A fascinante vidaufc palpitaoAnne Lister, a 'primeira lésbica moderna':ufc palpitao
Os diários
Vestidaufc palpitaopreto da cabeça aos pés, com roupas pesadas inclusive no verão, Lister era conhecida da Halifax do século 19. Os trejeitosufc palpitaomenino que exibia pelas ruasufc palpitaoparalelepípedos da cidade na zona rural do condadoufc palpitaoYorkshire eram motivoufc palpitaochacota e comentários maldosos.
Os homens a pediam muitas vezesufc palpitaocasamentoufc palpitaoforma jocosa quando ela passava. Outros mandavam cartas anônimas tirando sarroufc palpitaosua aparência. Um chegou a colocar um falso anúncioufc palpitaoseu nome no jornal Leeds Mercuryufc palpitaobuscaufc palpitaoum pretendente. Também lhe deram um apelido cruel: "Gentleman Jack".
Ela dificilmente se deixava abalar. "As pessoas geralmente comentam, quando eu passo, o quanto me pareço com um homem", escreveuufc palpitaoseu diário, um ritual ao qual se dedicava todos os dias.
Desde pequena, Lister era diferente. Nascidaufc palpitao1791, ela disse ter se tornado ainda cedo uma "mulher macho incontrolável", enviada a um internato aos 7 anos porufc palpitaomãe.
As professoras temiam que ela influenciasse as outras alunas com seu comportamento rebelde e, por isso, a confinaramufc palpitaoum quarto no sótão, onde viviaufc palpitaoquase total isolamento.
O diário virou seu confidente. Sentindo-se sozinhaufc palpitaoum mundo no qual não se encaixava, derramou seus pensamentos mais profundos nos cadernos. Sua personalidade obsessiva não deixava passar batido nenhum detalhe: da horaufc palpitaoque acordava a quantas horas dormia, as cartas que recebia, o que comia, como estava o tempo.
Tudo o que aprendia também ia parar nas páginas do diário: grego, álgebra, francês, matemática, geologia, astronomia e filosofia. Lister era donaufc palpitaouma inteligência voraz e,ufc palpitaouma eraufc palpitaoque as mulheres eram excluídas das universidades, estava decidida a aprender tudo o que um homem poderia aprender. Ela também registrava detalhadamente suas aventuras amorosas.
A invenção do código
Sua primeira experiência sexual foi com uma colega, Eliza Raine, com quem dividia o sótão do internato. Filha ilegítimaufc palpitaoum cirurgião inglês, a moça também era uma espécieufc palpitaopária social. Com 15 anos, as duas jovens engataram um romanceufc palpitaosegredo bem debaixo do nariz dos professores.
Em seus respectivos diários, ambas escreviam "felix", palavra que significa "feliz"ufc palpitaolatim, para registrar os encontros sexuais. Lister ia além e tecia mais detalhes, usando um código com elementos do grego e do latim, símbolos matemáticos, elementosufc palpitaopontuação e do zodíaco para disfarçar seus sentimentos mais íntimos. Daquela forma, acreditava, seriam completamente indecifráveis.
Ainda que estivesse apaixonada, tinha também um lado calculista e implacável, alimentado pelo sonhoufc palpitaoum dia ser rica. O romance com Raine - que, no futuro, herdaria uma fortuna - também era um investimento, uma possibilidadeufc palpitaoela desfrutar da vida da alta sociedade sem terufc palpitaose casar com um homem.
Com o tempo, entretanto, ela foi se sentindo mais seguraufc palpitaorelação àufc palpitaosexualidade -ufc palpitao"peculiaridade", como escrevia - e decidiu colocar fim no relacionamento. Raine caiuufc palpitaodepressão profunda e, anos depois, foi pararufc palpitaoum manicômio. "Você não sabe a dor que me causou", escreveu a jovem, desconsolada.
O sentimentoufc palpitaoculpa não impediu Listerufc palpitaose apaixonarufc palpitaonovo, desta vez por Mariana Belcombe, filhaufc palpitaoum médico da cidade. Ela seria umufc palpitaoseus grandes amores, com quem viveria uma históriaufc palpitaoquase 20 anos que também terminaria com um coração partido.
Múltiplas aventuras
À primeira vista, Lister era uma jovem inteligente e respeitável que passava boa parteufc palpitaoseu tempo livre estudando. Longe dos livros, ela gostava dos passeios e dos chás da tarde com as amigas endinheiradas, a fachada ideal para suas aventuras sexuais.
