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O que se sabe até agora sobre a combinaçãovacinas contra o coronavírus:
Além da desigualdaderecursos para comprar vacinas, outro obstáculo à imunização global tem sido a sérieproblemas enfrentados pelos fabricantesvacinas.
Desde temoresefeitos colaterais adversos, que levaram alguns países a limitar o usocertas vacinas, até dificuldades na produçãoinoculações devido à escassez globalsuprimentos, que têm causado graves atrasos no fornecimento.
Como solução parcial para esses problemas, vários países tentaram combinar diferentes vacinas.
A maioria das vacinas contra a covid requer duas doses (com exceção da Janssen, feita pela Johnson & Johnson, e da Sputnik Light, da Rússia, que sãoapenas uma dose).
E, exceto pela Sputnik V, que usa dois componentes diferentes, as demais têm duas doses iguais, o que levou várias nações a pesquisar possíveis combinações.
A vacinação heteróloga - esse é seu nome científico - não é novidade. A misturavacinas começou na década1990 para combater outro vírus: o HIV, que causa a Aids.
Pesquisas realizadas até agora com algumas vacinas contra a Covid-19 mostraram que trocá-las não só é possível, masmuitos casos é até recomendado.
De acordo com esses estudos, combiná-las não só daria um impulso significativo ao esforço globalvacinação, mas também poderia oferecer melhor proteção contra o coronavírus.
O que se sabe até agora?
Talvez a vacina mais estudadacombinação com outras seja a AstraZeneca, também conhecida como AZ.
Pesquisadores da UniversidadeOxford, que criaram esta vacina, investigam desde fevereiro2020 a eficácia dela quando usadaconjunto com outras.
O aparecimentocoágulos sanguíneosum pequeno númeropessoas que tomaram a AstraZeneca levou vários países, que já haviam administrado a primeira dose a centenasmilharescidadãos, a decidirem não usar a segunda para determinadas faixas etárias.
Isso acelerou a necessidadecombinar a vacina britânica com outras.
A primeira pesquisa da UniversidadeOxford, conhecida como "Com-COV1", estudou os efeitos da combinação da AstraZeneca com Pfizer850 voluntários com mais50 anosidade.
Essas vacinas usam duas plataformas diferentes para combater o vírus. A AstraZeneca usa vetor viral (adenovíruschimpanzé atenuado) e a Pfizer usa o RNA mensageiro (ou mRNA), que tem uma pequena sequência genética criadalaboratório que "ensina" as próprias células do corpo humano a se protegerem contra o Sars-CoV-2.
Resultados
Os resultados preliminares do estudo Com-COV1, publicado no finaljunho, foram altamente promissores.
A combinaçãouma primeira doseAstraZeneca e uma segunda dose da Pfizer gerou mais anticorpos e células T (as células imunes que matam os patógenos) do que usar dois componentesAstraZeneca.
E usar a Pfizer primeiro e depois a AstraZeneca também foi mais benéfico do que usar a vacina britânica duas vezes (embora não tão eficaz quanto usá-las na ordem inversa).
Embora os testes tenham mostrado que o usoduas dosesPfizer gerou o maior númeroanticorpos, o uso da AstraZeneca primeiro e depois da Pfizer provocou uma resposta mais forte das células T, que é chave para combater a infecção.
Outros países que realizaram seus próprios testes chegaram a conclusões semelhantes.
Antes mesmoos resultados serem conhecidos no Reino Unido, a Espanha já havia começado a combinar AstraZeneca com Pfizer, e as conclusões preliminares da fase 2 do estudo CombiVacs, realizado pelo InstitutoSaúde Carlos III, publicadomaio, também mostraram a eficácia desta mistura.
O ensaio espanhol, do qual participaram 676 pessoas entre 18 e 59 anos que receberam a primeira doseAstraZeneza, concluiu que, com uma segunda dosePfizer, os anticorpos eram mais do que o dobro que os gerados por duas dosesAstraZeneza.
