'As crianças estão menos doentes do que antes': as doenças infecciosas comuns que 'sumiram' com a pandemia:bone mr jack bet
Os resultados foram publicadosbone mr jack betjunho no periódico Clinical Infectious Diseases.
Infecções do trato urinário, que não são transmitidas pelo contato com crianças, foram usadas como grupobone mr jack betcontrole — e não tiveram variação substancial durante a pandemia. Por conta disso, os pesquisadores acham improvável que a redução nos casos das demais doenças se deva a restrições nos transportes ou ao medobone mr jack betlevar as crianças aos hospitais.
Mais especificamente, notou-se uma queda substancial (de maisbone mr jack bet70%) nos casosbone mr jack betdoenças virais e bacterianas altamente contagiosas entre crianças, como gastroenterite aguda, resfriado comum, otite aguda e bronquiolite,bone mr jack betcomparação com o que seria esperado para aqueles meses do ano caso não tivesse havido a quarentena e o isolamento social.
Algumas dessas doenças não são apenas incômodas, como causam um grande númerobone mr jack betinternaçõesbone mr jack betUTIs pediátricas.
"Em geral, hospitais ficam cheiosbone mr jack betpacientesbone mr jack betbronquiolite, mas não vimos isso neste ano", diz Angoulvant à BBC News Brasil.
"É interessante porque não sei como vamos traduzir isso para depois (da pandemiabone mr jack betcovid-19), mas sabemos que temos como reduzir essa doença anualmente. Não é que eu ache que a sociedade deva viverbone mr jack betlockdown para sempre, mas isso levanta boas questões. As crianças estão menos doentes do que antes."
Os dados da França são consistentes com o que Angoulvant diz ter ouvidobone mr jack betseus colegas pediatrasbone mr jack betoutros países da Europa.
E parecem ter se repetido também no Brasil. Casosbone mr jack betbronquiolite ebone mr jack betoutras doenças respiratórias ebone mr jack betcontato caírambone mr jack betíndices semelhantes (em tornobone mr jack bet80%) neste anobone mr jack betum dos principais hospitais infantisbone mr jack betSão Paulo, o Sabará, informa à BBC News Brasil o infectologista Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, coordenador do serviçobone mr jack betinfectologia pediátrica do hospital.
Em setembro, reportagem do jornal Agora São Paulo apontou reduçõesbone mr jack betinternações infantis tambémbone mr jack betunidadesbone mr jack betreferência do SUS na capital, como o Hospital Municipal Menino Jesus e o Hospital do Servidor Público Estadual.
As lições: da higiene ao papel dos adultos na transmissão
E quais as lições disso para quando houver a retomada das aulas presenciaisbone mr jack betlarga escala?
Segundo os médicos consultados pela reportagem, o primeiro aprendizado diz respeito a tornar permanentes as medidasbone mr jack bethigiene adotadas durante a pandemia,bone mr jack betforma a proteger não só as crianças, mas educadores e demais adultosbone mr jack betcontato com elas no dia a dia.
"As medidasbone mr jack bethigiene e distanciamento vieram para ficar e podem ser benéficas" mesmo depois que o novo coronavírus for superado, afirma Sáfadi.
"Isso inclui aprendermos a usar máscaras sempre que tivermos sintomas gripais, assim como já costumavam fazer os asiáticos, e manter as mãos longe do rosto quando elas não estão limpas."
Por sinal, lavar muito mais as mãos (preferencialmente com água e sabãobone mr jack betvezbone mr jack betapenas passar álcool) do que fazíamos antes também é um dos maiores ensinamentos da pandemia.
"Estudos mostram que, se atendentesbone mr jack betcreches e berçários lavassem mais as mãos, reduziriam muito os casosbone mr jack betbronquiolite e gastroenterite nas crianças, porque (ao encostarbone mr jack betuma e depoisbone mr jack betoutra) passam o vírus entre elas", afirma o pediatra Daniel Becker, do Institutobone mr jack betSaúde Coletiva da UFRJ.