Sua "peculiaridade" a intrigava: folheavaufc palpitaovão livrosufc palpitaoanatomia na tentativaufc palpitaocompreenderufc palpitaoonde vinham seus sentimentos. À medida que foi conhecendo melhorufc palpitaosexualidade, entretanto, não havia espaço para sentimentoufc palpitaoculpa ouufc palpitaoinferioridade. Seus sentimentos eram naturais, acreditava, e seu direito, divino.
As mulheres com quem se relacionava, ainda que muitas vezes ficassem confusas sobre o que sentiam, eram cativadas por ela. Antesufc palpitaoBelcombe, Lister teve várias parceiras.
Seu grande amor
Lister se apaixonou perdidamente pela jovemufc palpitao21 anos da alta sociedadeufc palpitaoYork. Durante anos, viajaram dezenasufc palpitaoquilômetros a cavalo eufc palpitaocarruagem entre York e Halifax para se verem. Quando estavam separadas, se escreviam a cada poucos dias. Chegaram a trocar aneis como sinalufc palpitaocompromisso. Tudo, claro, às escondidas.
A amizade mais íntima entre mulheres não era incomum naquela época. Pais e mães, com medoufc palpitaouma gravidez antes do casamento, incentivavam as moças a se aproximarem umas das outras.
Lister não levavaufc palpitaoconta as expectativas da sociedade. Queria tudo o que um homem poderia ter, inclusive uma esposa - e, por isso, começou a alimentar esperançasufc palpitaoque poderia construir um futuro comufc palpitaoamante.
Em 1815, entretanto, Belcombe fez um anúncio dramático: tinha aceitado se casar com um viúvo rico. Lister assistiu à cerimônia, angustiada,ufc palpitaouma igrejaufc palpitaoYork. Mas algo ainda pior estava por acontecer.
Era comum na época que as amigas acompanhassem os noivos na luaufc palpitaomel - e foi assim que ela embarcou para a viagemufc palpitaonúpcias do casal com duas irmãs da noiva.
De volta, retomou as aventuras com as mulheresufc palpitaoYorkshire, entre elas a irmã mais velhaufc palpitaoBelcombe, e registrou no diário toda a dor causada pelos acontecimentos mais recentes.
Um ano depois, Lister e Belcombe se encontraram novamente. Belcombe estava com dorufc palpitaodente e usou isso como pretexto para levar Lister para seu quarto. Recomeçaram, assim, o relacionamento, que perdurou por anos entre encontros clandestinos e cartas apaixonadas.
Lister se encontrava com outras mulheres, enquanto a companheira se refugiava emufc palpitaomansãoufc palpitaoCheshire.
"Fizemos amor", escreveu Lister depoisufc palpitaouma noita juntas. "Ela me pediu que fosse fiel, disse que nos considera casadas. Agora vou passar a pensar e agir como se ela fosse minha esposa." Suas esperanças foram, entretanto, novamente frustradas.
A segunda paixão: as viagens
Para se afastarufc palpitaoYorkshire eufc palpitaoBelcombe,ufc palpitao1824, Lister decide ir a Paris para aprender francês, mergulhar na cultura local e, se desse sorte, conhecer uma mulher rica e sofisticada. Sentia-seufc palpitaocasa na capital francesa. O ambiente relaxado deixou-a mais à vontade para viverufc palpitaosexualidade, e ela não perdeu tempo.
Maria Barlow não era exatamente a dama da alta sociedade que Lister gostaria que fosse, mas ela se apaixonou mesmo assim. Nos diários, passou a descrever suas relações sexuais com mais detalhes do que antes. "Tremiam os músculos, os joelhos, minha respiração", lê-seufc palpitaouma das passagens. As duas viveram um romance ardente até Lister se entendiar e voltar a Yorkshire sem olhar para trás.
Os oito mesesufc palpitaoParis, contudo, despertaram nela a paixão por viajar, o que a levaria a explorar maisufc palpitaouma dezenaufc palpitaopaíses nos 15 anos seguintes. As viagens satisfaziam uma ambição que crescia desde a infância: ver com seus próprios olhos os lugares sobre os quais tinha lido.
Nem a morteufc palpitaoseu amado tio James, que deixou para ela como herança a histórica casa Shibden Hall, foi suficiente para mantê-la no mesmo lugar.
Shibden: seu lar
De volta a Halifax, Lister novamente passou a circular entre a alta sociedadeufc palpitaoYork depois que uma amiga a apresentou a um grupoufc palpitaoaristocratas.
