Como a fome deixa 19 milhõesaposta betano hojebrasileiros mais vulneráveis à covid-19: 'Não há sistema imune que resista':aposta betano hoje

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Legenda da foto, A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia

O fechamento das escolasaposta betano hojegrande parte do país também levou a interrupções da merenda escolar, fundamental na alimentaçãoaposta betano hojeparte dos alunos da rede pública. Sem falar da inflação, que corroeu o poderaposta betano hojecompra da população, principalmenteaposta betano hojealimentos pela parcela mais pobre.

O impacto é também imunológico. A piora na alimentaçãoaposta betano hojemuitos brasileiros na pandemia tem impacto direto, segundo estudos e especialistas, na capacidade do corpoaposta betano hojecombater invasores como o Sars-CoV-2. E por muito tempo.

Um estudo recente da Universidade da Califórnia sobre a prevalênciaaposta betano hojedoenças crônicas no Brasil apontou que adultos que passaram fome na infância tinham maior probabilidadeaposta betano hojedesenvolver diabetes e osteoporose décadas depois.

A BBC News Brasil explica abaixo o que é a fome e qual foi o impacto dela durante a pandemia no prato e no sistema imunológicoaposta betano hojemilhõesaposta betano hojebrasileiros.

O impacto da fome no sistema imunológico

Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano, embora ela por si só não seja capazaposta betano hojeprevenir doenças infecciosas como a covid-19. O que comemos afeta diretamente seu funcionamento e, por isso, como nos sentimos.

Para entender esses mecanismos, é preciso primeiro entender como a fome física é ativada e inibida. Nosso corpo precisaaposta betano hojeenergia para funcionar, eaposta betano hojegeração demanda "combustível", no caso os nutrientes: os macro, que são as proteínas, carboidratos e gorduras, e os micro, que incluem vitaminas e minerais.

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Legenda da foto, Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano

A ingestão deles é controlada pelo hipotálamo, parte do cérebro localizada atrás dos olhos. Células nervosas presentes ali produzem, ao serem ativadas, a sensaçãoaposta betano hojefome. Isso ocorre por meioaposta betano hojeduas proteínas que "causam" a fome. Perto dali há outra região do sistema nervoso capazaposta betano hoje"neutralizar" a fome, por meioaposta betano hojeoutras duas proteínas.

A grosso modo, esse dois conjuntosaposta betano hojecélulas nervosas estão ligados a sinais como "estou com fome" ou "estou sem fome". A transmissão desses sinais envolve também hormônios que circulam no sangue, principalmente, que podem chegaraposta betano hojevárias regiões do corpo que cuidam da ingestãoaposta betano hojealimentos e do armazenamentoaposta betano hojeenergia, como o intestino e o pâncreas.

Mas o que é a fomeaposta betano hojesi eaposta betano hojeonde vêm os "dados" para o cérebro "saber o que fazer"?

Bem, a fome física é a necessidadeaposta betano hojecomer, que nos leva a sairaposta betano hojebuscaaposta betano hojealimentos para, portanto, continuarmos vivos. É um sinal fisiológico. Mas também tem a ver com subalimentação e desnutrição, ou melhor, a impossibilidadeaposta betano hojese alimentar ou o fatoaposta betano hojefazer issoaposta betano hojeforma errada. Logo, não se trata apenasaposta betano hojeestômago cheio ou vazio, mas também da cargaaposta betano hojenutrientes no intestino delgado, por exemplo. Uma pessoa obesa pode estar desnutrida.

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileiraaposta betano hojeNutrologia (Abran), explica que o eixo intestino-cérebro é responsável por essa transmissãoaposta betano hojemão dupla. A microbiota intestinal, composta principalmente por bactérias que colonizam o corpo logo após o nascimento, produz diversas substâncias que modulam o sistema nervoso central. É dessa relação com o sistema nervoso central que surgem as ordens como "coma mais" ou "coma menos" e a regulação do metabolismo.

O alimento e seus nutrientes entram como combustível necessário para o funcionamento desses processos.

