Caso Ágatha: Policial aprende a ser autoritário na favela e submisso fora, diz ex-comandante da PM do Rio:robo mines estrela bet
"A morte dela foi o mais recente episódio. Ontem foi um policial. Isso acontece onde tem confronto. Porque nesse espaço tem abandono do poder público", diz Ângelo.
Para ele, o Rio virou um lugar onde "é permitido que o cara use fuzil, que seja abatido com fuzil, que o cara se torne bandido", por faltarobo mines estrela betpolíticasrobo mines estrela betdesenvolvimento econômico e humanorobo mines estrela betzonas periféricas.
O governador do RJ, Wilson Witzel (PSC), adota um discursorobo mines estrela betdefesarobo mines estrela betuma atuação ostensiva da polícia. No primeiro semestre deste ano, houve uma quedarobo mines estrela bet23% nos homicídios no Estado, mas um aumentorobo mines estrela bet15% nas mortesrobo mines estrela betações policiais no Riorobo mines estrela betrelação ao mesmo períodorobo mines estrela bet2018.
Sobre a políticarobo mines estrela betsegurança atual, Ângelo afirma que o governo não tem "uma políticarobo mines estrela betsegurança, tem políticarobo mines estrela betconfronto, e no dia seguinte do confronto, qual é a proposta do Estado?"
Para ele, a sociedade chancela a postura do governador. "O inaceitável é que tenha tiroteio todo dia e a sociedade não esteja nem aí."
robo mines estrela bet BBC News Brasil - Qual foi arobo mines estrela betreação quando soube da morte da Ágatha, e como o senhor avalia uma situaçãorobo mines estrela betque uma criança morre num contextorobo mines estrela betação policial?
robo mines estrela bet Ubiratan Ângelo - Sou carioca, sou da favela, fui da polícia. Saí da favela e da polícia, mas elas não saíramrobo mines estrela betmim. Sinto muito o que acontece nas comunidades. Me dói muito. Independentementerobo mines estrela betser criança ou adulto. Quando é criança a comoção é mais imediata.
Quem atirou possivelmente não quis acertar a criança ou a van. O disparo foi parar ali. Isso não acontecerobo mines estrela betqualquer lugar do Riorobo mines estrela betJaneiro. Só acontece nesses espaços (favelas) e vai acontecerrobo mines estrela betnovo.
O perfilrobo mines estrela betmorte violenta no Brasil é homem, jovem, pobre, moradorrobo mines estrela betfavela e negro. Morrem onde vivem e trabalham. Nas periferias. Esses espaços são violentos porque há disputa territorial, e não porque tem tráficorobo mines estrela betdrogas.
A morte dela foi o mais recente episódio. Ontem foi um policial. Isso acontece onde tem confronto. Porque nesse espaço tem abandono do poder público.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - O sr. acha natural que uma criança morra numa situaçãorobo mines estrela betque a polícia esteja envolvida?
robo mines estrela bet Ângelo - Não acho aceitável que ninguém morra — quem mora, trabalha ou transita por ali. Mas a sociedade banalizou e aceita. Nesses espaços, a sociedade autoriza que haja violência, que o Estado não atue. A polícia vai ter que entrar, então vai ter trocarobo mines estrela bettiro. A morte da menina é a gota d'água. Mas o inaceitável é que tenha tiroteio todo dia e a sociedade não esteja nem aí. Quem está na zona sul (parte mais rica do Rio) não tem o perfilrobo mines estrela betquem vai morrer ou sofrer tiros. O que é decisivo é a pessoa estar na favela. A idade vai variar, mas vai ser sempre lá.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - O que esses episódios dizem sobre a forma como a polícia atua nesses territórios?
robo mines estrela bet Ângelo - Para mim, não faz diferença a pessoa ter a ver (com o tiroteio). A sociedade diz que essa criança não podia morrer porque não tinha nada a ver. Mas isso significa o quê, que o bandido pode morrer, que o policial pode morrer? Ninguém pode. Quem vai se comover, mesmo, é a família dela. As pessoas ficam com pena, mas não se comovem. Quem estárobo mines estrela betoutro espaço não está nem aí. Seu ponto no Google Maps não está georreferenciado como localrobo mines estrela betconfronto.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - Há manifestações públicas marcadas e protestos mobilizados a partir dessa morte.
robo mines estrela bet Ângelo - São manifestaçõesrobo mines estrela betcunho político, contra o governador. Vão aproveitar esse gancho. Deveriam estar preocupados com todas e mais essa. Sinto muito pela menina, podia ser minha parente, tenho familiares na favela. Mas temos que estar incomodados com todas as mortes. São cenáriosrobo mines estrela betguerrilha urbana. O que estão fazendo para que o Estado entre, desenvolva um programarobo mines estrela betdesenvolvimento econômico e humano?
