Prosopagnosia: A artista que não consegue reconhecer o próprio rosto:esporte bet brasil aposta
Seu apartamento está repletoesporte bet brasil apostaautorretratos — cercaesporte bet brasil apostamil deles, calcula. Cada um é completamente diferente do outro. As formas se sobrepõem. Várias cabeças podem ser projetadas umas sobre as outras, às vezesesporte bet brasil apostacabeça para baixo. Em um deles, ela tem três olhos,esporte bet brasil apostaoutro, seis.
Na eventualidadeesporte bet brasil apostase olhar no espelho, Carlotta pensará: "a mulher que está olhando para mim estáesporte bet brasil apostacamisola e no meu apartamento, então deve ser eu". Ela também reconhecerá seu cabelo — o que acontece por baixo daqueles cachos grisalhos que é um mistério.
A condiçãoesporte bet brasil apostaCarlotta começou a causar problemas quando ela era uma menina,esporte bet brasil apostaMunique, na décadaesporte bet brasil aposta1960, embora a princípio ninguém realmente notasse.
"Quando eu fazia compras com minha mãe ou ia ao consultório do médico, encontrávamos pessoas que minha mãe claramente reconhecia, mas eu não fazia ideiaesporte bet brasil apostaquem eram", diz ela.
"Fiquei surpresa que minha mãe pudesse fazer isso. Achei que era um dom incrível que ela tinha,esporte bet brasil apostareconhecer outras pessoas."
Frequentemente, Carlotta esperava a mãe do ladoesporte bet brasil apostafora das lojas com o cachorro e seguia a pessoa errada para casa, só percebendo que não eraesporte bet brasil apostamãe quando viravam na rua errada. Ela nunca disse à mãe por quê.
"Pensei que provavelmente fosse um problema comigo, que não estava me concentrando o suficiente."
Então ela se baseouesporte bet brasil apostaoutras pistas. "Comecei a perceber que roupa as pessoas usavam, a forma como andavam, a voz ou se usavam óculos. Cada um tem aesporte bet brasil apostaformaesporte bet brasil apostarespirar eesporte bet brasil apostase movimentar, o farfalhar das roupas — e é assim que tento identificar pessoas."
Foi só quando Carlotta foi para a escola que finalmente percebeu que havia algo diferente com ela.
"Foi muito difícil, porque o segredoesporte bet brasil apostareconhecer o rostoesporte bet brasil apostaoutras pessoas que minha mãe tinha, percebi que outras crianças também tinham", diz ela.
Ainda assim, não contou nada a seus pais. Presumiu que reconhecer rostos era uma habilidade, como amarrar os cadarços, que ela aprenderia um dia.
A escola foi uma experiência brutal e horrível. Todos pareciam iguais para Carlotta. Em uma ocasião, ela foi enviada para a sala dos professores para pegar algoesporte bet brasil apostaum professor.
"Bati na porta da sala dos professores. Um homem estava parado ali e eu disse: Vim aqui para ver o Sr. Schultz'. Tiveesporte bet brasil apostarepetir isso três vezes e ele ficou muito zangado comigo. Disse: 'Sou o Sr. Schultz!' Ele tinha sido meu professor na primeira série, mas eu simplesmente não o reconheci."
Ela tentou anotar todas as características determinantesesporte bet brasil apostaseus professores — se eles tinham óculos ou barba, que sapatos usavam — mas também anotou quais professores eram amigáveis e quais não eram, e um dia um deles furiosamente confiscou a lista.
Durante a pausa para o almoço, Carlotta geralmente ficava longe das outras crianças.
Mas o pesadelo começava quando o alarme tocava e os professores vinham buscar os alunos para as aulas. As crianças faziam fila no parquinho, mas nunca no mesmo lugar. "Muitas vezes eu voltava para dentro com a turma errada e não percebia até estar na salaesporte bet brasil apostaaula errada. E, obviamente, se uma criança não consegue reconhecer seus colegasesporte bet brasil apostaclasse, então ela deve ser estúpida."
Os professores reagiam com raiva e escárnio.