Lister sempre sentiu que aquele era seu habitat natural, um mundo sofisticado no qual havia lugar paraufc palpitaosagacidade e sebedoria. Apesarufc palpitaoos Lister serem,ufc palpitaoforma geral, um clã abastado,ufc palpitaofamília direta era relativamente pobre.
Uma das mulheres que conheceu nessa época foi Vere Hobart, irmã do condeufc palpitaoBuckinghamshire. Juntas, elas viajaram a Paris e emendaram uma temporada na cidade costeiraufc palpitaoHastings, no sul da Inglaterra, onde passaram cinco meses. Lister pensava ter encontrado a mulher que realizaria seus sonhos românticos.
Hobart tinha a aparência, o berço e o patrimônio com os quais há anos ela sonhava. Mais uma vez, porém, a sociedade e suas expectativas prevaleceram, e a amante acabou aceitando se casar com um oficial do Exército. Com o coração partido e envergonhada, Lister chorou durante dias.
Sem dinheiro, escreveu no diário: "Meus planosufc palpitaofazer parte da alta sociedade fracassaram. Realizei alguns caprichos, tentei, e me custou um preço alto". Decidiu então retornar a Shibden Hall e, pela primeira vezufc palpitaoanos, ficar por ali. "Aqui estou eu, com 41 anos e um coração por encontrar. Qual vai ser o desfecho?"
Empresária
A casa medieval Shibden Hall pertencia à família Lister havia maisufc palpitao200 anos. Ficava escondida atrásufc palpitaouma colina, comufc palpitaofachadaufc palpitaobranco e preto e uma infinidadeufc palpitaocômodos pouco iluminados.
Parte da raiva pela desilusão amorosa foi canalizada contra o imóvel, localizado na zona rural. Para ela, Shibden estavaufc palpitaopéssimo estadoufc palpitaoconservação. Depoisufc palpitaouma década circulando pelas mansõesufc palpitaoricos e nobres, queria uma casa maior e com jardins bem cuidados.
Foi desenvolvendo apreço pelo lugar com o tempo, especialmente depoisufc palpitaover no complexo uma boa oportunidadeufc palpitaonegócio. Diante do boom industrialufc palpitaoHalifax e do aumento da demanda por carvão, Lister resolveu expandir as minasufc palpitaoShibden.
A determinação e praticidade a diferenciavamufc palpitaooutras mulheres que administravam seus patrimônios. Bateuufc palpitaofrente com os homens que comandavam o mercado localufc palpitaocarvão, que rapidamente perceberam nela um tino para negócios.
"Fui mais feliz aqui do queufc palpitaoqualquer outro lugar", escreveu elaufc palpitaoseu diário, com passaram a ser recheados com detalhes das operações envolvendo a propriedade. Mas,ufc palpitaomeio a referênciasufc palpitaohorticultura e paisagismo, outro nome feminino passou a aparecer entre os registros.
Um novo amor
Com 29 anos, a tímida Ann Walker era herdeiraufc palpitaouma propriedade na região. As duas se conheceram muito tempo antes, quando Lister tinha 20 e poucos anos e Walker era apenas adolescente.
Uma semana depois do reencontro, Lister já as imaginava juntas. Assim como no passado, a fortuna da jovem herdeira era parte da atração. Ela esperava que os patrimôniosufc palpitaoambas, uma vez combinados, fossem suficientes para concluir seus planos para Shibden e permitir que elas continuassem viajando.
Passaram a se encontrarufc palpitaouma casinha isolada no próprio terrenoufc palpitaoShibden, construída por Lister para que tivesse mais privacidade. Poucas semanas depois dos primeiros encontros, a relação já era íntima.
Sua vida amorosa entravaufc palpitaocolisão direta com a sociedade na qual estava inserida. Queria viver com uma mulher quando esse tipoufc palpitaosituação não tinha qualquer precedente.
Duas das ex-namoradas haviam decidido se casar com homens, algo que tinha mais a ver com a vontadeufc palpitaosatisfazer as expectativas da sociedade do que com uma rejeição a Lister. Ainda assim, ela não se conformava.
Depoisufc palpitaopoucos meses, deixou claras suas intenções para a nova parceira. Queria que vivessem juntasufc palpitaoShibden, como duas pessoas casadas, e que compartilhassem suas propriedades e riquezas. Walker pediu seis meses para tomar uma decisão. Chegada a data, ela enviou uma carta: "Não consigo decidir".
