Paixãoaposta futebol 365Cristo: como foi a morteaposta futebol 365Jesus, segundo a ciência:aposta futebol 365

Legenda do áudio, Como foi a morteaposta futebol 365Cristo, segundo a ciência

"Nessas cartas reparamos que há uma mudançaaposta futebol 365enfoque. Paulo não mais trabalha com o Jesus histórico, ele trabalha com o Jesus da fé", explica o historiador André Leonardo Chevitarese, autor de, entre outros, Jesusaposta futebol 365Nazaré: Uma Outra História, e professor do Programaaposta futebol 365Pós-Graduaçãoaposta futebol 365História Comparada do Institutoaposta futebol 365História da Universidade Federal do Rioaposta futebol 365Janeiro (UFRJ).

Diante disso, a primeira conclusão é que, desconsiderando a religiosidade decorrente da figuraaposta futebol 365Jesus, ele foi um condenado político.

"Jesus histórico conheceu uma morte política. Religião e política são coisas muito unidas, principalmente quando estamos tratandoaposta futebol 365uma liderança popular", acrescenta Chevitarese.

"Não há como separar as andanças [de Jesus] como algo só político ou só religioso. As fronteiras são muito fluidas. E isso acaba sendo chave para compreender o movimentoaposta futebol 365Jesus com Jesus [ainda vivo] e o movimentoaposta futebol 365Jesus sem Jesus [depois da morte dele, com as pregações dos primeiros seguidores]."

Paixão e morte

A morte na cruz, cujo simbolismo acabou se confundindo com a própria religiosidade cristã, não era um acontecimento raro naquela época.

"A crucificação era a penaaposta futebol 365morte usada pelos romanos desde o ano 217 a.C. para escravos e todos aqueles que não eram cidadãos do Império", explica o cientista político, historiador especializadoaposta futebol 365Oriente Médio e escritor italiano Gerardo Ferrara, da Pontifícia Universidade da Santa Cruz,aposta futebol 365Roma.

"Era uma tortura tão cruel e humilhante que não era reservada a um cidadão romano. Era precedida pelo açoite, infligido com vários instrumentos, conforme a origem e a proveniência social dos condenados."

"A crucificação não foi invenção romana mas estava amplamente disseminada no Império Romano. Fazia parteaposta futebol 365uma rotina dentro dos territórios que hoje chamamosaposta futebol 365Israel", pontua Chevitarese. "Mais ou menos uns 40 anos depois da morteaposta futebol 365Jesus, quando houve a tomadaaposta futebol 365Jerusalém, milharesaposta futebol 365judeus foram crucificados."

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, A crucificação não foi invenção romana mas estava amplamente disseminada no Império Romano, diz pesquisador/ acima, obraaposta futebol 365Jesus sendo erguido na cruz,aposta futebol 365Rubens

Os Evangelhos dedicam-se também a narrar as últimas horasaposta futebol 365Jesus, detalhando seu sofrimento. De acordo com as escrituras sagradas, ele teria sido levadoaposta futebol 365uma instância a outra nessas horasaposta futebol 365julgamento, com certa hesitação entre as autoridades. Chevitarese diz que historicamente isso não pode ser verdade.

Isto porque, a julgar pelos relatos, Jesus foi morto na antevéspera da Páscoa judaica. "A festa da Páscoa é uma festa política, pois é quando se celebra a passagem da escravidão para a liberdade, a saída do povo hebreu do Egito para a 'terra onde corre o leite e o mel'", lembra o historiador.

"Então imaginemos: uma cidade abarrotadaaposta futebol 365judeus, como a autoridade romana vai botar um judeu para carregar uma cruz pela cidade, no meioaposta futebol 365tantos judeus? Seria um convite à rebelião. Com uma pessoa como Jesus ninguém poderia perder tempo. Foi pego e imediatamente crucificado." Para Chevitarese, os relatos que existem dando contaaposta futebol 365acontecimentos entre a prisãoaposta futebol 365Jesus, na madrugadaaposta futebol 365quinta para sexta, eaposta futebol 365crucificação, horas mais tarde, não são históricos; são teologia.

Alguns dias antes, no que acabou se eternizando como Domingoaposta futebol 365Ramos, Jesus tinha entradoaposta futebol 365Jerusalém. Foi uma rara aparição deleaposta futebol 365uma grande cidade, o que teria transformado-oaposta futebol 365alvo fácil das autoridades.

Mas por que ele incomodava? Porque liderava um grupo justamente proclamando um novo reino, o Reino dos Céus, ou reinoaposta futebol 365seu pai. E seu discurso eraaposta futebol 365um reino diametralmente oposto ao Império Romano, segundo quatro pilares básicos. "Ele se torna messias por conta dessa ideia", defende Chevitarese.