Imagine uma cenoura, vegetal ricoaposta betano hojeuma substância antioxidante que protege a célula, o carotenoide. Ela é mastigada, segue pelo trato digestório, é digerida no estômago e absorvida no intestino delgado. Depoisaposta betano hojeuma sérieaposta betano hojeprocessosaposta betano hojequebra, a cenoura é transformadaaposta betano hojemacro e micronutrientes, segue pela corrente sanguínea até o fígado, onde é metabolizada por meioaposta betano hojemilharesaposta betano hojereações enzimáticas. Depois volta para a corrente sanguínea e, com ajuda do coração, chega ao organismo como um todo.

Um dos destinos são células, que para sobreviver também precisamaposta betano hojeenergia, que é basicamente a glicose, uma das moléculas resultantes da quebra dos nutrientes da cenoura.

Mas "cada refeição que você ingere, você está alimentando não apenas você, mas milhões e trilhõesaposta betano hojebactérias no seu intestino", explica Ribas Filho.

E essas bactérias presentes no intestino têm papel fundamental nas defesas do corpo contra invasores, já que o sistema imunológico tem emaposta betano hojebase a "microbiota comensal". A maioria das células imunes do corpo ficam nessa região, e a microbiota intestinal atua no amadurecimento, no desenvolvimento e na regulação imunológica.

Mas não é qualquer quantidade ou variedadeaposta betano hojecomida que fará todo esse processo dar certo. "O segredo da vida está no meio", resume o nutrólogo.

Em níveis adequados, os nutrientes fazem com que o sistema imunológico adquirido, aquele que foi gerado ao longo da vida, tenha uma "produção maioraposta betano hojeimunoglobulina, mais eliminaçãoaposta betano hojebactérias, mais eliminaçãoaposta betano hojevírus, mais eliminaçãoaposta betano hojefungos, uma resposta autoimune maior e destruiçãoaposta betano hojecélulas, quer seja cancerosas ou infectadas por vírus".

Nutrientes também estimulam o timo (glândula do sistema imunológico) a produzir linfócitos, que expressam citocinas anti-inflamatórias e macrófagos, que farão fagocitose (processoaposta betano hojeingestão e destruição) e te defendem contra agentes bacterianos, fungicidas, fúngicos, vírus e células cancerosas."

E a faltaaposta betano hojenutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo. "Quando há deficiênciaaposta betano hojenutrientes, há, vamos assim dizer, uma diminuição na produçãoaposta betano hojeimunoglobulinas, ou seja, aquelas células, aquelas proteínas que lhe protegem. E, consequentemente, você tem uma redução naaposta betano hojeeliminação bacteriana e naaposta betano hojedestruiçãoaposta betano hojecélulas infectadas."

Segundo Ribas Filho, não é por acaso que,aposta betano hojegeral, pessoas desnutridas demandam mais cuidados intensivos do que atletas, por exemplo. A relação direta com uma maior gravidade da doença vale também para obesidade, tabagismo e sedentarismo, por exemplo.

Só que a solução não é tirar o atrasoaposta betano hojeuma hora para a outra.

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Legenda da foto, A faltaaposta betano hojenutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo

"O problema é que muitas vezes se confunde, e se oferece uma grande quantidadeaposta betano hojeenergia para aquela pessoa achando que está desnutrida e magra. Mas se você for observaraposta betano hojefavelas, nas classes mais pobres, no Brasil eaposta betano hojeoutros países, a grande maioria são mulheres obesas. E elas estão desnutridas. Mas porque têm uma ingestão altíssimaaposta betano hojecalorias,aposta betano hojemacronutrientes, principalmente carboidratos, que são baratos, e gorduras."

Mas qual seria o tempo ideal? Bem, isso variaaposta betano hojeuma pessoa para outra, masaposta betano hojegeral dura pelo menos três meses para mudanças na alimentação começarem a surtir efeito no sistema imunológico.

