Mulheres no comando nas Forças Armadas: as histórias das duas únicas hoje no topo da carreira - e por que há só duas:brabet pirata

Homens e mulheres do Exército marchando

Crédito, Divulgação Exército Brasileiro

Legenda da foto, O Exército permitiu que mulheres entrassem na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman)brabet pirata2017

Na opinião das duas únicas oficiais-generais, a resposta passa por questões ligadas ao papel das mulheres na sociedade. "Não é a Marinha, são as pessoas", diz a contra-almirante Dalva. "As mulheres precisam ter vontade", diz a contra-almirante Luciana. Elas dizem que chegaram lá por uma misturabrabet piratafatores: gosto pela profissão, uma família que as apoiava e um poucobrabet pirataacaso.

No entanto, há também obstáculosbrabet pirataordem prática, ainda que a integraçãobrabet piratamulheres às Forças Armadas tenha avançado nos último anos. A inserção feminina é mais recente e o acesso a carreiras que levam a postos altos, ligados à atividade-fim das Forças — o combate —, mais ainda. Como a carreira militar é longa, a ascensão leva décadas.

A Marinha, por exemplo, só permitiu que uma mulher competissebrabet piratacarreiras que levam ao comando da forçabrabet pirata2018. O Exército e a Aeronáutica até hoje impõem restrições às especializações que elas podem escolher, o que limita suas possibilidadesbrabet piratacaminhos para chegar ao topo. Há também reservabrabet piratavagasbrabet piratanúmero maior para homensbrabet pirataalguns cursos preparatórios.

Na opiniãobrabet pirataoutra mulher que é exceção no meio militar, Maria Elizabeth Rocha, a única ministra do Superior Tribunal Militar (STM), "o cultural e social se refletem na instituição". "Canseibrabet piratajulgar situaçõesbrabet piratadesobediênciabrabet piratahomens a militares superiores do sexo feminino", diz a magistrada.

Para a ministra, "isso deixa mulheres numa posição inferior no país porque não podem integrar plenamente as Forças Armadas e defender a pátria".

Contra-almirante Dalva Mendes

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, A contra-almirante Dalva Mendes fez parte da primeira turmabrabet piratamulheres admitidas nas Forças Armadas

Como elas chegaram lá?

A contra-almirante Dalva sempre tivera curiosidade sobre mulheres no serviço militar. Não tem militares na família, mas achava que se encaixaria bem porque vembrabet piratauma família "tradicional e rígida". "Não achei que teria dificuldadebrabet piratame adaptar a regras porque já as obedecia", diz ela. Formadabrabet piratamedicina, estava fazendobrabet pirataresidência quando ouviu falar que a Marinha havia aberto vagas para mulheres.

"Eles abriram essas vagas por necessidadebrabet pirataserviço. Era um momentobrabet pirataque precisavambrabet pirataforçabrabet piratatrabalhobrabet piratapessoas formadas", diz ela. O Hospital Naval Marcílio Dias, no Riobrabet pirataJaneiro, estava expandindo, e Dalva sabia que as instalações seriam excelentes.

Médica anestesiologista, viveu quase toda a carreira lá, passando pelas funções técnicas e administrativas.

Quando chegou a horabrabet piratase aposentar, quis continuar a trabalhar. Dabrabet pirataturmabrabet pirata1981, é a única que segue trabalhando. "Acabei ficando viúva, meus filhos estavam criados, falei 'vou tentar' (avançar para o generalato). Minha turma dizia 'fica, sim, quem sabe!'", diz ela.

Hojebrabet piratadia, diz ela, mulheres militares a abordam e dizem "agora nós acreditamos". "Isso ficou marcado profundamente na minha alma", lembra a contra-almirante, que hoje trabalha na Diretoriabrabet pirataSaúde da Marinha.

Almirante Luciana Mascarenhas

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Contra-Almirante Luciana Mascarenhas da Costa Marroni

A contra-almirante Luciana, do Corpobrabet pirataEngenheiros da Marinha, também não quis pararbrabet piratatrabalhar quando pôde. Gostava do que fazia. Entrou para a ala feminina da Marinhabrabet pirata1989, quando o Corpobrabet pirataEngenheiros ainda não aceitava mulheres.

