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Meu filho tinha dificuldade para falar, mas aos 7 anos já aprendeu nove idiomas, diz mãef12 bet cadastrogaroto com autismo:f12 bet cadastro
Uma das características do Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo, é a dificuldadef12 bet cadastrosocialização e comunicação. Segundo estudos, o transtorno é causado por uma desordem complexa no desenvolvimento cerebral.
Para ajudar no desenvolvimentof12 bet cadastroRafael, os pais o levaram para fazer acompanhamento com uma fonoaudióloga e uma terapeuta. "Mas ele não apresentava reação a nenhum estímulo. Tudo o que elas tentavam fazer, ele ignorava", comenta Juli.
A mãe foi aconselhada a incentivar o garoto a usar um tablet, que poderia auxiliarf12 bet cadastroseu desenvolvimento. "A princípio, fui contra. Mas como não tínhamos muitas alternativas, decidi tentar."
O garoto passava horas assistindo a vídeos do YouTube, a maioriaf12 bet cadastroinglês. "Achava que ele colocava os vídeosf12 bet cadastrooutra língua por não saber mexer no tablet, então eu sempre pegava o aparelho e colocava alguma animaçãof12 bet cadastroportuguês", relembra a mãe.
Meses depois, Juli ficou surpresa ao ver o filho, na época com quase quatro anos, começar a falar durante sessão com a fonoaudióloga. A felicidade com o avanço do garoto logo deu lugar ao medo. Isso porque Rafael falava somente palavrasf12 bet cadastroinglês. "Foram muitas frasesf12 bet cadastroinglês. Fiquei preocupada, porque,f12 bet cadastrorepente, ele começou a falar como se fosse fluente na língua, sem nunca ter feito aulas ou ter saído do país."
O garoto aprendeu inglêsf12 bet cadastrovídeos e jogos. Ele não falava português, apesarf12 bet cadastrodemonstrar que entendia a língua. "Tudo eraf12 bet cadastroinglês. Coloquei ele para conversar com o maridof12 bet cadastrouma amiga, que é irlandês, e ele disse que o Rafael falava melhor até que a esposa dele, que mora na Irlanda há dez anos."
O hiperfoco
O aprendizado inesperado do garoto ocorreuf12 bet cadastrorazãof12 bet cadastrouma das características do autismo: o hiperfoco. Trata-se da capacidade que pessoas diagnosticadas com TEA podem desenvolver para manter a atenção voltada a um interesse específico - como idiomas, astronomia ou música -, sem se perder com qualquer outra informação.
"São assuntos que se tornam únicos para indivíduos com TEA", explica a psiquiatra Rosa Magalyf12 bet cadastroMorais, médica do Programa do Transtorno do Espectro Autista do Institutof12 bet cadastroPsiquiatria do Hospital das Clínicasf12 bet cadastroSão Paulo.
Segundo a especialista, todos os indivíduos com autismo podem ter áreas específicasf12 bet cadastrointeresse. Porém, as ilhasf12 bet cadastrohabilidade - quando esses interesses fazem com que adquiram grande domínio sobre um tema - costumam acontecer apenas em, aproximadamente, 10% dos casosf12 bet cadastropessoas com TEA.
Não há números oficiais sobre autismo no Brasil. Mas estimativas baseadasf12 bet cadastroestudos apontam que 2 milhõesf12 bet cadastrobrasileiros,f12 bet cadastrodiferentes idades, têm o transtorno.
A psiquiatra Rosa Magaly frisa que casos como of12 bet cadastroRafael, nos quais há extrema facilidadef12 bet cadastrodeterminados assuntos, são exceções. "Boa parte dos indivíduos com TEA não têm esse perfil. Exatamente por isso, têm pouca visibilidade. Os pais com os filhos com TEA sem aptidões especiais não devem se sentir desmotivados ou intimidados. Ter altas habilidades não garante êxito ao longo da vida. A somatóriaf12 bet cadastrofunções cognitivas e seu impacto na capacidadef12 bet cadastroadaptação é, na verdade, o grande diferencial", afirma.
Nove idiomas
Como a família não fala inglês, Rafael teve dificuldades para ser compreendidof12 bet cadastrocasa. "Quando o conheci, ele não falava português, tinha muitos comportamentos estereotipados, não olhava nos olhos e não respondia quando era chamado", detalha a neuropsicopedagoga Tatiana Schmidt, que passou a acompanhar o garoto.
Enquanto tentava ensinar o garoto a aprender o português, Tatiana descobriu que Rafael também sabia esperanto e Língua Brasileiraf12 bet cadastroSinais, popularmente conhecida como Libras - também aprendidas pelo garoto por meio da internet.
Segundo neuropsicopedagoga, o português foi a quarta língua que Rafael aprendeu, aos cinco anos, após mesesf12 bet cadastroacompanhamento. Na época, ele começou a frequentar a escola, o que colaborou para o aprendizado da língua portuguesa.
"Mas até hoje, o português é a língua que ele tem mais dificuldades, pois ele tem problemas para pronunciar diversas palavras", diz a mãe do garoto.
Em casa, ele costuma misturar os idiomas. "O inglês é a língua oficial dele. O português é mais uma questãof12 bet cadastronecessidade, pois é o que a gente entende", explica Juli, que planeja, nos próximos meses, fazer cursof12 bet cadastroinglês para conseguir se comunicar melhor com o filho.