"O sistema imunológico demanda tempo para começar a produzir as suas célulasaposta betano hojedefesa, pois tem as células inatas, com as quais você já nasce, e outras que com o passar do tempo você vai se adaptando e vai recebendo e seu organismo vai se defendendo. Se nós fizéssemos uma avaliação, por exemplo,aposta betano hojeum paciente X que tem deficiênciaaposta betano hojezinco e cálcio e fizéssemos a reposição, é lógico, evidente, que seria o ideal. Mas também não posso dar altas dosesaposta betano hojevitaminas ouaposta betano hojeminerais porque o excesso também tem ação pró-oxidante. A falta é um problema e o excesso também. Baseado nisso, é o velho segredo da vida que está no meio."

Consequências da desnutrição no combate ao coronavírus

Ao longo da pandemia, gruposaposta betano hojepesquisa investigaram as consequências da nutrição deficienteaposta betano hojepacientes infectados com covid-19. E as causas para problemasaposta betano hojealimentação vão além da fome ligada à pobreza.

Um dos primeiros estudos sobre o tema foi publicado no European Journal of Clinical Nutritionaposta betano hojeabrilaposta betano hoje2020 a partiraposta betano hojedadosaposta betano hoje182 pacientesaposta betano hojeWuhan, cidade chinesa onde começou oficialmente a pandemia, no fimaposta betano hoje2019.

Os pesquisadores levantaram diversas hipóteses para os quadrosaposta betano hojedesnutrição, presenteaposta betano hojemetade dos pacientes com covid-19, principalmente os idosos. Entre eles, o impactoaposta betano hojesintomas gastrointestinais na ingestãoaposta betano hojealimentos, a perdaaposta betano hojeapetite por ansiedade, a redução dos níveisaposta betano hojealgumas proteínas durante a resposta do corpo ante uma inflamação grave e o quadroaposta betano hojediabetes mellitus (associado a problemas no metabolismoaposta betano hojenutrientes).

Outro estudo sobre o tema foi publicado no British Journal of Nutrition e produzido por pesquisadoresaposta betano hojeToulouse, cidade do sul da França. Eles acompanharam 80 pacientes diagnosticados com covid-19 que foram internadosaposta betano hojeum hospital da região.

Do total, 30 foram diagnosticados com subnutrição. Esse quadro é definido a partiraposta betano hojediversos critérios, como o índiceaposta betano hojemassa corporal (relação entre peso e altura), perdaaposta betano hojepeso recente e redução na ingestãoaposta betano hojecomida.

No caso desses pacientes, muitos passaram a ter problema com alimentação depoisaposta betano hojecontraírem covid-19, que costuma afetar o olfato e o paladar dos pacientes. Por exemplo, 46% dos pacientes reduziram pela metade o consumoaposta betano hojealimentos durante a infecção e 28% tiveram perdaaposta betano hojeapetite.

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Legenda da foto, A faltaaposta betano hojeacesso regular a alimentos suficientes e nutritivos entre famílias carentes colocam-nasaposta betano hojemaior riscoaposta betano hojedesnutrição, fome oculta (deficiênciaaposta betano hojemicronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação

Segundo os pesquisadores, ao chegarem aos hospitais, esses pacientes tinham uma concentração da proteína albumina no sangue tão baixa quanto a detectadaaposta betano hojeoutras doenças inflamatórias graves. Essa proteína, ligada à regulação do pH sanguíneo, é usada por profissionaisaposta betano hojesaúde como indicador do nível nutricional do paciente, e a presença delaaposta betano hojeníveis muito baixos é associada a uma mortalidade maior.

O número reduzidoaposta betano hojepacientes envolvidos nesse estudo não permite conclusões amplas sobre o impactoaposta betano hojesubnutrição na mortalidade por covid-19. De todo modo, por um lado, o númeroaposta betano hojepacientes nutridos e subnutridos que precisaramaposta betano hojeum leito UTI era equivalente;aposta betano hojeoutro, os únicos três pacientes que morreram eram subnutridos. "Tendoaposta betano hojevista a alta prevalência, é um elemento essencial o suporte nutricional para pacientesaposta betano hojetratamento por covid-19", afirmam os pesquisadores franceses.

