Coronavírus: o argentino que cruzou o Atlântico sozinholuva bet cnpjum barco para ver os pais durante a pandemia:luva bet cnpj

Juan Manuel Ballestero cruzando o Atlânticoluva bet cnpjseu veleiro

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Ballestero navegou sozinho por três meses para poder estar com a famílialuva bet cnpjMar del Plata

"Por que ficaria por lá? Queria voltar para minha casa. Ainda estaria lá sem poder ir a qualquer lugar se não tivesse tomado essa decisão. Estaria no Porto Santo, sozinho."

Ballestero pensou especialmenteluva bet cnpjseus pais: Carlos, um pescador aposentadoluva bet cnpj90 anos, e Nilda, 82, que ainda vive emluva bet cnpjcidade natal.

"Pensei o pior. Se este era um vírus irrefreável, esta poderia ser a última chanceluva bet cnpjver meus pais vivos", diz ele.

A viagem

Munido com cartas náuticas e com a única ajudaluva bet cnpjum rádioluva bet cnpjalta frequência (transmitindo a cercaluva bet cnpj30 quilômetrosluva bet cnpjdistância) e um sistemaluva bet cnpjidentificação automática (mostrando a localizaçãoluva bet cnpjobjetos próximos), Ballestero começouluva bet cnpjjornadaluva bet cnpj24luva bet cnpjmarço.

Ballestero cruzou o Atlânticoluva bet cnpjveleiroluva bet cnpj8,8 metros

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Ballestero cruzou o Atlânticoluva bet cnpjveleiroluva bet cnpj8,8 metros

"Para mim, não foi uma loucura", diz ele, respondendo àqueles que disseram que atravessar o Oceano Atlântico sozinho e sem comunicação via satélite era uma ideia maluca.

Ballestero tinha motivosluva bet cnpjsobra para confiarluva bet cnpjsi mesmo: ele já havia completado com sucesso uma viagem semelhante,luva bet cnpjBarcelona a Mar del Plata,luva bet cnpj2010.

Naquela ocasião, o motivoluva bet cnpjsua viagem foi muito menos épico: "Simplesmente fiquei sem dinheiro e tive que voltar navegando", diz.

Ballestero navegava pela Europa com outro veleiro, que adquiriu com a indenização que obteve após ser atropelado por uma vanluva bet cnpjBarcelona,luva bet cnpj2004. O acidente o deixouluva bet cnpjcoma e ele levou anos para se recuperarluva bet cnpjseus ferimentos.

Em 2010, ele estavaluva bet cnpjformaluva bet cnpjnovo, mas havia gastado toda a indenização, então decidiu voltar "para casa" com o veleiro.

A viagem transcorreu sem problemas. Mas era muito diferente daquela que ele decidiria enfrentar uma década depois,luva bet cnpjmeio a uma pandemia.

Sem escalas

Enquantoluva bet cnpj2010, Ballestero foi parandoluva bet cnpjportoluva bet cnpjporto, dessa vez ele decidiu fazer a jornada quase sem escalas, por medoluva bet cnpjcontrair coronavírus ou ser forçado a atracarluva bet cnpjum porto.

Por esse motivo, ele esquematizou uma rota a maisluva bet cnpj10 mil quilômetrosluva bet cnpjdistância da costa. Sua única parada serialuva bet cnpjCabo Verde, na costa noroeste da África, onde embarcaria latasluva bet cnpjcombustível para o casoluva bet cnpjprecisar acionar o motor do veleiro.

Juan Manuel Ballesteroluva bet cnpjseu barco

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Ballestero contava com o carregamentoluva bet cnpjcombustívelluva bet cnpjCabo Verde, mas autoridades locais não lhe permitiram desembarcar

Mas o plano não saiu como esperado. Quando se aproximou da costaluva bet cnpjCabo Verde, um barco da polícia o interceptou e ele foi impedidoluva bet cnpjentrar.

