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Desertor gay foge da Coreia do Norte e descobre amor aos 62 anos:aviator spribe
Quatro anos depois, a esposa não havia engravidado e um dos irmãosaviator spribeJang começou a investigar o casal. Jang admitiu que nunca se havia se sentido atraído por mulheres e foi rapidamente encaminhado pelo irmão a um médico.
"Fui a muitos hospitais na Coreia do Norte porque eu achava que tinha um problema."
Nunca ocorreu a Jang, ou aaviator spribefamília, que poderia haver outro motivo paraaviator spribefaltaaviator spribeinteresse na esposa.
Provas médicas
"A homossexualidade não existe como conceito na Coreia do Norte", ele diz.
No país, adultos do mesmo sexo costumam ser vistosaviator spribemãos dadas na rua independentemendeaviator spribesua sexualidade, explica ele. "A Coreia do Norte é uma sociedade totalitária."
Olhando para trás, Jang vê hoje que não foi o único a ser mal compreendido. Quando foi internado no hospital por um mês para exames, ele conheceu outros pacientes com casos similares.
"Descobri que muitos tiveram uma experiência semelhante: homens que não sentiam nada por uma mulher." Mas explorar o que eles realmente sentiam era quase impossível.
"Na Coreia do Norte, se um homem diz que não gostaaviator spribeuma mulher, as pessoas pensam que ele está doente."
Um homem que Jang havia conhecido no Exército o visitou várias vezes depois que ele recebeu alta. O rapaz um dia confidenciou queaviator spribenoiteaviator spribenúpcias também havia sido um desastre, e que ele não conseguia nem segurar a mão da esposa.
"Acho que era alguém como eu", diz Jang.
Park Jeong-Won, professoraviator spribedireito da Universidade Kookminaviator spribeSeul, na Coreia do Sul, diz que não tem conhecimentoaviator spribenenhuma lei explícita na Coreia do Norte contra relacionamentos gays.
Mas ele acrescenta que leis contra casos extraconjugais e violação dos costumes sociais provavelmente seriam usadas para processar atos homossexuais.
Outra estudiosaaviator spribeSeul, Kim Seok-hyang, entrevistou dezenasaviator spribedesertores e disse que nenhum jamais tinha ouvido falar do conceitoaviator spribehomossexualidade.
"Quando perguntei sobre a homossexualidade, eles tiveram dificuldadeaviator spribeentender. Então, tive que explicar a cada um", diz Kim, professoraaviator spribeEstudos Norte-coreanos na Ewha Women's University.
Todos os desertores confessaram que, se fossem pegosaviator spriberelacionamentos com pessoas do mesmo sexo, seriam condenados ao ostracismo e possivelmente até executados.
Jang foi solto sem nenhuma observação no seu histórico médico. Todos os exames médicos solicitados por seu irmão mostraram que não havia nadaaviator spribeerrado com ele.
A decisãoaviator spribefugir
Mas a esposaaviator spribeJang seguia infeliz.
"Eu estava pensando: 'eu deveria deixar essa pessoa ir embora, deveríamos encontrar uma maneiraaviator spribesermos felizes'", diz o desertor.
Jang então pediu o divórcio. No entanto, esse processo não é fácil na Coreia do Norte. É necessário conseguir uma permissãoaviator spribeum tribunal, e as cortes priorizam a unidade familiar, diz o professoraviator spribedireito Park Jeong-Won.
Eles só autorizam a separação se o casamento for visto como uma ameaça à ideologia do país, explica.
Foi então que Jang percebeu que só tinha a opçãoaviator spribefugir. Deixar a Coreia do Norte anularia automaticamente o casamento e permitiria queaviator spribeesposa se casasse novamente.
Mas o catalisador paraaviator spribedecisão foi a visita do melhor amigoaviator spribeJang, um homem chamado Seoncheol.
Eles cresceram juntos na cidadeaviator spribeChongjin, no norte. Eram muito próximos e dormiam na mesma cama quando um ficava na casa um do outro durante a infância.
Quando cresceram, os sentimentosaviator spribeJang por Seoncheol se intensificaram.
"Eu realmente gostava muitoaviator spribeSeoncheol. Eu ainda sonho com ele."
Às vezes, Seoncheol o visitava para jantar. Certa noite, preocupado com o quão tarde estava, Jang persuadiu Seocheol a passar a noite ali.
Algumas horas depois, Jang saiu da própria cama e se aproximouaviator spribeSeoncheol. Ele ficou arrasado quando seu amigo adormecido nem se mexeu.
"Eu não sei exatamente o que eu queria dele, talvez apenas que ele me abraçasse forte", diz Jang.
Aquele momento o fez sentir queaviator spribevida na Coreia do Norte estava chegando a um fim.
A fuga
Jang chegou à Coreia do Sulaviator spribeabrilaviator spribe1997 rastejando pela zona desmilitarizada cheiaaviator spribeminas que divide as duas nações.
Cruzar a área é tão arriscado e raro queaviator spribefuga ganhou manchetes no sul.
A dinâmicaaviator spribeSeul era muito diferente da da Coreia do Norte, mas mesmo aqui o casoaviator spribeJang intrigou autoridades sul-coreanas.
Todos os desertores norte-coreanos passam por várias semanasaviator spribeinterrogatório obrigatório pelo Serviçoaviator spribeInteligência da Coréia do Sul (NIS) para verificar se não são espiões.
Jang foi interrogado por maisaviator spribecinco meses porque relutavaaviator spribeexplicar a verdadeira razão pela qual desertou.
Quando ele finalmente admitiu que simplesmente não estava atraído poraviator spribeesposa, foi autorizado a ficar, mas foi novamente enviado ao médico.
