O que é a parentalidade positiva, corrente que defende a criação 'firme e gentil' das crianças:bwin freeroll
A educadora Lua Barros, que estuda parentalidade positiva, define essa corrente como o pensamento sobre as relações entre pais e filhos nesta "nova sociedadebwin freerollque vivemos". "Precisamos fazer que os pais entendam as crianças como indivíduos e tenham respeito mútuo", diz ela.
"E o afeto conduz todas as nossas ações. Quando nos regemos pelo afeto, tiramos qualquer pontobwin freerollviolência na relação. Conduzir o comportamento da criança com firmeza, respeito é colocar essa autoridade sem autoritarismo."
Sem violência
A ideia é, também, que bater ou castigar as crianças não as ensinará a lidar com os próprios sentimentos ou para terem comportamentos adequados, apenas as educará para terem medo da reação do adulto.
Em junho deste ano, a França se tornou o 56º país a proibir legalmente o castigo físicobwin freerollcrianças. O primeiro,bwin freeroll1979, foi a Suécia. No Brasil, a lei antipalmada ébwin freeroll2014.
A ciência antropológica mostra que os nossos ancestrais, ao contrário do que se acredita, não eram violentos combwin freerollprole, praticavam muito contato físico, eram disponíveis e viviambwin freerollambientes cooperativos.
"Quando deixamosbwin freerollser caçadores-coletores e passamos a ser agricultores, lentamente construímos uma culturabwin freerollsubmissão, controle e buscabwin freerollobediência da infância", afirma a psicóloga Márcia Tosin, especialistabwin freerollcomportamento infantil.
As informações científicas que baseiam a educação e a criação infantil também evoluíram muito nas últimas décadas, quando descobrimos mais sobre o cérebro humano do que nos últimos 5 mil anos.
Uma das descobertas ébwin freerollque o cérebro cresce até os 23 anosbwin freerollidade, ou seja, até lá ainda não está totalmente maduro. E hoje sabemos que existe neuroplasticidade, que é a capacidadebwin freerollo cérebro se adaptar a mudanças por meio do sistema nervoso.
O organismo e o desempenho futurobwin freerolluma criança (na vida social e profissional) são altamente influenciados pelas experiências iniciaisbwin freerollvida. E um ambiente com baixo estresse e estímulos positivos leva a um bom desenvolvimento não apenas mental, mas físico também.
Tosin afirma que uma criação respeitosa fará com que as crianças, ao longo da vida, não aceitem outra coisa que não viver sob o respeito.
"Há duas décadas, escuto pelo menos uma vez por semana alguém me falando durante um atendimento psicológico: 'Não consigo amar minha mãe (ou meu pai) por mais que tente, não sinto nada por ela (ele)'. Isso é realmente devastador, porque esses pais se centrarambwin freerollum modelobwin freerollobediênciabwin freerollregras, entendendo que o carinho poderia danificar seus filhos, sem saber que a moralidade acontece através da fundaçãobwin freerolluma relação."
Como agir, na prática?
Um primeiro entendimento importante, para pais que estejam buscando esse "caminho do meio", é que o mau comportamento — birra ou coisas do gênero — é uma formabwin freerollcomunicação da criança. Na maior parte das vezes, ele não é pessoal, ou seja, a criança não está fazendo isso para atingir o adulto, mas porque ela não tem outros recursos emocionais naquele momento.
A educadora parental Lia Vasconcelos alerta com exemplos como a parentalidade positiva pode ajudar nesse dilema: "O primeiro ponto é olharmos para nós mesmos para tentarmos entender o que pode ter causado o estresse. Pode ser sono, cansaço, fome, nervosismo, insegurança?".
Um jeitobwin freerolltratar a birra, segundo Lia Vasconcelos, é limitar a energia dada a ela. "É preciso dizer não com firmeza e gentileza e isso pode ser por meio da validação do sentimento: 'Estou vendo que você está nervoso. Também estou cansadabwin freerollficar aqui parada. Vamos brincarbwin freerollalguma coisa? Jogo da velha ou forca?'."
De acordo com a educadora, pode ser também por meiobwin freerollescolhas limitadas, dentrobwin freerolllimites considerados razoáveis pelo adulto. Se a cena forbwin freerollum supermercado, por exemplo, e a criança "quer porque quer" algo que os pais não querem comprar, é possível dizer: "Vejo que você está com muita vontadebwin freerollcomer essa bolacha. Ela parece mesmo muito apetitosa. Que tal escolhermos um lanche mais saudável?". O segredo também estábwin freerolldistrair a criança, dando uma função a ela.
Mas e quando a birra passa dos limites e vira aquelas cenasbwin freerollfilmebwin freerollterror? É importante, antesbwin freerolltomar qualquer decisão, entender como o cérebro funciona.
Ele está divididobwin freerollquatro grandes zonas: o hemisfério direito do cérebro é imaginativo. Já o hemisfério esquerdo do cérebro é o lado racional e lógico — ali está a noçãobwin freerolltempo. O andarbwin freerollbaixo é o cérebro primitivo, a sede das emoções. O andarbwin freerollcima é a localização do juízo ebwin freerolltodos os componentes do cérebro racional. Funciona como um filtro para as emoções.
"Quando uma birra do andarbwin freerollbaixo acontece significa que ali há muita energia e são aquelas birrasbwin freerollque a criança fica forabwin freerollsi. E aí, não vale a pena gastar o seu latim porque a criança não tem capacidade nos escutar", afirma a autora portuguesa Magda Gomes Dias no livro Crianças Felizes.
