meados do século 20 é que essa palavra começou a ganharbet165reputação mais obscura. O surgimentobet165tantas religiões alternativas assustou muita gente, e as seitas foram associadas a charlatões, hereges e pecadores.
Mais tarde, com os assassinatos cometidos pelo grupo liderado por Charles Mansonbet1651969, na Califórnia (EUA), e o massacrebet165Jonestown, na Guiana,bet1651978, "seita" passou a representar uma ameaça social e a provocar medo.
Para diferenciar certas minoriasbet165doutrinas religiosas ou ideológicas concretas e evitarbet165perseguição, na décadabet1651980 surgiu o conceitobet165"novos movimentos religiosos" e, por outro lado, o das chamadas "seitas destrutivas".
Palavras-chave
Embora a linguagem utilizada pelas seitas seja a chave para atrair novos integrantes, ela por si não é suficiente para "lavar o cérebro"bet165uma pessoa para que ela se junte ao grupo, esclarece a especialistabet165linguagem Amanda Montell, autora do livro Cultish: The Language of Fanatism ("Como num culto: a Linguagem do Fanatismo",bet165tradução livre).
O termo "lavagem cerebral", explica ela, é apenas uma metáfora, não um fenômeno real ou comprovável. Não se pode convencer alguémbet165que ela tembet165acreditarbet165uma coisa sem que a pessoa tenha ao menos um poucobet165vontadebet165fazer isso.
Mas, uma vez que essa vontade existe, a linguagem torna-se um ponto chave, disse a especialista ao programa Word of Mouth, da Radio 4 da BBC .
"É necessária uma linguagem para obscurecer as verdades, para construir a solidariedade, para plantar uma ideologia, para dividir as pessoasbet165'nós' e 'eles', para plantar a filosofiabet165que 'os fins justificam os meios' e para fazer todo o necessário para ganhar e manter o poder."
Sentir-se especial
Em primeiro lugar, uma seita precisa converter a pessoa. E isso é alcançado fazendo com que ela se sinta especial e compreendida.
Muitos estudiosos desse fenômeno usam o termo "bombardeiobet165amor" para descrever o processobet165dar a alguém atenção personalizada e elogios,bet165maneira que o objeto dessa atenção se sinta notado.
A pessoa alvo dessa atenção pode estar buscando há muito tempo respostas para seus problemas, para os problemas do mundo, e é então convencidabet165que se unir à seita lhe dará acesso a essas soluções.
Outro métodobet165"conversão, condicionamento e coerção" é o usobet165uma "linguagembet165código inclusivo", afirma Montell.
"Um líder da seita introduz lentamente essas palavras carregadasbet165muita emoção e uma terminologia especial que separa os que estão dentro desse grupo dos que estão fora", explica.
Além disso, eles podem usar um glossáriobet165rótulos "nós, eles", "para empolgar os que estão dentro do grupo e criticar os que estão fora dele".
Termos carregados e cooptados
Em 1978, 918 pessoas morreram num assentamento na Guiana (país da América do Sul que faz fronteira com os Estados brasileirosbet165Roraima e Pará). A tragédia ficou conhecida como o "Massacrebet165Jonestown".
A mídia descreveu os acontecimentos como um suicídio coletivo,bet165que os participantes beberam cianeto intencionalmente, para acabar com a própria vida.
A verdade foi que o líder da seita, Jim Jones, não deu a seus seguidores nenhuma alternativa: eles estavam rodeadosbet165guardas armados. Se não ingerissem eles mesmos o veneno, a substância seria injetadabet165seus corpos, ou os seguranças atirariam.
Jones utilizou termos carregados e metáforas para seduzir e convencer as pessoasbet165que elas estavam fazendo um grandioso gestobet165oposição e resistência ao se matar. Um dos termos que ele usava repetidamente foi "suicídio revolucionário".
O dia do massacre marcou o "suicídio revolucionário" como uma declaração política contra "governantes ocultos" - termobet165Jones para descrever uma estrutura secretabet165poder, algo que hojebet165dia muitos descrevem como "Estado profundo".
Jones havia incorporado o termo "suicídio revolucionário" do movimento radical afro-americano Panteras Negras.
"Isso é o que fazem muitos líderesbet165seitas", diz Montell. "Eles adotam a linguagembet165ideologias que eles respeitam." Jim Jones tomou emprestado muitos desses termos políticos para indicar quebet165ideologia era politicamente radical.
De forma parecida, a cientologia - movimento surgido nos anos 1950 nos Estados Unidos - adotou palavras científicas como "engrama" (um registro duradourobet165percepções sensoriais deixado nas células humanas) e lhes deu novos significados específicosbet165seu sistemabet165práticas e crenças religiosas.