"Eles me faziam ficar na frente da classe e diziam que eu era extremamente distraída ou até mesmo me insultavam, dizendo que eu era burra como uma porta"
As crianças também faziam bullying com ela. Como resultado, ela se afastouesporte bet brasil apostatodos. "Não diria nadaesporte bet brasil apostavoz alta. Apenas fazia o meu trabalho escrito e não participava realmente das aulas."
A escola achou que Carlotta tinha dificuldadesesporte bet brasil apostaaprendizagem e escreveu aos pais sugerindo que ela fosse enviada para uma escola especial. Mas eles sabiam que isso era desnecessário e ignoraram as cartas.
No final do dia letivo, Carlotta corria para casa a uma velocidade vertiginosa e mergulhava nos livros. Ela lia tudo que podia, especialmente sobre a natureza, e fantasiavaesporte bet brasil apostase mudar para longeesporte bet brasil apostatodos.
"Tive a ideiaesporte bet brasil apostaque poderia me embrenhar na floresta e criar para mim uma espécieesporte bet brasil apostacaverna", diz ela.
"Haveria uma caverna para a cozinha e uma cavernaesporte bet brasil apostalivros — essa seria a maior. Realmente, queria mergulhar debaixo da terra e na escuridão.
"Estar com outras pessoas foi difícil para mim. Eu preferia muito mais estar na natureza e sozinha."
Quando deixou a escola aos 17 anos, Carlotta procurou um emprego que envolvesse o mínimoesporte bet brasil apostacontato humano possível. Ela adora cavalos, então se tornou uma cavalariça, até que teve que lidar com os donos dos cavalos e seus filhos.
Depoisesporte bet brasil apostatrabalhar como caminhoneira e betoneira, ela conseguiu um emprego como projecionista, que era solitário e agradável. Filmesesporte bet brasil apostaficção científica eram seus favoritos, porque os personagens eram mais reconhecíveis e a trama, portanto, mais fácilesporte bet brasil apostaseguir.
"Esse problema que tenho com rostos é realmente muito específico para humanos. Rostosesporte bet brasil apostaanimais ou alienígenas eu acho muito fácilesporte bet brasil apostareconhecer!", diz ela. Isso não se aplica, porém, aos chimpanzés; eles são muito semelhantes aos humanos.
Em seus 20 e poucos anos, ela realizou seu sonhoesporte bet brasil apostainfânciaesporte bet brasil apostase isolar completamente das pessoas. Ela comprou um barco e navegou ao longo da costa australiana por um ano, lendo livros e pescando o que comia.
Foi só quando ela tinha maisesporte bet brasil aposta40 anos e moravaesporte bet brasil apostaMunique que Carlotta descobriu como se chamavaesporte bet brasil apostacondição — por acaso, quando na farmácia ela recebeu uma revista gratuita sobre saúde.
"Simplesmente folheei e esta palavra, 'prosopagnosia', se destacou. Gostoesporte bet brasil apostapalavras incomuns, então continuei lendo, e vi que eles descreviam esta condição chamada cegueira facial.
"Foi o momento mais extraordinário, porque representou a liberaçãoesporte bet brasil apostatodos os meus fardos. Para finalmente ter um nome para essa coisa, e poder dizer: 'Não sou burra. Não é que eu não esteja me concentrando bem. É uma condição genética, e eu não posso fazer nada sobre isso.'"
Pessoas com prosopagnosia podem evitar a interação social e desenvolver um medo avassaladoresporte bet brasil apostasituações sociais. Elas também podem ter dificuldadeesporte bet brasil apostaestabelecer relacionamentos ou ter problemas profissionais. Sentimentosesporte bet brasil apostadepressão são comuns.
De acordo com o sistemaesporte bet brasil apostasaúde britânico, o NHS, estudos indicam que até 1esporte bet brasil aposta50 pessoas pode ter prosopagnosia, o que equivale a cercaesporte bet brasil aposta1,5 milhãoesporte bet brasil apostapessoas no Reino Unido.
Mas, se a princípio Carlotta ficou aliviada, logo ficou com raiva.
"Minha raiva estava relacionada ao fatoesporte bet brasil apostaque ninguém ao meu redor havia reconhecido o que estava acontecendo e que ninguém tinha sido capazesporte bet brasil apostame dizer que eu tinha um problema genético".
