Fake news sobre vacinas contra a covid-19 ameaçam combate à doença:betnacional afiliado

Enfermeiro segura vacina da Sinovac contra covid-19

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Há 165 vacinas contra a covid-19betnacional afiliadodesenvolvimento no mundo, segundo a OMS

Os posts publicados nos dois principais grupos antivacina do Facebook no Brasil estavam até há pouco tempo mais concentradosbetnacional afiliadofalar da covid-19betnacional afiliadosi ebetnacional afiliadoalguns medicamentos que vêm sendo testados contra ela.

Mas os ataques às vacinas no grupo "Vacina: O maior crime da História!", que tem 8 mil membros, e o "Vacinas: O lado obscuro das vacinas", que tem 13,8 mil, estão ficando mais frequentes, diz João Henrique Rafael Junior, idealizador do União Pró-Vacina, projeto do Institutobetnacional afiliadoEstudos Avançados da Universidadebetnacional afiliadoSão Paulobetnacional afiliadoRibeirão Preto que combate a propagaçãobetnacional afiliadoinformações falsas sobre o assunto.

Um dos posts mais recentes diz, por exemplo, que um novo tipobetnacional afiliadovacina, que estábetnacional afiliadoteste contra a covid-19, seria capazbetnacional afiliado"modificar o DNA"betnacional afiliadoseres humanos.

A origem dessa "denúncia" seria a osteopata americana Carrie Madej, que afirmoubetnacional afiliadoum vídeo divulgado na internet que esta tecnologia vai criar uma "nova espécie e, talvez, destrua a nossa".

O problema é que isso não é verdade, como disseram especialistas às agências Reuters e Lupa e ao portal G1.

De fato, algumas vacinasbetnacional afiliadoteste contra o novo coronavírus usam uma técnica inédita, conhecida como RNA mensageiro, para fazer com que parte do material genético do coronavírus, seja absorvido por nossas células para fazer com que elas produzam uma proteína característica desse micro-organismo, que será detectada pelo sistema imunológico.

Funcionário da Fiocruz trabalha na produçãobetnacional afiliadovacinas

Crédito, EPA

Legenda da foto, Pesquisas apontam que a resistência à vacinação contra a covid-19 já é um problema real

A ideia é que o nosso corpo aprenda desta forma a nos proteger da covid-19. Mas essa tecnologia não altera o DNA das nossas células e, portanto, não cria seres humanos geneticamente modificados.

Essa formabetnacional afiliado"denúncia" recorre a um expediente frequente nesse tipobetnacional afiliadoataque: mistura algumas informações verdadeiras com outras falsas para nos fazer acreditar que corremos algum perigo e, neste caso, gerar desconfiança sobre as vacinas contra a covid-19.

Outros rumores que circulam dizem que célulasbetnacional afiliadofetos abortados são usadas na composição das vacinas; que elas são partebetnacional afiliadouma conspiração do bilionário Bill Gates para implantar microchipsbetnacional afiliadonós, ou que voluntários dos testes já morreram por terem se submetido às vacinasbetnacional afiliadofase experimental.

O temorbetnacional afiliadoJunior, do União Pró-Vacina, é que, uma vez lançada a vacina, ela se torne o único alvo dos vários grupos que espalham mentiras na internet e isso leve à "maior campanhabetnacional afiliadodesinformação da história".

Isso pode não só comprometer a imunização contra o coronavírus, mas aumentar a desconfiançabetnacional afiliadorelação às vacinas contra outras doenças.

"É comobetnacional afiliadoum tsunami. O mar já começou a recuar. Em breve, vamos ser atingidos por uma onda gigantescabetnacional afiliadodesinformação sobre as vacinas. Se não estivermos preparados, é impensável o efeito que isso pode ter", diz Junior.

A 'infodemia' é 'ameaça à saúde pública'

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que teorias da conspiração, rumores e mentiras divulgadasbetnacional afiliadotorno da pandemia vêm se espalhando tão rapidamente quanto o próprio coronavírus.

Essa "infodemia" tem contribuído para aumentar o númerobetnacional afiliadocasos e mortes por covid-19 no mundo, segundo a organização.

Mulher é vacinadabetnacional afiliadoestudo realizadobetnacional afiliadoSão Paulo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Estudo apontou que desinformação levou a queda da cobertura vacinal da tríplice viral na Inglaterra

Entre 31betnacional afiliadodezembro e 5betnacional afiliadoabril, seus autores encontraram 2.311 publicações na internet com rumores e teorias da conspiração ou que promoviam a estigmatizaçãobetnacional afiliadogrupos sociais,betnacional afiliado87 países ebetnacional afiliado25 idiomas.

Eles avaliaram 2.276 e concluíram que só 9% eram verdadeiras. A maioria eram falsas (82%), enganosas (8%) ou infundadas (1%).