O primeiro pilar do reino defendido por Jesus era a justiça. Não qualquer justiça, mas a justiça divina. "E ele se referia a Deus como papai, seu pai celestial. Essa justiça tão equilibrada, era claro, se opunha a outro reino, aquele que já estava instalado e que controlava a Judeia: o dos romanos", compara o historiador. "Ele está dizendo: aqui no meu reino tem justiça; o do César é o reino da injustiça."

O segundo ponto é que Jesus proclamava um reinoaposta futebol 365paz, tambémaposta futebol 365oposição ao estado bélico do governo imposto pelos romanos, um império que avançava sobre outros povos.

O terceiro pilar é comensalidade: comida, bebida, fartura na mesa dos pobres, dos camponeses. "O grupo que acompanhava Jesus ouviaaposta futebol 365pregação e,aposta futebol 365alguma maneira, achava interessante o que ele estava dizendo", diz Chevitarese. Por fim, Jesus falavaaposta futebol 365um reinoaposta futebol 365igualdade, com a coparticipaçãoaposta futebol 365todos. "O ministérioaposta futebol 365Jesus éaposta futebol 365homens e mulheres, iguais", nota o historiador.

"O importante é que [nesses discursos] política, religião, economia, sociedade, tudo isso se inseria num programa messiânico. Não estava claro onde começava a política e terminava a religião, nem onde terminava a religião e começavam as questões sociais. Tudo estava interligado", completa.

"Jesus morre por causaaposta futebol 365um reino, o reinoaposta futebol 365Deus. Esse é o movimentoaposta futebol 365Jesus com Jesus. A geração seguinte, o movimentoaposta futebol 365Jesus sem Jesus, ressignifica a morte dele como uma morte sacrificial, que ganha dimensão estritamente religiosa."

As autoridades romanas que serviam na região já estavam mapeando os movimentosaposta futebol 365Jesus. E encontraram a oportunidade perfeita quando ele resolveu entraraposta futebol 365Jerusalém. "Viram-no criando confusão no templo, às vésperas da Páscoa, com a cidade cheiaaposta futebol 365judeus vindos das mais diferentes regiões e pensaram: rapidamente esse homem temaposta futebol 365ser preso, crucificado", diz o historiador.

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, Discursoaposta futebol 365Cristo eraaposta futebol 365um reino diametralmente oposto ao do Império Romano; acima, ele retratadoaposta futebol 365obraaposta futebol 365Ticiano

"Todos os evangelistas concordamaposta futebol 365situar a morteaposta futebol 365Jesusaposta futebol 365uma sexta-feira, dentro do feriado da Páscoa", comenta Ferrara. Autor do livro Vita di Gesù Cristo, o padre, biblista e arqueólogo italiano Giuseppe Ricciotti (1890-1964) reuniu várias informações históricas, cruzou-as e concluiu que o mais provável é que a execução tenha ocorrido no equivalente ao 7aposta futebol 365abril do ano 30.

A morte na cruz

Eram três as maneirasaposta futebol 365se executar um condenado na Roma antiga. Segundo explica Chevitarese, um objetivo as unia: não permitir a preservaçãoaposta futebol 365vestígiosaposta futebol 365memória —aposta futebol 365outras palavras, impossibilitar que restos mortais fossem sepultados.

Geralmente aos circos romanos eram destinados os condenados por crimes como assassinato, parricídio, crimes contra o Estado e estupros. Na arena, esses criminosos enfrentavam feras até a morte — seus restos eram devorados pelos bichos. Uma segunda formaaposta futebol 365execução era a fogueira, que também não deixava muitos resíduos do corpo.

A crucificação era a pena destinada a escravos que atentavam contra a vida dos seus senhores e aqueles que se envolviamaposta futebol 365rebeliões. Alémaposta futebol 365todos os que não eram cidadãos romanos, casoaposta futebol 365Jesus. "Ainda vivos, na cruz, avesaposta futebol 365rapina já começavam a comer o condenado. Três ou quatro dias depois, a carne desse indivíduo, apodrecendo, caía da cruz e cães e outros animais terminavamaposta futebol 365fazer o serviço", contextualiza Chevitarese.

No início dos anos 2000, o médico legista norte-americano Frederick Thomas Zugibe (1928-2013), professor da Universidadeaposta futebol 365Columbia e ex-patologista-chefe do Instituto Médico Legal, fez uma sérieaposta futebol 365experimentos com voluntários para monitorar os efeitos que uma crucificação teria sobre o corpo humano. Os resultados foram publicados no livro The Crucifixion of Jesus: A Forensic Inquiry (A crucificaçãoaposta futebol 365Jesus: uma investigação forense,aposta futebol 365tradução livre).