"Espero que os professoresesporte bet brasil apostahoje sejam um pouco melhoresesporte bet brasil apostaentender as crianças e, muitas vezes, há psicólogos nas escolas que podem identificar esses problemas, mas estou falandoesporte bet brasil apostaquando eu estava na escola há 50 anos, e os professores eram completamente indiferentes ao que estava acontecendo comigo.
"Acho que se alguém tivesse sido capazesporte bet brasil apostareconhecer o que estava acontecendo, teria feito uma grande diferençaesporte bet brasil apostaminha vida."
A essa altura, os paisesporte bet brasil apostaCarlotta, que a adotaram quando bebê, já tinham falecido.
"Gostariaesporte bet brasil apostater compartilhado esse conhecimento com eles, e minhas dificuldades na escola teriam sido esclarecidas", diz ela.
A artista, no entanto, descobriu quem eraesporte bet brasil apostamãe biológica, uma mulher apenas 15 anos mais velha que ela, que sempre pensou se trataresporte bet brasil apostasua tia.
Essa descoberta é uma história interessanteesporte bet brasil apostasi.
Aos seis anos, Carlotta foi internadaesporte bet brasil apostaum hospital para uma pequena operação. Não foi explicado o que haviaesporte bet brasil apostaerrado com ela, então ela ouviu atentamente a equipe médica.
Ali os médicos se referiam às crianças na enfermaria como a "criança-tumor" e a "criança com lábio leporino". Carlotta logo imaginou ter engolido uma lebre viva. (Ela temia que a lebre não tivesse sobrevivido.) Então, descreveram-na como "a criança adotada". Ela ficou apavorada porque pensava que "adotada" eraesporte bet brasil apostadoença.
"Lembro-meesporte bet brasil apostater perguntado à enfermeira se poderia morreresporte bet brasil aposta'adotada'. Ela disse, 'Não, isso significa que você não mora com seus pais verdadeiros.'"
Doze anos depois, ao completar 18 anos, Carlotta conseguiuesporte bet brasil apostacertidãoesporte bet brasil apostanascimento, eesporte bet brasil apostamãe biológica constava comoesporte bet brasil aposta"tia" Susanne.
Quando ela finalmente falou com Susanne sobre prosopagnosia, ela lhe explicou que também achava difícil reconhecer as pessoas, embora não tão difícil quanto a filha. Prosopagnosia é uma doença hereditária.
As mulheres vivem 500 km uma da outra, então se encontram apenas algumas vezes por ano, mas têm uma ligação estreita. Elas também são parecidas, embora, é claro, Carlotta não consiga ver a semelhança.
Carlotta diz que foi uma "revelação" para ela quando leuesporte bet brasil apostaum livro certa vez que poderia desenhar autorretratos tocando seu rosto.
"O rosto é uma paisagem acidentada pela qual viajo com o dedo e transformoesporte bet brasil apostaum desenho bidimensional. Não é tão fácil, porque não consigo ver o que estou fazendo", diz ela.
Desde então, ela fez pouco mais, trabalhando neles com tanta fúria, que às vezes rasga o papel com suas ferramentas — ela geralmente cria monotipos, um tipoesporte bet brasil apostagravura e arranhões no papel com agulhasesporte bet brasil apostatricô.
"A arte foi definitivamente catártica para mim — sem ela, eu não estaria onde estou agora", diz. "Ao fazer arte, e às vezes também destruí-la, fui capazesporte bet brasil apostalidar com muitas emoções e dificuldades que vivi na minha infância, e agora não as carrego mais comigo.
"Posso olhar para trásesporte bet brasil apostaforma diferente agora, sendo mais compreensiva com meus professores e meus pais. Sei que eles não tinham como saber sobre isso."
Os retratosesporte bet brasil apostaCarlotta foram exibidosesporte bet brasil apostatoda a Alemanha e chamaram a atençãoesporte bet brasil apostaValentin Riedl, um neurocientista que decidiu fazer um filme sobre ela.
"Como neurocientista, achei surpreendente que, por causaesporte bet brasil apostaum déficit cerebral, alguém produzisse um novo tipoesporte bet brasil apostaarte", diz ele.
