Novo Códigoroleta brasileira playtechÉtica mira preconceito contra médicos com deficiência: 'Achavam que a Medicina não era mais para mim':roleta brasileira playtech

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Legenda da foto, Marcos Vinícius Nunes da Silva tem tetraplegia parcial desde que sofreu acidenteroleta brasileira playtechcarro quando era estudanteroleta brasileira playtechMedicina

O goiano afirma ter sido o primeiro tetraplégico a se formarroleta brasileira playtechMedicina no Brasil, e nas últimas eleições alcançou outro feito: se tornou o vereador mais bem votadoroleta brasileira playtechGoianésia.

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Legenda da foto, Nunes diz ter sido o primeiro tetraplégico a se formarroleta brasileira playtechmedicina no Brasil. E nas últimas eleições municipais, se tornou o vereador mais bem votadoroleta brasileira playtechGoianésia

Silva está entre os que celebram um inciso do novo Códigoroleta brasileira playtechÉtica Médica que estipula ser "direito do médico com deficiência ou com doença, nos limitesroleta brasileira playtechsuas capacidades e da segurança dos pacientes, exercer a profissão sem ser discriminado".

Censoroleta brasileira playtechmédicos com deficiência

Em vigor desde 30roleta brasileira playtechabril, o Códigoroleta brasileira playtechÉtica Médica ganhou esse adendo sobre profissionais com deficiência por sugestão do pediatra Sidnei Ferreira, professor da Universidade Federal do Rioroleta brasileira playtechJaneiro (UFRJ) e conselheiro do Conselho Federalroleta brasileira playtechMedicina (CFM).

Em 2015, após ser convidado para um congresso sobre acessibilidade, Ferreira propôs ao CFM uma campanha que levantasse o númeroroleta brasileira playtechmédicos eroleta brasileira playtechalunosroleta brasileira playtechMedicina que portassem alguma deficiência visual, auditiva ou motora. Queria saber também se essa deficiência era congênita ou adquirida. As perguntas constariam dos cadastros dos Conselhos Regionaisroleta brasileira playtechMedicina, que a campanha estimularia seus membros a responder. "Ao conhecer melhor esse universo, poderíamos apresentar propostasroleta brasileira playtechpolíticas públicas que melhorassem a acessibilidade nas áreasroleta brasileira playtechsaúde não só para os médicos, mas também para pacientes", diz Ferreira.

Passados quase três anos do início da campanha (ela começouroleta brasileira playtechjulhoroleta brasileira playtech2016), 512 médicos,roleta brasileira playtechum universoroleta brasileira playtech450 milroleta brasileira playtechatividade no país, afirmaram ter algum tiporoleta brasileira playtechdeficiência. Grande parte deles (124) atuaroleta brasileira playtechMinas Gerais, seguidosroleta brasileira playtechRio Grande do Sul (50), Santa Catarina (43), Distrito Federal (35) e Goiás (32). Na próxima fase da campanha, o CFM buscará reunir esses médicos para conhecer suas dificuldades no trabalho e saber se sofrem ou não discriminação.

Ferreira dá como exemploroleta brasileira playtechadversidade a acessibilidade nos centrosroleta brasileira playtechatendimento à saúde do Rio. Uma fiscalização do Conselho Regionalroleta brasileira playtechMedicina do Estado do Rioroleta brasileira playtechJaneiro (Cremerj) feitaroleta brasileira playtechmarço a junhoroleta brasileira playtech2016 mostrou que,roleta brasileira playtech24 unidadesroleta brasileira playtechsaúde, nenhuma tinha condições adequadasroleta brasileira playtechacessibilidade tanto para profissionais quanto para pacientes e acompanhantes.

Sem acessibilidade

O cardiologista e cirurgião vascular alagoano Hemerson Casado tem certeza absolutaroleta brasileira playtechque o preconceito começa pela faltaroleta brasileira playtechcondiçõesroleta brasileira playtechtrabalho para o médico com necessidades especiais, seja nos hospitais, nos consultórios médicos ou nos postosroleta brasileira playtechsaúde. "Uma multidão acha que acessibilidade é apenas rampa para cadeiraroleta brasileira playtechrodas, mas a estrutura das construções, a ergonomiaroleta brasileira playtechportas, corredores, salas, mesas, armários, equipamentos hospitalares, tudo conspira para que o portadorroleta brasileira playtechnecessidades especiais passe dificuldades, constrangimentos, humilhações", elenca Casado. "Fora o preconceitoroleta brasileira playtechfuncionários e colegas médicos que acham que deveríamos ficarroleta brasileira playtechcasa esperando a morte chegar."