Qual é a política adotada pelos poderes municipal, estadual, federal? Na favela, tem um pedacinhorobo mines estrela betcada um. Sabe aqueles filmes americanosrobo mines estrela betfaroeste onde as pessoas dizem 'lá tudo pode acontecer'? Aqui está acontecendo a mesma coisa. É permitido que o cara use fuzil, que seja abatido com fuzil, que a polícia mate bandido. Se a polícia matar bandido, tudo bem, mas é permitido que o cara se torne bandido.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - A versão da polícia érobo mines estrela betque foi provocada, mas moradores dizem que não foi o caso. Como avalia essa postura da PMrobo mines estrela betadotar o mesmo discursorobo mines estrela betque estava respondendo a tiros?
robo mines estrela bet Ângelo - Em primeiro lugar, há uma dúvida: houve confronto? Sempre há duas versões, a da polícia dizendo que sofreu ataque e a da comunidade dizendo que a polícia entrou atirando. Se isso acontecesse na zona sul, já saberíamos, porque tem sistemarobo mines estrela betcâmerarobo mines estrela betsegurança, as pessoas dariam testemunho. Ali, não, prevalece a lei do silêncio. Vou falar o discurso que sou autorizado a falar ou vou agir com emoção.
As pessoas dizem que o policial atua diferenterobo mines estrela betlugares diferentes. Mas tudo é diferente (numa favela). O cara que entrou para a polícia aprendeu a ser autoritário nesse espaço e submissorobo mines estrela betoutro. Ele pega o trem e altera o comportamento. Todos nós, policiais ou não. Na zona sul, não atira porque não atiram nele.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - O sr. está dizendo que não acontecerobo mines estrela beta polícia iniciar uma situaçãorobo mines estrela betconfronto?
robo mines estrela bet Ângelo - Não disse isso, é preciso apurar. Acontece, sim,robo mines estrela betentrar atirando, mas não é a maioria.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - O sr. tem alguma crítica à maneira como a polícia atuou nesse caso?
robo mines estrela bet Ângelo - Faço crítica quando atuou errado. Aí faço a crítica. A sociedade autoriza que nesse espaço o Estado só atue dando tiro. O saldo disso é nadarobo mines estrela betpositivo. Não quero avaliar só a polícia, mas o sistema.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - Como avalia políticarobo mines estrela betsegurança do governo atual?
robo mines estrela bet Ângelo - E qual é a políticarobo mines estrela betsegurança dele? Como vou avaliar? Política é algo maior do que ordem. Se eu entender qual é a política dele, posso avaliar. No seu discurso ele traz algumas coisas. Por exemplo, apoio o policial. Se der um tiro num bandidorobo mines estrela betfuzil, eu apoio. E se matar alguém que não estava com um fuzil?
A questão não é ter ou não ter confronto, é que o governo só tem colocadorobo mines estrela betpauta o confronto como alternativa. E no dia seguinte do confronto, qual é a proposta do Estado? Vou ficar confrontando todo dia? O tráfico não está diminuindo. Não houve qualquer redução. O confronto não vai reduzir o tráficorobo mines estrela betdrogas.
Exército não é estratégia. Qual é a estratégia para que o jovem não morra, não entre no tráfico? O que é feito? Enquanto estamos olhando só para o fuzil, esquecemos da mão que segura o fuzil. Qual é a proposta para a garotada envolvida ou não envolvida? A polícia tem que ser o agente garantidor, mas o Estado tem que assumir o espaço, com desenvolvimento humano e econômico. O ponto fundamental é o ser humano. E ele não tem proposta para isso. Então não tem políticarobo mines estrela betsegurança, tem políticarobo mines estrela betconfronto.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - O quanto a retórica do governador estimula a letalidade policial?
robo mines estrela bet Ângelo - Witzel falarobo mines estrela betuma forma que autoriza esse sistema. Mas os outros autorizaram também. O discurso interfere na ponta. Ele mexe com a psique da sociedade. Hoje você tem a polícia pensando "o governador está apoiando a gente" — chefesrobo mines estrela betbatalhões, delegados, policiais. O governador aparece. Esse discurso aguerrido mexe com o policial que está na ponta. As pessoas votaram nele, votaram no discurso dele. Ele foi eleito para fazer isso. E o policial é reflexo da sociedade. Então tem efeito. Daí a dizer que esse efeito é responsável por aumento da letalidade, não sei, precisarobo mines estrela betestudo.
robo mines estrela bet BBC News Brasil - A polícia do Rio sempre teve taxas altasrobo mines estrela betletalidade. Ela caiu um pouco por alguns anos, durante o iníciorobo mines estrela betperíodorobo mines estrela betUPP (Unidaderobo mines estrela betPolícia Pacificadora), mas agora vem batendo recordes. O que está acontecendo?
robo mines estrela bet Ângelo - A questão não é o que está acontecendo, mas o que aconteceu quando caiu. Nessa época teve reduçãorobo mines estrela bethomicídio e vitimizaçãorobo mines estrela betpolicial, bala perdida. Porque teve ocupaçãorobo mines estrela betterritório. A ocupação impede o confronto, torna ele desnecessário e inviável — porque se tem policial, não vai ter invasãorobo mines estrela betoutro grupo, não vai ter operação porque a polícia já está ali. E a polícia retira as armas, não tem letalidade porque não tem com quem ter, porque não há confronto. A questão toda é disputa territorial.
A UPP não foi pacificadora. O desenvolvimento humano e econômico não foram eficazes. Como resposta imediata à violência letal, foi ótimo. Mas que mecanismos foram afetados? O tráficorobo mines estrela betdrogas segue. Alterou só a forma. Os garotos ficaram desempregados no tráfico, foram roubar na rua, sem revólver,robo mines estrela betgrupo, com arma branca. A gente olha segurança pelo lado do crime, mas tem que olhar pelo lado do ser humano. Não mexeu na questão econômicarobo mines estrela betquem viviarobo mines estrela betfunção do tráfico.
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