Irritada, questionando o futuro da relação, Lister decidiu partir para Paris e, depois, Copenhague.
Meses depois,ufc palpitaovolta a Halifax, Walker a esperava. Havia declinado um pedidoufc palpitaocasamento - uma mensagem clara para ela. Aos 42 anos e depoisufc palpitaotantos anos buscando uma companheira, Lister estava finalmente a pontoufc palpitaoconseguir o que sempre quis.
As duas mudaram seus respectivos testamentos, fazendo uma usufrutária do patrimônio da outra. Lister resolveu contar à família sobre seus planos. Uma tia mais velha, o pai eufc palpitaoirmã não se surpreenderam: todos haviam testemunhadoufc palpitaoproximidade com as mulheres ao longo da vida e apoiavamufc palpitaodecisão. No diária, escreveu que haviam trocando alianças com Walker "como símbolo da nossa união".
Matrimônio
O "casamento"ufc palpitaoAnne Lister e Ann Walker aconteceu na igreja Holy Trinity,ufc palpitaoYork, no domingoufc palpitaoPáscoaufc palpitao1834. O evento foi puramente simbólico: assistir à missa e tomar a comunhão era suficiente para Lister.
A partir dali, levaria a sério os valoresufc palpitaouma união tradicional. Seus diasufc palpitaolibertinagem haviam terminado. Belcombe, que havia continuado fazendo parteufc palpitaosua vida e das viagens ao exterior, aceitou a derrota.
As "recém-casadas" embarcaramufc palpitaouma luaufc palpitaomelufc palpitaotrês mesesufc palpitaoviagem pela França e pela Suíça. Na volta, depoisufc palpitaoum vai-e-vemufc palpitaocarros carregadosufc palpitaomóveis entre as casas das duas, instalaram-seufc palpitaoShibden. E a fofocaufc palpitaoYorkshire correu solta: Anne Lister, que passara anos ouvindo provocações por parecer um homem, agora agia como tal.
Uma publicação no Leeds Mercury zombava do casal anunciando o matrimônio como sendo do "Capitão Tom Listerufc palpitaoShibden Hall com a senhorita Ann Walker". Passaram a chegar cartas anônimas para o "Capitão Lister" felicitando o casal pela união.
A convivência não foi fácil. As duas tinham personalidades completamente diferentes. Lister administrava seu patrimônio e cada vez mais se envolvia na política local, enquantoufc palpitaomulher se sentia deixadaufc palpitaolado e, com frequência, se via triste.
Uma viagem final
Juntas, elas viajaram pela França, Rússia, pelo Cáucaso e pelos Pirineus - Lister praticava alpinismo. E foi no Cáucaso,ufc palpitao1840, aos 49 anos, que ela faleceu. Acredita-se que uma picadaufc palpitaoinseto foi responsável pela febre fatal.
Walker demorou oito longos meses para levar o corpoufc palpitaoesposaufc palpitaovolta para Halifax, viajando pelo norte da Europa com o caixão ao seu lado. Como estava previsto no testamento, ela herdou o patrimônio da companheira, Shibden inclusive.
Isso, entretanto, não durou muito tempo. Seus familiares, alegando que ela tinha problemas mentais, conseguiram que um médico, um advogado e a polícia entrassem emufc palpitaocasa.
Foi encontrada encolhida atrásufc palpitaouma porta, rodeadaufc palpitaopapéis e com dois revólveres carregados. Ela foi para o mesmo manicômio para onde Eliza Raine, a primeira aventuraufc palpitaoLister, havia sido levada.
Decodificando os diários
A conservação dos diáriosufc palpitaoAnne Lister se deveufc palpitaoparte à companheira, que garantiu que os últimos volumes chegassem à Inglaterra sãos e salvos do Cáucaso. Foram precisos 150 anos, contudo, para que o mundo conhecesse o que eles guardavam.
Tudo começou por voltaufc palpitao1890, quando, lendo à luzufc palpitaovelasufc palpitaoum dos muitos cômodos escurosufc palpitaoShibden, John Lister contemplava as linhas com garranchos ininteligíveis que recheavam o caderno que tinha dianteufc palpitaosi. O curioso código usado nos diáriosufc palpitaosua antepassada sempre chamaramufc palpitaoatenção. Naquela noite, ele estava decidido a decifrá-lo.