Naquela época, mesmo na Coreia do Sul, havia pouca consciência sobre as diferentes orientações sexuais.
Vários médicos recomendaram que ele procurasse ajuda psicológica, mas ele ignorou os conselhos.
Descoberta e decepção
Então, na primaveraaviator spribe1998, 13 meses depoisaviator spribechegar à Coréia do Sul, Jang abriu uma revista para ler uma entrevista que havia dado sobreaviator spribedeserção.
Virando a página, ele descobriu um artigo sobre gays saindo do armário, com uma cenaaviator spribeum filme americano mostrando dois homens se beijando na cama.
Logo ele se convenceuaviator spribeque também era homossexual.
"Quando vi isso, soube imediatamente que eu era esse tipoaviator spribepessoa. É por isso que não gostoaviator spribemulheres."
Essa revelação transformou a vidaaviator spribeJang, que se tornou um frequentador assíduo dos bares gaysaviator spribeSeul.
Mas, anos depois, esse novo mundo levou Jang a cairaviator spribeum golpe devastador.
Em 2004, o donoaviator spribeum dos bares favoritosaviator spribeJang o apresentou a um comissárioaviator spribebordo.
Eles namoraram por três meses e Jang se apaixonou.
O comissárioaviator spribebordo pediu a Jang que morassem juntos, mas explicou que, como morava com o padrasto, eles primeiro teriam que comprar uma casa maior.
Jang saiuaviator spribeseu apartamento alugado e deu a ele US$ 82 mil (R$ 450 milaviator spribevalores atuais)aviator spribesuas economias e todos os seus pertences.
Ele nunca mais o viu.
Jang foi à delegacia todos os dias durante duas semanas, até que lhe disseram para desistir. Ele diz que nunca pensou que alguém pudesse enganá-lo assim.
"Na Coreia do Norte, temos uma vida muito controlada. Se eu dissesse que alguém me enganou, o partido o teria rastreado e punido severamente."
Jang ficou doente e foi hospitalizado por um mês. Achou que fosse estresse. Isso significou perder o empregoaviator spribeuma fábrica. Como resultado, ficou sem dinheiro, sem teto e desempregado.
Aos poucos, ele foi reconstruindoaviator spribevida. Conseguiu um emprego como faxineiro, economizou para alugar uma casa nova e começou a escrever nas horas vagas.
Quando criança, ele havia vencido um concursoaviator spriberedação. O tema do texto era uma homenagem ao regime norte-coreano.
Agora, finalmente, Jang poderia escrever o que quisesse. Sua autobiografia A Mark of Red Honor ("Uma Marcaaviator spribeHonra Vermelha",aviator spribetradução livre, sem versão no Brasil) foi publicadaaviator spribe2015.
Encontrar o amor
Demorou muito até que Jang se arriscasse a sairaviator spribenovo com alguém. No ano passado, aos 62 anos, Jang conheceu Min-su*, donoaviator spribeum restaurante,aviator spribeum siteaviator spribenamoro.
Quatro meses depois, Jang viajou para a nação que conhecia como "o país dos lobos", o termo depreciativo usadoaviator spribePyongyang para os Estados Unidos.
Quando Jang viu Min-su esperando por ele no saguãoaviator spribedesembarque, teve uma decepção. Min-su usava bermuda e boné.
"Vendo como ele se vestia, achei que era um homem mal-educado e rude", disse Jang.
O confinamento do coronavírus fez com que se conhecessem melhor, bebessem muito vinho e fizessem piqueniques.
"Quanto mais eu o conhecia, mais podia ver seu bom caráter. Embora ele seja oito anos mais novo, é o tipoaviator spribepessoa que se preocupa primeiro com os outros."
Depoisaviator spribedois meses, Min-su decidiu propor a Jang que se casassem.
Agora Jang está finalizando seus documentos para provar que seu casamento na Coreia do Norte acabou. Eles esperam se casar ainda este ano.
"Sempre me sentia assustado, triste e solitário quando morava sozinho. Sou muito introvertido e sensível, ele é uma pessoa otimista. Fazemos bem um ao outro", afirma.
Mas, apesaraviator spribesua felicidade recém-descoberta, Jang continua assombrado pelo impacto queaviator spribedeserção teve emaviator spribefamília.
Váriosaviator spribeseus parentes foram exilados para um vilarejo remoto no norte gelado, um destino brutal para aqueles cujos parentes são considerados desleais ao regime.
Seisaviator spribeseus parentes morreramaviator spribefome e doenças, incluindoaviator spribemãe e quatroaviator spribeseus irmãos.
Jang diz que a única maneiraaviator spribelidar com essa culpa é escrevendo.
"Sempre que penso na minha família é muito doloroso para mim, então decidi escrever. Acho que é a única maneiraaviator spriberecompensá-los", reflete.
Mas pelo menos o conforta queaviator spribedecisãoaviator spribedeixar a Coreia do Norte tenha dado novas oportunidades paraaviator spribeantiga esposa. Ele soube que ela se casou novamente.
"Sempre achei que ela era muito boa, por isso fiquei muito feliz por ela."
E ele diz que espera expandir seus horizontes assim que as restrições ao coronavírus forem relaxadas e pretende visitar Washington, a meia horaaviator spribecarro, com Min-su.
"Ouvi dizer que há muitos bares gays lá. Quero ir a esses bares com ele."
Enquanto isso, ele diz que gosta da tranquilidade dos subúrbios, que descreve como sendo um "contoaviator spribefadas".
* O nome verdadeiro foi alterado a pedido do entrevistado.
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