Covidsign up bet pluscrianças: os sintomas incomuns que podem levar a erros fataissign up bet plusdiagnóstico:sign up bet plus

Crédito, Elia Caldini

Legenda da foto, A imagem mostra um axôniosign up bet plusum neurônio do cérebrosign up bet plusuma criança com síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P). A seta aponta o vírus SARS-CoV-2sign up bet plusuma vesícula no citoplasma do axônio

Uma foi internado com convulsões. Outra, com suspeitasign up bet plusapendicite. Uma terceira criança -sign up bet pluscaso já descritosign up bet plusestudo anterior da mesma equipe e detalhadosign up bet plusreportagem da BBC Brasil - faleceu por miocardite, uma inflamação no coração.

Com base no estudo, os patologistas fazem um alerta à comunidade médica: "A criança chega no hospital com manifestações que fazem você pensarsign up bet plusoutro diagnóstico, mas a nossa mensagem é que, nesse momento, no meio da pandemia, se a criança chega com essas apresentações, a covid tem que ser considerada", diz à BBC Brasil a médica patologista e professora da FMUSP Marisa Dolhnikoff, coordenadora do estudo.

Os casos são relatadossign up bet plusum estudo publicado na semana passada na revista científica EClinicalMedicine, uma publicaçãosign up bet plusacesso livre da revista Lancet.

A seguir, Dolhnikoff e o autor principal do estudo, o patologista e infectologista da FMUSP e do Instituto Adolfo Lutz dr. Amaro Duarte, explicam o que as autópsias revelam sobre a covid infantil e como elas podem influenciar o entendimento da comunidade científica internacional sobre os mecanismos por trás das mortes dessas crianças.

A equipe explica também como os cientistas lidam com o desafiosign up bet plusidentificar e descrever um vírus que nunca foi visto antes.

sign up bet plus SIM-P, a sign up bet plus c sign up bet plus ovid infantil atípica que continua fugindo ao diagnóstico

Crianças, para a pediatria, são pacientes com até 18 anossign up bet plusidade.

Desde abril do ano passado, os especialistas sabem que quando a covid nessa faixa etária é sintomática, ela se apresentasign up bet plusduas maneiras:

A forma mais "clássica", caracterizada pela doença pulmonar (como acontece com os adultos), tende a afetar crianças com comorbidades. Isso se confirmousign up bet plusdois casos investigados no novo estudo.

Crédito, Laura D. Jardanovski

Legenda da foto, A médica patologista e professora da FMUSP Marisa Dolhnikoff (foto) e o patologista Paulo Saldiva lideram os estudossign up bet plusautópsiasign up bet plusóbitos da covid no Hospital das Clínicas

Um deles foi osign up bet plusuma adolescente que tinha câncer. "É um caso complexo, onde fica difícil determinar se a causa da morte foi o câncer ou a covid", diz Dolhnikoff, que lidera, ao lado do patologista Paulo Saldiva, os estudossign up bet plusautópsiasign up bet plusóbitos pela covid no Hospital das Clínicas da FMUSP.

A outra criança, com idade entre zero e dois anos, havia nascido prematuramente e tinha malformações congênitas. (A pedido da equipe, para evitar ferir os sentimentos da família, omitimos a idade exata da criança.)

Os outros três casossign up bet pluscovid-19 descritos no estudo têm características comuns a uma manifestação atípicasign up bet pluscovid-19 infantil que os especialistas batizaramsign up bet plusSíndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). E é essa síndrome que tem confundido médicos na hora do diagnóstico. A BBC Brasil traz um depoimentosign up bet plusuma mãe que perdeu seu filho pela SIM-P nesse link.

"A febre alta e contínua é um dos critérios para você dar um diagnósticosign up bet plusSIM-P", diz Dolhnikoff.

Mas por razões que os pesquisadores desconhecem, junto com a febre, as crianças podem apresentar quadros iniciais muito distintos.

"A criança chega ao hospital com muita dor na barriga, febre, vômito, podendo ou não ter diarreia, você aperta a barriga, a barriga dói. Você vai pensar na apendicite como um dos diagnósticos possíveis", explica Dolhnikoff.

"Uma das criancas no estudo foi operada por apendicite. Os médicos tiraram o apêndice, mas era covid."

Crédito, Amaro Duarte

Legenda da foto, O patologista e infectologista da FMUSP e do Instituto Adolfo Lutz Amaro Duarte, autor principal do estudo

Uma outra criança, com idade entre oito e dez anos, foi admitida com doressign up bet pluscabeça, confusão mental e convulsões.