Para seus estudos, ele utilizou uma cruzaposta futebol 365madeira com 2,34 metros na vertical e 2 metros na horizontal. Indivíduos — todos adultos jovens, na faixa dos 30 anos — foram suspensos nela e tiveram suas reações monitoradas eletronicamente, com eletrocardiograma, mediçãoaposta futebol 365pulsação e aferiçãoaposta futebol 365pressão sanguínea.

Atados assim, os voluntários não conseguiam encostar as costas na cruz e relataram fortes cãibras causadas pelo desconforto da posição, alémaposta futebol 365formigamentos constantes nas panturrilhas e nas coxas.

Na épocaaposta futebol 365Jesus diferentes formasaposta futebol 365cruz eram utilizadas nas execuções. As principais eram aaposta futebol 365formaaposta futebol 365T e aaposta futebol 365formaaposta futebol 365punhal. Não há consenso entre pesquisadores sobre qual teria sido a utilizada por Jesus. Ferrara acredita que teria sido a segunda.

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, "Detalhes da punição são confirmados pelo uso romano e por documentos históricos: os condenados eram amarrados ou pregados no patíbulo com os braços estendidos e erguidos no mastro vertical já fixado"; acima, crucificação retratada pelo artista Rubens

Para o médico Zugibe, Jesus carregou,aposta futebol 365seu caminho até o local da execução, apenas a parte horizontal. Ele escreveu que a estaca vertical costumava ser mantida no local das crucificações, fora da cidade.

E baseou-se no fatoaposta futebol 365que a parte horizontal pesava cercaaposta futebol 36522 quilos. A somaaposta futebol 365ambas as partes tinha entre 80 e 90 quilos, o que tornaria impossívelaposta futebol 365ser carregadaaposta futebol 365uma longa caminhada — que, conforme seus estudos, teria sidoaposta futebol 3658 quilômetros no casoaposta futebol 365Jesus.

"Detalhes da punição são confirmados pelo uso romano e por documentos históricos: os condenados eram amarrados ou pregados no patíbulo com os braços estendidos e erguidos no mastro vertical já fixado", esclarece Ferrara.

"Os pés eram amarrados ou pregados, por outro lado, ao poste vertical, sobre o qual uma espécieaposta futebol 365assentoaposta futebol 365apoio se projetava na altura das nádegas. A morte era lenta, muito lenta, e acompanhada por um sofrimento terrível. A vítima, levantada do solo a não maisaposta futebol 365meio metro, estava completamente nua e podia ficar pendurada por horas, senão dias, sacudida por espasmosaposta futebol 365dor, náuseas e a impossibilidadeaposta futebol 365respirar corretamente, já que o sangue nem sequer podia fluir para os membros que estavam tensos a pontoaposta futebol 365exaustão."

O que é um entendimento quase unânime entre os pesquisadores é que as cravas eram pregadas nos pulsos, e não nas palmas das mãos — por conta da compleição óssea, as mãos "se rasgariam" com o peso do corpo. "A estrutura das mãos e a ausênciaaposta futebol 365ossos importantes impediriam o suporteaposta futebol 365um peso tão grande e a carne das mãos seria dilacerada", ressalta Ferrara.

O médico Zugibe concluiu que os pregos tinham 12,5 centímetrosaposta futebol 365comprimento. Ele defendia que Jesus tinha sido pregado, sim, nas mãos, mas não no centro da palma e sim pouco abaixo do polegar. Já suspenso na cruz, os pésaposta futebol 365Jesus também foram fixados com cravas — segundo o médico, um ao lado do outro, e não sobrepostos como o imaginário consagrou. Essas perfurações, por atingirem nervos importantes, teriam sido causadorasaposta futebol 365dores insuportáveis e contínuas.

"Quanto tempo um indivíduo leva para morrer assim? Morre-seaposta futebol 365cãibra, que vai atrofiando seus músculos e levando-o a morrer por faltaaposta futebol 365ar, com muitas dores, dores gigantescas no corpo todo", narra Chevitarese. Ferrara, poraposta futebol 365vez, defende que Jesus tenha morrido por infarto do miocárdio,aposta futebol 365decorrência do esforço exaustivo.

Por meioaposta futebol 365seus experimentos, Zugibe analisou as três hipóteses mais aceitas para a morteaposta futebol 365Jesus: asfixia, ataque cardíaco e choque hemorrágico. Sua conclusão é que Jesus teve parada cardíacaaposta futebol 365virtude da hipovolemia, ou seja, a diminuição considerável do volume sanguíneo depoisaposta futebol 365toda a tortura e das horas pregado na cruz. Teria morrido, portanto,aposta futebol 365choque hemorrágico.