Impacto da alimentaçãoaposta betano hojerelação à covid-19

Para o médico Arnold R. Eiser, professor emérito da Universidade da Pensilvânia (EUA), a alimentação adequada talvez seja o fator mais importante na origem da tempestadeaposta betano hojecitocinas, nome dado a uma reação desmedida do sistema imunológico contra invasores como a covid-19 que acaba prejudicando o próprio corpo eaposta betano hojealguns casos levando à morte.

Em artigo publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine, ele discorre sobre características anti-inflamatórias das dietas japonesa e mediterrânea (ricasaposta betano hojeômega 3, verduras, legumes e cereais integrais, por exemplo)aposta betano hojecomparação ao perfil pró-inflamatório da dieta ocidental, ricaaposta betano hojecarne vermelha, laticínios e açúcar, entre outros. Estes estão ligados a reações inflamatórias do corpo e também estão entre os fatores associados ao surgimentoaposta betano hojedoenças cardiovasculares e obesidade, por exemplo.

Eiser defende mais pesquisas sobre o papel anti-inflamatório e preventivo da alimentação na pandemia. "A profilaxia da supressãoaposta betano hojecitocinas por meioaposta betano hojemudanças na dieta pode ser benéfica na redução da letalidadeaposta betano hojeuma pandemia como a da covid-19. Mudanças dietéticasaposta betano hojedireção a uma dieta anti-inflamatória também têm benefícios adicionais à saúde, incluindo redução da morbidade e mortalidade cardiovascular, redução da prevalênciaaposta betano hojedemência e efeitos antidiabéticos,aposta betano hojemodo que a saúde pública poderia se beneficiar mais amplamente do que apenas na pandemiaaposta betano hojecovid-19."

Por outro lado, um grupoaposta betano hojedezenasaposta betano hojepesquisadores europeus aventa outras hipóteses, como a relação entre alimentação e os níveisaposta betano hojeACE2, enzima usada como portaaposta betano hojeentrada pelo coronavírus para invadir as células humanas. Ou seja, alimentos ricosaposta betano hojegordura saturada (como carne vermelha e laticínios) podem deixar algumas pessoas mais vulneráveis à doença. Na direção oposta, alimentos com potencial antioxidante podem ser benéficos.

Para a especialistaaposta betano hojesaúde pública nutricional Amanda Avery, professora da Universidadeaposta betano hojeNottingham (Reino Unido), outro fator possível passa pela relação entre alimentação e os conjuntosaposta betano hojemicro-organismos (microbiota ou flora) presentes no intestino e nos pulmões.

Alimentos fermentados e probióticos, afirma ela, têm potencial para ajudar o organismo a prevenir infecções como a covid-19. No intestino, por exemplo, vivem bactérias que se nutrem do que comemos e assim se proliferam e produzem mais nutrientes.

Todos os pesquisadores defendem estudos mais aprofundados sobre o tema.

Qualidade da alimentação e disparidades raciais

Em artigo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, um grupoaposta betano hojecinco pesquisadoresaposta betano hojeinstituições dos EUA, entre elas a Universidade Harvard, e um da Universidadeaposta betano hojeAtenas (Grécia), tratam do impacto muito maior da pandemia sobre comunidades negras, latinas e indígenasaposta betano hojeterritório americano a partir do pontoaposta betano hojevista da alimentação.

Segundo eles, essas comunidades são proporcionalmente mais afetadas por problemas nutricionais, obesidade e outras doenças crônicasaposta betano hojerazãoaposta betano hojefatores socioeconômicos, educacionais e ambientais. "Pessoasaposta betano hojesituaçãoaposta betano hojeinsegurança alimentar e vivendoaposta betano hojedesertosaposta betano hojecomidas (lugares com pouca ofertaaposta betano hojealimentos saudáveis) têm acesso predominante a alimentos baratos e processados."