"A criança era normal, começou a ter convulsõessign up bet plusmal epilético. Foi tratada com um anticonvulsivante, mas não conseguiam tirá-la daquele quadro. Era um quadro cerebral."

A terceira criança com covid atípica estudada (um caso já descritosign up bet plusartigo na revista Lancet Child and Adolescent Health) chegou ao pronto socorro com sintomas cardíacos graves. Ela também tinha dores abdominais e faltasign up bet plusar, entre outros sintomas.

Dolhnikoff explica que, embora as crianças tenham entrado no hospital com quadros distintos, quando morreram tinham inflamação generalizada, com vários órgãos comprometidos - uma característica da SIM-P.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, A bióloga e professora da FMUSP Elia Caldini. Ao fundo, o microscópio eletrônico, que aumenta dezenassign up bet plusmilharessign up bet plusvezes as amostrassign up bet plustecido para que os patologistas vejam o Sars-CoV-2

Preocupadasign up bet plusevitar que o estudo gere alarme na população, Dolhnikoff coloca os casossign up bet pluscontexto:

"Felizmente, a morte é um evento raro. A maioria das criancas com SIM-P responde bem ao tratamento hospitalarsign up bet plussuporte e se recupera", ela diz. "Há várias intervenções possíveis, por isso é tão importante fazer o diagnóstico antessign up bet plusque o caso fique grave demais."

Por que as crianças morrem? - A hipótese da USP

A SIM-P permanece misteriosa e sobre ela os especialistas divergem.

Muitos na comunidade científica defendem que ela seja, na verdade, uma resposta imunológica anormal, somentesign up bet plusalgumas crianças, possivelmente por predisposição genética, após a covid.

Mas para os patologistas da FMUSP, as autópsias contam uma história um pouco diferente.

"Muitos estão sugerindo que essas crianças que têm a covid grave podem ter tido a infecção, o vírus estava só no nariz e na boca da criança mas gerou uma resposta completamente descontrolada do sistema imune dessa criança. Isso é o que se propõe", diz Dolhnikoff.

"Mas nós estamos dizendo que não, não é apenas isso. Não é que o vírus passou lá e foi embora."

Dolhnikoff e a equipe acham muito possível que as crianças afetadas tenham, sim, alguma característica genética que as torne mais vulneráveis, "caso contrário, muito mais crianças estariam morrendosign up bet pluscovid".

"Mas as autópsias estão mostrando claramente que, nessas crianças com quadro grave, o vírus foi muito invasivo e agressivo, se espalhou pelos tecidos e lesou esses tecidos."

"Esses dois fatores, a agressividade do vírus e a resposta imune, levaram essas crianças à morte."

O estudo também veio comprovar que as tromboses, fenômeno associado à covidsign up bet plusadultos, estão também presentes nas crianças com SIM-P, diz Dolhnikoff.

"Essa constatação é importante porque influi nos possíveis tratamentos."

Conhecendo um inimigo novo - como cientistas identificaram o Sars-CoV-2

A equipe da FMUSP é a única no mundo fazendo estudossign up bet plusautópsia com foco nessa faixa etária, daí a relevância desse estudo. Os patologistas podem literalmente "enxergar" o Sars-CoV-2sign up bet plusação no corpo das crianças.

Mas como sabem que o que estão vendo ali é mesmo o novo coronavírus? Amaro Duarte, autor principal do estudo, explica:

"Nós, patologistas mundo afora trabalhando com autópsias, estamos descrevendo um agente infeccioso que não tinha sido descrito anteriormente. Quando você faz isso, precisa se cercarsign up bet plusque aquilo que você está vendo ali é realmente aquele agente, no caso o Sars-CoV-2."

Para eliminar qualquer dúvida, a equipe da USP baseou seus resultadossign up bet plustrês métodossign up bet plusinvestigação.

Um deles foram examessign up bet plusRT-PCR (sigla para Reverse-Transcription Polymerase Chain Reaction), também usados para diagnósticosign up bet pluscovid-19 na população.

"Esse método usa biologia molecular para detectar elementos genéticos, nesse caso, o RNA do vírus, no tecido coletado na autópsia", diz Duarte.

O segundo método é a microscopia eletrônica, que aumenta dezenassign up bet plusmilharessign up bet plusvezes o tamanho da amostrasign up bet plustecido - como na imagem abaixo, feita pela bióloga e professora da FMUSP Elia Caldini, outra integrante da equipe.

Crédito, Elia Caldini

Legenda da foto, Imagemsign up bet plusmicroscopia eletrônica colorida artificialmente mostrando dois vírus Sars-Cov-2 (setas) marcados com partículassign up bet plusouro (bolinhas escuras). 'A técnica imunoeletrônica demonstrasign up bet plusmaneira inequívoca a presença do vírus na parede do capilar sanguíneo no cérebro da criança', escreve a autora da imagem, Dra. Elia Caldini.