Hoje, aos sete anos - completos na última sexta-feira (5) -, Rafael já aprendeu outras cinco línguas: espanhol, russo, japonês, alemão e italiano. "Quando ele quer aprender um idioma, fica um mês focado nisso. Mas ele não fala todas as línguas o tempo todo. Somente o inglês é o dia inteiro, com o qual ele se sente confortável", diz a mãe.
"Na época da Copa do Mundo do ano passado [sediada na Rússia], ele passava o dia inteiro falando russo. Mas quando passou, parouf12 bet cadastrofalar com frequência. É como se fosse um aprendizado que ele adquire e depois deixaf12 bet cadastrolado. Ele só fala esses outros idiomas quando é estimulado a isso."
O pai do garoto é otimista sobre a habilidade do filho com idiomas. "Isso pode ajudá-lo muito no futuro. Como o autismo é um transtorno sem cura, nossa prioridade é o desenvolvimento dele, por meiof12 bet cadastrosuas habilidades", diz o advogado.
Atualmente, Rafael tem aprendido árabe. "Mas agora tenho deixado ele mexer com eletrônicos apenas duas horas por dia, para não ficar totalmente focado nisso", relata.
O amor pela música
Por ter dificuldades para dialogar com a família, principalmente no períodof12 bet cadastroque não falava português, Rafael passou a se comunicar por meiof12 bet cadastromúsicas - a maioria delasf12 bet cadastroinglês.
"Certa vez, tirei totalmente o tablet dele, para que pudesse se desenvolver além do eletrônico. Mas ele regrediu completamente, sequer conseguia ficarf12 bet cadastropé e parouf12 bet cadastrointeragir. Fiquei desesperada. Decidi devolver o tablet e ele colocou uma canção da Katy Perry, chamada Rise", diz Juli. A letra da música fala sobre superação.
A família descobriu, posteriormente, que o encanto do garoto por canções tem um motivo: ele também tem hiperfoco voltado à música. "Ele viu um piano e um tecladof12 bet cadastrouma escolaf12 bet cadastromúsica, no shopping, e quis entrar. Fiquei com medof12 bet cadastroele quebrar algo, mas o dono deixou o Rafael usar o piano. Ele começou a tocar, como se já conhecesse o instrumento", relata Juli.
A professoraf12 bet cadastromúsica Karina Tobia convidou Rafael para participarf12 bet cadastrouma aula. O desenvolvimento do garotof12 bet cadastroseis anos à época, inexperiente na área, surpreendeu a educadora. "A princípio, ele teve dificuldades e se desorganizou. Mas logo conseguiu entender ef12 bet cadastrouma aula aprendeu sobre as cifras. Para uma criança da idade dele, isso é algo bastante incomum", diz Karina.
O garoto começou a fazer aulasf12 bet cadastromúsica e conheceu diversos instrumentos. A relaçãof12 bet cadastroRafael com dois deles chamou a atenção da professora. "Ele tem muita familiaridade com piano e teclado. Neles, ele consegue reproduzir músicas sem precisarf12 bet cadastroinstruções", comenta Karina.
A capacidadef12 bet cadastroperceber e sistematizar cada uma das notas que escuta, mesmo sem ensino prévio, é chamadaf12 bet cadastroouvido absoluto. A característica é considerada incomum.
Depois da infância
Juli comemora a evolução do filho. Cada avanço do garoto é compartilhado por ela, que se tornou uma espécief12 bet cadastroporta-voz sobre o autismo nas redes sociais.
Em suas publicações, aborda diversos temas. Com frequência, comenta sobre medicações para crianças com autismo. A mãef12 bet cadastroRafael nunca deu remédios para o filho, apesarf12 bet cadastroter sido orientada por alguns médicos, quando ele foi diagnosticado com o nível severo do transtorno. "Nunca achei que medicamentos pudessem contribuir para a evolução dele", diz.
Não há medicamentos específicos para o transtorno. Os remédios receitados costumam estar relacionados a outras dificuldades, como quando o paciente é extremamente agressivo ou possui outro diagnóstico psiquiátrico ou clínico, como epilepsia.
Há um ano, os médicos mudaram o diagnóstico do autismof12 bet cadastroRafael: ele deixouf12 bet cadastroser grave (quando exige apoio bastante substancial) e passou a ser classificado como moderado (quando precisaf12 bet cadastroapoio substancial).
"Não sei como vai ser o futuro dele e o quanto o meu filho vai ser independente. Com a evolução que ele já teve, vou estimulá-lo ainda mais. Mas não sei até onde vai. Não é como, por exemplo, casosf12 bet cadastrosíndromef12 bet cadastroDown, nos quais há uma noção maior do desenvolvimento. Quando se trataf12 bet cadastroautismo, ainda há muita incerteza."
Apesar da facilidadef12 bet cadastroaprendizado do garotof12 bet cadastroalgumas áreas, a neuropsicopedagoga que o acompanha não considera que ele tenha inteligência acima da média. "Os indivíduos com autismo podem demonstrar interesse bem precoce por letras e números. Isso não representa que sejam superdotados. É apenas uma característica que podem desenvolver", diz Tatiana.
Alheio às alegrias e aos temores da mãe, Rafael não demonstra estranheza ao fatof12 bet cadastroter aprendido nove idiomasf12 bet cadastropoucos anosf12 bet cadastrovida. "Legal aprender idiomas. É muito legal", diz à reportagem, com sotaque semelhante aof12 bet cadastroestrangeiros que têm certa dificuldade com o português. Sobre o amor pela música e a facilidadef12 bet cadastroaprender a tocar alguns instrumentos, ele também é sucinto. "Gostof12 bet cadastrotodos os instrumentos. Gostof12 bet cadastromúsica", comenta.
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