Essas disparidades ficaram ainda mais nítidas durante a pandemia, que atingiu desproporcionalmente pessoas negras, latinas e indígenas nos EUA. Esses grupos chegaram a ter taxasaposta betano hojeinternação cinco vezes maior que a dos brancos, por exemplo, e a mortalidade dos negros é duas vezes maior.

"As disparidadesaposta betano hojesaúdeaposta betano hojenutrição e obesidade estão intimamente relacionadas às alarmantes discrepâncias raciais e étnicas relacionadas à covid-19."

A qualidade da alimentação não é, obviamente, o único fator envolvido no impactoaposta betano hojeminorias étnicas ou classes menos favorecidas. Pesquisadores apontam outras razões, como a natureza dos empregos (mais presenciais e, portanto, expostos), o acesso desigual ao sistemaaposta betano hojesaúde, a densidade populacional das habitações, a faltaaposta betano hojesaneamento básico e a insegurança alimentar.

Nos EUA, o númeroaposta betano hojefamílias latinas e negras que enfrentam a possibilidadeaposta betano hojenão ter o que comer é três vezes maior do que entre famílias brancas, segundo pesquisa publicada pelo Urban Institute a partiraposta betano hojedados da Pesquisaaposta betano hojeRastreamento do Coronavírus nos EUA. Durante a pandemia, o númeroaposta betano hojeamericanos que passam fome passouaposta betano hoje35 milhões para 50 milhões.

A situação não é diferente nas favelas brasileiras, que somam cercaaposta betano hoje13 milhõesaposta betano hojehabitantes.

Um estudo feitoaposta betano hojeduas favelasaposta betano hojeSão Paulo no início da quarentena investigou a insegurança alimentar entre março e junhoaposta betano hoje2020 a partiraposta betano hoje909 chefesaposta betano hojefamília. A conclusão dos pesquisadores foi aaposta betano hojeque a faltaaposta betano hojeacesso regular a alimentos suficientes e nutritivos por essas famílias colocam-nasaposta betano hojemaior riscoaposta betano hojedesnutrição, fome oculta (deficiênciaaposta betano hojemicronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação.

Na pesquisa, 88% das famílias são chefiadas por mulheres jovens que trabalham como faxineiras, auxiliaresaposta betano hojecozinha eaposta betano hojeserviçosaposta betano hojevendas, algumas das categorias profissionais mais expostas ao contágio da covid-19. A cada dez, nove relataram incertezas sobre a compra ou o recebimentoaposta betano hojealimentos, seis comiam menos do que deveriam e cinco viveram insegurança alimentar moderada ou grave. Os fatores associados à fome são baixa renda, baixa escolaridade e moraraposta betano hojecasa sem filhos (o que reduz o valor do Bolsa Família ou do auxílio emergencial).

Um quinto das famílias recebia Bolsa Família, principal fatoraposta betano hojeproteção socioeconômica. Ao longo da pandemia, os pesquisadores avaliaram o acesso a alimentos nas duas favelas (Heliópolis e Vila São José) a cada seis meses, e ficou claro como a trajetória da escassezaposta betano hojealimentos (saudáveis ou não) era marcada por altos e baixos. O auxílio emergencial deu um certo alívio, mas a interrupção, a redução do valor e a limitação para beneficiários trouxeaposta betano hojevolta a insegurança alimentar.

Essa situação, entretanto, não começou com a pandemia, mas se agravou com ela.

Em entrevista à BBC News Brasil, a nutricionista Luciana Tomita, professora da Universidade Federalaposta betano hojeSão Paulo (Unifesp) e uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudoaposta betano hojeSão Paulo, disse que o mais chocante foi encontrar quase metade das famílias já nas primeiras semanas da pandemiaaposta betano hojesituaçãoaposta betano hojeescassezaposta betano hojealimentos moderada ou grave. "A redução da renda dessa população foi quase automática", disse Tomita.

