Como crise e volta da esquerda na Argentina afetariam o Brasil:yolocasino
O mercado reagiu mal e os principais indicadores econômicos do país se deterioraramyolocasinoimediato.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a instabilidade na Argentina pode afetar o comércio exterior brasileiro, investimentos, o turismo e o dólar, masyolocasinoalguns desses setores o impacto é só uma "marolinha", enquanto,yolocasinooutros, tem potencial para provocar prejuízos.
E, a depender da chapa que se eleger, as relações do Brasil com seu principal parceiro na América do Sul e maior importadoryolocasinoprodutos industrializados brasileiros podem se deteriorar.
A crise lá impacta o valor do real frente ao dólar?
Assim que as prévias da eleição na Argentina, no dia 11yolocasinoagosto, apontaram vitória da chapa do peronista Alberto Férnandez, que é visto como candidato mais antimercado, o dólar disparou - passou dos 46 pesos para acimayolocasino60 pesos argentinos.
E as ações desabaram numa queda históricayolocasino37,9% da bolsayolocasinovaloresyolocasinoBuenos Aires.
No mesmo dia, o real também perdeu valor frente ao dólar, mostrando que a reação negativa do mercado contagiou o Brasil. O dólar chegou a bater R$ 4 na manhã do dia 12yolocasinoagosto e fechou o dia a R$ 3,98.
A explicação para a subida do dólar no Brasil dianteyolocasinoum resultado que assusta o mercado é simples.
Quando o investidor avalia que o retorno das suas aplicaçõesyolocasinofundos, ações ou títulos públicos não compensa o ambienteyolocasinoalto risco, ele vende parte ou tudo, e transfere o dinheiro para países mais seguros.
Ou seja, abre mãoyolocasinoaplicações na Argentina e vai comprar títulos e ações nos Estados Unidos ou na Europa. Dólares, portanto, tendem a deixar o paísyolocasinocrise ou entraryolocasinomenor volume, fazendo com que haja menos oferta dessa moeda, o que pressiona a cotação.
Agora, por que o real perdeu valor também?
O pesquisadoryolocasinoeconomia aplicada Lívio Ribeiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que, como o Brasil é integrante do Mercosul e vizinho da Argentina, acaba se contaminando com a percepçãoyolocasinoaumentoyolocasinorisco na região.
Os investidores, no impulso, reagem retirando, também, aplicações do Brasil e da América do Sul como um todo.
"A gente tem o efeito financeiro que é a contaminação da classe América Latina. A gente tem observado isso nos últimos dias, com o dólar beirando R$ 4. A crise argentina nos atrapalha, ainda que seja responsável só por uma fatia dessa desvalorização do real", diz Ribeiro.
Mas esse efeito, até as eleições na Argentina, tende a ser passageiro e marginal, segundo o professoryolocasinoRelações Internacionais Carlos Eduardo Vidigal, da UniversidadeyolocasinoBrasília.
Passado o susto, os investidores devem fazer uma avaliação que considere o fator específicoyolocasinoriscoyolocasinocada país.
"A oscilação da bolsa e do dólar é muito momentânea. Essa perda causada pela crise argentina tende a ser recuperada", diz Vidigal, que é autoryolocasinodiversos livros sobre a relação entre Brasil e Argentina.
E qual o impacto no comércio?
Enquanto o impacto da crise argentina sobre o valor do real é limitado, os efeitos sobre o comércio exterior brasileiro são significativos, apontam os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
A Argentina é a maior compradorayolocasinoindustrializados brasileiros - maisyolocasino90% dos produtos exportados pelo Brasil para o país vizinho são manufaturados.
E o setor automotivo, que responde pela maior fatia das nossas exportações para a Argentina (cercayolocasino30%), é o que mais sofre com qualquer problema econômico naquele país.
Maisyolocasino60% dos carros comprados na Argentina vêm do Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos FabricantesyolocasinoVeículos Automotores (Anfavea) e do Ministério da Indústria e Comércio Exterior brasileiro.
Mas, com o agravamento da crise econômica, a pobreza aumentou, a inflação corroeu salários e os argentinos estão comprando menos carros e autopeças produzidos no Brasil.
A exportaçãoyolocasinoveículos brasileiros caiu 41%yolocasinojaneiro a julho deste ano, "em função, principalmente, da crise", diz relatório da Anfavea.
No total, considerados todos os produtos comercializados, as exportações do Brasil para a Argentina sofreram quedayolocasino43%yolocasinojaneiro a julho deste ano, na comparação com 2018.
Em resumo, o nosso setoryolocasinoexportaçãoyolocasinomanufaturados pode perder peso se a situação financeira da Argentina se agravar. E, com isso, o Brasil passa a ficar ainda mais dependente da vendayolocasinoprodutos básicos, como alimentos e minério.