Eufemismos para a morte
Marshall Herff Applewhite, cujo grupo dos anos 1990 era um culto inspiradobet165ficção científica e na crençabet165vida alienígena, chamado Heaven's Gate (Portal do Céu), tinha um repertório linguístico diferente.
Segundo Amanda Montell, Applewhite usava "longas asserções esotéricas sobre o espaço e uma sintaxe derivada do latim para fazer com que seu pequeno grupobet165seguidores pseudointelectuais se sentissem como uma elite".
Da mesma forma que Jim Jones, ele utilizava eufemismos para a morte - a seitabet165Applewhite também terminou tragicamente,bet165suicídio coletivo -, mas com uma combinação dos estilosbet165linguagembet165ficção científica e do Antigo Testamento.
Ele dizia, por exemplo, que seus seguidores tinham que "superar suas vibrações genéticas como uma formabet165sairbet165seus veículos para que seus espíritos pudessem ressurgir a bordobet165uma nave espacial e encontrar o próximo nível evolutivo, acima do humano".
Ele se referia a nossos corpos como "contêineres" que podiam ser descartados quando alguém se transferisse para uma existência superior.
Para Amanda Montell, "nos anos 1990, quando muitos recorriam à tecnologia digitalbet165buscabet165respostas às perguntas mais antigas do mundo, essa linguagem realmente causava uma identificação, pelo menos para certas pessoas".
Clichês contra o raciocínio
Mas o líderbet165uma seita não é capazbet165ser um "gênio iluminado" 24 horas por dia, sete dias por semana, então é preciso rapidamente conseguir eliminar o pensamento independente e os questionamentos.
Uma das formas com que seitas fazem isso é por meiobet165"clichês que põem um fim a pensamentos". O termo, cunhado no início da décadabet1651960 pelo psicólogo Robert Jay Lifton, "descreve uma expressão comum que é memorizada e repetida facilmente, e tem como objetivo acabar com o questionamento ou o pensamento ou análise independente", observa Montell.
O líder do grupo Nxvim, um "grupo metafísicobet165superação pessoal" da New Age, a Nova Era, por exemplo, dizia coisas como "não se deixe governar pelo medo" para descartar qualquer preocupação válida sobre o que estava acontecendo. Também minava questionamentos descrevendo-os como "crenças limitantes".
"Esse tipobet165expressão é realmente convincente porque lida com a dissonância cognitiva, ou ao menos alivia essa discórdia incômoda que você sente quando tem duas ideias conflitantes embet165mente ao mesmo tempo", diz Montell.
Esse estilobet165expressão comum manifesta-sebet165nossa vida cotidiana, afirma ela,bet165formabet165frases como "tudo está como Deus planejou" ou "tudo acontece por um motivo".
Nas grandes empresas
Embet165investigação, Montell detectou um tipobet165linguagembet165seitabet165corporações tão grandes quanto a Amazon.
A companhia tembet165própria versão dos Dez Mandamentos que chamabet165"Princípiosbet165Liderança" - e que os novos funcionários devem memorizar. Eles incluem trivialidades como "Pense grande", "Mergulhe fundo" e "Seja firme".
"No mercado transitório e muito céticobet165hoje, onde existe tão pouca lealdade a marca, as empresas necessitam das chamadas ideologias organizacionais", diz a especialista.
São ideologias que implicam que consumidores e empregados não estão apenas assinando embaixo para aceitar um trabalho, um produto ou um serviço, mas sim, para obter uma identidade.
À medida que nos afastamos cada vez mais dos tradicionais pontosbet165encontro e atividade comunitária como as igrejas, "buscamos marcas e empresas, quase para que estas desempenhem um papel espiritual e religiosobet165nossas vidas", explica.
No mundo fitness
Um lugar moderno e secular que pode cumprir um propósito espiritual é a academiabet165ginástica.
"Aspirar a inspirar", "inspiramos intenção e expiramos expectativa" e "mude seu corpo, comecebet165jornada" são apenas alguns fragmentos da declaração escrita na paredebet165qualquer sucursal da empresabet165fitness SoulCycle, visível logo na entrada.
Pesquisas mostraram que, quando perguntados sobre como e onde satisfazembet165espiritualidade, jovens responderam que é nas academiasbet165ginástica.
Faz sentido, quando se considera o quanto amamos o progresso, a produtividade e sermos atraentes, diz Montell. "A superação pessoal é nossa religião suprema."
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