Grande parte dessas famílias tem empregos temporários, sem carteira assinada,aposta betano hojerenda instável e insuficiente. Além disso, há uma dificuldadeaposta betano hojeoferta e acesso a alimentos e ainda mais nutritivos. Perto das comunidades há fácil acesso a alimentos ultraprocessados. Os preços também foram monitorados. Os pesquisadores relataram ouvir como resposta ao não consumoaposta betano hojealimentos saudáveis a frase "é caro e não enche barriga".

E quais são as saídas possíveis?

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Legenda da foto, Durante a pandemia, houve alta dos preçosaposta betano hojealimentos no Brasil, que afetam mais as famílias mais pobres

Segundo a legislação brasileira, a segurança alimentar e nutricional "consiste na realização do direitoaposta betano hojetodos ao acesso regular e permanente a alimentosaposta betano hojequalidade,aposta betano hojequantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais."

Por outro lado, a insegurança alimentar ocorreaposta betano hojetrês níveis, segundo a escala Ebia. Leve, quando há incerteza ou receio a respeito da capacidadeaposta betano hojepassar fomeaposta betano hojeum futuro próximo ouaposta betano hojeconseguir alimentos; moderada, situaçãoaposta betano hojeque há restrição na quantidade e na qualidade do alimento para a família; e grave, quando as pessoas que relatam passar fome, quando não se consome comida por um dia inteiro ou mais.

Em estudo sobre a fome durante a pandemiaaposta betano hojecovid-19, publicada na revista SER Social, a socióloga Sirlândia Schappo, professora da Universidade Federalaposta betano hojeSanta Catarina (UFSC), diz: "a ausência do direito humano à alimentação envolve não apenas a faltaaposta betano hojerenda ou da disponibilidadeaposta betano hojealimentos, masaposta betano hojevários outros fatores, como o não acesso ao alimento, a faltaaposta betano hojecondições adequadas para produzir o alimento, o não acesso à terra, a faltaaposta betano hojecondiçõesaposta betano hojesaúde ouaposta betano hojehabitação, entre outras".

Uma das propostas do estudo coliderado por Tomita nas duas favelas paulistanas é a agricultura familiar, setor responsável por produzir 75% dos alimentos consumidos no Brasil, segundo dados da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura).

A pesquisadora também acompanhou estudantesaposta betano hojeuma escola públicaaposta betano hojeHeliópolis onde construíram uma horta pedagógica com a intençãoaposta betano hojeincentivar a alimentação saudável e a produção própria. E ficou claro que o sucesso do projeto dependeaposta betano hojeenvolver a comunidade como um todo. "Segurança alimentar e nutricional é isso, né? Acesso a alimentos saudáveis, seguros,aposta betano hojequantidade e qualidade."

Além disso, Tomita defende a ampliaçãoaposta betano hojeprogramasaposta betano hojetransferênciaaposta betano hojerenda, como o Bolsa Família e o auxílio emergencial. Para ela, o benefício precisa atender bem também os idosos e os adultos que não têm filhos, "com um valor que permita comprar alimentos, botijãoaposta betano hojegás e materiais básicosaposta betano hojenecessidade e higiene para que consiga garantir o seu direito à alimentação adequada e saudável".

O pagamento do auxílio emergencial começouaposta betano hojeabrilaposta betano hoje2020, sendo R$ 600 ou R$ 1.200 para mães chefesaposta betano hojefamília. Depoisaposta betano hojecinco parcelas, o valor caiu pela metade. O último dos repasses,aposta betano hojeR$ 300 ou R$ 600, ocorreuaposta betano hojedezembro. O programa foi retomadoaposta betano hoje2021 com quatro parcelasaposta betano hojeR$ 250 e menos beneficiários.

Estima-se que o custo dos pagamentos para 68 milhõesaposta betano hojepessoas tenha chegado a R$ 300 bilhõesaposta betano hoje2020, quase dez vezes o valor do Bolsa Família, que beneficia cercaaposta betano hoje14 milhõesaposta betano hojefamílias com repasse médioaposta betano hojequase R$ 200.

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