Aos 45 anos, no augeroleta brasileira playtechuma carreira sólida - atuouroleta brasileira playtechhospitais no Brasil, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Escócia -, Casado recebeu o diagnósticoroleta brasileira playtechuma grave e rara doença neurodegenerativa, a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Ele, um triatleta que treinava para a prova do Ironman, viu-se às voltas com uma paralisia que lhe tolhe gradualmente os movimentos.

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, Hemerson Casado agora se comunica com os olhos por meioroleta brasileira playtechaplicativo

"Contei primeiro para a minha esposa, depois para o meu melhor amigo, então para os meus sócios, mas ninguém conseguia absorver a notícia", diz. "Primeiro porque a ELA é uma doença ainda pouco conhecida, segundo porque eu apenas puxava um pouco a perna e ninguém poderia imaginar que eu tivesse uma doença fatal."

Casado manteve o consultório e as cirurgias cardíacas por mais um ano. "Mas, aos poucos, as pessoas que sabem da doença vão falando para os que não sabem e, quando você se dá conta, muitos já comentam às escondidas, alguns com pena, outros criticando, por ignorância ou preconceito, o fatoroleta brasileira playtecheu continuar a trabalhar constantemente nesse período."

Com a evolução da doença, já então sem condiçõesroleta brasileira playtechoperar nemroleta brasileira playtechexaminar os pacientes, anunciou para suas duas equipes o afastamento definitivo da profissão. "Chorei como nunca tinha chorado na vida."

Aos 52 anos, o alagoano, que viveroleta brasileira playtechMaceió, hoje não anda nem fala. Comunica-se por meioroleta brasileira playtechum software sueco, cujo mouse ótico lhe permite teclar com o piscar dos olhos. Colegas o convidaram para continuar trabalhando como professor e consultor. "Mas eu não conseguia suportar as conversasroleta brasileira playtechpéroleta brasileira playtechouvido, os olhares pesados sobre mim", diz. Virou ativistaroleta brasileira playtechcombate às doenças raras. Tem um instituto que foca nessa linha, atua politicamente para conseguir verbas para pesquisa e luta para construir um poloroleta brasileira playtechbiotecnologia e biomedicinaroleta brasileira playtechdoenças raras.

Para ele, o CFM e a Associação Médica Brasileira (AMB) têm feito um trabalho para corrigir distorções, mas ainda é pouco. "O preconceito tem que ser combatido com açõesroleta brasileira playtechclasse, políticas públicas e muita informação, mas não aquela que vitimize o profissional, e sim que prove que ele é mais do que capaz".

Bom senso ante obstáculos

Formadoroleta brasileira playtech1982 na Universidaderoleta brasileira playtechSão Paulo (USP), o patologista Raymundo Soaresroleta brasileira playtechAzevedo Neto diz nunca ter notado preconceito ou restrição por parteroleta brasileira playtechcolegas ou chefias. Aos nove mesesroleta brasileira playtechidade, ele contraiu poliomielite durante um surto dessa infecção viral naroleta brasileira playtechcidade, Uberaba (MG). Para lidar com a paraplegia e a escoliose, consequências da doença, ele usa muletas e órteses nas duas pernas, o que lhe garante sustentação e equilíbrio.

Dianteroleta brasileira playtechtecnologias que possam compensar eventuais problemas locomotores no exercício da profissão, Azevedo Neto defende o bom senso. "Em tese, toda especialidade médica permite adaptações a eventuais deficiências profissionais, ao mesmo tempo que impõe limitaçõesroleta brasileira playtechordem prática", afirma.

Um médico com deficiência seria mais sensível ao sofrimento dos pacientes? Azevedo Neto discorda. Para ele, essa atitude humanista e empática está mais ligada à personalidade do profissionalroleta brasileira playtechsaúde. "Há médicos e médicas que despertam uma empatia enorme sem nunca apresentar problemasroleta brasileira playtechsaúde significativos com eles ou com pessoas próximas", diz.