Investimentos diretos
A instabilidade da semana passada na Argentina mostrou que, assustados com o resultado eleitoral, os investidores acabaram, num primeiro momento, retirando aplicaçõesyolocasinotítulos, ações e fundos brasileiros também.
Mas será que a crise na Argentina pode levar a uma queda significativayolocasinoinvestimentos diretos eyolocasinoprojetos estrangeiros no Brasil?
Ou seja, será que China, países europeus e os Estados Unidos vão pensar duas vezes antesyolocasinoabrir uma empresa no nosso país ou investiryolocasinoinfraestrutura, por causa da instabilidade na Argentina?
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que não. Para eles, grandes investidores tendem a olhar mais para os aspectos macroeconômicos do Brasil. Ou seja, equilíbrio fiscal, taxasyolocasinojuros e reservasyolocasinodólar.
Segundo Lívio Ribeiro, a crise na Argentina não tem capacidadeyolocasinodesestruturar a economia brasileira, porque temos reservasyolocasinodólar, diversidadeyolocasinoparceiros comerciais e um mercado interno relevante.
Por exemplo, o Brasil hoje tem mais dólaresyolocasinoreservas internacionais que compromissos, ou seja, que dívidas a pagar. Essas reservas somam maisyolocasinoUS$ 380 bilhões, segundo dados do Banco Central.
O dinheiro serve como uma espécieyolocasinoseguro para o Brasil cumprir obrigações no exterior e se protegeryolocasinocasoyolocasinoturbulências externas, como crises cambiais, crises financeiras internacionais e interrupções no fluxoyolocasinodinheiro para o país.
Por exemplo,yolocasinomeio às turbulências internacionais recentes, com a crise argentina e a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o Banco Central vendeu dólares. A medida serviu para aumentar a oferta da moeda americana no país, reduzindo a cotação frente ao real.
Transferênciayolocasinoempresas
Além disso, se por um lado o Brasil tem vendido menos carros para a Argentina, especialistas dizem que é possível que as fábricasyolocasinoautomóveis que hoje existem lá optem por se transferir para o nosso paísyolocasinobuscayolocasinouma economia mais sólida.
"A fábrica da Honda está desviando produção para o Brasil. Então, você pode até acabar tendo o efeito contrário de, mesmo com o choque argentino, você acabar tendo mais aporte aqui porque as empresas estão querendo fugir da bagunça que a Argentina pode virar", diz o economista Lívio Ribeiro.
Outro fator que protege a economia brasileirayolocasinoum baque econômico na Argentina é o fatoyolocasinotermos uma gama variadayolocasinoparceiros comerciais.
Por mais que a Argentina seja a nossa maior compradorayolocasinobens manufaturados, a vendayolocasinoprodutos para outros países ajuda a manter o comércio externo do Brasil aquecido.
"Há 20 anos ou 15 anos, as exportações brasileiras eram divididas basicamente um terço, um terço, um terço, tendo como destino EUA, Europa e Mercosul. Sendo que Mercosul, às vezes, apareciayolocasinosegundo lugar", afirma Carlos Vidigal, da UnB.
"Com a emergência da China, o Brasil hoje tem nesse país asiático o seu maior parceiro comercial. Nesse sentido,yolocasinotermos relativos, a Argentina perdeu importânciayolocasinotermos comerciais."
Baque no turismo
No setoryolocasinoturismo, a tensão política na Argentina provoca alguns resultados positivos e outros negativos. Por um lado, a queda do valor do peso pode fazer com que viajar para Buenos Aires, Bariloche e outros destinos turísticos fique mais barato para os brasileiros.
Por outro lado, o Brasil pode perder turistas argentinos que, por dificuldades financeiras, podem não conseguirão arcar com os custosyolocasinopassar férias e feriados no nosso país.
Vale destacar que a Argentina é,yolocasinolonge, o país que mais envia turistas para o Brasil. No ano passado, 2,5 milhõesyolocasinoargentinos visitaram cidades brasileiras. Os turistas americanos, que aparecem como a segunda nacionalidade com maior presença, foram 538 mil, segundo dados do Ministério do Turismo.
Cada turista argentino gastou,yolocasinomédia, US$ 56 dólares por diayolocasinocidades brasileirasyolocasino2018, aindayolocasinoacordo com o Ministério do Turismo.
Por que a eleição causa tanta instabilidade na Argentina?
O resultado das eleições primárias, que demonstrou um cenário extremamente negativo para Macri, surpreendeu, já que as pesquisasyolocasinoopinião apontavam uma vantagem pequena para Alberto Fernández, não uma distânciayolocasino15 pontos percentuais.
Fernández é visto com ressalvas pelo mercado financeiro por admitir a possibilidadeyolocasinorenegociar dívidas externas da Argentina, enquanto Macri sempre se apresentou como disposto a acertar as contas com os credores estrangeiros.
