Cientista e mulher na Amazônia: o que contam pesquisadoras brasileiras que trabalham na região:criciuma e cruzeiro palpite

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Legenda da foto, Zoóloga Ana Cristina Mendescriciuma e cruzeiro palpiteOliveira, da UFPA, estuda como as atividades humanas afetam os mamíferos da região; acima, ela fazendo solturacriciuma e cruzeiro palpiteanimal na Amazônia

"Além da logística complicada para termos acesso aos locais da pesquisa, o clima quente e a alta umidade prejudicam equipamentos, que sofrem com contaminação por micro-organismos", diz. "Infelizmente, nossos prédioscriciuma e cruzeiro palpitelaboratórios não têm infraestrutura para manter o condicionamento adequado e, por isso, a manutenção dos aparelhos tem que ser feita com uma frequência e custo maiores do quecriciuma e cruzeiro palpiteoutras regiões."

A também bióloga e mestrecriciuma e cruzeiro palpiteEcologia Fernanda Werneck, do Instituto Nacionalcriciuma e cruzeiro palpitePesquisas da Amazônia (Inpa), lembra que todo trabalhocriciuma e cruzeiro palpitecampo, principalmente naquela região, possui riscos inerentes e acidentes não são raros, quer seja na locomoção entre locaiscriciuma e cruzeiro palpiteestudo, como, por exemplo,criciuma e cruzeiro palpitecarro ou naufrágios, quer seja na execução das atividadescriciuma e cruzeiro palpitepesquisa, quando podem ocorrer com ferramentas e cobras ou alergias.

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Legenda da foto, 'Além da logística complicada para termos acesso aos locais da pesquisa, o clima quente e a alta umidade prejudicam equipamentos, que sofrem com contaminação por micro-organismos', diz Patricia Schneider

"Na Amazônia, a dificuldadecriciuma e cruzeiro palpiteacesso rápido a centroscriciuma e cruzeiro palpitetratamento médico e enviocriciuma e cruzeiro palpitesocorro acabam apresentando risco adicional às pesquisadoras e pesquisadores", acrescenta. "Infelizmente não são raros os casoscriciuma e cruzeiro palpiteacidentes sérios e até fatais com colegascriciuma e cruzeiro palpiteprofissão."

Adentrar florestas com equipamentos

Os obstáculos ao trabalho científico não param aí. A zoóloga Ana Cristina Mendescriciuma e cruzeiro palpiteOliveira, da UFPA, que estuda como as atividades humanas afetam os mamíferos da região, amplia a lista. Um dos itens é a dificuldadecriciuma e cruzeiro palpiteentrar na floresta com materiais e equipamentoscriciuma e cruzeiro palpitepesquisa, pois geralmente as estradas são ruins, principalmentecriciuma e cruzeiro palpiteépocascriciuma e cruzeiro palpitechuva.

Por isso, muitas vezes é preciso criar uma relação com as comunidades locais para ter acesso às áreas.

"O trabalho é bastante cansativo e requer experiência não só para reconhecimento dos animais, mas para evitar situações perigosas da floresta, como ataquescriciuma e cruzeiro palpitebichos peçonhentos, como cobras e escorpiões, oucriciuma e cruzeiro palpiteporte maior, como porcos selvagens e onças", explica. "Pode haver ainda encontros com caçadores na mata, chuva com quedacriciuma e cruzeiro palpiteárvores, que nem se sabe onde estão caindo."

Diante deste quadro, não écriciuma e cruzeiro palpitesurpreender que as pesquisadoras tenham muitas histórias para contar sobre os perigos que tiveramcriciuma e cruzeiro palpiteenfrentar na floresta. E por falarcriciuma e cruzeiro palpitequedacriciuma e cruzeiro palpiteárvore, bióloga Claudia Azevedo-Ramos, do Núcleocriciuma e cruzeiro palpiteAltos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA, conheceucriciuma e cruzeiro palpiteperto o que é isso. Em uma ocasião, ela estava com dez alunoscriciuma e cruzeiro palpiteuma mata na regiãocriciuma e cruzeiro palpiteParagominas (PA), a 300 kmcriciuma e cruzeiro palpiteBelém.

"Era épocacriciuma e cruzeiro palpitechuvas e aquela semana elas estavam especialmente torrenciais, mas o trabalho precisava ser feito", conta.

À noite, o grupo estava chegando a uma clareira, quando foram pegos por uma chuva tropical daquelas que não deixam ver um palmo diante do nariz.

"Esses locais abertos na floresta são muito perigososcriciuma e cruzeiro palpitese ficar numa tempestade, por serem suscetíveis aos fortes ventos", diz Claudia.

"Escolhemos nos abrigar debaixocriciuma e cruzeiro palpiteuma árvore secular. 'Se estava aqui há tanto tempo, não seria agora que iria cair', pensei. Mas logo ouvimos um barulho imenso, seguidocriciuma e cruzeiro palpitetremorcriciuma e cruzeiro palpiteterra e a árvore milenar desabou na nossa frente. A chuva e a escuridão não nos permitiam ver nada, mas o barulho foicriciuma e cruzeiro palpitefimcriciuma e cruzeiro palpitemundo. No dia seguinte, voltamos ao local e o cenário eracriciuma e cruzeiro palpitedevastação completa. A planta caída havia derrubado 32 outras com ela. No final, percebemos que estávamos no único lugarcriciuma e cruzeiro palpiteque poderíamos ter sobrevivido àquele evento. Foi muita sorte."