"A covid-19 traz agora para nossa consciência os conhecimentos sobre essas medidasbone mr jack betprevenção que podemos incorporar."
A dinâmicabone mr jack bettransmissão da covid-19 — com risco maiorbone mr jack betlugares fechados e com aglomerações, e por meio não apenasbone mr jack betgotículasbone mr jack betsaliva, mas também pelas partículasbone mr jack betaerossóis que ficam suspensas no ar — evidencia, ainda, o valor dos espaços abertos na prevenção.
"O aerossol é uma fumacinha da nossa respiração que pode flutuar durante horas no ar. Precisamos lembrar disso quando pensamosbone mr jack betatividades escolares: o melhor é que sejam ao ar livre, porque ali o aerossol é dispersado com o vento", afirma Becker.
"Se a atividade não puder ser ao ar livre, que sejabone mr jack betsalas bem ventiladas, (simultaneamente a) medidasbone mr jack bethigiene respiratória e distanciamento social."
De volta ao estudo realizado na França, a lição mais importante destacada pelo médico François Angoulvant diz respeito ao papel dos adultos nessa cadeiabone mr jack bettransmissão.
A continuaçãobone mr jack betsua pesquisa, ainda não publicada, aponta que, no fim do lockdown francês, entre junho e julho, infecções virais voltaram a subirbone mr jack bethospitais pediátricos, à medida que as pessoas relaxaram no distanciamento social e as aulas foram retomadas.
O mais importante, porém, é que as infecções voltaram a cairbone mr jack betoutubro, quando a França voltou a adotar medidasbone mr jack betquarentena — mas manteve suas escolas abertas.
Para Angoulvant, o motivo disso é que, mesmo frequentando as escolas, as crianças estão interagindo com menos adultos por causa das medidasbone mr jack betisolamento social, impedindo que diversos vírus consigam circularbone mr jack betgrande escala.
"Claro que depende do vírus. Para o Sars-CoV-2 (vírus que causa a covid-19), vimos que as crianças são menos afetadas e menos contagiosas do que os adultos. Em outros vírus, é o oposto: elas são mais contagiosas e espalham mais. Mas mesmo assim acho que (a escola) não causaria uma grande epidemia, porque não se trata apenasbone mr jack betcrianças infectando crianças, é o adulto ajudando nessa cadeia."
Isso, porém, desde que sejam mantidas as demais medidasbone mr jack bethigiene e distanciamento, inclusive entre adultos no dia a dia, opina Angoulvant.
"Não sou tão otimista, porque vi o que aconteceu na Françabone mr jack betjunho, quando tudo voltou ao normal (e o distanciamento e o usobone mr jack betmáscaras foram relaxados). Mas acho que temosbone mr jack betaprender essas lições."
Crianças e covid-19
No caso específico da covid-19, o papel das crianças na cadeiabone mr jack bettransmissão ainda não foi plenamente esclarecido, "mas as evidências até agora apontam que as pequenas (menoresbone mr jack betdez anos) não foram identificadas como grandes vetores da doença", afirma Sáfadi, do Hospital Sabará.
"Hoje, os principais vetores são os adultos jovens. A maioria não evolui mal (ou seja, tem apenas sintomas leves da covid-19) e assume atitudesbone mr jack betmaior riscobone mr jack betcontágio (como festas e aglomerações)."
Já as crianças maioresbone mr jack betdez anos parecem ter capacidadebone mr jack bettransmissão parecida à dos jovens adultos.
De modo geral, porém, alguns estudos apontam que a interação segura entre crianças (e com crianças) parece ser menos preocupante do que se pensava no início da pandemia, segundo um artigo publicadobone mr jack betjulho na revista Pediatrics, da Academia Americanabone mr jack betPediatria.