Ballestero teve, então, que atravessar o Atlântico sem esse recurso essencialluva bet cnpjcasosluva bet cnpjemergência, o que se mostraria um desafio mais à frente.

Mas antesluva bet cnpjchegar a esse ponto - "o momento mais complicado da viagem" -, o argentino conta à BBC sobre o outro grande susto pelo que passou: ser perseguido por supostos piratas.

"Pouco depoisluva bet cnpjdeixar Cabo Verde, um barco começou a me seguir. Era noite e vi a luz me seguir e me seguir. Isso nunca tinha acontecido comigo", diz.

O navegador foi avisadoluva bet cnpjque havia piratas na costaluva bet cnpjCabo Verde. Embora ele nunca tenha conseguido ver as pessoas que o estavam seguindo, Ballestero garante que o comportamento do navio era muito suspeito.

Mudandoluva bet cnpjrumo, ele conseguiu se afastar daquela luz.

luva bet cnpj O terror da calma luva bet cnpj ria

Mas o momento mais tenso da viagem não foi a perseguição: foi o momentoluva bet cnpjcalmaria.

Após 25 diasluva bet cnpjviagem, quando ele estava quase equidistante entre as costas da África e da América, o vento parouluva bet cnpjsoprar.

Juan Manuel Ballesteroluva bet cnpjseu barco

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Sem vento e sem combustível para usar o motor, Ballestero não teve escolha a não ser esperar

Sem a assistêncialuva bet cnpjseu motor, devido à faltaluva bet cnpjcombustível, Ballestero não pôde fazer nada alémluva bet cnpjesperar alguma correnteluva bet cnpjar.

Ele esperou um dia, dois, três, quatro... nada. Uma semana depois, ele ainda estava preso no mesmo ponto do Oceano Atlântico, na altura da Linha do Equador.

Ballestero sabia que tinha uma quantidade limitadaluva bet cnpjcomida e água. Ele trouxera cercaluva bet cnpj160 latasluva bet cnpjcomida,luva bet cnpjlentilhas a atum, passando por frutas como abacaxi e pêssego.

Ele também tinha aveia, nozes e mel, que tomava no café da manhã com café ou mate.

Naqueles diasluva bet cnpjespera, ele apelou para a única garrafaluva bet cnpjuísque a bordo. Além disso, para as quatroluva bet cnpjvinho. Mas, longeluva bet cnpjtranquilizá-lo, ele notou que o álcool acelerava ainda mais seus pensamentos negativos.

"Sem barulho nem nada para interromper meus pensamentos, deitei-meluva bet cnpjminha cama e percebi que estava flutuando na superfície do oceano, que o chão tinha 5 mil metrosluva bet cnpjprofundidade, 5 quilômetros abaixo, e que tudo poderia dar errado", conta.

"Trancadoluva bet cnpjum mundoluva bet cnpjcalma, quietude e silêncio, eu me senti como um ser muito pequeno", lembra.

"Depoisluva bet cnpjalguns dias, estava perdendo minha sanidade. Você fica trancado comluva bet cnpjmente. É aí que você tem que controlá-la mais."

Ballestero trouxe comida para uma viagemluva bet cnpj80 dias, incluindo uma garrafaluva bet cnpjuísque

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Ballestero trouxe comida para uma viagemluva bet cnpj80 dias, incluindo uma garrafaluva bet cnpjuísque

Ballestero conseguiu silenciar seus pensamentos com a ajudaluva bet cnpjsua fé. "Encontrei o Pai Nosso guardadoluva bet cnpjuma gaveta. Comecei a orar e fiquei mais calmo."

Finalmente, após 10 dias, o vento soprou novamente.

Novamente a caminho

Diante do enorme alívio e "total alegria"luva bet cnpjseu capitão, o Skua - nome do veleiro, inspirado por uma gaivota do Polo Sul - voltou a navegar pelas águas do Atlântico.