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Legenda da foto, 'É um privilégio trabalhar na Amazônia', diz Maria Teresa Fernandes Piedade. 'A geraçãocriciuma e cruzeiro palpiteconhecimento sobre essa fonte fantásticacriciuma e cruzeiro palpitebiodiversidade é inigualável'

Sorte também teve Ana Cristina. Ela brinca que até hoje acredita que foi ajudada por uma "visagem" (um fantasma). O incidente aconteceu quando ela trabalhava na regiãocriciuma e cruzeiro palpiteTefé (AM), com comunidades da Reservacriciuma e cruzeiro palpiteDesenvolvimento Sustentável Amanã, a 575 kmcriciuma e cruzeiro palpiteManaus. Ela costumava ircriciuma e cruzeiro palpiteBelém para aquela cidadecriciuma e cruzeiro palpiteavião e depois pegava uma voadeira (barco da região) para viajar mais oito horas até as comunidades.

Um dia, a pesquisadora resolveu ircriciuma e cruzeiro palpitebarcocriciuma e cruzeiro palpitelinha. A embarcação iacriciuma e cruzeiro palpiteTefé até Letícia, na fronteira com a Colômbia, e a deixaria no meio do caminho. "Para voltar, combinei com o capitão do barco que me disse que retornaria depoiscriciuma e cruzeiro palpitedez dias, mas não podia precisar o horário", conta. "Pois bem, na volta alguém da comunidade me deixoucriciuma e cruzeiro palpitevoadeira no ponto combinado com o barqueiro."

Com medocriciuma e cruzeiro palpiteperder a embarcação, Ana Cristina passou 14 horas na beira do rio Solimões, sozinha no meio do nada, aguardando. Quando o barco passou, eram altas horas da noite e ela piscoucriciuma e cruzeiro palpitelanterna desesperadamente, mas o capitão não tinha como atracar por causa da maré, que estava baixa.

"Eu senti que eles me deixariam para trás, abandonada na floresta", lembra. "Foi quando um molequinho bem pequeno apareceucriciuma e cruzeiro palpiteuma canoa literalmente furada, perguntando se eu queria carona até o barco. Fui tirando água da pequena embarcação, desesperada, enquanto o menino remava. Até hoje acho que aquele garoto foi uma visagem, pois não tinha nada pertocriciuma e cruzeiro palpiteonde eu estava. Mas visagem ou não, ele salvou minha vida naquele dia. Sou muito grata àquele menino desconhecido."

Mais comuns e reais do que visagens - e também mais perigosos - são os encontros indesejáveis com animais peçonhentos. Como cobras, por exemplo. Se a pesquisadora estiver grávida, a situação é ainda mais complicada. A solução nesses casos, às vezes, também pode ser acreditar na proteçãocriciuma e cruzeiro palpiteforças desconhecidas.

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Legenda da foto, Ima Vieira com alunas e produtorcriciuma e cruzeiro palpiteentrevista sobre capoeiras no nordeste paraense

Foi o que fez certa vez a agrônoma Ima Vieira, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), que trabalha com a ecologia da floresta amazônica, dinâmicacriciuma e cruzeiro palpiteusos da terra e restauração dos ambientes.

Ela estavacriciuma e cruzeiro palpitepesquisacriciuma e cruzeiro palpitecampo na região do municípiocriciuma e cruzeiro palpiteBragança (PA), a 220 kmcriciuma e cruzeiro palpiteBelém, grávidacriciuma e cruzeiro palpitesete mesescriciuma e cruzeiro palpiteseu primeiro filho, hoje com 24 anos. Era um local pertocriciuma e cruzeiro palpiteum igapó (parte da floresta amazônica permanentemente alagada), uma capoeira muito antiga, com cercacriciuma e cruzeiro palpite40 anoscriciuma e cruzeiro palpiteidade.

"Ali era importante fazermos estudos, pois até então era a mais velha já estudada por nós (depois achamos uma mais velha,criciuma e cruzeiro palpite70 anos)", diz. "Era uma vegetação mais fechada, longecriciuma e cruzeiro palpitevilas e com pouco acessocriciuma e cruzeiro palpitepessoas. Então não havia trilhas, armadilhascriciuma e cruzeiro palpitecaçadores, nada."