O artigo compilou pesquisas científicas feitas na Suíça, na China e na Austrália nas quais crianças diagnosticadas com covid-19 tiveram seus contatos rastreados para tentar identificar possíveis contágios futuros.
E poucos foram os episódios confirmadosbone mr jack bettransmissão criança-adulto. A partir do estudo suíço, deduziu-se que "as crianças mais frequentemente adquirem a covid-19bone mr jack betadultos do que a transmitem a eles".
"Com base nesses dados, a transmissão do Sars-CoV-2bone mr jack betescolas parece ser menos importante na transmissão comunitária do que se temia inicialmente", diz o artigo,bone mr jack betjulhobone mr jack bet2020.
"Isso seria uma outra maneira como o Sars-CoV-2 difere drasticamente do influenza (vírus da gripe), cuja transmissãobone mr jack betescolas é bastante reconhecida como um motorbone mr jack betdoenças epidêmicas."
Em contrapartida, um estudobone mr jack betagosto dos Centrosbone mr jack betPrevenção e Controlebone mr jack betDoenças dos EUA (CDC) analisou os dadosbone mr jack betum acampamentobone mr jack betverão no Estado da Geórgia no mês anterior,bone mr jack betque 76% das crianças e monitores acabaram sendo infectados pelo coronavírus depoisbone mr jack betuma semanabone mr jack betatividades e brincadeiras.
Um ponto-chave, aqui, parecem ser as medidasbone mr jack bethigiene, ventilação e distanciamento social: segundo o estudo dos CDCs, as crianças do acampamento americano não usavam máscaras, os espaços internos não tiverambone mr jack betventilação natural aumentada e os participantes faziam "vigorosos cantos e gritosbone mr jack bettorcida" todos os dias, potencialmente espalhando gotículas e aerossóis contaminados.
No Brasil, a capacidadebone mr jack betescolas adotarem um conjunto semelhantebone mr jack betmedidas preventivas — desde acesso a água potável e a higienização constante até prédios com áreas livres e boa ventilação natural — é justamente a preocupaçãobone mr jack betespecialistas e professores, principalmentebone mr jack betum momentobone mr jack betque as internações e as mortes por covid-19 têm crescidobone mr jack betgrande parte do país e UTIs voltam a ficar lotadas.
"Em escolas que tenham todas as condições adequadas, o que infelizmente não é a realidade no Brasil no momento, professores não serão grupobone mr jack betrisco maior do que outros profissionais", opina Daniel Becker.
"Por isso, eu e um grupobone mr jack betpediatras estamosbone mr jack betcampanha por adequações urgentes nas escolas públicas. Em escolas degradadas, sem condiçõesbone mr jack bethigiene ou água, sabão, papel toalha, álcool gel, equipamentosbone mr jack betproteção individual, poucos professores para muitos alunos, aí sim o risco é maior, porque não há condições para o respeito aos protocolosbone mr jack betsegurança."
Considerando que as crianças podem estar entre os últimos grupos a receberem as vacinas, quando estas forem devidamente aprovadas, "se nada for feito, as crianças podem ficar mais um ano sem aulas, o que seria um crime contra a infância no Brasil", prossegue.
"É muito importante investir pesadobone mr jack betescola pública agora. Temos dois ou três meses para isso, mas estamos bembone mr jack betum períodobone mr jack bettransiçãobone mr jack betgovernos (municipais). Mas é a coisa mais importante que o Brasil pode fazer neste momento."
Ao mesmo tempo, o grupo interdisciplinar Rede Escola Pública e Universidade fez,bone mr jack betagosto, simulações sobre a dispersão do vírusbone mr jack betambientes escolares, usando São Paulo como exemplo.
Levando-sebone mr jack betconta que populações mais vulneráveis estão mais expostas ao vírus e a densidadebone mr jack betpessoas (alunos e funcionários) nas escolas, o grupo concluiu que seria necessário reduzir para muito além dos 35%bone mr jack betestudantes permitidos pelo governobone mr jack betaulas presenciais para evitar altos índicesbone mr jack betcontágio.