Emroleta brasileira playtechexperiência, C. Lee Cohen, médica residente no Hospital Geralroleta brasileira playtechMassachusetts, nos Estados Unidos, afirma que a perda parcialroleta brasileira playtechaudição nos seus dois ouvidos a ajuda a lidar com pacientes que tiveram perda auditiva, principalmente os idosos. "Sei com quais sons eles têm dificuldade, então explico com outras palavras, para que compreendam o que estou dizendo."

Crédito, Bentham Science Publishers

Legenda da foto, Novo Códigoroleta brasileira playtechÉtica Médica diz que "direito do médico com deficiência ou com doença, nos limitesroleta brasileira playtechsuas capacidades e da segurança dos pacientes, exercer a profissão sem ser discriminado"

Para o advogado Henderson Fürst, doutorroleta brasileira playtechBioética e professorroleta brasileira playtechpós-graduação na PUC-Campinas, a mudança no Códigoroleta brasileira playtechÉtica Médica se alinha à Convenção da Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,roleta brasileira playtech2008, eroleta brasileira playtechincorporação no Brasil por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146roleta brasileira playtech2015).

Fürst, portadorroleta brasileira playtechuma rara doença degenerativa, a encefalomielite miálgica, também conhecida como síndrome da fadiga crônica, afirma que "essas normativas refletem a mudança na compreensão do que é deficiência, saindo do modelo técnico para o modelo social, ou seja, entendendo que o fator limitador é o meioroleta brasileira playtechque a pessoa está inserida, e não a deficiênciaroleta brasileira playtechsi".

Para ele, a principal mudança seria a formulaçãoroleta brasileira playtechpolíticasroleta brasileira playtechacessibilidade que diminuam ou eliminem restrições aos profissionais.

Preconceito sentido na pele

O Códigoroleta brasileira playtechÉtica Médica também inclui profissionais com doenças. A psiquiatra Kátia Maria Monteiro Rodriguesroleta brasileira playtechCarvalho, que atenderoleta brasileira playtechRio Claro (SP), ouviu certa vez esta confissão desinformadaroleta brasileira playtechuma paciente: "Doutora, eu tinha medoroleta brasileira playtechvir aqui porque falaram que a senhora era esclerosada". Carvalho ri. "Alguém deve ter dito que eu tenho esclerose múltipla, queroleta brasileira playtechfato tenho, e ela pensou que isso era sinalroleta brasileira playtechdemência."

Crédito, Ariza Maria Aily

Legenda da foto, Kátia Carvalho tem esclerose múltipla, doença autoimune que afeta principalmente os nervos

Graduada pela Faculdaderoleta brasileira playtechMedicinaroleta brasileira playtechRibeirão Preto, da USP, Carvalho fez mestradoroleta brasileira playtechsaúde mental na Unicamp e estava prestes a se tornar docente na Escolaroleta brasileira playtechMedicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp),roleta brasileira playtechBotucatu, quando teveroleta brasileira playtechprimeira crise provocada por essa doença autoimune que afeta primordialmente os nervos. Tinha 28 anos e entrouroleta brasileira playtechinsuficiência respiratória. Recuperou-se, mas haveria outras crises - uma delas a deixou acamada por um ano -, que culminaram na interrupção do atendimentoroleta brasileira playtechalguns pacientes seus.

"Do pontoroleta brasileira playtechvistaroleta brasileira playtechconsultório, eu várias vezes tiveroleta brasileira playtechrecomeçar, recomeçar, recomeçar, e isso é muito difícil", diz.

Quando daquela longa crise, Carvalho esteve prestes a ser aposentada por invalidez. "Entreiroleta brasileira playtechdesespero profundo, entendi como 'seu trabalho acabou'." Os papéis não andaram, e Carvalho acabou por se aposentar por temporoleta brasileira playtechserviçoroleta brasileira playtech2016. No entanto, continua atuando quase com a mesma carga horária. Ela entende que, aos 55 anos, seu organismo está mais estabilizado diante da esclerose múltipla.

Desde 2017, Carvalho é diretora clínica e técnica da Casaroleta brasileira playtechSaúde Bezerraroleta brasileira playtechMenezes, hospital psiquiátricoroleta brasileira playtechRio Claro. Também manteve o consultório e há um ano iniciou o curso semipresencialroleta brasileira playtechEngenhariaroleta brasileira playtechComputação na Universidade Virtual do Estadoroleta brasileira playtechSão Paulo (Univesp).

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