Para isso, pediu a ajudaufc palpitaoum amigo, o professor Arthur Burrell, que, depoisufc palpitaoanalisar alguns cadernos, estava confianteufc palpitaoque tinha conseguido codificar duas letras: "h" e "e". Algumas horas mais tarde, ambos conseguiram mergulhar no mundo que Lister registrara nos diários, inclusive as aventuras sexuais com as amigas. "Quase nenhuma escapou dela", recorda Burrell.
Sugeriu ao amigo que queimasse tudo para evitar um escândalo que macularia a imagem dos Lister. Ainda que estivesse boquiaberto com o conteúdo, que humilharia a família caso fosse divulgado, John não foi capazufc palpitaodestruí-los. Escondeu os 26 volumesufc palpitaouma estante secretaufc palpitaoShibden, onde permaneceram atéufc palpitaomorte,ufc palpitao1933.
Nos anos seguintes, quando a propriedade passou ao domínio do poder público, os diários foram descobertos e entregues à bibliotecaufc palpitaoHalifax. Relutante por muitos anos, Arthur Burrell decidiu dividir o que sabia sobre o código secreto.
Um pequeno grupoufc palpitaopesquisadores estudou as cartas e os diários. Um comitê do conselho da biblioteca exigiu acompanhar o trabalho para verificar a existênciaufc palpitaoqualquer "material inadequado". Os especialistas concordaramufc palpitaomanter sigilo do estudo.
Décadas depois,ufc palpitao1982, Helena Whitbread, uma professoraufc palpitao52 anos especialistaufc palpitaoHistória, procurava um tema para um livro quando descobriu Anne Lister. Debruçou-se sobre o material na biblioteca, mas não conseguia decifrar os símbolos nos diários até uma funcionária lhe dar uma cópia do trabalhoufc palpitaodecodificaçãoufc palpitaoArthur.
Desta vez, ninguém interferiu no trabalho. A pesquisadora levou para casa o diárioufc palpitao1817 para começar a desvendar o mistério.
A primeira 'lésbica moderna'?
A compreensão moderna da história do lesbianismo, assim como as quatro décadas seguintes da vidaufc palpitaoWhitbread, ficariam marcados pelo que a professora descobriria.
Foi um trabalho minucioso. Em 34 anos, Lister havia escrito 5 milhõesufc palpitaopalavrasufc palpitao26 volumes, com outros 14 diáriosufc palpitaoviagem. Aproximadamente um sexto do material havia sido registradoufc palpitaocódigo. Helena deu-se conta, por exemplo,ufc palpitaoque "beijo" era código para sexo, enquanto "Q" com um laço denotava uma experiência sexual.
Depoisufc palpitaopassar cinco anos detida nos diários escritos entre 1817 e 1824, ela publicou um livro no qual detalhava a intensa relação comufc palpitaoLister com Belcombe eufc palpitaoredeufc palpitaoamantesufc palpitaotodo o condadoufc palpitaoYorkshire.
O lançamentoufc palpitaoI Know My Own Heart ("Conheço meu Próprio Coração",ufc palpitaotradução livre)ufc palpitao1988 causou burburinho. Até então, não havia evidênciaufc palpitaosexo entre mulheres no registro histórico. Os diários detalhavam um estiloufc palpitaovida que muitos pensavam não ter existido no passado.
O comportamentoufc palpitaoLister mostrava não apenas que as mulheres a achavam atraente, mas também que o desejo sexual entre mulheres era muito mais comum do que se pensava. Os registros causaram tanto impacto que algumas pessoas chegaram a pensar que fossem mentira.
"Anne nos deixou esse registro volumoso, com o qual é difícilufc palpitaotrabalhar, mas nos disse muito sobre a vida lésbica no século 19", afirma a professora Caroline Gonda, da Universidadeufc palpitaoCambridge, na Inglaterra. "Ela nos conta sobre relações que não se encaixavam na ideiaufc palpitaoamizade romântica desse período."
Um dos pontos cruciais da história é o fatoufc palpitaoque Lister não estava sozinha. "Dizem que ela era exceção, mas Anne não era a única lésbica no povoado", acrescenta Gonda.
Hoje, uma placa emufc palpitaomemória na igrejaufc palpitaoHoly Trinityufc palpitaoYork, localufc palpitaoseu matrimônio com Walker, a descreve como a "primeira lésbica moderna". A definição ainda estáufc palpitaodebate, mas a importânciaufc palpitaoAnne Lister para a história do lesbianismo não pode ser questionada.
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