"Além da inviabilidade prática, esta condição hipotéticabone mr jack betreabertura 'mais segura' das escolas implicaria no aprofundamento das desigualdades educacionaisbone mr jack betdesfavorbone mr jack betestudantes e escolasbone mr jack betpiores condições", diz a nota técnica do grupo.
Escolas pelo mundo
E como conciliar essas dificuldades com mais um fator: a altabone mr jack betcasos no Brasil e no mundo? Até o momento, diferentes países têm dado diferentes respostas.
Países europeusbone mr jack betgeral têm mantido as escolas abertas (em alguns casos, sob protestosbone mr jack betprofessores), mesmo tendo endurecido seus lockdowns novamente e restringido serviços não essenciais. Em estudobone mr jack betagosto, o Centro Europeubone mr jack betPrevençãobone mr jack betDoenças reportou que o fechamentobone mr jack betescolas "dificilmente daria proteção adicional à saúde das crianças".
Em defesa das escolas abertas, o premiê irlandês, Micheal Martin, afirmou que "não permitiremos que o futurobone mr jack betnossas crianças e jovens seja mais uma vítima dessa doença".
No Reino Unido,bone mr jack bet27bone mr jack betnovembro, o epidemiologista Michael Tildesley, membro do conselho científico governamental, admitiu que houve um aumentobone mr jack betcasosbone mr jack betcoronavírusbone mr jack betescolasbone mr jack betalgumas partes do país, mas agregou que não há evidênciasbone mr jack bet"uma transmissãobone mr jack betlarga escala".
"Não estamos vendo casos das escolas se espalhando para a comunidade", afirmou. "Na verdade, há mais evidências do contrário:bone mr jack betcasos na comunidade levarem a casos nas escolas."
Já Nova York, que havia sido a primeira grande cidade americana a reabrir suas escolas públicas, decidiu fechá-lasbone mr jack betnovo a partirbone mr jack bet19bone mr jack betnovembro, diantebone mr jack betum grande picobone mr jack betnovas infecções na cidade.
Na Coreia do Sul, escolas foram temporariamente fechadas entre agosto e setembro depoisbone mr jack betquase 200 alunos e funcionáriosbone mr jack betSeul e arredores terem sido infectados.
'Bolhasbone mr jack betassepsia' e natureza
Enquanto permanece o debatebone mr jack bettorno das escolas, especialistas defendem que o contato das crianças com a natureza seja mantido sempre que possível (e com as devidas medidasbone mr jack betsegurança) durante a pandemia — também para o bem da saúde infantil. Nesse sentido, não é benéfico colocar as criançasbone mr jack bet"bolhasbone mr jack betassepsia", livresbone mr jack betqualquer tipobone mr jack betcontato com micróbios, defende Daniel Becker.
"A maioria das infecções virais, passadas pela transmissão inter-humana, são consequência da vidabone mr jack betaglomerações nas cidades. Por um lado, isso é bom porque, na infância, essas infecções (nem todas: a influenza, por exemplo, pode ser muito séria) são geralmente mais leves do que na vida adulta", diz o médico.
"E temosbone mr jack bettomar cuidado para não colocar as criançasbone mr jack betbolhasbone mr jack betassepsia: as que nunca têm contato com a lama, com a terra, não brincam na areia ou com cachorros e com a sujeira natural tendem a ficar mais doentes mais tarde. A sujeira natural é benéfica ao organismo, melhora nosso microbioma e funções corporais. Temosbone mr jack betevitar aglomerações e manter distanciamento, mas não evitar nosso convívio com a natureza, que é fundamental para a saúde (física e mental) das crianças — traz alegria, aprendizado, coragem e capacidadebone mr jack betavaliaçãobone mr jack betrisco."
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