Fernández também prometeu um aumento na pensão paga aos aposentados. O dinheiro, disse ele, viria por meioyolocasinouma redução dos juros com que o governo atualmente remunera os títulos públicos do país.
Essa promessa gerou preocupação e especulaçõesyolocasinosetores econômicos devido ao histórico recenteyolocasinocalotes da dívida argentina, como o da histórica crise econômicayolocasino2001.
Além disso, Fernández tem como vice Cristina Kirchner que, durante seus dois mandatos como presidente, levou a cabo uma políticayolocasinomaior intervenção estatal na economia, com significativo controleyolocasinopreços.
Já Macri, assim como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é visto como resultadoyolocasinouma nova ondayolocasinodireita na América do Sul, embora não seja tão conservador quanto Bolsonaroyolocasinopautas como direitos LGBT e aborto.
Ao se eleger para o primeiro mandato, ele se comprometeu a pagar dívidasyolocasinocredores estrangeiros, fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional e chamou para compor ayolocasinoequipe empresários, executivos e economistas liberais.
Mas, diante da baixa popularidade recente,yolocasinovezyolocasinoajuste fiscal, o argentino tem recorrido às estratégias do kirchnerismo que ele tanto criticava. Aumentou o salário mínimo, ofereceu bônus aos trabalhadores e congelou o preço da gasolina.
Mesmo assim, Macri continua a ser o candidato preferido do mercado e, se perder a eleição, essa será a primeira derrota da onda conservadora na América do Sul.
"O que a gente tem agora é um medo da volta ao passado, supondo que o passado é igual, o que não necessariamente é verdade. Mas a chapayolocasinoFernández tende a ser uma chapa mais agressiva e contrária aos mercados, à abertura ao mercado internacional, e a discussõesyolocasinocomércioyolocasinoorganismos multilaterais", explica Lívio Ribeiro.
E como ficam as relações entre Brasil e Argentina?
O resultado da eleição na Argentina têm potencial para transformar as relações do país com o Brasil, apontam os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
AliadoyolocasinoMacri e críticoyolocasinoCristina Kirchner, Bolsonaro chegou a dizer que uma eventual vitóriayolocasinoFernández colocaria a Argentinayolocasinoriscoyolocasino"virar Venezuela".
"Povo gaúcho, se essa 'esquerdalha' voltar aqui na Argentina, nós poderemos ter, sim, no Rio Grande do Sul, um novo estadoyolocasinoRoraima. E não queremos isso: irmão argentinos fugindo pra cá, tendoyolocasinovista o queyolocasinoruim parece que deve se concretizar por lá caso essas eleições realizadas ontem se confirmem agora no mêsyolocasinooutubro", disse.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que o Brasil poderá deixar o Mercosul se o candidatoyolocasinoesquerda vencer e decidir "fechar a economia" para o comércio internacional.
"Não podemos ficar pendurados na crise da Argentina. O Mercosul, claro, é um veículoyolocasinoinserção do Brasil no comércio internacional. Mas, se a (Cristina) Kirchner quiser entrar e fechar a economia deles? Se quiser fechar a gente sai do Mercosul. Se ela quiser ficar aberta? Beleza, continuamos."
O professor Carlos Vidigal, da UnB, destaca que os dois países mantiveram intenso comércio bilateral durante os governos Kirchner. Mas ele reconhece que, devido à imensa diferençayolocasinovisões entre Bolsonaro e Fernández, as relações entre os dois países podem se deteriorar caso o peronista vença.
"O que ocorre é que, se nós tivermos um governo peronista mais protecionista e uma interlocução mais difícil com o governo Bolsonaro, aí a própria economia brasileira pode sofrer um pouco", diz.
Ele também chama a atenção para a possibilidadeyolocasinoAlberto Fernández, se eleito, levantar questionamentos sobre o acordoyolocasinolivre comércio firmado entre Mercosul e União Europeia, que ainda precisa ser ratificado.
Isso porque há um temor entre parcela dos argentinosyolocasinoque o acordo leve a um aumento na importaçãoyolocasinoprodutos manufaturados da Europa, reduzindo a competitividade da indústria argentina.
"O governo Macri é bastante favorável ao acordo. Num eventual governoyolocasinoAlberto Fernández e Cristina Kirchner, retornariam os interessesyolocasinorecuperar a indústria argentina e proteger os interesses comerciais do país. A argentina com os peronistas será mais cautelosayolocasinorelação ao acordo com a União Europeia", diz Vidigal.
Enquanto isso, Fernández tem tentado tranquilizar o mercado e o governo brasileiro.
"Para mim, o Mercosul é uma questão central. E o Brasil é nosso principal parceiro e continuará sendo. Se Bolsonaro pensa que eu vou fechar a economia e que, então, o Brasil vai sair do Mercosul, que fique tranquilo, porque não pensoyolocasinofazer isso. É uma discussão burra", disse o candiato peronista,yolocasinoentrevista ao jornal La Nación.
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