Ele levou algum tempo para persuadir Carlotta, uma pessoa profundamente reclusa, a concordaresporte bet brasil apostaser filmada, mas ela acabou concordando e se abriu aos poucos.
"Foi um alívio incrível ser levada a sério, porque era isso que às vezes me deixava muito solitária ao falar com as pessoas: não ser compreendida. É mais solitário do que estar sozinha", diz.
Eles começaram a filmar Lost in Faceesporte bet brasil aposta2015 e terminaram no ano passado.
Durante as filmagens, Carlotta concordouesporte bet brasil apostadesenhar o retratoesporte bet brasil apostaValentin, embora ache muito difícil olhar para o rostoesporte bet brasil apostaoutra pessoa — quanto mais tocá-lo.
"Para mim, o rosto é algo que só consigo olhar muito rapidamente", explica ela.
"É como se você estivesseesporte bet brasil apostauma praia e alguém estivesse se trocando para entrar na água. Naquele rápido momentoesporte bet brasil apostaque a pessoa tira a roupaesporte bet brasil apostabaixo e veste o trajeesporte bet brasil apostabanho, você desvia o olhar."
Valentin também deu a Carlottaesporte bet brasil apostaprimeira ressonância magnética do cérebro, que não mostrou nenhum dano — o que quer que torne seu cérebro diferente dos outros é muito pequeno para ser visível.
"Atrás da orelha direita, há uma região do cérebro que é responsável apenas pelo processamentoesporte bet brasil apostarostos", disse Valentin a Carlotta posteriormente.
"Cada rosto que chamaesporte bet brasil apostaatenção é identificado por essa região como um rosto e depois processado. No seu caso, isso parece não funcionar."
A prosopagnosia não pode ser tratada — se as conexões neurais não forem estabelecidas, elas não poderão ser criadas depois. Embora seja descrita como "cegueira", não tem nada a ver com a visão, mas sim com uma capacidade prejudicadaesporte bet brasil apostacriar o conceitoesporte bet brasil apostaum rosto e memorizá-lo.
A áreaesporte bet brasil apostaprocessamento facialesporte bet brasil apostaCarlotta não consegue reter essas informações.
"Ela vê certos aspectosesporte bet brasil apostadetalhes, tudo bem, mas quando ela se afasta, esquece o que viu", explica Valentin. "É mais ou menos como se você tivesse que lembrar o que estáesporte bet brasil apostauma fruteira: você sabe que havia uma banana, mas não se lembra se estavaesporte bet brasil apostacima ou embaixo, e se alguém lhe mostra uma fruteira diferente, você pode dizerÇ 'Sim, é esta.' "
"Não consigo reconhecer o rosto das pessoas porque não consigo me lembrar delas", diz Carlotta. "Eu me conheço, mas não conheço meu rosto."
A condição não a impedeesporte bet brasil apostasaber como outra pessoa está se sentindo.
"Posso entender bem o humor e as expressões faciaisesporte bet brasil apostauma pessoa, e é isso que me lembro sobre ela - suas emoções, seus sentimentos, a pessoa inteira", diz ela.
"Não vou me lembrar se alguém tem nariz torto ou a cor dos olhos, mas se chorar ou ficar com muita raiva é o que fica na minha memória."
Agora que se livrouesporte bet brasil apostasua própria raiva, Carlotta tem uma nova perspectivaesporte bet brasil apostavida.
"É maravilhoso. Sinto que a vida pode começar agora,esporte bet brasil apostauma forma que me traga mais paz", diz.
Ela se aposentou cedo devido à artrite e passa a maior parte do tempo desenhando,esporte bet brasil apostauma busca permanente para encontrar seu rosto.
"Minha arte é uma necessidade interna para mim", diz ela. "Não posso deixaresporte bet brasil apostafazer arte,esporte bet brasil apostasentir meus retratos e colocá-los no papelesporte bet brasil apostanovo eesporte bet brasil apostanovo, e continuaresporte bet brasil apostabusca do meu rosto, do que vai escapar da minha memória no próximo segundo".
"Vejo e não me lembro, procuro por ele e no momento seguinte ele desaparece — é um processo contínuo que nunca termina."
Carlotta é um pseudônimo. Siga ela no instagram.
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