"Por esse método, a gente mostra as partículas virais no coração, cérebro, pulmão e na parede intestinal das crianças", diz Duarte.

"E nós introduzimos uma metodologia nova, que é a microscopia imunoeletrônica,sign up bet plusque a gente usa um anticorpo acoplado a uma partículasign up bet plusouro para marcar a partícula viral. Então, a gente vê a partículasign up bet plusouro sobre a partícula viral, comprovando que aquilo ali é mesmo o vírus."

"Nossa colega Elia Caldini levou meses desenvolvendo essa metodologia e tivemos um resultado muito bom, com imagens muito boas."

Para reforçar ainda mais seus resultados, a equipe lançou mãosign up bet plusuma terceira técnica, a imuno-histoquímica.

Crédito, Cristina Kanamura

Legenda da foto, Intestino com inflamação pela covid-19, observado pelo microscópio comum. A coloração vermelha (seta) marca a infecçãosign up bet pluscélula intestinal pelo vírus SARS-CoV-2.

Crédito, Cristina Kanamura

Legenda da foto, Coraçãosign up bet pluscriança com miocardite pela covid-19, observado pelo microscópio comum. A coloração vermelha marca a infecção pelo vírus SARS-CoV-2. No quadrado pontilhadosign up bet plusverde (e no detalhe): célulasign up bet plusvaso sanguíneo. Na seta verde: célulasign up bet plusmúsculo cardíaco.

"A técnica imuno-histoquímica é largamente usadasign up bet pluspatologia para detectar antígenos - proteínassign up bet plusum tumor,sign up bet plusuma bactéria,sign up bet plusum vírus ousign up bet plusum parasita - nos tecidos", diz Duarte.

"E para não ficar nenhuma dúvida, a gente utilizou dois anticorpos diferentes para detectar duas proteínas do Sars-CoV-2 nos tecidos."

"Esse anticorpo vai estar ligado a uma substância que produz cor ao entrarsign up bet pluscontato com o antígeno - a cor vermelha que você vê nas fotos. Padronizamos a técnica no Adolfo Lutz para a detecçãosign up bet plusantígenos do Sars-CoV-2."

Feridosign up bet plusbatalha e as lições do estudo para a comunidade médica

O estudo publicado na EClinicalMedicine - cujo título é "An autopsy study of the spectrum of severe COVID-19 in Children" (em tradução livre, Um estudosign up bet plusautópsia do espectrosign up bet plusCOVID-19 gravesign up bet pluscrianças" - é o culminarsign up bet plusmesessign up bet plustrabalho da equipe da FMUSP.

Para Duarte, foi um período particularmente difícil.

Por ser também infectologista, o médico acabou tendo seu próprio encontro com o coronavírus: contraiu a covid-19 no pronto socorro do Instituto do Coração, o Incor,sign up bet plusjunho do ano passado. Não precisou ser internado, conta, mas foram diassign up bet plusmuita ansiedade.

"É muito bom que casos gravessign up bet pluscrianças sejam raros. Imagine se a criança fosse acometidasign up bet pluslarga escala, como acontece com pessoassign up bet plusmeia idade? Teríamos gerações inteiras comprometidas."

Ainda assim, ele diz, o estudo traz lições importantes para a comunidade médica.

"Faça o teste duas vezes para ter certeza", recomenda. "É importante insistir nessa pesquisa antessign up bet plusque o caso fique muito grave."

"E se a criança está apresentando quadrosign up bet plusgravidade que necessitesign up bet plushospitalização, que fuja da curva do que é esperado para aquela faixa etária, insista o máximo possível para chegar a um diagnóstico, seja do Sars-CoV-2 ousign up bet plusoutras doenças virais."

Para as famílias com crianças, Duarte lembra que embora óbitos sejam proporcionalmente raros nessa faixa etária, elas também precisam ser protegidas do contato com o vírus.

"É importante ensinar a criança a seguir as medidassign up bet plusprevenção, como usar máscaras, lavar as mãos e evitar aglomerações."

Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 1sign up bet plusabrilsign up bet plus2020 e 13sign up bet plusmarçosign up bet plus2021 foram notificados no Brasil 813 casos confirmadossign up bet plusSIM-Psign up bet pluscrianças com até 19 anossign up bet plusidade. Destes, 51 resultaramsign up bet plusóbitos.

Com base nessa reportagem, conclui-se que haja grandes chancessign up bet plussubnotificação.

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