"[A morte na cruz] é uma morteaposta futebol 365violência física absurda. O tempo dependia das condições físicasaposta futebol 365que se encontrava o crucificado. Se a tortura anterior tivesse sido muito intensa, issoaposta futebol 365certa forma poderia fazer com que ele morresse mais rápido", diz Chevitarese. Ferrara acredita que "a agoniaaposta futebol 365Jesus não tenha durado mais do que algumas horas, talvez até menos do que duas, provavelmente devido à enorme perdaaposta futebol 365sangue devido à flagelação [anterior]".

Torturas

Crédito, Domíno Público

Legenda da foto, A morte na cruz é uma morteaposta futebol 365violência física absurda, lembra pesquisador/ acima, 'A flagelaçãoaposta futebol 365Cristo',aposta futebol 365Caravaggio

Se o condenado à morteaposta futebol 365cruz era visto pelos romanos como parteaposta futebol 365uma "escória", um não cidadão considerado criminoso e oriundo dos estratos sociais mais baixos, éaposta futebol 365se supor que os carrascos não poupassem esses indivíduosaposta futebol 365toda sorteaposta futebol 365agressões. Para tanto, o instrumento utilizado na tortura era um chicote específico chamadoaposta futebol 365azorrague.

No casoaposta futebol 365Jesus, Ferrara acredita que tenha sido utilizado um com bolasaposta futebol 365metal com pontas feitasaposta futebol 365osso, capazaposta futebol 365rasgar a pele e arrancar pedaçosaposta futebol 365carne. "Justamente por ele ser um 'criminoso'aposta futebol 365baixa classe social eaposta futebol 365origem não nobre, no caso um judeuaposta futebol 365pequena província oriental do império", justifica ele.

De acordo com as pesquisas realizadas pelo médico Zugibe, o modeloaposta futebol 365chicote utilizado para o açoitamentoaposta futebol 365Jesus era feito com três tiras. Condenados assim costumavam receber 39 golpes com o instrumento — na prática, portanto, era como se fossem 117 chibatadas, já que essas pontas feitasaposta futebol 365ossoaposta futebol 365carneiro funcionavam como objetos perfurocortantes.

Isso, segundo explicações do médico, resultariaaposta futebol 365tremores e até desmaios, e um quadroaposta futebol 365hemorragias intensas, danos no fígado e no baço e acúmuloaposta futebol 365sangue e líquidos nos pulmões.

No caminho até o localaposta futebol 365crucificação, não havia limites para as torturas. Eram espancados, ridicularizados, vítimasaposta futebol 365intensa violência. Relatos bíblicos afirmam que, por sarcasmo, uma coroaaposta futebol 365espinhos teria sido cravada na cabeçaaposta futebol 365Jesus.

Zugibe queria descobrir qual era a planta utilizada para a tal coroa. Depoisaposta futebol 365entrevistar botânicos e estudiososaposta futebol 365biomas do Oriente Médio, chegou a duas possíveis espécies que seriam capazesaposta futebol 365fornecer espinhos grandes o suficiente. Conseguiu as sementes e cultivou ele próprio as árvores para, depois, analisá-las.

Acabou concluindo que foram utilizados ramosaposta futebol 365uma árvore conhecida como espinheiro-de-cristo-sírio. Segundo o legista, os ferimentos causados por esse espinho na cabeça seriam capazes de, mais do que provocar intenso sangramento na face e no couro cabeludo, atingir nervos da cabeça — causando dores imensas.

Sepultamento

Chevitarese defende que a crucificaçãoaposta futebol 365Jesus, ao contrário do que narra a Bíblia, tenha ocorrido longeaposta futebol 365testemunhas oculares, justamente porque tudo teria sido feito rapidamente eaposta futebol 365modo a não provocar uma revolta da população.

E que, também ao contrário do relato religioso, não houve sepultamentoaposta futebol 365Jesus, tampouco restos mortais preservados. "Crucificados não eram enterrados. Ficavam na cruz e, ainda vivos, avesaposta futebol 365rapina já sabiam que eles não podiam se mexer. E comiam olhos, nariz, bochecha, aquilo ficava abarrotadoaposta futebol 365avesaposta futebol 365rapina comendo o corpo ainda vivo", explica ele.

"[O corpo] passava alguns dias ali, quatro, cinco dias, pendurado. A carne começava a apodrecer. Caía. Despencava. Cães e outros animais se aproveitavam desses restos humanos para fazer seu banquete", relata.

Para ele, o que prova essa tese é que milharesaposta futebol 365escravos foram crucificados no período e não há registrosaposta futebol 365cemitérios ou mesmoaposta futebol 365ossadas descobertas dos mesmos. "Historicamente, crucificado não era enterrado", crava. "Teologicamente, é claro que Jesus precisava ser enterrado — para depois ressuscitar."

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