Com a reestruturaçãobrabet piratacorposbrabet pirata1997, foi transferida para a engenharia. Lá, pôde almejar a um postobrabet piratageneralato pela primeira vez. "Tive vontade, mas sabia que o caminho seria longo", diz ela.

Fez mestrado no exteriorbrabet pirataengenharia eletrônica, aumentandobrabet pirataqualificação, e os cursos que são exigidos para avançar na carreira. A cada passo que dava, a aspiração ao generalato aumentava.

Sentiu que poderia mesmo se tornar virar oficial-general quando foi escolhida para dirigir o Centrobrabet pirataTecnologia e Informação da Marinha, onde ficou por três anos. "Quando chegou minha oportunidade, fui finalmente escolhida".

Assim como Dalva, ela diz quebrabet piratasituação familiar a ajudou. As duas receberam apoio dos maridos e filhos para seguir na carreira. No casobrabet pirataLuciana, seu marido, que também é militar, se aposentou e ela seguiu na carreira. "As pessoas brincam que ele é mandado", diz ela, rindo.

Quando ela quis fazer um mestrado no exterior, ele pediu licençabrabet piratasua função para acompanhá-la. "As pessoas reagiram com surpresa. Diziam 'nossa, você vai acompanhar ela?' e ele dizia que sim, que era uma excelente oportunidade para mim e para os nossos filhos", conta.

"É muito normal as mulheres pararem suas carreiras para acompanhar seus maridos, mas quando um homem faz isso a reação é totalmente diferente."

A contra-almirante tem dois filhos homens, que, segundo ela, se orgulham do trabalho da mãe.

O maridobrabet pirataDalva morreu, mas, segundo ela, os dois dividiam as tarefasbrabet piratacasa e se apoiavam. "Outro dia, depoisbrabet piratauma palestra, veio um casalzinho me perguntar o que é mais importante. Eu disse: ter o companheiro certo."

'A mulher tem que querer'

Por que não há mais mulheres que, como elas, chegaram ao generalato? Para as duas, os motivos são sociais e pessoais.

"Continuar a carreira é bonito, mas não é fácil, requer sacrifício. Você não tem horário, não tem fimbrabet piratasemana, tem que estar sempre disponível, estar sempre responsável por muita coisa. Na nossa cultura, na horabrabet piratatomar contabrabet pirataum idoso, se espera que a mulher faça isso. Muitas vezes ela resolve deixarbrabet piratafazer outras coisas. É algo muito pessoal", opina Dalva.

Luciana diz que não teve nem incentivos nem empecilhos pelo fatobrabet pirataser mulher. "Como engenheira, tive incentivosbrabet piratacursos, do mestrado", diz ela. Luciana acha que "as mulheres precisam ter vontade".

"Tive uma colega que fez uma carreira igual à minha. Tinha o mesmo tempobrabet pirataserviço. Também dirigiu um centro. Quando acabou a direção, pediu reserva. Disse que o pai precisava dabrabet pirataatenção. Ela tinha chance, fez tudo que eu fiz. Mas não quis", diz Luciana.

A contra-almirante conta que, na épocabrabet piratasua ascensão, a carreira feminina avançava mais lentamente que a dos homens, e isso não tinha necessariamente a ver com escolhas pessoais. "Até a reestruturaçãobrabet piratacorpos e quadros, apenas engenheiras e médicas iam até o postobrabet pirataoficial-general. Tinha menos opçõesbrabet piratacargos para os quais podíamos avançar, então o tempo que passávamosbrabet piratacada posto era maior, as promoções demoravam mais", diz ela. "Havia uma distorção, mas ela foi corrigida."

Contra-almirante Dalva Mendes

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Mulheres militares abordam a contra-almirante e dizem: "agora nós acreditamos" (que mulheres podem ascender na carreira militar). "Isso ficou marcado na minha alma", lembra ela

Dalva diz que sente a baixa autoestima das mulheres militares. "A gente acha que não é capaz. Aquelas que têm autoestima um pouco melhor alcançam. Uma parte dependebrabet piratanós, dependebrabet piratanos prepararmos e acreditarmosbrabet piratanós. Sempre digo que o 'não' já é certo".