A segunda dose - também chamadareforço - geralmente multiplica os anticorpos por três quando a AstraZeneza é aplicada duas vezes.
Se a Pfizer for usada como o segundo componente, a multiplicação é por sete, segundo o resultado do estudo espanhol.
No finaljulho, outro ensaio clínico investigando a combinação AstraZeneza e Pfizer, desta vez na Coreia do Sul, confirmou os benefícios dessa mistura.
O estudo, que incluiu 499 profissionaissaúde, concluiu que a combinaçãoAstraZeneza com Pfizer gerou níveis seis vezes maioresanticorpos neutralizantes do que o usoduas dosesAstraZeneza.
Combinando plataformas
A Alemanha, que também começou a combinar vacinas após decidir limitar a AstraZeneca apenas para maiores60 anos - como Espanha e França - recomendou aos que receberam a primeira dose da vacina britânica combiná-la com qualquer uma das duas vacinas que usam o métodomRNA: Pfizer ou Moderna.
Embora as autoridades alemãs não tenham especificadoque estudos basearam as suas recomendações, o país europeu tornou-se um dos principais promotores da combinaçãovacinas,particular das misturas que utilizam plataformas diferentes.
Para inspirar confiança nessa estratégia, a chanceler alemã, Angela Merkel,66 anos, que recebeu a primeira doseAstraZeneca, foi vacinada com a Moderna na segunda dose,junho.
Esta ideiamisturar vacinas usando diferentes tecnologias também é objetopesquisa pela UniversidadeOxfordum segundo ensaio clínico, intitulado Com-COV2.
O trabalho, com 1.050 voluntários, pesquisa os efeitos da combinaçãoAstraZeneca com Moderna ou com Novavax (vacina sueco-americana licenciadaalguns países e que usa uma proteína do vírus SARS-CoV-2 como plataforma).
A pesquisa, cujos resultados preliminares ainda não foram publicados, também analisa os efeitos da misturauma primeira dosePfizer com uma segunda doseModerna ou Novavax.
Em artigo na revista científica Horizon, publicada pela Comissão Europeia, a jornalista Annette Ekin destacou que combinar vacinasdiferentes plataformas pode ser especialmente útil para quem foi inoculado com uma primeira dosevetor viral.
"Como algumas vacinas são entregues ao corpo por um vírus modificado, é possível que o sistema imunológico ataque a própria vacina. Misturar as plataformasreforço pode reduzir o riscodesenvolver imunidade contra uma vacinavetor viral", explicou.
Ekin observou que "os especialistas não consideram essa estratégiamisturar vacinas perigosa".
No entanto, alertou que, como a técnicamRNA é nova e está sendo usada pela primeira vezhumanos durante esta pandemia, "deve-se avaliar a segurança"combinar vacinasmRNA com aquelas que usam adenovírus, daí a importânciaestudos como Com-COV e outros.
Sputnik V
Enquanto na Europa os estudoscombinaçõesvacinas se concentraram principalmente nas combinações com AstraZeneca,parte da América Latina uma estratégia semelhante está sendo aplicada para resolver questões com a Sputnik V.
Milhõespessoasvárias partes do mundo, mas principalmentepaíses vizinhos do Brasil na América do Sul, foram vacinadas com a primeira dose da vacina russa, mas por problemasabastecimento não têm acesso ao segundo componente.
O país mais afetado é a Argentina, que vacinou cerca9 milhõescidadãos com uma dose da Sputnik V, mas apenas 2,5 milhões deles com as duas doses.
Com mais6 milhõesargentinos aguardando a segunda dose (um milhão e meio deles com o período máximo recomendadotrês meses entre as vacinas já vencido), as autoridades argentinas começaram no iníciojulho a estudar possíveis combinações.
Após um mêstestes,4agosto, a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, anunciou que os resultados preliminares foram "satisfatórios" e "encorajadores".