Os cientistas estimam que um dos mitos mais difundidos (que ingerir álcool com uma alta concentração poderia desinfetar o corpo e matar o vírus), fez 5.876 pessoas serem hospitalizadas, matou 800 e deixou 60 cegas.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, dissebetnacional afiliadoum comunicadobetnacional afiliadosetembro do ano passado que a "desinformação sobre vacinas é uma grande ameaça à saúde global".

Ele pediu que empresasbetnacional afiliadotecnologia, como Google, Facebook e Twitter, combatam esse tipobetnacional afiliadoconteúdo.

"As principais organizações digitais têm uma responsabilidade: garantir que seus usuários possam acessar informações sobre vacinas e saúde. Queremos que os atores digitais façam mais para tornar conhecidobetnacional afiliadotodo o mundo que #VacinasFuncionam", disse Ghebreyesus.

As vacinas são seguras?

Um estudo verificou a segurança das vacinas ao analisar as mudanças feitas nas bulas das 57 que foram aprovadas ao longobetnacional afiliado20 anos pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão americano equivalente à Agência Nacionalbetnacional afiliadoVigilância Sanitária (Anvisa).

Houve mudanças nas bulas relacionadas à segurançabetnacional afiliado25 das vacinas, menos da metade do total. Ao todo, foram 58 alterações, entre janeirobetnacional afiliado1996 e dezembrobetnacional afiliado2015.

A maioria (36%) foi para ampliar restriçõesbetnacional afiliadouso, como, por exemplo, indicar que grávidas e pessoas com problemas no sistema imune não devem usar vacinas feitas com vírus atenuados ("vivos", mas enfraquecidos). Nestes casos, o mais indicado são vacinas com vírus inativados ("mortos").

Alertas sobre alergias, frequentemente causadas pelo látex usado nas embalagens, levaram a 22% das mudanças, e 12 alterações foram para avisar sobre o riscobetnacional afiliadodesmaios após a vacinação.

Reuters

Crédito, Vacina contra a covid-19

Legenda da foto, Quanto mais a pandemia se prolonga, maior é chance da desinformação se propagar

Só uma vacina foi tirada do mercado por motivosbetnacional afiliadosegurança. A RotaShield, usada contra o rotavírus, que causa diarreiabetnacional afiliadocrianças, paroubetnacional afiliadoser vendida porque podia levar a uma obstrução intestinalbetnacional afiliadobebês, potencialmente fatal.

O imunologista Carlos Zanetti, da Universidade Federalbetnacional afiliadoSanta Catarina, diz que as vacinas que temos hoje são "bastante seguras", embora causem alguns efeitos adversos.

"Eventualmente, algumas pessoas podem ter problemas, ficar doentes ou até morrer. Mas uma pessoa está sujeita a sofrer efeitos adversos com qualquer produto que injete no corpo, engula, passe na pele", diz Zanetti.

Zanetti explica que a eficácia das vacinas (o percentual das pessoas que tomam e realmente ficam protegidas contra uma doença) variabetnacional afiliadouma para outra ebetnacional afiliadoacordo com as características biológicasbetnacional afiliadocada umbetnacional afiliadonós.

Mas o imunologista afirma que, no geral, elas são "altamente eficientes". "Do pontobetnacional afiliadovista biomédico, elas protegem muita gente", diz.

As vacinas da covid-19 terãobetnacional afiliadopassar por estudos clínicos para provar que também são seguras e eficazes antesbetnacional afiliadoserem aplicadas. Também serão monitoradas uma vez que cheguem ao mercado.

Isso é importante porque, como Zanetti esclarece, os estudos podem não ser capazesbetnacional afiliadodetectar um problema.

Ou algum efeito colateral que tenha sido insignificante nas estatísticas das pesquisas pode ganhar outra dimensão quando uma vacina for usada por milhões ou mesmo bilhõesbetnacional afiliadopessoas.

"Vamos passar por um grande experimento humano. Mas não tem outro jeito. Eu tomaria a vacina, porque essa decisão sempre envolve um julgamento entre risco e benefício. No caso da covid, o benefício é muito maior que o risco. A vacina nunca vai ser tão mortal quanto a doença."

O impacto das campanhas antivacina

O diretor-geral da OMS já disse que está preocupado com o alcance crescente das campanhas antivacina. Ghebreyesus alertou que elas podem reverter "décadasbetnacional afiliadoprogresso no combate a doenças que podem ser prevenidas".

Um estudo feito pela FTI Consulting, uma empresabetnacional afiliadointeligênciabetnacional afiliadomercado presentebetnacional afiliado11 países, dá uma ideia do potencial impacto da desinformação que circulabetnacional afiliadoredes sociais sobre as vacinas contra covid-19.

Homem a pontobetnacional afiliadoser vacinado

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A Universidadebetnacional afiliadoOxford possui uma das mais promissoras vacinas contra covid-19, mas não é a única

A pesquisa analisou o aumento do volumebetnacional afiliadoposts deste tipo sobre a vacina tríplice viral (para sarampo, caxumba e rubéola) no Twitter ao longobetnacional afiliado2012 e 2018. Neste período, houve uma quedabetnacional afiliado3% na cobertura desta vacina na Inglaterra e no Paísbetnacional afiliadoGales.