"A melhor abordagem nesse caso é acalmar a criança, pegando-a no colo e levando-a para outro lugar. Muitas vezes isso já é suficiente. Em seguida, abrace-a, mesmo que seja a última coisa que queira fazer. Peça para a criança respirar fundo e diga-lhe que vai passar. Diga issobwin freerolluma forma calma, firme, generosa e carinhosa. É o carinho no tombwin freerollvoz que vai ajudar a criança a se acalmar. Recapitule com a criança o que aconteceu e deixe a correção para um segundo momento. Importante corrigir o comportamento, não apontar a criança como má", prossegue a autora.
Já quando uma birra do andarbwin freerollcima acontece,bwin freerollque a criança está calma o suficiente para entender, a recomendação das especialistas é não negociar. É possível acolher os sentimentosbwin freerollfrustração das crianças ("entendo que você quer muito esse brinquedo, mas hoje não vamos comprar infelizmente. Vamos pensarbwin freerolloutra brincadeira?"), mas sem ceder, dentro dos limites definidos pelo adulto.
'Me canseibwin freerollquem eu estava me tornando'
Tanto Lia Vasconcelos como Lua Barros se tornaram educadoras parentais por se sentirem mães muito aquém do que poderiam ser. "Minha busca por esse modelo foi depois que me enxerguei uma mãe muito autoritária, que só gritava com as crianças, que não tinha admiração por elas", conta Barros.
"Fui me cansandobwin freerollquem eu estava me tornando. Ser mãe sempre foi muito prazeroso, até que deixoubwin freerollser. Com três filhos, as coisas saíram do controle. Fui buscar orientação, informação. Tinha três filhos, estava grávida do quarto e não tinha lido nenhum livro sobre como o cérebro da criança se desenvolve."
Barros passou a enxergar as crianças como seres humanosbwin freerolldesenvolvimento e que podem crescer melhor, mais fortes, mais saudáveis, dependendo da interação com elas.
"Hoje, escuto tudo o que os meus filhos têm pra dizer. Isso não significa que atendo tudo. Eu os ensino a se colocarem diante do desejo deles. Sou responsável por aquilo que sinto e não sou ingênuabwin freerollachar que isso é a tábua da salvação do mundo. Mas, ao mesmo tempo, precisamos ter mais adultos equilibrados emocionalmente para a geração futura ter a possibilidadebwin freerollcriar pessoas mais equilibradas também."
Telas x crianças
Para Lua Barros, a ideiabwin freeroll"nessa nova sociedadebwin freerollque vivemos" engloba, também, o mundo digital. A TV ou o celular acabam sendo, algumas vezes, as "babás"bwin freerollque pais sobrecarregados se apoiam para dar conta da rotina com filhos, mas é preciso lembrar que o espaço virtual também exige supervisão.
"Você não deixa seu filho sozinho na Praça da Sé. Porque deixaria na internet? Não faz sentido. A internet é um lugar onde tudo acontece", diz Barros.
Em abril deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou suas recomendações sobre usobwin freerollaparelhos eletrônicos para criançasbwin freerollaté 5 anos.
De acordo com a entidade, criançasbwin freerollaté 5 anos não devem passar maisbwin freeroll60 minutos por diabwin freerollatividades passivas diantebwin freerolluma telabwin freerollcelular, computador ou TV. Bebês com menosbwin freeroll12 mesesbwin freerollvida não devem passar nem um minuto na frentebwin freerolldispositivos eletrônicos. "Muito melhor que proibir os eletrônicos é criar estratégias para que eles se tornem desinteressantes", opina Tosin.
"As crianças, quando estão na frente da TV, por exemplo,bwin freerollcinco minutos começam a se escorregar no sofá, ficambwin freerollcabeça para baixo ou jogam almofadas. A criança sente desejo pelo movimento, e a sociedade precisa se organizar para trazer novamente a convivência com outras crianças, bem como dinamismo, mobilidade e animaçãobwin freerollforma segura."
A Sociedade Brasileirabwin freerollPediatria recomenda que a criança brinque ao ar livre diariamente.
Essa é uma das premissas que o pediatra e sanitarista Daniel Becker, professor do Institutobwin freerollSaúde Coletiva na Universidade Federal do Riobwin freerollJaneiro, aplicabwin freerollsuas palestras e atendimentos.
"Vivemos uma desvalorização do brincar e do convívio ao ar livre. Uma 'adultização' da criança. Vários estudos comprovam que o brincar evita diversos comportamentos depressivos e até suicídios no futuro. A criação não pode ser autoritária, nem violenta, nem permissiva demais. É importante fazer com que a criança desenvolva uma consciência emocional", diz Becker.
O jornalista americano Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, cunhou o termo Transtorno do Déficitbwin freerollNatureza para descrever o fenômeno bastante contemporâneo que é a faltabwin freerollacesso a espaços livres e naturais, que permitam o livre brincar e o contato com a natureza.
Vasconcelos acredita que o transtorno acomete crianças e adultos e está intimamente ligado ao crescimento do usobwin freerollaparelhos eletrônicos. "Diante desse quadro, que também provoca sedentarismo e obesidade, acredito que as palavras que me ocorrem quando penso na relaçãobwin freerollcrianças com eletrônicos é bom senso, equilíbrio e acompanhamento."
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