Ela acha que a Marinha, como instituição, hoje está no caminho certo. "O que pode acontecer é que o homem sente que está perdendo território e fica um pouco ressabiado. Mas não é a Marinha, são as pessoas, porque a sociedade está mudando, as mulheres estão entrandobrabet piratalocais que são sóbrabet piratahomem", diz ela.

Apesarbrabet pirataas duas se mostrarem conscientes sobre desigualdadebrabet piratagênero na sociedade e se dizerem favoráveis a igualdadebrabet pirataoportunidades para homens e mulheres, nenhuma das duas se identifica como feminista.

"Sou humanista", diz Dalva. "As pessoas têm que ter possibilidadebrabet piratafazer suas escolhas. Isso é o básico."

"Eu não me sinto feminista, mas meus filhos dizem que eu sou", diz Luciana, rindo. "Defendo direitobrabet pirataescolha, ficarbrabet piratacasa ou não. Acho importante não tolher as mulheres nas suas escolhas. Por esse viés, sou, mas não faço militância."

Obstáculos concretos

Um históricobrabet piratadesigualdade também explica por que há poucas mulheresbrabet piratacargos altos.

Dentro da categoria mais alta das Forças Armadas, abrabet pirataoficial-general, cada patente recebe um númerobrabet pirataestrelas. Para se tornar comandantebrabet piratauma das Forças, é preciso ter quatro estrelas. As carreiras permitidas para mulheres até pouco tempo atrás não atingiam esse nível, com exceção da Força Aérea.

O melhor caminho para a ascensão nas Forças Armadas é por meio das escolasbrabet pirataformaçãobrabet pirataoficiais — a Escola Naval, da Marinha, a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), do Exército, e a Academia da Força Aérea (AFA), da Aeronáutica. Para chegar à patentebrabet pirataquatro estrelas e poder comandar uma força, é preciso passar por elas.

Mulheres passaram a poder entrar nas academias do Exército e da Marinha por uma lei, sancionadabrabet pirata2012 pela ex-presidente Dilma Rousseff, que permitiu que militares do sexo feminino atuembrabet pirataposiçõesbrabet piratacombate. A Força Aérea já autorizava isso.

As Aspirantes da turmabrabet pirata2014 com a Contra-Almirante Dalva Maria Carvalho Mendes

Crédito, Marinha do Brasil

Legenda da foto, Contra-almirante Dalva com as aspirantes da turmabrabet pirata2014, a primeirabrabet piratamulheres na Escola Naval

A Marinha admitiu mulheresbrabet pirataseus quadrosbrabet pirata1980, estendeu o acesso aos Corposbrabet pirataSaúde ebrabet pirataEngenheiros Navaisbrabet pirata1998 e à Escola Naval, no anobrabet pirata2014. Em 2018, após a própria Marinha pedir uma mudança na legislação, elas passaram a poder escolher habilitações que levam a quatro estrelas. Esse caminho é longo — levabrabet piratatornobrabet pirata29 anos para que seja alcançado o primeiro postobrabet pirataalmirante.

O Exército permitiu que mulheres entrassem nos seus quadrosbrabet pirata1992 e, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman),brabet pirata2017. No entanto, mulheres não podem escolher qualquer especialização (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Comunicações, Intendência e Material Bélico), como podem os homens. As cadetes do sexo feminino têm acesso a apenas dois cursos: Intendência e Material Bélico. Sendo assim, há menos opçõesbrabet piratacaminhos para um cargobrabet pirataquatro estrelas.

Integrantes do Serviçobrabet pirataSaúde, do Quadrobrabet pirataEngenheiro Militar e da Linhabrabet pirataEnsino Bélico concorrerão ao ingresso ao quadrobrabet pirataoficiais-generais a partirbrabet pirata2022, 2026 e 2050, respectivamente.