Mas um desafio final aguardava: uma ondaluva bet cnpjcercaluva bet cnpjquatro a seis metros que derrubou o barco após 48 diasluva bet cnpjviagem, causando alguns danos (e alguns ferimentos ao navegador).

Mas, naquele momento, Ballestero já estava navegando perto da costa do Brasil e conseguiu reconstruir uma peça danificada na cidadeluva bet cnpjVitória, no Espírito Santo.

Após uma jornadaluva bet cnpj82 dias, ele finalmente chegou ao seu destinoluva bet cnpjmeadosluva bet cnpjjunho. Ele teve que esperar mais três dias atracado no Clube Náuticoluva bet cnpjMarluva bet cnpjPlata, até ter certezaluva bet cnpjque não tinha covid-19.

O momentoluva bet cnpjsua chegada foi perfeito: ele chegou poucos dias antes do Dia dos Pais e pôde celebrar a ocasião junto com Carlos, o homem que o ensinou a velejar.

Juan Manuel Ballesteroluva bet cnpjseu barco, com o pai e o irmão

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, "Missão cumprida!": Reencontro com pai (esquerda) e irmão (centro), na chegada a Mar del Plata

Em Mar del Plata, Ballestero foi recebido como herói. O jornal local escreveu sobreluva bet cnpjjornadaluva bet cnpjabril e, enquanto Ballestero estava viajando, incomunicável, acabou angariando um grande númeroluva bet cnpjsimpatizantes que o aguardavam ansiosamente.

A imprensa argentina, que precisava contar notícias positivasluva bet cnpjmeio à pior crise econômica eluva bet cnpjsaúde dos últimos tempos, o inundou com pedidosluva bet cnpjentrevistas.

Ele nem sequer desceu do barco quando participou, por meioluva bet cnpjuma videochamada,luva bet cnpjum dos programas mais emblemáticos da televisão local: Almorzando con Mirtha Legrand.

O navegador, acostumado à solidão, ainda se surpreende com o enorme impacto queluva bet cnpjhistória teve.

"Passeiluva bet cnpjhomem mais solitário do mundo a ser bombardeado com mensagensluva bet cnpjmeu celular ", brinca ele, um pouco confuso, mas feliz com as "boas vibrações" que recebe.

Planos futuros

Ele diz à BBC que agora planeja escrever um livro sobre suas experiências, inspirado nas milharesluva bet cnpjpessoas que perguntam sobre suas aventuras (ele até criou uma conta no Instagram - @skuanavega - para manter contato com seus seguidores).

Quando a pandemia passar, seu próximo destino será a Patagônia e entrar no Pacífico através do Estreitoluva bet cnpjMagalhães.

No dialuva bet cnpjsua entrevista à BBC, o governo argentino anunciou que estenderá e endurecerá a quarentena,luva bet cnpjvigor há maisluva bet cnpj100 dias.

Juan Manuel Ballesteroluva bet cnpjterra firme

Crédito, Juan Manuel Ballestero

Legenda da foto, Ballestero teve que passar por exame para descartar presençaluva bet cnpjcoronavírus

Questionado sobre como um navegador acostumado à liberdade se sente no meioluva bet cnpjum dos maiores confinamentos do mundo, Ballestero garante que não se importaluva bet cnpjperderluva bet cnpjliberdade temporariamente para cuidarluva bet cnpjsua saúde eluva bet cnpjseus entes queridos.

"Também para os marinheiros, é mais calmo porque temos o nosso barco", diz ele sobre o que continua sendoluva bet cnpjcasa principal.

Quase ao fim da entrevista, o aventureiro pede para "dar uma mensagem positiva".

"O que aprendi nesta viagem é continuar, perseverarluva bet cnpjmeu objetivo. Não enfraquecer minha convicção, pensar positivo e ter muita fé. Não devemos desistir", diz.

"A hora mais escura é sempre antes do amanhecer."

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