Os cientistas da FTI analisaram a literatura sobre fatores comportamentais e demográficos e criaram um um modelo computacional que levoubetnacional afiliadoconsideração todos estes motivos e também o aumento da desinformação no Twitter.

O objetivo foi, por meiobetnacional afiliadoum sistemabetnacional afiliadointeligência artificial, identificar o quanto da redução da cobertura vacinal foi causada exclusivamente pela desinformação.

O estudo concluiu que cada aumentobetnacional afiliado100% no volumebetnacional afiliadodesinformação sobre a tríplice viral no Twitter levou a uma quedabetnacional afiliado0,2% na cobertura vacinal. Como houve no período analisado um aumentobetnacional afiliado800% da desinformação na rede social, isso gerou uma reduçãobetnacional afiliado1,6% na cobertura vacinal.

Ou seja, mais da metade da queda foi causada pela desinformação. "Outros estudos já haviam demonstrado uma associação entre o aumento da desinformação e a queda da cobertura vacinal. Nosso trabalho é o primeiro a provar que a desinformação causou uma queda", diz Meloria Meschi, coautora do estudo.

David Eastwood, coautor da pesquisa, diz que, diante disso, é preciso levar a desinformaçãobetnacional afiliadoconta antes mesmo das vacinas contra covid-19 serem lançadas.

"Quando a vacina estiver disponível, será importante que a imunização ocorra rapidamente. Mas, a menos que o risco da desinformação seja combatido, a adoção da vacina pode ser retardada", afirma Eastwood.

Quanto mais tempo passa, maior é o desafio

O desafio é que, quanto mais se prolonga a pandemia, maior é a chancebetnacional afiliadouma pessoa entrarbetnacional afiliadocontato com uma desinformação capazbetnacional afiliadolevar à recusa da vacina, aponta o físico Manlio De Domenico, do Instituto Bruno Kessler, na Itália.

O pesquisador criou o projeto Observatóriobetnacional afiliadoInfodemia Covid19, no qual monitora o volumebetnacional afiliadodesinformação que circula no Twitterbetnacional afiliado84 países.

Um programabetnacional afiliadocomputador analisa 4,7 milhõesbetnacional afiliadomensagens publicadas na rede social todos os dias para criar um índice do risco que uma pessoa correbetnacional afiliadoser exposta à desinformação.

A partir deste trabalho, De Domenico identificou um padrão semelhantebetnacional afiliadodiferentes partes do mundo.

Quando a pandemia começou na China, os usuáriosbetnacional afiliadomuitos países passaram a compartilhar conteúdobetnacional afiliadofontes duvidosas, teorias da conspiração e notícias falsasbetnacional afiliadogeral. O riscobetnacional afiliadoexposição à desinformação era alto.

Vacina

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, OMS acompanha o desenvolvimentobetnacional afiliadomaisbetnacional afiliado170 vacinas contra a covid-19

Mas, depois que o coronavírus atingiu um determinado país, esse risco caiu, porque houve um aumento significativo do compartilhamentobetnacional afiliadoinformaçõesbetnacional afiliadofontes confiáveis, como sitesbetnacional afiliadogovernos, autoridadesbetnacional afiliadosaúde ebetnacional afiliadoveículosbetnacional afiliadoimprensa respeitados.

"Uma possível explicação para isso é que a proximidade da pandemia levou as pessoas a priorizarem as fontes confiáveis. Quando o riscobetnacional afiliadocontágio estava longe, elas não se importavam tanto com isso", diz o cientista.

O problema é que esse mesmo monitoramento mostra que o risco da desinformação vem aumentando conforme a pandemia se prolonga.

No Brasil, por exemplo, o índice variou entre 3% e 9% nos primeiros sete diasbetnacional afiliadomarço. Na primeira semanabetnacional afiliadoagosto, ficou entre 18% e 36%.

De Domenico acredita que isso está relacionado com os efeitos sociais e econômicos da pandemia.

"Muita gente perdeu o emprego, amigos ou familiares. Depoisbetnacional afiliadotanto tempobetnacional afiliadoisolamento, estamos com as emoções à flor da pele. As pessoas precisam encontrar uma formabetnacional afiliadodar vazão a isso", diz De Domenico.

Ele diz que a fase mais racional da pandemia está dando lugar a uma fase emocional,betnacional afiliadoque há uma tendência maiorbetnacional afiliadoque fontes confiáveisbetnacional afiliadoinformação sejam questionadas ou atacadas e da desinformação se espalhar.

Será neste contexto cada vez mais preocupantebetnacional afiliadoque as primeiras vacinas serão lançadas.

"Podemos esperar um grande aumentobetnacional afiliadonotícias falsas e teorias da conspiração quando isso acontecer. As vacinas já são uma questão emocional, e quanto mais emocionais as pessoas ficam, mais a desinformação tende a prosperar", diz De Domenico.

"Será crucial nos prepararmos para esse momento."

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