Vizzotti disse que o país passará a oferecer àqueles que receberam a primeira dose da Sputnik V a possibilidadecombiná-la com a AstraZeneca, cujo princípio ativo é fabricadoBuenos Aires, ou com a Moderna, após a doação dos Estados Unidos3,5 milhões doses.
As autoridades sanitárias argentinas informaram que os resultados preliminares da combinação da Sputnik V com a Sinopharm (vacina chinesa que também é amplamente utilizada na Argentina) não foram "conclusivos" e que por enquanto a opção está descartada.
"Pioneiros"
A Sputnik V usa a mesma plataforma da AstraZeneca: um vetoradenovírus (a russa usa adenovírus humano enfraquecido,vezumchimpanzé).
Isso levou muitos especialistas a concluírem que elas podem ser trocadas com segurança e que, como a AstraZeneca, a vacina russa também pode ser combinada com outra que utiliza o método do mRNA.
O Fundo RussoInvestimento Direto (conhecido como RDIF), que comercializa a Sputnik V no exterior, não apenas deu sinal verde para combinarvacina, mas disse à BBC que foi o primeiro a sugeri-la.
"O RDIF foi pioneiro na colaboração com outros fabricantesvacinas quando abordou a AstraZeneca23novembro (2020) para conduzir um estudo colaborativo sobre combinaçõesvacinas", disse a agênciaum comunicado enviado ao escritório da BBCMoscou.
Um jornalista do serviço russo disse à BBC Mundo que esses testes começaram2020, mas foram interrompidos e reiniciados este ano. Os resultados finais são esperados para março2022.
No entanto, o RDIF observou que "os resultados preliminares da investigação confirmaram a segurança total e a alta eficiência dessa abordagem."
A agência destacou que a própria Sputnik V já é "pioneira no usoreforço heterogêneo ('combinaçãovacinas')", pois é "a único" que combina duas doses diferentes: a primeira um adenovírus 26 e a segunda um adenovírus 5 (segundo os fabricantes, essa complexidade explicaparte os atrasos na produção).
"Coquetéis" contra a delta
"Os coquetéisvacinas, dos quais a Sputnik V foi pioneiro, terão um papel decisivo no combate às mutações", disse o RDIF por meio do Twitter, referindo-se às variantes do coronavírus, como a delta, que hoje são uma das principais preocupações no mundo.
Muitos concordam. Pierre Meulien, diretor executivo da IniciativaMedicamentos Inovadores da União Europeia, disse à revista Horizon que o principal incentivo para misturar vacinas é induzir uma resposta imunológica mais ampla "para cobrir as variantes que estão aparecendotodas as partes".
Enquanto isso, Frédéric Martinon, imunologista do Instituto Nacional FrancêsPesquisas Médicas eSaúde (Inserm), disse que a combinaçãovacinas dificultará a circulaçãovariantes ou o aparecimentonovas.
Porvez, a editora da BBC Health, Michelle Roberts, observou que os ensaios britânicos com vacinas combinadas sugerem que, se uma terceira dose contra o coronavírus for necessária para combater essas novas variantes, "pode ser preferível administrar uma marcavacina diferente do que o usado para as duas primeiras injeções. "
Roberts também detalhou que "misturar vacinas produz mais efeitos colateraiscurto prazo, como calafrios, dorescabeça e dores musculares".
Reforço no Brasil?
No Brasil, não há ainda definição sobre o reforço vacinal, mas tanto o Ministério da Saúde quanto o Instituto Butantan (responsável por finalizar a produção da CoronaVac no país) avaliam e consideram essa possibilidade.
Em julho, o Ministério da Saúde informou que iniciaria estudo inédito para avaliar a necessidadeuma terceira dosevacinas contra Covid-19 para quem tomou Coronavac.
A pesquisa,parceria com a UniversidadeOxford, vai verificar a intercambialidade da Coronavac com outros imunizantes disponíveis para a população brasileira.
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