Ela admite que ficou com um poucocriciuma e cruzeiro palpitemedocriciuma e cruzeiro palpiteentrar no matagal, mas seus dois ajudantes lhe garantiram que não haveria problemas. "Entramos para abrir picadas e demarcar a primeira parcelacriciuma e cruzeiro palpiteinventário florístico", conta. "Após cercacriciuma e cruzeiro palpiteuma hora lá dentro, uma cobra aparece na minha frente, pronta para dar o bote. Dei um grito. Meus colegas logo apareceram e a espantaram para longe, mas não a mataram. Ou seja, a dita cuja ficou por ali, me apavorando. Passei o resto do trabalho pensando e cantarolando a música 'Nome Sagrado', do músico e herpetólogo Paulo Vanzolini". A música diz:

O nomecriciuma e cruzeiro palpitemulher é tão sagrado

Mulher é nome pra ser respeitado

A cobra não morde uma mulher gestante

Porque respeita seu estado interessante...

Sair correndo

Mas às vezes, a melhor saída é mesmo correr, fugir do perigo, como quando uma onça aparece, por exemplo. Ana Cristina, a mesma da visagem, teve uma dessas experiências. Na ocasião, ela estavacriciuma e cruzeiro palpiteum trabalhocriciuma e cruzeiro palpitecampo, acompanhando um grupocriciuma e cruzeiro palpitepesquisadores estrangeiros, que lhe pediu para desligar um aparelho bem cedinho na floresta.

"De manhã cedo lá fui eu cumprir minha missão, quando no final da trilha topei com uma onça pintada deitada, que logicamente já estava me olhando muito tempo antescriciuma e cruzeiro palpiteeu enxergá-la", relata.

"Acho que minha alma saiu do corpo naquela hora. A onça, extremamente desconfortável com a minha presença, mas sem muita preocupação com grandes ameaças, resolveu levantar e eu pensei: morri. Foi então que levei o balde que tinha na mão calmamente até acima da minha cabeça na intensãocriciuma e cruzeiro palpiteparecer maior e fui 'calmamente andando pra trás' num atocriciuma e cruzeiro palpitedesespero. E a onça se virou e entrou floresta adentro, como quem diz, 'que saco essa pessoa veio me incomodar aqui'. Eu voltei para o alojamento tremendo toda."

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Legenda da foto, Ana Cristina Mendescriciuma e cruzeiro palpiteOliveira cuidandocriciuma e cruzeiro palpitepeixe-boi resgatado

Numa região dominada pelas águas, não poderiam deixarcriciuma e cruzeiro palpiteexistir dificuldade nelas, que são os principais caminhos da Amazônia. Que o diga a pesquisadora Maria Teresa Fernandez Piedade, do Inpa, que estuda a ecologia, adaptações, crescimentos e produçãocriciuma e cruzeiro palpitebiomassa da vegetação que vive nas margens dos rios.

"Uma vez, felizmente não muito longecriciuma e cruzeiro palpiteManaus, apenas cercacriciuma e cruzeiro palpite25 km, estávamos fazendo uma coletacriciuma e cruzeiro palpitecapins aquáticoscriciuma e cruzeiro palpiteuma canoacriciuma e cruzeiro palpitealumínio com motorcriciuma e cruzeiro palpitepopa", conta. "Ao iniciar o retorno, a hélice do motor bateucriciuma e cruzeiro palpiteum tronco e ficou totalmente destruída."

Mas foi pior do que isso. Nesse momento, a equipe se deu contacriciuma e cruzeiro palpiteque havia apenas um remo na canoa.

"Éramos cinco pessoas e logo percebemos que não havia alternativa: teríamos que remar com as mãos", lembra Maria Teresa. "A distância não era tão grande, mas as correntezas dos rios Solimões e Negro que tivemos que atravessar eram poderosas. Felizmente tudo acabou bem. Chegamos com insolação, mas contentes a Manaus, após remar por cercacriciuma e cruzeiro palpiteseis horas. Atualmente todos os envolvidos são bem cuidadosos com o númerocriciuma e cruzeiro palpiteremos nas canoas."

Apesar desses obstáculos e contratempos, nenhuma pesquisadora quer deixarcriciuma e cruzeiro palpitetrabalhar na região. As recompensas são maiores que os percalços.

"É um grande privilégio trabalhar na Amazônia", diz a própria Maria Teresa. "A geraçãocriciuma e cruzeiro palpiteconhecimento sobre essa fonte fantásticacriciuma e cruzeiro palpitebiodiversidade é inigualável. Muito ainda temos por conhecer para utilizar este patrimônio com a devida sustentabilidade, então, cada resultado e trabalho finalizado é uma grande recompensa."

Para Fernanda, que, entre outros temas, estuda os efeitos das mudanças climáticas sobre a diversidade genética, capacidade adaptativa e riscoscriciuma e cruzeiro palpiteextinçãocriciuma e cruzeiro palpiteespécies, as recompensas são significativas.

"Temos a possiblidadecriciuma e cruzeiro palpiteconhecer regiões incríveis, se conectar com a natureza e intrigantes questões ecológicas, trabalhar com grupos biológicos e questões científicas que nos instigam e trazem satisfação e assim gerar conhecimento essencial sobre a nossa biodiversidade e vital paracriciuma e cruzeiro palpiteconservação", explica. "Entretanto, ainda assim é importante ressaltar que o trabalhocriciuma e cruzeiro palpitecampo é árduo e requer capacitação especializada e a segurança das pessoas que o fazem é um importante aspecto trabalhista e profissional a ser considerado."

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