Tanto Exército quanto Marinha têm reservabrabet piratavagasbrabet piratanúmero maior para homens na Escola Naval e na Cursobrabet pirataFormação e Graduaçãobrabet pirataOficiaisbrabet pirataCarreira da Linhabrabet pirataEnsino Militar Bélico (CFO/LEMB), que dá acesso à Aman.

Sobre isso, a Marinha diz que oferece 18 portasbrabet pirataentrada e apenas o concurso para Escola Naval possui vagas específicas para homens e vagas específicas para mulheres. O Exército diz que "a intenção foi começar com um pequeno grupo e realizar o acompanhamento do processo, evitando maiores transtornos por eventuais retificações".

Mulher pilotando avião da FAB

Crédito, Divulgação Força Aérea Brasileira

Legenda da foto, Oficiais-aviadoras formadas pela Academia da Força Aéreabrabet pirata2006 poderão alcançar, futuramente, o mais alto posto da carreira, obrabet pirataTenente-Brigadeiro do Ar

"Tal percepção vem do fatobrabet pirataque, ao analisar a participação do sexo femininobrabet pirataoutros países, identificou-se que aqueles que admitiram mulheres nas áreas combatentes sem um controle inicial, tiveram diversos problemas e, atualmente, estão reformulando o processo", diz a instituição,brabet piratanota.

Afirma também que "há alguns aspectos que deverão ser considerados quanto às limitações no ingresso do sexo feminino, tais como: os que se referem à diferençabrabet pirataforça e resistência física (...), a incompatibilidade entre maternidade, cuidado com os filhos pequenos e a vidabrabet pirataambientes operacionais variados durante longos períodos".

A Aeronáutica admitiu mulheresbrabet pirata1982, foi a primeira força a formar oficiais mulheres, a partirbrabet pirata1996, e é a força com a maior proporçãobrabet piratamulheresbrabet pirataseus quadros. Em 2003, abriu para elas o Cursobrabet pirataFormaçãobrabet pirataOficiais Aviadores, permitindo que pudessem então seguir o caminhobrabet pirataaviadoras, que abre as portas para uma carreira que leva a quatro estrelas.

As oficiais-aviadoras formadas pela Academia da Força Aéreabrabet pirata2006 poderão alcançar, futuramente, o mais alto posto da carreira, obrabet pirataTenente-Brigadeiro do Ar, mas isso ainda levará décadas. Mulheres ainda não podem seguir o caminho da Infantaria nas escolasbrabet pirataformação.

Soluções

Para Maria Elizabeth Rocha, a única mulher ministra do Superior Tribunal Militar (STM),brabet piratafato as diferenças sociais acabam se refletindo dentro das Forças Armadas — mulheres escolhem não avançar na carreira para desempenhar papéisbrabet piratacuidadoras. Mas, para ela, mais deveria ser feito para compensar esse fenômeno.

Ela cita, por exemplo, a flexibilidadebrabet piratahorários oferecida pelo Exército israelense e a importânciabrabet piratacursos que permitam às mulheres avançar na carreira ao voltarbrabet piratauma licença-maternidade.

Maria Elizabeth Rocha

Crédito, STM

Legenda da foto, Maria Elizabeth Rocha é a única mulher integrante do Superior Tribunal Militar

"Nos EUA há categorias que levambrabet pirataconta idade, força, peso e finalidade da presença da mulher para aprimorar integração. Os exercícios são adaptados à capacidade física delas. Na Holanda estão adaptando armamento à anatomia feminina. Elas poderão se tornar melhores soldados. Privilegia a diferença e ao mesmo tempo a inclusão", exemplifica.

"A formação tem que ser igual,brabet piratamodo que elas possam se preparar para neutralizar desvantagens, como a gravidez. Quando a mulher engravida, é afastada por um ano do mercadobrabet piratatrabalho. Não podemos condenar as mulheres à infertilidade", diz.

A ministra acabou optando, ela própria, por não ter filhos. "Não ter tido filhos não limitou meu acesso a viajar, fazer curso no exterior, progredir academicamente", diz ela.

"É preciso haver reciclagem, formação periódica, senão nunca haverá soluções compatíveis com suas situações. Hoje elas estãobrabet piratasituação inferior."

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